Critérios da Rússia para uso de armas nucleares não diferem dos adotados por EUA, diz Lavrov

Internacional
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O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou nesta terça-feira, 19, que os novos critérios para acionamento do arsenal nuclear russo não diferem dos adotados pelos Estados Unidos. Lavrov também afirmou que a Rússia é "fortemente a favor de fazer de tudo para prevenir uma guerra nuclear na Ucrânia". "A atualização da doutrina não significa nada que o Ocidente já não saiba, não adiciona nada diferente da doutrina dos americanos sobre o que fazer com suas armas nucleares", afirmou o ministro russo, em coletiva de imprensa na Barra da Tijuca.

A mudança na doutrina nuclear russa veio por meio de decreto assinado por Vladimir Putin. Ele reagiu à decisão do governo Joe Biden que deu aval para a Ucrânia disparar mísseis ocidentais balísticos de longo alcance, com impacto de até 300 quilômetros de distância.

A autorização já permitiu que Kiev conduzisse um primeiro ataque, reportaram agências internacionais. Ao menos cinco mísseis teriam sido repelidos pela defesa anti-aérea de Moscou.

Lavrov repetiu no Rio as palavras do presidente russo que, semanas atrás, antecipou que qualquer aval dos aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para Kiev disparar mísseis de longo alcance significaria um envolvimento direto deles na guerra, escalando o conflito.

Segundo o chanceler, os disparos contra a Rússia por parte de Kiev significam que são "operados" com assistência militar de especialistas dos Estados Unidos e do Ocidente para guiar os mísseis, como Putin já expressou, por meio de satélites que Kiev não controla. "Vamos encarar isso como uma nova fase da guerra ocidental contra a Rússia", disse Lavrov. "E vamos operar de forma adequada."

Durante coletiva de imprensa no Rio, Lavrov também disse que os russos estão fazendo todos os esforços para evitar uma guerra nuclear.

Ele comparou as declarações do futuro presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que promete encerrar a guerra rapidamente, aos esforços por um cessar-fogo e ao plano de negociação com seis princípios proposto por Brasil e China. "Ele deseja a paz, assim como Brasil e China", afirmou o chanceler.

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Um terceiro foragido condenado por participação nos atos golpistas do 8 de janeiro de 2023 foi preso na Argentina. Wellington Luiz Firmino, condenado a 17 anos de prisão, foi detido em Jujuy, noroeste do país, nesta segunda-feira, 18, ao tentar fugir de moto para o Chile.

Ele foi preso no posto da fronteira, que identificou a ordem de prisão emitida pela 3ª Vara Federal da Justiça Argentina a pedido do Supremo Tribunal Federal (STF) contra os 61 foragidos dos atos de 8 de janeiro de 2023. Na semana passada, o Ministério de Segurança da Argentina confirmou a prisão de dois brasileiros procurados.

Firmino publicou em suas redes sociais vídeos confirmando a detenção. "Minha ideia era fugir, mas, com o nome na Interpol, na primeira passagem pela polícia eu fui preso", disse.

Firmino foi um dos participantes da invasão aos Três Poderes em Brasília e gravou um vídeo enquanto estava em cima do prédio do Congresso Nacional, comemorando a tomada do local. Firmino foi condenado pelos crimes de associação criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. A pena é de 15 anos de reclusão e mais dois anos de detenção.

Com a eleição de Javier Milei em 2023 para a presidência da Argentina, o número de brasileiros que pediram refúgio no país disparou em 2024, chegando a 185 até outubro. Em 2023, foram apenas três. Apesar de Milei ser apoiador de Bolsonaro, as forças policiais do país estão cumprindo as decisões da Justiça Brasileira.

Em junho, o governo argentino repassou ao Itamaraty uma lista com dados de brasileiros condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro que ingressaram no país vizinho e são considerados foragidos da Justiça. O documento foi enviado a Brasília e imediatamente repassado ao Supremo.

O Brasil e a Argentina são signatários do Acordo de Extradição entre os Estados Partes do Mercosul desde 2006. O pacto prevê que os signatários "obrigam-se a entregar, reciprocamente, segundo as regras e as condições estabelecidas no presente acordo, as pessoas que se encontrem em seus respectivos territórios e que sejam procuradas pelas autoridades competentes de outro Estado Parte, para serem processadas pela prática presumida de algum delito, que respondam a processo já em curso ou para a execução de uma pena privativa de liberdade".

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), classificou como "extremamente preocupante" as suspeitas contra militares que, segundo a Polícia Federal, tramariam um golpe de Estado que culminaria na morte de Luiz Inácio Lula da Silva, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes. Também defendeu que os envolvidos "sejam julgados sob o rigor da lei", um indicativo contrário à anistia dos envolvidos em todo o processo investigado pelo Supremo Tribunal Federal, cujo ato público foi a destruição do 8 de janeiro.

Em nota divulgada à imprensa nesta terça-feira, 19, Pacheco disse que são "extremamente preocupantes as suspeitas que pesam sobre militares e um policial federal, alvos de operação da Polícia Federal, na manhã desta terça-feira".

"O grupo, segundo as investigações, tramava contra a democracia, em uma clara ação com viés ideológico. E o mais grave, conforme a polícia, esses militares e o policial federal tinham um plano para assassinar o presidente da República e o seu vice, além de um ministro do Supremo", declarou.

O senador reiterou que "não há espaço no Brasil para ações que atentam contra o regime democrático, e menos ainda, para quem planeja tirar a vida de quem quer que seja".

"Que a investigação alcance todos os envolvidos para que sejam julgados sob o rigor da lei", finalizou.

A Polícia Federal deflagrou uma operação na manhã desta terça contra quatro militares e um policial federal acusados de articularem um plano para matar Lula, Alckmin e Moraes.

O plano Punhal Verde e Amarelo, apreendido com o general reformado do Exército Mário Fernandes - ex-secretário-executivo da Presidência do governo Bolsonaro - previa o assassinato de Lula por envenenamento ou "uso de químicos para causar um colapso orgânico", considerando a vulnerabilidade de saúde e ida frequente a hospitais do petista.

No planejamento dos militares presos nesta terça-feira, 19, na Operação Contragolpe, Lula era tratado pelo codinome Jeca e seu vice, Geraldo Alckmin, era Joca. Segundo a Polícia Federal, o arquivo "continha um verdadeiro planejamento com características terroristas".

A Polícia Federal atribui ao general Braga Netto, ex-ministro da Defesa de Jair Bolsonaro, envolvimento direto com a ação de 'kids pretos' mobilizados para a Operação Punhal Verde e Amarelo - missão para matar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, em 2022. Ao pedir a abertura da Operação Contragolpe - que nesta terça, 19, levou à prisão de militares que planejaram o assassinato de Lula, Alckmin e Moraes - a PF detalhou como oficiais efetivamente seguiram os passos do magistrado desafeto de bolsonaristas.

A missão que empregou até viaturas oficiais da Força foi acertada em uma reunião na casa de Braga Netto, diz a PF. O grupo clandestino intitulou de Operação 'Copa 2022' o monitoramento do ministro do STF no dia 15 de dezembro daquele ano - a 16 dias da posse do então presidente eleito Lula.

De acordo com o inquérito da Operação Contragolpe, Braga Neto era peça-chave no plano de golpe de Estado - o general seria o coordenador-geral de um hipotético 'Gabinete Institucional de Gestão da Crise' caso a ruptura ocorresse.

Segundo a Polícia Federal, a reunião ocorreu no dia 12 de novembro - um mês antes da 'Copa 2022'. No encontro, o "planejamento operacional para a atuação dos 'kids pretos' foi apresentado e aprovado". A reunião contou com a participação do tenente-coronel Mauro Cesar Cid, o major Rafael de Oliveira e o tenente-coronel Ferreira Lima.

Os militares mobilizados para o plano golpista têm especialização em Forças Especiais. A PF descobriu que, para ocultar suas verdadeiras identidades, eles assumiram codinomes para o rastreamento de Moraes - 'Gana', 'Japão', 'Argentina', 'Brasil', Áustria' e 'Alemanha', países que participaram na Copa do Mundo daquele ano. Os oficiais discutiam as ações sobre o ministro do STF em um grupo batizado com o nome da Operação.

Pelo menos um veículo oficial vinculado ao Batalhão de Ações de Comandos foi empregado na Operação 'Copa 2022', como eles batizaram a jornada que visava, também, o envenenamento de Lula.

A Operação 'Copa 2022' foi lançada pelos militares investigados no dia em que o Supremo Tribunal Federal debatia a derrubada do orçamento secreto. A Polícia Federal suspeita que, considerando o teor das mensagens trocadas entre os militares, "a ação desenvolvida tinha relação com a notícia do adiamento da votação que estava sendo realizada" na Corte.

As informações constam da Operação Contragolpe, deflagrada nesta terça, 19, que culminou na prisão do general reformado Mário Fernandes, de três 'kids pretos' - tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, major Rafael Martins de Oliveira e major de Infantaria Rodrigo Bezerra de Azevedo, que servia no Comando de Operações Especiais - e do policial federal Wladimir Matos Soares,

Os kids pretos são militares de alta performance em ações de grande impacto. Todos os presos na Operação Contragolpe são suspeitos de envolvimento com o plano de assassinato de Lula e de seu vice, Geraldo Alckmin, logo após as eleições de 2022.

O audacioso planejamento também envolvia uma eventual prisão e até a execução de Moraes.

De acordo com os investigadores, a Operação 'Punhal Verde e Amarelo' (eliminação de Lula e Alckmin) estava diretamente relacionada à Operação Copa 2022 (monitoramento e assassinato do ministro). O objetivo central do grupo era a "elaboração de um detalhado planejamento que seria voltado ao sequestro ou homicídio do ministro Alexandre de Moraes e, ainda, dos candidatos eleitos Luís Inácio Lula da Silva e Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho".

Cronologicamente, as mensagens sobre a Operação Copa 2022 foram encontradas no celular do tenente-coronel Mauro Cid após os diálogos que indicam alterações feitas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro na minuta do golpe - documento encontrado em um armário na residência do ex-ministro Anderson Torres (Justiça) - após reunião entre o ex-chefe do Executivo e o general Estevam Cals Tehófilo - este, segundo o inquérito da PF, teria sido o responsável pela mobilização dos 'kids pretos' para a consumação do golpe.

Segundo a PF, seis dias após Bolsonaro analisar a minuta golpista, Mauro Cid e Marcelo Câmara - coronel do Exército, ex-assessor de Bolsonaro - trocaram mensagens indicando que estavam acompanhando a operação organizada pelo general Mário Fernandes para concretizar a prisão de Moraes.

Os investigadores resgataram mensagens em que Mauro Cid e o major Rafael Martins trocam um documento protegido por senha, com o nome 'Copa 2022', "com uma estimativa de gastos para subsidiar, possivelmente, as ações clandestinas, que seriam executadas durante os meses de novembro e dezembro de 2022" - incluindo 'hotel', 'alimentação' e 'material'. O custo estimado bateu em R$ 100 mil.

Os militares usaram "técnicas típicas de agentes de forças especiais", diz a PF.

A ação contou com a participação de pelo menos seis golpistas. Para dificultar o rastreamento das atividades ilícitas, os investigados: "habilitaram linhas de telefonia móvel em nome de terceiros, sem qualquer relação com os fatos investigados; criaram um grupo denominado 'Copa 2022' em aplicativo de mensagens; receberam um codinome associado a países (Alemanha, Áustria, Brasil, Argentina, Japão e Gana) para não revelarem suas verdadeiras identidades".

Nos diálogos trocados no grupo, a PF constatou que um dos investigados, 'Gana', estaria próximo à casa de Moraes. O principal alvo ligado à operação clandestina seria Rafael Martins de Oliveira, com "sólida participação no caso". Ele se identificava como 'Japão'.

Moraes era 'Professora', segundo diálogos entre Cid e Câmara .

"Por onde anda a Professora?", indagou Cid em 21 de dezembro. 'Informação que foi para uma escola em SP. Ontem', respondeu Câmara.

Sobre o retorno de Moraes a Brasília, Câmara informou. "Somente para início do ano letivo. Apesar de ter a previsão do período de recuperação. Tem dúvida."

O monitoramento do ministro avançou até a véspera do Natal.