Presidente eleito do Uruguai apoia Brasil na crise da carne

Internacional
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O presidente eleito do Uruguai, Yamandú Orsi, fez nesta sexta-feira, 29, sua primeira viagem ao Brasil e se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília. Orsi manifestou apoio ao Brasil no embate com a França, após anúncios de boicote à carne produzida no Mercosul, que abriu uma crise entre os dois países.

"Felicitamos Lula pelas declarações e definições apresentadas sobre a necessidade de articulação com a Europa e toda a nossa solidariedade ao Brasil por tudo o que ocorreu ao longo deste tempo", disse Orsi, em breve pronunciamento no Palácio do Planalto.

O Uruguai tem a pecuária como uma atividade-chave de sua economia e também é um exportador de proteína animal. A crise diplomática ocorre em meio a discussões finais para um acordo de livre-comércio do bloco com a União Europeia.

Representante da esquerda, o uruguaio fez sua primeira viagem ao exterior após ser eleito, no domingo, e disse que a reunião ocorreu entre amigos, dadas as relações de afinidade entre o PT e a Frente Ampla, partido de Orsi e de José "Pepe" Mujica, ex-presidente uruguaio que foi o principal cabo eleitoral na campanha presidencial.

A comitiva foi formada por nomes já indicados para compor a equipe do futuro governo: Gabriel Odonne, ministro de Economia e Finanças, Alejandro Sánchez, secretário da Presidência, Camilo Cejas e Álvaro Padron, ambos assessores especiais.

Cúpula

O presidente eleito afirmou ainda que trouxe a Lula saudações do ex-presidente Mujica e do atual, Luis Lacalle Pou. Eles devem se encontrar na semana que vem, quando o brasileiro planeja participar da cúpula do Mercosul, em Montevidéu, na quinta e na sexta-feira.

A presidência do bloco é exercida pelo Uruguai, que passará o comando à Argentina de Javier Milei, que agora divide a bandeira conservadora no Mercosul com o presidente paraguaio, Santiago Peña.

União Europeia

O encontro ocorrerá sob expectativas e incertezas a respeito da conclusão das negociações de um tratado de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia. Orsi afirmou ontem que o mundo está muito agitado e cada vez mais imprevisível. Ele indicou ainda que o bloco sul-americano não deve "perder oportunidades" de acordos como esse.

No governo de Lacalle Pou, de centro-direita, o Uruguai tem exposto uma visão crítica do Mercosul, a respeito de barreiras internas ao comércio, além pressionar para que o bloco avance em uma negociação comercial com a China - mesmo que cada país possa tocar as conversas individualmente com os chineses. Isso contraria os princípios do bloco e sofre forte oposição do governo brasileiro.

Expansão

"Estamos otimistas com a possibilidade de continuar estreitando laços com outras regiões e, fundamentalmente, com a Europa. É claro que fez parte da conversa a análise do Mercosul como proposta e as dificuldades que historicamente tivemos, mas sempre nos posicionando, seguindo uma linha de trabalho que o Uruguai vem concretizando, ser protagonistas neste Mercosul e não perder a oportunidade em um mundo que é tão imprevisível e tão mutável", disse.

De acordo com o futuro presidente do Uruguai, de 57 anos, que assumirá o poder em março do ano que vem, o mundo de hoje exige atenção. "As relações entre os países da região têm de ser mais fortes do que nunca, além, é claro, da relação entre governos ou partidos que chegam ao poder", afirmou Orsi.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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A Polícia Federal cumpriu nesta quarta-feira, 12, uma nova ordem de prisão preventiva do lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, suspeito de vender decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A prisão foi decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Cristiano Zanin após uma análise da situação da saúde do lobista. Em julho, Zanin havia mandado Andreson para prisão domiciliar por causa da piora em seu estado de saúde.

Após quatro meses do regime domiciliar, a PF afirmou ao ministro que Andreson tinha se recuperado e apontou suspeitas de que ele forjou a piora na sua saúde por meio de greve de fome voluntária. Por isso, Zanin decretou a nova preventiva. Ele foi levado para um presídio em Mato Grosso.

Em nota, a defesa do lobista rebateu as acusações. "Decisão tão surpreendente quanto desfundamentada. Esqueceram o laudo do IML e seu diagnóstico com base em exames de imagem e outros, para validar 50 minutos de dois policiais médicos na casa dele. A ser assim, se ele se suicidar, dirão que, como foi voluntário o suicídio, ele deverá ser enterrado no presídio", afirmou o advogado Eugenio Paccelli.

Conversas e pagamentos

Andreson entrou na mira da Operação Sisamnes, da Polícia Federal, após a apreensão do celular do advogado Roberto Zampieri, assassinado em dezembro de 2023 em Cuiabá. Os diálogos entre os dois mostraram que o lobista tinha acesso a minutas antecipadas de decisões de ministros do STJ e dizia ter a capacidade de influenciar essas decisões. Por causa disso, a Polícia Federal abriu investigação e prendeu o lobista em novembro do ano passado.

Ao longo da apuração, a PF constatou que Andreson transferiu ao menos R$ 4 milhões a um assessor do STJ, além de ter movimentado cifras milionárias por meio de empresas suspeitas de lavagem de dinheiro. Também acusou o lobista de comprar decisões da Justiça de Mato Grosso. O inquérito ainda segue em andamento. Andreson ficou detido até julho, quando Zanin acolheu pedido da defesa de prisão domiciliar por causa da perda de peso e piora do seu estado de saúde.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, reforçou nesta quarta-feira, 12, a intenção de ter um perfil discreto caso seja reconduzido ao cargo. Durante sabatina na Comissão de Constituição e Justiça, Gonet defendeu o sigilo e uma atuação sem vazamento ou manifestações públicas.

"Minhas manifestações se deram invariavelmente nos autos dos processos, sem vazamento nem comentário público, nenhum detrimento à imagem ou presunção de inocência dos investigados. O respeito ao sigilo judicial sempre foi obedecido de modo absoluto e assim continuará a ser", disse durante sessão da comissão que analisa sua indicação para mais dois anos no cargo. As declarações podem ser vistas como uma forma de o PGR se contrastar com alguns de seus antecessores, como Augusto Aras e Rodrigo Janot.

Como mostrou a Coluna do Estadão, senadores do Centrão ouvidos dizem que a resistência à recondução de Gonet está restrita ao bolsonarismo. O procurador-geral da República, afirmam, têm bom diálogo com o Congresso e é bem-visto até em parte do PL, sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Apesar de um receio do governo Lula com a sabatina, os parlamentares não identificaram nenhum movimento concreto para barrar um novo mandato a Gonet. Durante a sabatina, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que Gonet cumpre ordens do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. "O senhor perseguiu, entrou no jogo sujo de uma pessoa que, para mim, é doente, mas o senhor está lá, parece cumprindo ordens dele", afirmou. O PGR pediu a condenação de Bolsonaro na trama golpista. O ex-presidente foi condenado pelo STF a 27 anos e três meses de prisão.

A Polícia Federal faz buscas em 24 endereços nesta quarta-feira, 12, para aprofundar uma investigação sobre suspeitas de obstrução da operação que levou ao afastamento do governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos). Ele é um dos alvos das buscas. Procurada, a defesa de Wanderlei Barbosa ainda não se manifestou.

Os mandados de busca e apreensão foram autorizados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Os endereços alvo da PF na Operação Nêmesis ficam em Palmas e Santa Tereza do Tocantins.

Em setembro, quando deflagrou a segunda fase da Operação Fames-19, que afastou o governador, a Polícia Federal descobriu que investigados usaram veículos oficiais para retirar e transportar documentos e materiais de interesse, o que pode configurar o crime de embaraço a investigações sobre a organização criminosa.

A Polícia Federal informou que as buscas feitas nesta quarta têm como objetivo impedir a destruição e a ocultação de provas e de ativos e reunir novos elementos que contribuam para esclarecer o caso, inclusive sobre suspeitos que ainda não haviam sido identificados.

O governador foi afastado por suspeita de corrupção e desvios de verbas destinadas à compra de cestas básicas durante a pandemia da covid-19. Wanderlei Barbosa nega irregularidades. A primeira-dama Karynne Sotero Campos e deputados da Assembleia Legislativa do Tocantins também são investigados.