Volta de Trump anima grupo que prega ocupação de terras palestinas por Israel

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Planos de autoridades israelenses de ocupar territórios palestinos avançaram nos últimos meses. Em Gaza, o governo de Israel declarou a intenção de criar uma zona de segurança, ocupada com postos e bases militares. Na Cisjordânia, ministros do gabinete de Binyamin Netanyahu apoiam a anexação de territórios. O movimento ganhou força com a vitória de Donald Trump nos EUA.

 

A ofensiva desencadeada pelo ataque do Hamas, em 2023, abriu as portas para o retorno de tropas israelenses à Faixa de Gaza. A princípio, Israel justificou como parte da guerra e disse que não tinha intenção de permanecer no local. Mas, nos últimos três meses, sinais concretos de ocupação no longo prazo começaram a surgir e grupos de colonos passaram a defender a anexação com mais veemência e apoio de parte do governo.

 

Fotos de satélite analisadas pelo New York Times indicam que os soldados israelenses demoliram mais de 600 prédios no corredor Netzarim, estrada de 10 quilômetros que divide o enclave em dois. Com as demolições, os militares passaram a controlar uma área de 46 km². A Faixa de Gaza tem 360 km².

 

Esse território faz parte de uma "zona de proteção", com postos militares, bases e torres de comunicação, afirma o NYT. Uma parte foi erguida no início da guerra, mas muitas construções seguem em andamento. De 19 bases identificadas, 12 foram construídas ou expandidas a partir de setembro.

 

O Exército israelense nega que as bases signifiquem uma ocupação prolongada. "Qualquer coisa que tenha sido construída pode ser desmontada em um dia", disse o coronel Nadav Shoshani, porta-voz militar israelense.

 

Sinal verde

 

No entanto, o local em que a zona de proteção foi estabelecida, entre a Cidade de Gaza e Khan Younis, reflete planos declarados de ministros de Netanyahu para ocupar os territórios palestinos, com o apoio de colonos. No dia 26 de novembro, o ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, declarou que pretende reduzir a população de Gaza pela metade. "Podemos e devemos conquistar Gaza", disse.

 

Extremista e colono na Cisjordânia, Smotrich jamais escondeu seu objetivo. Integra o gabinete outro nome que defende a mesma ideia: o ministro de Segurança Itamar Ben-Gvir. Ambos têm boas relações com a Nachala, organização de colonos que planeja a reocupação de Gaza e da Cisjordânia.

 

Em outubro, a Nachala realizou em Be'eri, kibutz destruído no ataque do Hamas, a conferência "Preparando-se para Reassentar Gaza". Smotrich e Ben-Gvir participaram, assim como deputados do partido Likud, de Netanyahu. Eles defenderam a reocupação no modelo semelhante ao que existiu até 2005.

 

Segundo a presidente da Nachala, Daniella Weiss, o plano é fazer os palestinos "desaparecerem". Em diversas entrevistas, ela repete que os palestinos querem ir para outros países. "Como fazemos isso? Encorajamos. Não estou dizendo forçar, mas habilitar, porque eles querem ir", disse à BBC, em março.

 

Apesar de a maioria dos israelenses ser contra a ocupação de Gaza, as ideias da Nachala têm influência no governo. Em janeiro, eles apresentaram um mapa de Gaza com assentamentos pelo enclave e, desde então, ela tem ido ao território sem permissão oficial do Exército.

 

O discurso agressivo deixa Netanyahu em posição difícil. Qualquer tentativa de desautorizar os extremistas pode causar a queda do governo. Mas, segundo entidades que denunciam a ocupação, não é necessário que haja apoio formal para os planos avançarem.

 

"Tais práticas ilegais são características do governo israelense", escreveu a Anistia Internacional em relatório publicado no dia 5.

 

Cisjordânia

 

Pouco antes do ataque terrorista do Hamas, Ben-Gvir concedeu centenas de licenças para porte de fuzis para judeus que vivem na Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel. Na maioria de suas cidades, ruas estão sendo destruídas com escavadeiras, estradas foram fechadas e postos de controle, instalados. "Há vilarejos em que as pessoas não deixam a casa vazia, porque correm o risco de ter a casa ocupada por israelenses", afirma a brasileira Hyatt Omar, de 26 anos.

 

Ela afirma que, após o ataque do Hamas, uma de suas tias ficou presa em casa por três meses, impedida de sair por militares de Israel que estariam fazendo a segurança de um assentamento. "Os soldados entram nas casas, trancam as pessoas e deixam sem qualquer contato externo, sem nenhum amparo legal", disse Hyatt.

 

A ocupação ocorre com amparo do Estado, responsável por autorizar o confisco de terras e reconhecer os assentamentos. Israel tem citado várias razões para manter as operações na Cisjordânia: direitos históricos ao território; motivos de segurança, tanto internos quanto externos; e o valor simbólico da área para os judeus.

 

Segundo a ONG israelense Paz Agora, que monitora as ações, 24,1 km² da Cisjordânia foram confiscados por ordem de Smotrich, entre outubro de 2023 e julho. Ele também reconheceu 8 postos avançados e incluiu outros 70 como elegíveis para receber estradas e serviços públicos. "Tudo torna a ocupação irreversível", disse Mauricio Lapchik, diretor da ONG.

 

Fator Trump

 

Desde novembro, os extremistas do gabinete de Israel ganharam novo ânimo com a vitória de Trump.

 

"Estávamos a um passo de aplicar a soberania aos assentamentos na Judeia e Samaria, e agora é a hora de fazê-lo", disse Smotrich, no dia 11, se referindo à Cisjordânia da maneira como os judeus ortodoxos a chamam.

 

No primeiro mandato de Trump, a expansão de assentamentos na Cisjordânia se acelerou. Ele apoiou reivindicações históricas de Israel, como o reconhecimento de Jerusalém como capital e a mudança da embaixada para a cidade, além de validar a anexação das Colinas do Golan, oficialmente território da Síria.

 

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O novo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, afirmou na tarde deste sábado, 8, em São Paulo, que governadores bolsonaristas "preferem fazer demagogia com sangue, ao tratar todo mundo da comunidade como se fosse bandido". Boulos disse que essa é a visão dos governadores do Rio, Cláudio Castro (PL), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de outros chefes de Executivo estadual apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele lançou no Morro da Lua, região de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, o Projeto Governo na Rua, que tem a finalidade de ouvir a população e levar as manifestações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Boulos declarou também que a questão do combate ao crime é antiga, mas que Luiz Inácio Lula da Silva é quem tomou a iniciativa de tentar resolver com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e o projeto de lei antifacção. Conforme o ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência, com essas propostas aprovadas, o governo federal terá mais atribuições e responsabilidades para o enfrentamento ao crime.

"A gente acredita que o combate ao crime tem que fazer da maneira correta, como a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, para pegar o peixe grande, não o bagrinho. O peixe grande está na Avenida Faria Lima, não na favela", acredita.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), divulgou neste sábado, 8, a pauta da Casa para a próxima semana, com a inclusão do projeto de lei antifacção - texto encaminhado pelo governo ao Congresso na esteira da megaoperação que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro. A proposta é relatada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de segurança de São Paulo.

Motta marcou a primeira sessão deliberativa da Casa da semana para terça-feira, 11, às 13h55. A sessão será semipresencial, conforme decidido pelo presidente da Câmara em atenção a pedido de líderes partidários. Isso significa que os deputados poderão votar a distância nas sessões dessa semana, sem precisarem estar em Brasília.

A pauta também contém outros projetos relacionados à Segurança Pública, como o que aumenta a destinação da arrecadação com jogos de apostas de quota fixa (bets) para o financiamento da segurança pública. O relator de tal projeto é o deputado Capitão Augusto (PL-SP).

Outro projeto na lista de serem debatidos pelos parlamentares é o que condiciona a progressão de regime, a saída temporária e a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva à coleta de material biológico para obtenção do perfil genético do preso. O relator é o deputado Arthur Maia (União-BA).

Ainda consta na pauta a discussão de um projeto que altera o Código Tributário Nacional para tratar de normas gerais para solução de controvérsias, consensualidade e processo administrativo em matéria tributária e aduaneira. A tramitação em regime de urgência da proposta foi aprovada no último dia 21. O relator é o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG).

O sócio-fundador da SPX Capital, Rogério Xavier, alertou neste sábado, 8, para a situação fiscal explosiva do Brasil. Com o juro real perto de 11% e o atual nível de endividamento, o País corre risco de quebrar se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) for reeleito e não mudar suas políticas. Por outro lado, pode virar a página caso eleja um candidato de centro-direita, escapando do duelo Lula versus Jair Bolsonaro e colocando um ponto final no ciclo pós-ditadura.

"O País quer uma coisa diferente dessa oferta que foi nos dada nos últimos anos, que aponte para o futuro. Chega de Bolsonaro, chega de Lula, está bom", disse Xavier, durante painel na conferência MBA Brasil 2025, em Boston, nos Estados Unidos.

Segundo ele, Lula e Bolsonaro representam um período "do nós contra eles" que o Brasil vive desde o fim da ditadura. "Temos uma alternativa de acabar com esse ciclo já no ano que vem", disse, sem mencionar um candidato específico. Na sua visão, qualquer candidato da direita hoje pode ser a 'cara' do centro-direita nas eleições de 2026, mas que ainda não é hora de se colocar. "Vai apanhar", afirmou.

Xavier prevê uma eleição "super acirrada", em que não será possível saber o vencedor das urnas nem 24 horas antes do pleito. E, nesse ambiente, a situação fiscal d Brasil pode se deteriorar ainda mais, com o governo petista gastando mais para vencer a disputa. Na sua visão, "o Brasil está em risco".

"A gente está criando um endividamento muito alto e que é explosivo. 11% de juro real para um país que já tem uma dívida desse tamanho, a gente quebra", alertou. "A gente está se aproximando muito perto do encontro com a dívida", acrescentou. Uma eventual piora da situação fiscal do Brasil pode levar credor da dívida brasileira a questionar a vontade do País de honrá-la. "Dívida é capacidade vontade. A capacidade está ficando em dúvida e já tem um pouco de dúvida se (o governo) tem muita vontade de pagar mesmo".

Ao falar a estudantes brasileiros de MBA no exterior, ele analisou o histórico dos partidos políticos no Brasil para reforçar a cobrança da sociedade por uma proposta nova. Na sua visão, o PT "morreu", assim como o PSDB perdeu relevância nacional. No entanto, o Partido dos Trabalhadores tem o Lula, que é "muita coisa", mas demonstra um "egoísmo brutal" ao continuar sendo presidente e não dar oportunidade para outros.

"A reeleição é um câncer no Brasil. O incentivo do político é se reeleger. Virou uma profissão", criticou o gestor. "O político deveria servir as pessoas, servir o povo. Não se servir", emendou.

Segundo ele, é importante que o ciclo pós-ditadura termine para que o Brasil aponte para o futuro. Mesmo que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tenha surpreendido para cima nos últimos anos, sob a ótica de crescimento, quando comparado a outros emergentes, o Brasil "ficou para trás", na sua visão. "O Brasil nunca teve horizonte, nunca teve previsibilidade", concluiu.

*A repórter viajou a convite da MBA Brasil