Netanyahu adia votação de trégua em meio a motim que ameaça seu governo

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O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, adiou nesta quinta, 16, a reunião de gabinete que aprovaria a trégua na Faixa de Gaza e acusou o Hamas de descumprir o acordo. O grupo terrorista, porém, reafirmou seu compromisso com o cessar-fogo. A explicação para o imbróglio de última hora parece estar na política interna israelense. Membros radicais da coalizão ameaçaram deixar o governo se a guerra for suspensa.

 

Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança, ameaçou ontem retirar seu partido Otzma Yehudit da coalizão que sustenta Netanyahu se o gabinete aprovar o acordo. Ele disse que voltaria ao governo só se Israel retomasse a guerra contra o Hamas. Segundo Ben-Gvir, a trégua permitiria a reabilitação de grupos terroristas em Gaza.

 

Nos últimos dois dias, Netanyahu se reuniu seis vezes com outro extremista, o ministro das Finanças israelense, Bezalel Smotrich, líder do partido Sionismo Religioso, que também ameaça abandonar a coalizão. Smotrich defende a continuidade da guerra.

 

Alto risco

 

Mesmo que os dois votem contra o acordo, a trégua deve ser aprovada com folga pelo gabinete - a imprensa israelense estima um placar de 28 a 6. Para Netanyahu, poderia ser uma vitória de Pirro. Sem os seis deputados do Otzma Yehudit e os oito do Sionismo Religioso, o premiê perderia a maioria no Parlamento. O socorro ontem parece ter vindo do lugar mais improvável: a oposição.

 

Yair Lapid, desafeto do premiê e líder do partido Yesh Atid, ofereceu o voto de seus 24 deputados para que o governo não caia. "Eu digo a Netanyahu, não tenha medo ou deixe se intimidar. Você terá a rede de segurança que precisa para fazer o acordo de reféns", escreveu Lapid no X. "Isso é mais importante do que qualquer desentendimento que já tivemos."

 

Autoridades do governo de Israel disseram que a reunião para aprovar o acordo seria realizada hoje, para que o pacto entrasse em vigor no domingo, quando seriam libertados os primeiros reféns. Mas, segundo alguns veículos de imprensa israelenses, a votação pode ocorrer somente no sábado à noite (horário de Israel), o que significa que a trégua não entraria em vigor antes de segunda-feira.

 

Dia sagrado

 

A explicação é que, após a votação, será preciso publicar uma lista de prisioneiros palestinos a serem libertados, e quem não concordar com ela terá 48 horas para apresentar uma petição à Suprema Corte. Se a votação for realizada hoje, alegam alguns membros do governo, os que não aceitarem as libertações não teriam tempo para apresentar recursos em razão do shabat (dia de descanso para os judeus).

 

Ontem, o governo americano se disse surpreendido com a possibilidade de Israel atrasar a implementação do acordo em um dia. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, no entanto, afirmou que ainda estava confiante que o acordo entraria em vigor como planejado, no domingo.

 

Bombardeios

 

Enquanto Netanyahu busca apoio interno, bombardeios israelenses mataram ontem 81 pessoas em Gaza, segundo o Ministério da Saúde, que é controlado pelo Hamas. Em guerras anteriores, segundo analistas, os dois lados só pararam com as operações militares nas horas finais antes de a trégua começar, como uma forma de projetar força. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O novo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, afirmou na tarde deste sábado, 8, em São Paulo, que governadores bolsonaristas "preferem fazer demagogia com sangue, ao tratar todo mundo da comunidade como se fosse bandido". Boulos disse que essa é a visão dos governadores do Rio, Cláudio Castro (PL), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de outros chefes de Executivo estadual apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele lançou no Morro da Lua, região de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, o Projeto Governo na Rua, que tem a finalidade de ouvir a população e levar as manifestações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Boulos declarou também que a questão do combate ao crime é antiga, mas que Luiz Inácio Lula da Silva é quem tomou a iniciativa de tentar resolver com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e o projeto de lei antifacção. Conforme o ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência, com essas propostas aprovadas, o governo federal terá mais atribuições e responsabilidades para o enfrentamento ao crime.

"A gente acredita que o combate ao crime tem que fazer da maneira correta, como a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, para pegar o peixe grande, não o bagrinho. O peixe grande está na Avenida Faria Lima, não na favela", acredita.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), divulgou neste sábado, 8, a pauta da Casa para a próxima semana, com a inclusão do projeto de lei antifacção - texto encaminhado pelo governo ao Congresso na esteira da megaoperação que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro. A proposta é relatada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de segurança de São Paulo.

Motta marcou a primeira sessão deliberativa da Casa da semana para terça-feira, 11, às 13h55. A sessão será semipresencial, conforme decidido pelo presidente da Câmara em atenção a pedido de líderes partidários. Isso significa que os deputados poderão votar a distância nas sessões dessa semana, sem precisarem estar em Brasília.

A pauta também contém outros projetos relacionados à Segurança Pública, como o que aumenta a destinação da arrecadação com jogos de apostas de quota fixa (bets) para o financiamento da segurança pública. O relator de tal projeto é o deputado Capitão Augusto (PL-SP).

Outro projeto na lista de serem debatidos pelos parlamentares é o que condiciona a progressão de regime, a saída temporária e a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva à coleta de material biológico para obtenção do perfil genético do preso. O relator é o deputado Arthur Maia (União-BA).

Ainda consta na pauta a discussão de um projeto que altera o Código Tributário Nacional para tratar de normas gerais para solução de controvérsias, consensualidade e processo administrativo em matéria tributária e aduaneira. A tramitação em regime de urgência da proposta foi aprovada no último dia 21. O relator é o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG).

O sócio-fundador da SPX Capital, Rogério Xavier, alertou neste sábado, 8, para a situação fiscal explosiva do Brasil. Com o juro real perto de 11% e o atual nível de endividamento, o País corre risco de quebrar se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) for reeleito e não mudar suas políticas. Por outro lado, pode virar a página caso eleja um candidato de centro-direita, escapando do duelo Lula versus Jair Bolsonaro e colocando um ponto final no ciclo pós-ditadura.

"O País quer uma coisa diferente dessa oferta que foi nos dada nos últimos anos, que aponte para o futuro. Chega de Bolsonaro, chega de Lula, está bom", disse Xavier, durante painel na conferência MBA Brasil 2025, em Boston, nos Estados Unidos.

Segundo ele, Lula e Bolsonaro representam um período "do nós contra eles" que o Brasil vive desde o fim da ditadura. "Temos uma alternativa de acabar com esse ciclo já no ano que vem", disse, sem mencionar um candidato específico. Na sua visão, qualquer candidato da direita hoje pode ser a 'cara' do centro-direita nas eleições de 2026, mas que ainda não é hora de se colocar. "Vai apanhar", afirmou.

Xavier prevê uma eleição "super acirrada", em que não será possível saber o vencedor das urnas nem 24 horas antes do pleito. E, nesse ambiente, a situação fiscal d Brasil pode se deteriorar ainda mais, com o governo petista gastando mais para vencer a disputa. Na sua visão, "o Brasil está em risco".

"A gente está criando um endividamento muito alto e que é explosivo. 11% de juro real para um país que já tem uma dívida desse tamanho, a gente quebra", alertou. "A gente está se aproximando muito perto do encontro com a dívida", acrescentou. Uma eventual piora da situação fiscal do Brasil pode levar credor da dívida brasileira a questionar a vontade do País de honrá-la. "Dívida é capacidade vontade. A capacidade está ficando em dúvida e já tem um pouco de dúvida se (o governo) tem muita vontade de pagar mesmo".

Ao falar a estudantes brasileiros de MBA no exterior, ele analisou o histórico dos partidos políticos no Brasil para reforçar a cobrança da sociedade por uma proposta nova. Na sua visão, o PT "morreu", assim como o PSDB perdeu relevância nacional. No entanto, o Partido dos Trabalhadores tem o Lula, que é "muita coisa", mas demonstra um "egoísmo brutal" ao continuar sendo presidente e não dar oportunidade para outros.

"A reeleição é um câncer no Brasil. O incentivo do político é se reeleger. Virou uma profissão", criticou o gestor. "O político deveria servir as pessoas, servir o povo. Não se servir", emendou.

Segundo ele, é importante que o ciclo pós-ditadura termine para que o Brasil aponte para o futuro. Mesmo que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tenha surpreendido para cima nos últimos anos, sob a ótica de crescimento, quando comparado a outros emergentes, o Brasil "ficou para trás", na sua visão. "O Brasil nunca teve horizonte, nunca teve previsibilidade", concluiu.

*A repórter viajou a convite da MBA Brasil