Trump afirma que Rússia tem cartas para negociar fim da guerra na Ucrânia

Internacional
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Donald Trump afirmou nesta quinta, 20, que a Rússia "tem as cartas" para qualquer negociação sobre o fim da guerra na Ucrânia, voltando a sugerir que há pouco que a Casa Branca possa fazer. Pouco depois, o americano Keith Kellogg, enviado especial para a Ucrânia, cancelou uma entrevista coletiva com jornalistas, após se reunir com o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, em Kiev.

"Os russos querem ver o fim da guerra. Eles tomaram muito território e têm as cartas", disse Trump, a bordo do avião presidencial. O comportamento do presidente, de seus assessores e diplomatas mostra um improvável alinhamento com a posição do Kremlin, preocupando a Europa e a Ucrânia, que temem que os EUA fechem um acordo apressado com a Rússia, à revelia dos interesses do Ocidente.

A crise de confiança entre Washington e Kiev se agravou na quarta-feira, quando Zelenski reagiu irritado à reunião entre uma equipe de negociadores americanos com membros do alto escalão do governo russo, em Riad, na Arábia Saudita. O ucraniano afirmou que Trump vivia em "uma bolha de desinformação" russa.

Acusações

O presidente americano respondeu com uma publicação furiosa na rede social Truth Social, na qual chamou Zelenski de "ditador", de responsável pelo início da guerra e acusando-o de evitar eleições para se manter no poder - na verdade, a Constituição da Ucrânia proíbe eleições durante vigência da lei marcial, que foi decretada após a invasão da Rússia.

Em entrevista ontem à Fox News, o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Mike Waltz, colocou ainda mais lenha na fogueira, afirmando que Zelenski precisa baixar o tom das críticas feitas ao presidente americano e assinar o acordo proposto por Trump, pelo qual a Ucrânia cederia US$ 500 bilhões em minerais raros, que seriam explorados por empresas americanas, como pagamento pelo apoio militar. "Por tudo que o governo fez no primeiro mandato e tudo que os EUA fizeram na Ucrânia, isso é simplesmente inaceitável", disse.

A proposta foi apresentada a Zelenski pelo vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, na Conferência de Segurança de Munique, na semana passada. O presidente ucraniano rejeitou, alegando que a ideia era muito favorável a Washington e não dava garantias de segurança suficientes à Ucrânia.

"Eles (ucranianos) precisam diminuir o tom, analisar com cuidado e assinar esse acordo", insistiu Waltz. "Claro, há muita frustração aqui. O vice-presidente Vance ficou frustrado ao deixar a Conferência de Segurança de Munique. Nosso secretário do Tesouro, que viajou até Kiev, também está frustrado. Além do presidente, obviamente."

Reunião

Diante de tantos ataques americanos, Zelenski se reuniu ontem com Kellog, enviado de Trump à Ucrânia. A reunião tinha como objetivo discutir o fim da guerra e ajudar a aliviar as tensões entre Washington e Kiev. O resultado, no entanto, ficou no ar. Os americanos cancelaram a entrevista coletiva após o encontro, embora Zelenski e Kellogg tenham posado para fotos.

Os repórteres foram orientados a deixar o local. A Embaixada dos EUA em Kiev não comentou a reunião. "Foi um mau sinal", disse Solomiia Bobrovska, membro da Comissão de Defesa e Inteligência do Parlamento da Ucrânia, referindo-se à entrevista coletiva cancelada.

Mais tarde, Zelenski escreveu nas mídias sociais que teve uma "reunião produtiva" com Kellogg, na qual discutiram a situação no campo de batalha, o retorno de prisioneiros de guerra e garantias de segurança para a Ucrânia como parte de um acordo de paz. "Relações sólidas entre Ucrânia e EUA beneficiam o mundo inteiro", afirmou.

No entanto, ucranianos e europeus temem que Kellogg, um general aposentado e conselheiro de longa data de Trump em questões de segurança, tenha sido escanteado da equipe de negociação, já que ele não fazia parte da delegação dos EUA que se reuniu com autoridades russas em Riad.

Blitz

O presidente francês, Emmanuel Macron, e o premiê britânico, Keir Starmer, coordenaram uma blitz diplomática na semana que vem, para tentar entender a posição dos EUA. Macron visitará Washington na segunda-feira. Starmer chegará à capital americana no dia seguinte. Os dois têm reunião marcada com Trump. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O novo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, afirmou na tarde deste sábado, 8, em São Paulo, que governadores bolsonaristas "preferem fazer demagogia com sangue, ao tratar todo mundo da comunidade como se fosse bandido". Boulos disse que essa é a visão dos governadores do Rio, Cláudio Castro (PL), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de outros chefes de Executivo estadual apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele lançou no Morro da Lua, região de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, o Projeto Governo na Rua, que tem a finalidade de ouvir a população e levar as manifestações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Boulos declarou também que a questão do combate ao crime é antiga, mas que Luiz Inácio Lula da Silva é quem tomou a iniciativa de tentar resolver com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e o projeto de lei antifacção. Conforme o ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência, com essas propostas aprovadas, o governo federal terá mais atribuições e responsabilidades para o enfrentamento ao crime.

"A gente acredita que o combate ao crime tem que fazer da maneira correta, como a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, para pegar o peixe grande, não o bagrinho. O peixe grande está na Avenida Faria Lima, não na favela", acredita.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), divulgou neste sábado, 8, a pauta da Casa para a próxima semana, com a inclusão do projeto de lei antifacção - texto encaminhado pelo governo ao Congresso na esteira da megaoperação que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro. A proposta é relatada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de segurança de São Paulo.

Motta marcou a primeira sessão deliberativa da Casa da semana para terça-feira, 11, às 13h55. A sessão será semipresencial, conforme decidido pelo presidente da Câmara em atenção a pedido de líderes partidários. Isso significa que os deputados poderão votar a distância nas sessões dessa semana, sem precisarem estar em Brasília.

A pauta também contém outros projetos relacionados à Segurança Pública, como o que aumenta a destinação da arrecadação com jogos de apostas de quota fixa (bets) para o financiamento da segurança pública. O relator de tal projeto é o deputado Capitão Augusto (PL-SP).

Outro projeto na lista de serem debatidos pelos parlamentares é o que condiciona a progressão de regime, a saída temporária e a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva à coleta de material biológico para obtenção do perfil genético do preso. O relator é o deputado Arthur Maia (União-BA).

Ainda consta na pauta a discussão de um projeto que altera o Código Tributário Nacional para tratar de normas gerais para solução de controvérsias, consensualidade e processo administrativo em matéria tributária e aduaneira. A tramitação em regime de urgência da proposta foi aprovada no último dia 21. O relator é o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG).

O sócio-fundador da SPX Capital, Rogério Xavier, alertou neste sábado, 8, para a situação fiscal explosiva do Brasil. Com o juro real perto de 11% e o atual nível de endividamento, o País corre risco de quebrar se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) for reeleito e não mudar suas políticas. Por outro lado, pode virar a página caso eleja um candidato de centro-direita, escapando do duelo Lula versus Jair Bolsonaro e colocando um ponto final no ciclo pós-ditadura.

"O País quer uma coisa diferente dessa oferta que foi nos dada nos últimos anos, que aponte para o futuro. Chega de Bolsonaro, chega de Lula, está bom", disse Xavier, durante painel na conferência MBA Brasil 2025, em Boston, nos Estados Unidos.

Segundo ele, Lula e Bolsonaro representam um período "do nós contra eles" que o Brasil vive desde o fim da ditadura. "Temos uma alternativa de acabar com esse ciclo já no ano que vem", disse, sem mencionar um candidato específico. Na sua visão, qualquer candidato da direita hoje pode ser a 'cara' do centro-direita nas eleições de 2026, mas que ainda não é hora de se colocar. "Vai apanhar", afirmou.

Xavier prevê uma eleição "super acirrada", em que não será possível saber o vencedor das urnas nem 24 horas antes do pleito. E, nesse ambiente, a situação fiscal d Brasil pode se deteriorar ainda mais, com o governo petista gastando mais para vencer a disputa. Na sua visão, "o Brasil está em risco".

"A gente está criando um endividamento muito alto e que é explosivo. 11% de juro real para um país que já tem uma dívida desse tamanho, a gente quebra", alertou. "A gente está se aproximando muito perto do encontro com a dívida", acrescentou. Uma eventual piora da situação fiscal do Brasil pode levar credor da dívida brasileira a questionar a vontade do País de honrá-la. "Dívida é capacidade vontade. A capacidade está ficando em dúvida e já tem um pouco de dúvida se (o governo) tem muita vontade de pagar mesmo".

Ao falar a estudantes brasileiros de MBA no exterior, ele analisou o histórico dos partidos políticos no Brasil para reforçar a cobrança da sociedade por uma proposta nova. Na sua visão, o PT "morreu", assim como o PSDB perdeu relevância nacional. No entanto, o Partido dos Trabalhadores tem o Lula, que é "muita coisa", mas demonstra um "egoísmo brutal" ao continuar sendo presidente e não dar oportunidade para outros.

"A reeleição é um câncer no Brasil. O incentivo do político é se reeleger. Virou uma profissão", criticou o gestor. "O político deveria servir as pessoas, servir o povo. Não se servir", emendou.

Segundo ele, é importante que o ciclo pós-ditadura termine para que o Brasil aponte para o futuro. Mesmo que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tenha surpreendido para cima nos últimos anos, sob a ótica de crescimento, quando comparado a outros emergentes, o Brasil "ficou para trás", na sua visão. "O Brasil nunca teve horizonte, nunca teve previsibilidade", concluiu.

*A repórter viajou a convite da MBA Brasil