O primeiro depoimento da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid à Polícia Federal (PF), realizado em agosto de 2023 e publicado na íntegra neste domingo, 26, provocou repercussão nas redes sociais tanto de bolsonaristas, que afirmam se tratar de perseguição política, quanto de petistas, que dizem que o momento de os responsáveis pagarem pelos supostos crimes se aproxima.
No depoimento, Cid apresentou detalhes sobre o suposto plano golpista que seria executado após as eleições de 2022 e categorizou os aliados do então presidente Jair Bolsonaro (PL) em "conservadores", "moderados" e "radicais".
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) foram descritos pelo ex-ajudante de ordens da Presidência como pertencentes ao grupo mais exaltado, que instigava o presidente a agir para reverter o resultado da eleição presidencial daquele ano.
O senador Jorge Seif (PL-SC), também citado como pertencendo ao grupo "radical", afirmou que o conteúdo do depoimento de Mauro Cid é "falacioso". Em seu perfil no X (antigo Twitter), o senador conta uma história sobre uma aula de Direito a qual assistiu, em que a lição que ficou foi a de que, num julgamento, a figura da testemunha se compara a de "uma prostituta ordinária (aquelas de beira de estrada, bichada)".
Seif ainda disse que pretende processar Cid por calúnia e difamação. "Esses militares não decepcionam nunca! Selva!"
Em entrevista ao programa da Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda-feira, 27, o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Passos Rodrigues, afirmou que não foram encontradas provas que sustentassem a participação da dupla e de outros citados na delação de Cid.
A deputada federal e presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PT-PR), afirmou que "a hora da verdade está chegando". "Fica cada vez mais insustentável a conversa mole de que ele não tinha nada a ver com a trama contra a democracia, que previa até o assassinato de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes."
A divulgação dos detalhes da delação mudou o tom das declarações de Eduardo e Michelle nos últimos dias. Antes, focavam a posse do presidente norte-americano, Donald Trump, e a negativa da Justiça brasileira em permitir a viagem de Jair Bolsonaro (PL) - indiciado por suspeita de participação ativa na mesma trama.
Eduardo postou um vídeo nesta segunda-feira, 27, em que diz que "não precisa ser um gênio para saber" que ele "não terá direito a ampla defesa", já que o processo está sendo conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), considerado pelos bolsonaristas seu maior inimigo.
O vídeo está com legendas em inglês, e o deputado marcou Trump na publicação, ao qual se queixa, e uma lista de congressistas americanos. "Eles querem uma eleição sem oposição a Lula. Isso não é uma democracia, presidente Trump", diz o filho de Bolsonaro.
Michelle também fez referência à delação de Cid. Em um story no Instagram (publicação que some em 24 horas), Michelle compartilhou uma reportagem com o título "Delação de Mauro Cid revela papel de Michelle e Eduardo Bolsonaro em plano golpista" com um áudio de risadas. A ex-primeira-dama também chamou a divulgação da delação de "cortina de fumaça".
O deputado federal Mário Frias (PL-SP) disse que o tema é antigo, e que isso faz parte do que chamou de "narrativa de metalinguagem". "Esse é o papel da assessoria de propaganda do Regime de Exceção, criar a narrativa de metalinguagem para justificar as ações ilegais da metajurídica."
Frias, que nos últimos dias atacou o senador Marcos Pontes (PL-SP) pela candidatura à presidência do Senado, seguindo a crítica de Bolsonaro, afirmou que Eduardo foi "identificado" pelo "sistema" como uma "ameaça política", e que agora "vão tentar fazer alguma covardia" contra ele. Michelle e Eduardo foram cotados nos últimos dias pelo ex-presidente, inelegível até 2030, para concorrer às eleições presidenciais no ano que vem.
O deputado federal André Janones (Avante-MG) publicou uma foto da dupla em um dos jantares de gala na posse de Trump, afirmando que está "chegando a hora de vermos muitos vagabundos serem presos."
Já o secretário de Comunicação do PT e deputado federal Jilmar Tatto (PT-SP) afirmou que o conteúdo da delação de Cid envolvendo Michelle e Bolsonaro "surpreende o total de zero pessoas".
"Pela quantidade de desrespeito à democracia proferida por este filho de Jair Bolsonaro surpreenderia se fosse moderado", disse, afirmando ainda que não se pode minimizar ações que continham, inclusive, o suposto assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).