México faz apreensão de mais de uma tonelada de fentanil após Trump ameaçar subir tarifas

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Soldados e fuzileiros navais mexicanos apreenderam mais de uma tonelada de comprimidos de fentanil em duas operações no norte do país, sendo considerada a maior apreensão do opioide sintético na história do México.

As operações ocorreram após uma queda acentuada nas apreensões de fentanil no México no início deste ano e dias após o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçar impor tarifas de 25% sobre produtos do Canadá e do México, caso esses países não reprimissem o fluxo de migrantes e drogas na fronteira.

Segundo a Reuters, autoridades mexicanas prenderam mais de 5.200 imigrantes na última terça-feira, 3.

Especialistas sugerem que o momento das apreensões pode não ser coincidência. "É evidente que o governo mexicano tem administrado o momento das apreensões de fentanil", afirmou o analista de segurança David Saucedo. "Sob pressão de Donald Trump, parece que o governo da presidente Claudia Sheinbaum está disposto a aumentar a captura de traficantes e apreensões que Washington exige."

Saucedo acrescentou que o governo mexicano "não vê o fentanil como um problema próprio e combatê-lo não é prioridade". Ele destacou que grandes apreensões só ocorrem "quando há pressão de Washington".

O principal responsável pela segurança no México informou que, na noite de terça-feira, soldados e fuzileiros avistaram dois homens armados no Estado de Sinaloa, lar do cartel homônimo. Os homens fugiram para duas casas. Em uma delas, foram encontrados cerca de 300 quilos de fentanil e, na outra, um caminhão carregado com aproximadamente 800 quilos da droga, principalmente em forma de comprimidos.

"Em Sinaloa, realizamos a maior apreensão de fentanil da história", escreveu o Secretário de Segurança Pública, Omar Garcia Harfuch, em suas redes sociais. Várias armas foram apreendidas e dois homens foram presos.

A presidente Claudia Sheinbaum declarou na quarta-feira, 4, que "esta foi uma investigação que vinha sendo conduzida há algum tempo e que ontem deu frutos." No entanto, essa afirmação contrasta com a aparente natureza aleatória da operação, que começou quando uma patrulha militar "notou a presença de dois homens carregando o que pareciam ser armas".

No passado, as forças de segurança mexicanas às vezes usaram histórias de perseguição a homens armados como pretexto para entrar em casas sem mandados de busca. Em pelo menos um caso, essa versão foi desmentida por imagens de câmeras de segurança.

A recente apreensão é notável, dado que as apreensões de fentanil no México caíram drasticamente na primeira metade do ano. Durante o verão no hemisfério norte (inverno no Brasil), sob o ex-presidente Andrés Manuel López Obrador, as forças federais relataram apreensões de apenas 50 gramas por semana. Entre janeiro e junho de 2024, foram confiscados apenas 130 quilos de fentanil em todo o país, uma queda de 94% em relação aos 2.329 quilos apreendidos em 2023.

O fentanil, culpado por cerca de 70 mil mortes por overdose anualmente nos EUA, frequentemente entra no país na forma de comprimidos falsificados produzidos no México a partir de precursores químicos, em grande parte importados da China.

López Obrador sempre negou que o fentanil fosse produzido no México, embora especialistas e membros de seu próprio governo reconheçam que é. "É uma apreensão muito grande", disse Saucedo. "Mas, se não desmantelarem os laboratórios, essa produção continuará".

Também na quarta-feira, o Departamento de Estado dos EUA anunciou que aumentou a recompensa pelo principal líder de outro cartel, Nemesio Oseguera, conhecido como "El Mencho", de US$ 10 milhões para US$ 15 milhões. Oseguera, chefe do cartel de Jalisco, assim como o de Sinaloa, está fortemente envolvido na fabricação e distribuição de fentanil e metanfetaminas.

*Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado pela equipe editorial do Estadão. Saiba mais em nossa Política de IA.

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O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), assumiu nesta terça-feira, 5, a presidência da segunda turma da Corte. Em seu discurso, o magistrado destacou os desafios que o Tribunal enfrenta - como as mudanças na lógica de trabalho - e criticou os ataques que a instituição sofre.

Para o ministro, a "sociedade bombardeada por um fluxo de informação e desinformação vertiginosos, tem se afundado na polarização e nas tensões políticas e engendrado um sistemático questionamento, se não mesmo um ataque frontal, à democracia".

Ainda criticando a desinformação, Mendes afirma que "a verdade padece ante a avalanche de fake news e espúrias narrativas fabricadas". Para o magistrado, o STF tem o desafio de mostrar a real atuação da Corte: "uma atuação rigorosamente comprometida com a Constituição, com a segurança jurídica, com o Estado democrático de direito e com os direitos fundamentais de todos os brasileiros".

O pronunciamento do ministro se deu na primeira sessão da turma após o retorno do recesso. Durante a pausa, o ministro Alexandre de Moraes, seu colega, foi sancionado pelo governo dos EUA via Lei Magnitsky, em retaliação ao processo que a Corte conduz investigando a participação de Jair Bolsonaro (PL) na tentativa de golpe de Estado.

Quando retornou do recesso, Mendes afirmou que Moraes "tem prestado serviço fundamental para a preservação da nossa democracia" e que o magistrado é vítima de "ataques injustos".

Desafios do STF

Mendes ainda citou os "desafios sem precedentes enfrentados pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Poder Judiciário". "O mundo contemporâneo nos apresenta questões inéditas em sua complexidade: a inteligência artificial, a revolução digital, as transformações nas relações do trabalho, as graves questões ambientais, econômicas, sociais e políticas de escala global", lista o juiz.

O ministro já se pronunciou, anteriormente, sobre o desafio que as mudanças na lógica trabalhista trouxeram para o judiciário. O magistrado foi responsável por suspender todos os processos referentes a "pejotização".

O objetivo da suspensão, segundo Mendes, seria impedir a "multiplicação de decisões divergentes sobre a matéria, privilegiando o princípio da segurança jurídica e desafogando o STF, permitindo que este cumpra seu papel constitucional e aborde outras questões relevantes para a sociedade".

A maior parte dos brasileiros reprova a atuação dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com pesquisa divulgada nesta terça-feira, 5, pelo Datafolha, 36% dos entrevistados consideram ruim ou péssimo o trabalho dos magistrados.

O estudo também constatou que aqueles que consideram as decisões dos juízes são ótimas ou boas somam 29%. Enquanto isso, 31% pensam que os ministros têm desempenho regular e 4% dos entrevistados não sabem opinar.

Dentre os entrevistados, a maioria (68%) considerou que a Corte prioriza os próprios interesses e apenas 27% afirmaram que eles pensam em primeiro lugar na população.

A medição foi feita pelo instituto entre os dias 29 e 30 de julho, ou seja, antes da prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por desobedecer as medidas cautelares, ser decretada pelo ministro Alexandre de Moraes.

Após a prisão do ex-presidente, seus apoiadores e filhos desferiram ataques contra a Corte, afirmando que o Tribunal minou a democracia brasileira e pedindo o impeachment de Moraes. Os deputados Luciano Zucco (PL-RS) e Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) incentivaram seguidores a usar os termos "vingança não é justiça" nas redes sociais, para atacar o STF.

A pesquisa demonstrou que, dentre os bolsonaristas, 81% reprovam o trabalho dos ministros do STF e apenas 2% são favoráveis. Os petistas, por outro lado, são mais alinhados com a Corte: 59% têm avaliação positiva e 9% negativa.

A reprovação do STF subiu desde a última medição realizada pelo Datafolha. Em março de 2024, 28% dos brasileiros reprovavam a Corte e uma ligeira maioria, de 29% dos entrevistados, era a favor da atuação. Na ocasião, 40% dos participantes ainda consideraram os ministros com atuação regular e 3% não opinou

Desde a data, os embates entre o Supremo e atores políticos aumentaram. Oito magistrados da Corte chegaram a ser sancionados com a cassação de seus vistos americanos em retaliação ao processo que conduzem contra Jair Bolsonaro, investigando a participação do ex-presidente na tentativa de golpe de Estado.

O principal articulador das sanções é o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está autoexilado nos EUA e pede pelos ataques. O parlamentar também pediu pela aplicação da Lei Global Magnistsky contra Alexandre de Moraes, o dispositivo legal o impede de acessar bens nos EUA, de visitar o país e de ter acesso a serviços de empresas americanas.

De acordo com pesquisa Datafolha divulgada nesta terça-feira, 5, 35% dos brasileiros consideram a atuação do Congresso Nacional ruim ou péssima. Ao mesmo tempo, os entrevistados que acham o trabalho dos parlamentares regular somaram 41%. Apenas 18% dos participantes afirmaram que o Legislativo é ótimo ou bom, enquanto 6% não opinaram.

A reprovação da Câmara dos Deputados e do Senado, manifestada pela maior parte dos entrevistados, é acompanhada por uma percepção de que o Legislativo privilegia os próprios interesses. Ao todo, 78% dos entrevistados afirmaram que os congressistas dão prioridade a eles mesmos. Somente 18% dos participantes acreditam que o povo é prioridade no Congresso.

A desaprovação ao Congresso se elevou desde a última aferição feita pelo Datafolha. Em março do ano passado, 23% consideravam o Legislativo ruim ou péssimo e 22% ótimo ou bom. A avaliação de que os parlamentares atuavam de forma regular era compartilhada por 53% na ocasião. Por fim, 2% não responderam a pesquisa.

O aumento da desaprovação ocorre após embates entre o Congresso e Executivo. Os senadores e deputados federais acumulam uma série de atritos com a presidência, como a derrubada do aumento do IOF, de interesse do presidente Lula (PT), e o veto do aumento no número de deputados, desejo da Câmara.

Governistas chegaram a levantar uma campanha nas redes sociais com os dizeres "Congresso inimigo do povo" para atacar as Casas. O governo usou, durante esse período, diversos posts feitos com inteligência artificial para criticar a Câmara e o Senado.

Dentre os petistas, a pesquisa identificou que 28% avaliam o Congresso como ruim e 26% bom ou ótimo. Os bolsonaristas, em maior parte, também rejeitam o Legislativo: 38% consideram que a atuação dos senadores e deputados federais é ruim e apenas 14% a avaliam como boa.

A pesquisa 2004 pessoas entre os dias 29 e 30 de julho. A margem de erro do estudo é de dois pontos percentuais e a confiabilidade é de 95%.