Brasil exige retirada de algemas de deportados dos EUA; 'Flagrante desrespeito'

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva exigiu que autoridades americanas removessem as algemas de cidadãos brasileiros em um voo de deportados que chegou ao Brasil na sexta, 24. O avião, cujo destino final seria em Belo Horizonte (MG), fez um pouso inesperado em Manaus (AM) - foi quando o governo brasileiro detectou que as pessoas estavam algemadas por determinação dos americanos. A informação foi divulgada pelo governo brasileiro neste sábado, 25.

"Na manhã deste sábado, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, informou o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sobre uma tentativa de autoridades dos Estados Unidos de manter cidadãos brasileiros algemados durante o voo de deportação para o Brasil", afirma nota divulgada pelo Ministério da Justiça.

"Por orientação de Lewandowski, a Polícia Federal recepcionou os brasileiros e determinou às autoridades e representantes do governo norte-americano a imediata retirada das algemas. O ministro destacou ao presidente o flagrante desrespeito aos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros", diz o comunicado.

"Ao tomar conhecimento da situação, o Presidente Lula determinou que uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) fosse mobilizada para transportar os brasileiros até o destino final, de modo a garantir que possam completar a viagem com dignidade e segurança", declara o ministério.

A FAB utilizou uma aeronave KC-30, do Segundo Esquadrão do Segundo Grupo de Transporte para transportar as pessoas deportadas dos Estados Unidos no trajeto entre Manaus e Belo Horizonte.

"O Ministério da Justiça e Segurança Pública enfatiza que a dignidade da pessoa humana é um princípio basilar da Constituição Federal e um dos pilares do Estado Democrático de Direito, configurando valores inegociáveis", afirma a nota.

A deportação em massa de imigrantes ilegais foi uma das principais promessas de campanha de Donald Trump. O novo presidente dos Estados Unidos tomou posse na segunda-feira, 20. O voo de deportação para o Brasil com 88 brasileiros, embora seja o primeiro desde que Donald Trump assumiu impondo políticas mais rígidas contra imigração, é parte de um processo que vinha correndo antes da posse do republicano, durante a administração Joe Biden.

Fontes do Itamaraty destacaram que o País tem recebido voos como esse desde 2017, quando firmou um entendimento com os Estados Unidos sobre as deportações. O objetivo era reduzir o tempo que os brasileiros ficam detidos nos EUA por problemas com a imigração.

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A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) - ambos mencionados pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid por terem instigado o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a dar um golpe de Estado - são cotados para disputar o Palácio do Planalto em 2026.

O próprio ex-presidente cogitou que ambos podem ser opções para o pleito eleitoral do próximo ano, já que ele está declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em entrevista à CNN Brasil, na última quinta-feira, 23, ele descreveu o filho Eduardo como "uma pessoa madura", com "vasto conhecimento de mundo".

Sobre Michelle, Bolsonaro disse que "é um bom nome com chances" e apontou que sua viagem para participar da posse de Donald Trump, nos Estados Unidos, concederia "uma popularidade enorme para ela". Acrescentou ainda, em tom de brincadeira, que uma das condições seria que a ex-primeira-dama o nomeasse como ministro da Casa Civil, caso fosse eleita.

Mais tarde, no entanto, o ex-presidente recuou. Ao site jornalístico Metropóles, Bolsonaro disse que Michelle pode ser candidata ao Senado e que, se tiver que optar por um parente para disputar a Presidência, seria o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ou Eduardo.

Tanto Eduardo quanto Michelle viajaram para os Estudados Unidos para a posse de Trump, enquanto Bolsonaro, que está com o passaporte retido por decisão do ministro Alexandre de Moraes, ficou no Brasil. No entanto, os dois ficaram de fora da Rotunda do Capitólio dos Estados Unidos, onde foi realizada a posse, e tiveram que acompanhar a cerimônia em um estádio de basquete e hóquei localizado na capital americana.

Eles voltaram ao noticiário neste sábado, 26, com a revelação da primeira delação premiada do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid. Nessa declaração, dada à Polícia Federal em agosto de 2023, Cid disse que Michelle e Eduardo faziam parte de um grupo que atuou para convencer Bolsonaro a dar um golpe de Estado após ter sido derrotado por Lula na disputa pela Presidência da República, em 2022.

O Estadão buscou contato com os citados, mas ainda aguardava retorno até a publicação deste texto. O espaço segue aberto.

Esse grupo mais radical dizia que o ex-presidente teria "o apoio do povo e dos CACs (caçadores, atiradores e colecionadores) para fazer a ruptura democrática. Nessa mesma delação, Cid apontou que Eduardo tinha mais contato com os CACs e indicou outros grupos menos radicais, que iam contra a ideia de um golpe de Estado.

Disputa pelo espólio de Bolsonaro

Levantamento divulgado pela Paraná Pesquisas no começo deste mês de janeiro indica que Michelle empataria com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em hipotético cenário de segundo turno, em 2026.

Já Eduardo, na sexta-feira, 24, disse que "se sacrificaria" para uma virtual candidatura à presidência. "Meu plano A, B e C segue sendo Jair Bolsonaro", disse ao jornal O Globo na ocasião. "Mas, se ocorrer, se for para ser o candidato com ele escolhendo, eu me sacrificaria, sim."

Outros nomes também são cotados para herdar o espólio de Bolsonaro, considerado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em duas ações sobre uma reunião com embaixadores e comemorações do dia 7 de setembro de 2022.

Entre os mencionados estão o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que já declarou fidelidade a Bolsonaro, e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), que se coloca como candidato em 2026, independente do posicionamento do ex-presidente.

Um recurso contra a decisão da desembargadora Clarice Claudino da Silva, ex-presidente da Corte, que arquivou uma reclamação disciplinar envolvendo o desembargador Sebastião de Moraes Filho, afastado do cargo por suspeita de de envolvimento em um esquema de venda de decisões judiciais, foi protocolado no Tribunal de Justiça do Mato Grosso.

Ao arquivar a reclamação, em dezembro, a desembargadora argumentou que não havia indícios mínimos para justificar a instauração de sindicância ou de processo administrativo disciplinar. Também afirmou que o colega foi alvo de "meras ilações e denúncias infundadas". "Não é possível verificar indício de que tenha ele agido de forma parcial ou ilícita. Ao contrário, vislumbra-se que tão somente exerceu a jurisdição", escreveu Clarice.

O recurso foi apresentado por Sabino Alves de Freitas Neto, representante do espólio de Almindo Alves Mariano, que é parte em um processo julgado pelo desembargador envolvendo uma disputa por terras em Rondonópolis e Guiratinga, no interior do Estado, ligadas ao inventário.

Sabino afirma que Sebastião de Moraes Filho beneficiou indevidamente o empresário Luciano Polimeno na ação e insiste que a conduta do desembargador seja investigada. Ele entregou à Justiça gravações em que o empresário afirma que "nós ganhamos cinco partidas, nós já retiramos cinco da pauta" e que "já gastei oito, oito adiação e vou gastar mais vinte, se for possível".

"As falas acima demonstram graves indícios do cometimento de infrações disciplinares por parte do desembargador reclamado, inclusive indicando que os inúmeros adiamentos do julgamento se deram por interesse do próprio Sr. Luciano Polimeno, sendo que este pagava determinada quantia para que os adiamentos fossem concretizados", diz um trecho do recurso.

Em sua defesa, o desembargador diz que não há provas das acusações, que classificou como "fantasiosas invenções". O desembargador pediu o arquivamento da investigação, considerando a "insubsistência das imputações, desprovidas de mínimo indício probatório, a comprovar a ausência de justa causa para o prosseguimento do feito".

Como mostrou o Estadão, o advogado Carlos Naves de Resende, que representa Sabino, chegou a pedir proteção à polícia, à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e ao Supremo Tribunal Federal (STF) após receber ameaças de morte e uma proposta de suborno em meio à disputa judicial. Ele afirma no recurso que voltou a receber ameaças.

O advogado busca que a desembargadora reconsidere a decisão ou envie o recurso para julgamento colegiado.

Clarice Claudino deixou a presidência do Tribunal de Mato Grosso na virada do ano. Em dezembro, seu último mês na direção, mandou pagar R$ 10 mil a todos os magistrados e R$ 8 mil aos servidores a título de vale-alimentação, penduricalho logo intitulado "vale peru". O auxílio turbinado gerou polêmica. O ministro Mauro Campbell Marques, corregedor do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão que fiscaliza o Poder Judiciário, mandou suspender o pagamento por considerar o valor exorbitante. O benefício, no entanto, caiu na conta dos magistrados e servidores, mesmo após a decisão do ministro. Acuado, o tribunal recuou e mandou os funcionários devolverem o dinheiro.

Ajudante de ordens da Presidência da República no governo Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel Mauro Cid prestou assistência direta ao ex-presidente entre 2018 e 2022. Era uma espécie de secretário particular de Bolsonaro, seu braço-direito. O cargo lhe assegurava acesso a agendas oficiais e reuniões reservadas. Por isso, quando decidiu assinar o acordo de colaboração premiada, em setembro de 2023, os investigadores acreditavam que ele teria farto material para entregar.

De fato, a delação foi o ponto de virada de inquéritos sensíveis contra Bolsonaro, sobretudo do chamado "inquérito do golpe", que levou ao indiciamento do ex-presidente. Sozinha, a palavra do delator não pode basear condenações. A lei não permite. No entanto, as declarações servem como meio de prova, ou seja, como pistas para que as autoridades sigam a trilha de um crime. E foi isso que a Polícia Federal buscou fazer nas investigações sobre o plano golpista arquitetado após as eleições de 2022.

Foi Mauro Cid quem associou, por exemplo, o ex-assessor especial da Presidência, Filipe Garcia Martins, ao rascunho de decreto para determinar novas eleições e prender desafetos de Bolsonaro, como os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Filipe Martins chegou a ser preso em fevereiro do ano passado na Operação Tempus Veritatis.

O tenente-coronel também revelou que o ex-presidente Jair Bolsonaro se reuniu com a cúpula das Forças Armadas para discutir a possibilidade de uma intervenção militar para anular o resultado da eleição de 2022. Segundo Mauro Cid, Bolsonaro chamou os comandantes das Forças Armadas - Marco Antônio Freire Gomes (Exército), Carlos de Almeida Baptista Junior (Aeronáutica) e Almir Garnier Santos (Marinha) - para uma reunião. A munição para convencer a alta cúpula das Forças Armadas foi uma versão da "minuta do golpe", que daria suporte jurídico à trama. Na versão de Mauro Cid, o então presidente "queria entender a reação dos comandantes das forças em relação ao seu conteúdo".

Posteriormente, o general Marco Antônio Freire Gomes e o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior confirmaram a reunião em depoimento à Polícia Federal.

Os advogados Paulo Cunha Bueno, Daniel Tesser e Celso Sanchez Vilardi, que representam o ex-presidente, disseram estar "indignados" com "vazamentos seletivos" da delação, "enquanto lhe é sonegado acesso legal à integralidade da referida colaboração".

"Investigações 'semisecretas' - em que às defesas é dado acesso seletivo de informações, impedindo o contexto total dos elementos de prova -, são incompatíveis com o Estado Democrático de Direito, que nosso ordenamento busca preservar", diz a nota.

Mauro Cid também descreveu como aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro teriam divergido sobre a melhor estratégia para ser adotada após a derrota nas eleições de 2022. Segundo o ex-ajudante de ordens, havia três grupos - conservadores, moderados e radicais - com acesso ao então presidente e cada um levou propostas diferentes a Bolsonaro.

O tenente-coronel declarou que parte dos radicais queria achar fraude nas urnas para anular o resultado eleitoral e a outra parte "era a favor de um braço armado".

São citados como radicais o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), o major da reserva do Exército Angelo Martins Denicoli, o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, o ex-assessor especial Filipe Martins, os ex-ministros Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Gilson Machado (Turismo), os senadores Jorge Seif (PL-SC) e Magno Malta, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o general Mário Fernandes, apontado pela PF como autor do plano "Punhal Verde e Amarelo".

O senador Magno Malta reiterou que nunca incentivou o ex-presidente a dar um golpe de Estado e informou que está à disposição para prestar esclarecimentos à Justiça.

"Minhas interações com Bolsonaro após as eleições eram pautadas em momentos de consolo, orações e leitura da Bíblia. Estou plenamente disposto a cooperar com as autoridades, buscando esclarecer quaisquer dúvidas que possam surgir. Acredito que a menção do meu nome está relacionada ao tempo que passei com o ex-presidente, mas reitero que não há fundamento para preocupações, pois não cometi nenhum crime", disse Malta.

O senador Jorge Seif disse, em nota, que as declarações de Mauro Cid são "falaciosas, absurdas e mentirosas".

"Nego veementemente que em quaisquer de meus encontros com o Presidente tenha abordado ou insinuado decretação de intervenção ou outras medidas de exceção", diz a manifestação.

O acordo de colaboração de Mauro Cid esteve sob ameaça real de rescisão. A Polícia Federal estava insatisfeita por acreditar que ele estava omitindo informações. Pressionado, o tenente-coronel prestou um novo depoimento diretamente ao ministro Alexandre de Moraes, em novembro do ano passado. Na oitiva, entregou o general Walter Braga Netto, que acabou sendo preso no final de 2024.

O ex-ajudante de ordens declarou que Braga Netto entregou dinheiro aos "kids pretos" para financiar o plano de execução do próprio ministro Alexandre de Moraes, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do vice Geraldo Alckmin, em 2022. Também acusou o general de tentar obter informações sigilosas de sua delação e influenciar o que seria dito à PF. A defesa de Braga Netto nega interferências do general e afirma que Mauro Cid tem "credibilidade zero".

Veja a íntegra da nova da defesa de Jair Bolsonaro:

"A defesa do Presidente Bolsonaro, tendo tomado conhecimento da divulgação de trechos da colaboração premiada do Ten Cel Art Mauro Cid, manifesta sua indignação diante de novos "vazamentos seletivos", assim como seu inconformismo diante do fato de que, enquanto lhe é sonegado acesso legal à integralidade da referida colaboração, seu conteúdo, por outro lado, veio e continua sendo repetidamente publicizado em veículos de comunicação, tornando o sigilo uma imposição apenas às defesas dos investigados, evidentemente prejudicadas em seu direito a ampla defesa.

Investigações "semissecretas" - em que às defesas é dado acesso seletivo de informações, impedindo o contexto total dos elementos de prova -, são incompatíveis com o Estado Democrático de Direito, que nosso ordenamento busca preservar. (Paulo Cunha Bueno, Daniel Tesser e Celso Sanchez Vilardi)"