Uruguai vai às urnas escolher entre continuidade e guinada à esquerda

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Os uruguaios voltam às urnas neste domingo, 24, no segundo turno da eleição presidencial. A escolha é entre a continuidade do governo de centro-direita de Luis Lacalle Pou ou uma guinada para a esquerda do ex-presidente José Mujica. Todas as pesquisas colocam à frente o candidato esquerdista Yamandú Orsi, da Frente Ampla, mas a vantagem sobre o conservador Álvaro Delgado, do Partido Nacional, fica dentro da margem de erro.

Orsi, de 57 anos, e Delgado, de 55, disputam o governo da democracia mais sólida da América Latina, com uma renda per capita comparativamente alta e baixos níveis de pobreza. Um deles substituirá em março o atual presidente, Lacalle Pou, que deixa o poder com um alto índice de aprovação - a reeleição é vetada pela Constituição uruguaia.

Orsi é a aposta da Frente Ampla para recuperar a presidência, perdida para Lacalle Pou em 2019, após 15 anos no poder - com dois mandatos de Tabaré Vázquez e um de Mujica. Silvia Martínez, doméstica de 60 anos, diz que votará em Orsi, já que, para ela, o Uruguai era melhor "em tudo" durante o período em que foi governado pela Frente Ampla.

"Nós, que estamos abaixo, somos os que mais sofrem", disse Silvia, após um comício de Mujica, que teve um papel importante na campanha de Orsi como "principal estrategista", de acordo com o cientista político Alejandro Guedes.

O ex-guerrilheiro de 89 anos, que luta contra um câncer no esôfago, saiu às ruas pedindo votos. Em comícios e entrevistas, ele exibiu seu estilo de vida austero, que no passado lhe rendeu o apelido de "presidente mais pobre do mundo", e criticou os políticos que "gostam de dinheiro".

DISPUTA

Orsi saiu das urnas à frente no primeiro turno, em 27 de outubro, com 43,9% dos votos, insuficiente para evitar uma nova votação contra Delgado, que obteve 26,8%. No entanto, o governista recebeu apoio de quase todos os outros candidatos, que somados representariam 47,7% dos votos do primeiro turno.

"Apoio Delgado, porque o considero a continuidade deste governo, que para mim foi positivo", disse Manuel Cigliuti, assistente administrativo de 24 anos que elogiou a gestão da economia, da segurança e da pandemia.

Apesar da leve vantagem de Orsi sobre Delgado, analistas alertam que os dois estão em empate técnico. "Embora Orsi tenha subido em todas as sondagens, a diferença sobre Delgado diminuiu. É um cenário muito competitivo", afirmou o sociólogo Eduardo Bottinelli, diretor da consultoria Factum. "O país está dividido e a eleição deve ser definida por menos de 50 mil votos" - a última, em 2019, foi decidida por 37 mil.

"Ainda que a vitória seja por margens estreitas, não se espera que o resultado seja contestado. Quem perder aceitará pacificamente e será aberta uma etapa necessária de negociação entre os dois blocos", disse Bottinelli. O diálogo parece inevitável, visto que nenhum dos dois tem maioria parlamentar. Em outubro, 16 das 30 cadeiras do Senado foram para a Frente Ampla, mas 49 dos 99 lugares da Câmara dos Deputados ficaram com a coalizão governista.

"Temos as condições para assumir o país", prometeu Orsi ao encerrar sua campanha, garantindo "uma atitude firme" para "levar adiante as reformas de que o país necessita". "Abriremos os braços para os acordos necessários", disse Delgado, confiando que "uma maioria silenciosa" lhe dará a vitória.

SEM RUPTURA

Os analistas não esperam mudanças significativas na economia, seja quem for o vencedor, embora possa haver diferenças na política comercial - Orsi prioriza o Mercosul, enquanto Delgado busca uma maior abertura para o mundo. Ambos querem impulsionar o crescimento, em recuperação após a desaceleração devido à pandemia e a uma seca histórica, e prometem reduzir o déficit fiscal.

No único debate da campanha, Orsi e Delgado se comprometeram em não aumentar a carga tributária e a combater a criminalidade. A segurança pública é a maior preocupação dos eleitores, segundo as pesquisas. (Com agências internacionais)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta segunda-feira, 10, que o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), preserve todas as imagens das câmeras corporais dos policiais civis e militares envolvidos na Operação Contenção, que deixou 121 mortos nos complexos do Alemão e da Penha em outubro. Na mesma decisão, o ministro determinou que o governador envie ao STF, em até 48 horas, a relação de agentes envolvidos na operação e também cópias de todos os laudos necroscópicos dos mortos na ação.

Moraes cobrou também os relatórios de inteligência e policiais que embasaram a operação, deflagrada para cumprir mandados de prisão preventiva contra lideranças do Comando Vermelho, gerentes do tráfico e soldados da facção. O ministro vai verificar se havia nos relatórios pistas que indicassem que os alvos dos mandados de prisão estavam no local onde ocorreu a operação.

Moraes pediu ainda que Cláudio Castro informe as medidas tomadas para cumprir a decisão anterior que obrigou o governo e preservar todas as provas, perícias e documentos relacionados à operação. Segundo o ministro, as informações complementares são necessárias "para a análise" da Operação Contenção.

Alexandre de Moraes também determinou a suspensão imediata do inquérito aberto na 22ª Delegacia de Polícia do Rio de Janeiro (Penha) para investigar familiares de vítimas por terem retirado corpos da região de mata. O ministro mandou notificar o delegado titular para que ele preste informações ao STF em 48 horas.

O ministro também fez cobranças ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, ao Ministério Público do Estado e à Defensoria Pública do Rio. Moraes pediu ao Poder Judiciário a relação das pessoas com mandado de prisão que foram efetivamente presas na Operação Contenção e a relação dos demais presos - por mandado ou em flagrante - que não constavam como alvos da ação e a situação processual de cada um. Também solicitou os resultados das audiências de custódia e dos mandados de busca e apreensão.

Ao Ministério Público, o ministro solicitou relatórios e cópias dos laudos feitos pela perícia técnica independente do órgão e da investigação que desencadeou a operação. E, por fim, Moraes pediu que a Defensoria Pública informe se o governo permitiu o acesso da instituição às provas e "procedimentos necessários para o devido acompanhamento e assistência às famílias das vítimas".

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste domingo, 9, que "a ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe", em um sinal indireto às ameaças promovidas pelo governo dos Estados Unidos contra a Venezuela. Ele afirmou que "democracias não combatem o crime violando o direito internacional".

O governo de Donald Trump tem usado como pretexto para intensificar sua presença militar no Caribe o combate ao narcotráfico. Nos últimos meses, destruiu barcos que trafegavam pela região alegando que se tratava de embarcações de traficantes. Os tripulantes foram mortos.

O discurso de Lula foi feito na Cúpula Celac-União Europeia em Santa Marta, na Colômbia. O presidente brasileiro disse que a América Latina é uma "região de paz" e pretende continuar assim.

"A ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe. Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais. Somos região de paz e queremos permanecer em paz. Democracias não combatem o crime violando o direito internacional", declarou.

Segundo Lula, a "democracia também sucumbe quando o crime corrompe as instituições, esvaziam espaços públicos e destroem famílias e desestruturam negócios". O presidente brasileiro disse que garantir "segurança é dever do Estado e direito humano fundamental" e que "não existe solução mágica para acabar com a criminalidade". O presidente defendeu "reprimir o crime organizado e suas lideranças, estrangulando seu financiamento e rastreando e eliminando o tráfico de armas".

Lula citou a última reunião da cúpula Celac-União Europeia, há dois anos, em Bruxelas. Disse que, naquela época, "vivíamos um momento de relançamento dessa histórica parceria", mas, "deste então, experimentamos situações de retrocessos".

O petista criticou a falta de integração entre os países latinoamericanos. Afirmou que "voltamos a ser uma reunião dividida" e com ameaças envolvendo o "extremismo político".

"A América Latina e o Caribe vivem uma profunda crise em seu projeto de integração. Voltamos a ser uma região dividida, mais voltada para fora do que para si própria. A intolerância cria força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam se sentar na mesma mesa. Voltamos a viver com a ameaça do extremismo político, da manipulação da informação e do crime organizado. Projetos pessoais de apego ao poder muitas vezes solapam a democracia", afirmou.

Em seu discurso, Lula também citou a realização da COP30, em Belém, e mencionou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). Disse que o fundo "é solução inovadora para que nossas florestas valham mais em pé do que derrubadas" e que a "transição energética é inevitável".

O petista também lamentou o tornado que atingiu a cidade de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, e manifestou suas condolências às vítimas da tragédia climática dos últimos dias.

O novo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, afirmou na tarde deste sábado, 8, em São Paulo, que governadores bolsonaristas "preferem fazer demagogia com sangue, ao tratar todo mundo da comunidade como se fosse bandido". Boulos disse que essa é a visão dos governadores do Rio, Cláudio Castro (PL), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de outros chefes de Executivo estadual apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele lançou no Morro da Lua, região de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, o Projeto Governo na Rua, que tem a finalidade de ouvir a população e levar as manifestações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Boulos declarou também que a questão do combate ao crime é antiga, mas que Luiz Inácio Lula da Silva é quem tomou a iniciativa de tentar resolver com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e o projeto de lei antifacção. Conforme o ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência, com essas propostas aprovadas, o governo federal terá mais atribuições e responsabilidades para o enfrentamento ao crime.

"A gente acredita que o combate ao crime tem que fazer da maneira correta, como a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, para pegar o peixe grande, não o bagrinho. O peixe grande está na Avenida Faria Lima, não na favela", acredita.