Sob ameaça de tarifas de 25% sobre o Canadá, Justin Trudeau visita Trump na Flórida

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O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, voou para a Flórida nesta sexta-feira, 29, para jantar com o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump no clube Mar-a-Lago, após Trump ameaçar impor tarifas abrangentes sobre produtos canadenses.

Trump afirmou que aplicaria tarifas de 25% sobre produtos do Canadá e do México se não fosse interrompido o que chamou de fluxo de drogas e migrantes pelas fronteiras norte e sul.

Embora Trump tenha chamado Trudeau de "fraco" e "desonesto" em seu primeiro mandato, as relações entre os dois países continuam entre as mais próximas do mundo. Trudeau é o primeiro líder do G-7 a visitar Trump desde a eleição de 4 de novembro.

O jantar contou com a presença de Howard Lutnick, indicado de Trump para secretário de Comércio, Doug Burgum, escolhido para o Departamento do Interior, Mike Waltz, futuro conselheiro de segurança nacional, além de suas esposas. Também participaram o senador eleito David McCormick e sua esposa Dina Powell, além de Dominic LeBlanc, ministro da Segurança Pública do Canadá, e Katie Telford, chefe de gabinete de Trudeau.

Trudeau disse mais cedo nesta sexta-feira que resolveria a questão das tarifas conversando com Trump. A presidente mexicana Claudia Sheinbaum disse na quinta-feira, 29, após falar com Trump, que está confiante de que uma guerra tarifária com os Estados Unidos será evitada.

"Vamos trabalhar juntos para atender a algumas das preocupações", Trudeau disse aos repórteres na Ilha do Príncipe Eduardo. "Mas, no final das contas, é por meio de muitas conversas realmente construtivas com o presidente Trump que eu terei, que continuaremos no caminho certo para todos os canadenses."

Trudeau afirmou que Trump foi eleito prometendo reduzir o custo dos alimentos, mas agora está falando em aumentar em 25% o preço de diversos produtos, incluindo batatas da Ilha do Príncipe Eduardo. "É importante entender que, quando Donald Trump faz declarações como essa, ele planeja cumpri-las. Não há dúvidas quanto a isso", disse Trudeau.

"Nosso papel é apontar que ele não apenas prejudicaria os canadenses, que trabalham tão bem com os Estados Unidos, mas também aumentaria os preços para os cidadãos americanos e prejudicaria a indústria e os negócios americanos", acrescentou.

Essas tarifas poderiam desestabilizar o acordo comercial norte-americano renegociado durante o primeiro mandato de Trump. Trudeau lembrou que o tratado foi um "ganha-ganha" para ambos os países e acredita que a cooperação pode ser mantida.

Trump ameaçou impor tarifas de 25% ao criticar o aumento de migração e o tráfico de fentanil, embora os números na fronteira canadense sejam muito menores em comparação à fronteira sul. A Patrulha de Fronteira dos EUA fez 56.530 prisões na fronteira mexicana apenas em outubro e 23.721 na canadense entre outubro de 2023 e setembro de 2024.

Trump também criticou o fentanil vindo do México e do Canadá, embora as apreensões na fronteira canadense sejam poucas em comparação à fronteira sul. Agentes alfandegários dos EUA apreenderam 43 libras de fentanil na fronteira canadense no último ano fiscal, contra 21.100 libras na fronteira mexicana.

Autoridades canadenses consideram injusta a comparação com o México, mas estão prontas para reforçar a segurança na fronteira.

Quando Trump impôs tarifas mais altas em seu primeiro mandato, outros países reagiram com tarifas retaliatórias. O Canadá, por exemplo, anunciou bilhões em novos impostos contra os EUA em 2018 em resposta às tarifas sobre aço e alumínio canadenses.

O Canadá já está examinando possíveis tarifas retaliatórias contra determinados itens dos EUA caso Trump leve adiante sua ameaça de impor tarifas abrangentes sobre produtos canadenses, segundo um alto funcionário.

Um representante do governo afirmou que o Canadá está se preparando para todas as eventualidades e já começou a pensar em quais itens poderiam ser alvo de retaliação. Ele ressaltou que nenhuma decisão foi tomada.

O comércio entre os dois países é significativo: cerca de US$ 2,7 bilhões em bens e serviços cruzam a fronteira diariamente. O Canadá é o principal destino de exportação de 36 estados americanos. Cerca de 60% das importações americanas de petróleo bruto vêm do Canadá, assim como 85% da eletricidade importada./AP

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A Polícia Federal cumpriu nesta quarta-feira, 12, uma nova ordem de prisão preventiva do lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, suspeito de vender decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A prisão foi decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Cristiano Zanin após uma análise da situação da saúde do lobista. Em julho, Zanin havia mandado Andreson para prisão domiciliar por causa da piora em seu estado de saúde.

Após quatro meses do regime domiciliar, a PF afirmou ao ministro que Andreson tinha se recuperado e apontou suspeitas de que ele forjou a piora na sua saúde por meio de greve de fome voluntária. Por isso, Zanin decretou a nova preventiva. Ele foi levado para um presídio em Mato Grosso.

Em nota, a defesa do lobista rebateu as acusações. "Decisão tão surpreendente quanto desfundamentada. Esqueceram o laudo do IML e seu diagnóstico com base em exames de imagem e outros, para validar 50 minutos de dois policiais médicos na casa dele. A ser assim, se ele se suicidar, dirão que, como foi voluntário o suicídio, ele deverá ser enterrado no presídio", afirmou o advogado Eugenio Paccelli.

Conversas e pagamentos

Andreson entrou na mira da Operação Sisamnes, da Polícia Federal, após a apreensão do celular do advogado Roberto Zampieri, assassinado em dezembro de 2023 em Cuiabá. Os diálogos entre os dois mostraram que o lobista tinha acesso a minutas antecipadas de decisões de ministros do STJ e dizia ter a capacidade de influenciar essas decisões. Por causa disso, a Polícia Federal abriu investigação e prendeu o lobista em novembro do ano passado.

Ao longo da apuração, a PF constatou que Andreson transferiu ao menos R$ 4 milhões a um assessor do STJ, além de ter movimentado cifras milionárias por meio de empresas suspeitas de lavagem de dinheiro. Também acusou o lobista de comprar decisões da Justiça de Mato Grosso. O inquérito ainda segue em andamento. Andreson ficou detido até julho, quando Zanin acolheu pedido da defesa de prisão domiciliar por causa da perda de peso e piora do seu estado de saúde.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, reforçou nesta quarta-feira, 12, a intenção de ter um perfil discreto caso seja reconduzido ao cargo. Durante sabatina na Comissão de Constituição e Justiça, Gonet defendeu o sigilo e uma atuação sem vazamento ou manifestações públicas.

"Minhas manifestações se deram invariavelmente nos autos dos processos, sem vazamento nem comentário público, nenhum detrimento à imagem ou presunção de inocência dos investigados. O respeito ao sigilo judicial sempre foi obedecido de modo absoluto e assim continuará a ser", disse durante sessão da comissão que analisa sua indicação para mais dois anos no cargo. As declarações podem ser vistas como uma forma de o PGR se contrastar com alguns de seus antecessores, como Augusto Aras e Rodrigo Janot.

Como mostrou a Coluna do Estadão, senadores do Centrão ouvidos dizem que a resistência à recondução de Gonet está restrita ao bolsonarismo. O procurador-geral da República, afirmam, têm bom diálogo com o Congresso e é bem-visto até em parte do PL, sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Apesar de um receio do governo Lula com a sabatina, os parlamentares não identificaram nenhum movimento concreto para barrar um novo mandato a Gonet. Durante a sabatina, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que Gonet cumpre ordens do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. "O senhor perseguiu, entrou no jogo sujo de uma pessoa que, para mim, é doente, mas o senhor está lá, parece cumprindo ordens dele", afirmou. O PGR pediu a condenação de Bolsonaro na trama golpista. O ex-presidente foi condenado pelo STF a 27 anos e três meses de prisão.

A Polícia Federal faz buscas em 24 endereços nesta quarta-feira, 12, para aprofundar uma investigação sobre suspeitas de obstrução da operação que levou ao afastamento do governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos). Ele é um dos alvos das buscas. Procurada, a defesa de Wanderlei Barbosa ainda não se manifestou.

Os mandados de busca e apreensão foram autorizados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Os endereços alvo da PF na Operação Nêmesis ficam em Palmas e Santa Tereza do Tocantins.

Em setembro, quando deflagrou a segunda fase da Operação Fames-19, que afastou o governador, a Polícia Federal descobriu que investigados usaram veículos oficiais para retirar e transportar documentos e materiais de interesse, o que pode configurar o crime de embaraço a investigações sobre a organização criminosa.

A Polícia Federal informou que as buscas feitas nesta quarta têm como objetivo impedir a destruição e a ocultação de provas e de ativos e reunir novos elementos que contribuam para esclarecer o caso, inclusive sobre suspeitos que ainda não haviam sido identificados.

O governador foi afastado por suspeita de corrupção e desvios de verbas destinadas à compra de cestas básicas durante a pandemia da covid-19. Wanderlei Barbosa nega irregularidades. A primeira-dama Karynne Sotero Campos e deputados da Assembleia Legislativa do Tocantins também são investigados.