Navio cargueiro é liberado do gelo após ficar preso por dias em lago congelado

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Um cargueiro seguiu viagem para o Canadá no domingo, 26, após ser liberado do gelo que o prendeu no congelado Lago Erie por dias, informou a Guarda Costeira dos EUA. O Manitoulin, uma embarcação canadense de 202 metros com 17 pessoas a bordo, ficou preso no gelo no Lago Erie na quarta-feira, depois de descarregar uma carga de trigo em Buffalo, Nova York, enquanto retornava para o Canadá, segundo a Guarda Costeira. A embarcação foi liberada no sábado, 25.

O navio não sofreu danos, e sua tripulação está segura, informaram as autoridades. Cargueiros nos Grandes Lagos frequentemente encontram gelo superficial no inverno, mas às vezes enfrentam gelo que é duro ou espesso demais para romper.

Um navio quebra-gelo da Guarda Costeira dos EUA estava trabalhando desde quinta-feira para ajudar o Manitoulin, e no sábado um segundo navio chegou para ajudar a liberar o cargueiro. A Guarda Costeira Canadense também estava com uma embarcação auxiliando nos esforços.

O cargueiro foi escoltado pelos três quebra-gelos através de mais de 32 quilômetros de gelo, de Buffalo em direção ao oeste, cruzando o Lago Erie, até alcançar águas livres na noite de sábado, segundo o tenente Kyle Rivera, da Guarda Costeira.

O cargueiro ainda precisa atravessar o restante do Lago Erie e subir pelos rios Detroit e St. Clair até Sarnia, Ontário (Canadá), onde ficará durante o restante do inverno, disse Rivera à Associated Press no domingo.

"Há gelo em outras partes do lago e dos rios, mas temos outro quebra-gelo que o levará por lá", afirmou. Um helicóptero da Guarda Costeira dos EUA estava no local realizando voos para monitorar a situação. Um terceiro navio da Guarda Costeira dos EUA estava programado para chegar na segunda-feira, caso o Manitoulin continuasse preso.

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Ajudante de ordens da Presidência da República no governo Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel Mauro Cid prestou assistência direta ao ex-presidente entre 2018 e 2022. Era uma espécie de secretário particular de Bolsonaro, seu braço-direito. O cargo lhe assegurava acesso a agendas oficiais e reuniões reservadas. Por isso, quando decidiu assinar o acordo de colaboração premiada, em setembro de 2023, os investigadores acreditavam que ele teria farto material para entregar.

De fato, a delação foi o ponto de virada de inquéritos sensíveis contra Bolsonaro, sobretudo do chamado "inquérito do golpe", que levou ao indiciamento do ex-presidente. Sozinha, a palavra do delator não pode basear condenações. A lei não permite. No entanto, as declarações servem como meio de prova, ou seja, como pistas para que as autoridades sigam a trilha de um crime. E foi isso que a Polícia Federal buscou fazer nas investigações sobre o plano golpista arquitetado após as eleições de 2022.

Foi Mauro Cid quem associou, por exemplo, o ex-assessor especial da Presidência, Filipe Garcia Martins, ao rascunho de decreto para determinar novas eleições e prender desafetos de Bolsonaro, como os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Filipe Martins chegou a ser preso em fevereiro do ano passado na Operação Tempus Veritatis.

O tenente-coronel também revelou que o ex-presidente Jair Bolsonaro se reuniu com a cúpula das Forças Armadas para discutir a possibilidade de uma intervenção militar para anular o resultado da eleição de 2022. Segundo Mauro Cid, Bolsonaro chamou os comandantes das Forças Armadas - Marco Antônio Freire Gomes (Exército), Carlos de Almeida Baptista Junior (Aeronáutica) e Almir Garnier Santos (Marinha) - para uma reunião. A munição para convencer a alta cúpula das Forças Armadas foi uma versão da "minuta do golpe", que daria suporte jurídico à trama. Na versão de Mauro Cid, o então presidente "queria entender a reação dos comandantes das forças em relação ao seu conteúdo".

Posteriormente, o general Marco Antônio Freire Gomes e o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior confirmaram a reunião em depoimento à Polícia Federal.

Os advogados Paulo Cunha Bueno, Daniel Tesser e Celso Sanchez Vilardi, que representam o ex-presidente, disseram estar "indignados" com "vazamentos seletivos" da delação, "enquanto lhe é sonegado acesso legal à integralidade da referida colaboração".

"Investigações 'semisecretas' - em que às defesas é dado acesso seletivo de informações, impedindo o contexto total dos elementos de prova -, são incompatíveis com o Estado Democrático de Direito, que nosso ordenamento busca preservar", diz a nota.

Mauro Cid também descreveu como aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro teriam divergido sobre a melhor estratégia para ser adotada após a derrota nas eleições de 2022. Segundo o ex-ajudante de ordens, havia três grupos - conservadores, moderados e radicais - com acesso ao então presidente e cada um levou propostas diferentes a Bolsonaro.

O tenente-coronel declarou que parte dos radicais queria achar fraude nas urnas para anular o resultado eleitoral e a outra parte "era a favor de um braço armado".

São citados como radicais o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), o major da reserva do Exército Angelo Martins Denicoli, o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, o ex-assessor especial Filipe Martins, os ex-ministros Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Gilson Machado (Turismo), os senadores Jorge Seif (PL-SC) e Magno Malta, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o general Mário Fernandes, apontado pela PF como autor do plano "Punhal Verde e Amarelo".

O senador Magno Malta reiterou que nunca incentivou o ex-presidente a dar um golpe de Estado e informou que está à disposição para prestar esclarecimentos à Justiça.

"Minhas interações com Bolsonaro após as eleições eram pautadas em momentos de consolo, orações e leitura da Bíblia. Estou plenamente disposto a cooperar com as autoridades, buscando esclarecer quaisquer dúvidas que possam surgir. Acredito que a menção do meu nome está relacionada ao tempo que passei com o ex-presidente, mas reitero que não há fundamento para preocupações, pois não cometi nenhum crime", disse Malta.

O senador Jorge Seif disse, em nota, que as declarações de Mauro Cid são "falaciosas, absurdas e mentirosas".

"Nego veementemente que em quaisquer de meus encontros com o Presidente tenha abordado ou insinuado decretação de intervenção ou outras medidas de exceção", diz a manifestação.

O acordo de colaboração de Mauro Cid esteve sob ameaça real de rescisão. A Polícia Federal estava insatisfeita por acreditar que ele estava omitindo informações. Pressionado, o tenente-coronel prestou um novo depoimento diretamente ao ministro Alexandre de Moraes, em novembro do ano passado. Na oitiva, entregou o general Walter Braga Netto, que acabou sendo preso no final de 2024.

O ex-ajudante de ordens declarou que Braga Netto entregou dinheiro aos "kids pretos" para financiar o plano de execução do próprio ministro Alexandre de Moraes, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do vice Geraldo Alckmin, em 2022. Também acusou o general de tentar obter informações sigilosas de sua delação e influenciar o que seria dito à PF. A defesa de Braga Netto nega interferências do general e afirma que Mauro Cid tem "credibilidade zero".

Veja a íntegra da nova da defesa de Jair Bolsonaro:

"A defesa do Presidente Bolsonaro, tendo tomado conhecimento da divulgação de trechos da colaboração premiada do Ten Cel Art Mauro Cid, manifesta sua indignação diante de novos "vazamentos seletivos", assim como seu inconformismo diante do fato de que, enquanto lhe é sonegado acesso legal à integralidade da referida colaboração, seu conteúdo, por outro lado, veio e continua sendo repetidamente publicizado em veículos de comunicação, tornando o sigilo uma imposição apenas às defesas dos investigados, evidentemente prejudicadas em seu direito a ampla defesa.

Investigações "semissecretas" - em que às defesas é dado acesso seletivo de informações, impedindo o contexto total dos elementos de prova -, são incompatíveis com o Estado Democrático de Direito, que nosso ordenamento busca preservar. (Paulo Cunha Bueno, Daniel Tesser e Celso Sanchez Vilardi)"

O Ministério das Relações Exteriores (MRE) pedirá explicações ao governo norte-americano sobre o "tratamento degradante" dado aos brasileiros que estavam no voo de deportados saído do país, informou a pasta na noite deste sábado, 25. Os imigrantes chegaram algemados e com os pés acorrentados. Os passageiros também detalharam agressões que envolveram de chutes a mata-leão. A reportagem não conseguiu localizar representantes da embaixada americana no Brasil para comentar o assunto.

O voo com os deportados brasileiros vindo dos Estados Unidos fez um pouso de emergência em Manaus, capital do Amazonas, na noite da sexta-feira, 24, depois de apresentar problemas técnicos - foi lá que o governo brasileiro detectou as condições dos brasileiros e determinou a remoção de algemas, além de designar um voo da FAB para fazer o trajeto até Belo Horizonte (MG).

Neste sábado, 25, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, se reuniu com o delegado Sávio Pinzón, superintendente interino da Polícia Federal no Amazonas, e com o major-brigadeiro Ramiro Pinheiro, comandante do 7º Comando Aéreo Regional.

Na reunião, "foi efetuado relato detalhado sobre os incidentes", informou o Itamaraty. O encontro deve subsidiar o pedido de explicações ao governo norte-americano.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, informou sobre a tentativa de autoridades dos Estados Unidos de manter os cidadãos brasileiros algemados durante o voo de deportação para o Brasil na manhã de sábado. A situação foi comunicada à pasta pelo diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues.

A Polícia Federal recepcionou os brasileiros e determinou às autoridades e representantes do governo norte-americano a imediata retirada das algemas. O ministro classificou a situação como um "flagrante desrespeito aos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros".

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), respectivamente mulher e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, atuaram para instigá-lo a dar um golpe após a derrota na disputa pelo Palácio do Planalto contra Luiz Inácio Lula da Silva, em 2022, segundo disse o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, na primeira delação premiada feita por ele, em agosto de 2023.

O teor desse depoimento foi revelado pelo jornalista Elio Gaspari nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo. Segundo Cid os dois participavam de um grupo mais radical que dizia que o ex-presidente teria "o apoio do povo e dos CACs (caçadores, atiradores e colecionadores) para dar um golpe de Estado. Nem Michelle e nem Eduardo foram indiciados pela Polícia Federal (PF) e não há menção a elementos e provas, ao menos neste primeiro depoimento. Cid foi inquirito pela Polícia Federal mais vezes ao longo de 2023 e 2024.

Na delação, Cid apontou que Eduardo tinha mais contato com os CACs. Também teriam participado desse grupo ex-ministros, como Onyx Lorenzoni (PL) e Gilson Machado (PL); atuais senadores, como Magno Malta (PL-ES) e Jorge Seif (PL-SC), o ex-assessor internacional de Bolsonaro Filipe Martins e o general Mario Fernandes.

O Estadão busca contato com todos os mencionados. O espaço segue aberto para manifestação.

Duas ramificações

Existiam duas ramificações entre essa ala, de acordo com Cid. O primeiro subgrupo, o "menos radical", queria achar uma fraude nas urnas; o segundo já era "a favor de um braço armado", incentivavam a tentativa de golpe de Estado e pediam pela assinatura do decreto do golpe.

Martins e Fernandes já foram indiciados pela PF. De acordo com o relatório que levou ao indiciamento, Fernandes teria sido responsável ainda por elaborar um detalhado planejamento operacional que tinha como objetivo executar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e os então candidatos eleitos Lula e Geraldo Alckmin. Já Martins "atuou de forma proeminente na interlocução com juristas para elaborar uma minuta de teor golpista", segundo a PF. O documento ficou conhecido como "minuta do golpe".

Nessa primeira delação, Cid ainda dividiu o entorno de Bolsonaro em três diferentes grupos, que davam conselhos distintos sobre o que o ex-presidente deveria fazer em reação à derrota de Lula . Havia os mais radicais - onde estavam Michelle e Eduardo - os que o aconselhavam a mandar os acampados em quartéis do Exército a irem para casa e os que diziam que "nada poderia ser feito diante do resultado das eleições". Nesse último segmento há uma ramificação dos que incentivavam o então presidente a sair do Brasil.

Já o grupo que sugeria que "nada poderia ser feito" era composto por generais da ativa, como o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, o então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes; o então chefe do Departamento de Engenharia e Construção, Júlio Cesar de Arruda, e o então chefe do Comando de Operações Terrestres, Estevam Theóphilo.

Cid disse que esse grupo estava temeroso que Bolsonaro fosse assinar "uma doideira". Freire Gomes foi quem mais se mostrou preocupado, segundo o ex-ajudante de ordens. "Freire Gomes estava muito preocupado com essa situação, com que poderia acontecer com esse pessoal que ia para o Palácio da Alvorada", afirmou. "Estavam preocupados com o grupo radical que estava tentando convencer o então presidente a fazer alguma coisa', um golpe."

No segundo segmento faziam parte o empresário do agronegócio Paulo Junqueira e o próprio Magno Malta, que anteriormente tinha posição mais radical.

Conforme as investigações foram avançando e após Cid ter sido inquirido por investigadores em mais oportunidades, porém, alguns desses nomes inicialmente apontados como mais moderados acabaram sendo indiciados pela PF por participação na tentativa de golpe.

De acordo com a PF, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, por exemplo, pressionou comandantes das Forças Armadas a aderirem ao plano golpista. Organizou reunião com oficiais de alta patente das três forças em que o ex-presidente cobrou adesão ao golpe. Os comandantes do Exército e da Aeronáutica rechaçaram o plano.

Em dezembro, Nogueira de Oliveira incumbiu o próprio general Estevam Theóphilo das ações que ficariam a cargo da tropa terrestre caso Bolsonaro assinasse o decreto.

Foram mais de 40 pessoas indiciadas pela PF pela tentativa de golpe de Estado no Brasil. O plano, segundo a polícia, envolvia a tentativa de assassinato do ministro Alexandre de Moraes, Lula e Alckmin.

Procurados, Jair e Michelle não responderam os contatos da reportagem. O Estadão também busca contato com a defesa de Eduardo Bolsonaro. O espaço segue aberto para manifestação.