Ouvido pela Polícia Federal nesta sexta-feira, 13, o ex-ministro do Turismo Gilson Machado negou ter ajudado o tenente-coronel Mauro Cid a planejar uma fuga do Brasil. O Estadão teve acesso ao termo de depoimento. Ele disse que "nunca procurou qualquer pessoa, em qualquer consulado ou embaixada de Portugal ou de qualquer outro país, buscando expedir passaporte para Mauro Cid".
Machado, que foi preso preventivamente, declarou que só entrou em contato com o consulado português para ajudar o pai, Carlos Eduardo Machado Guimarães, que é idoso, a renovar o passaporte. O contato, segundo ele, foi feito por telefone, direto com o cônsul, e depois por meio de uma funcionária do consulado. O ex-ministro afirmou que foi recebido pelos funcionários e "foi providenciada a expedição do passaporte do seu pai".
Ainda de acordo com o ex-titular do Turismo, ele não tem contato com Cid desde 2022. "Também não manteve contato com ninguém de sua família ou diretamente ligada a ele", diz o termo de depoimento. Questionado sobre a data da última conversa com o ex-ajudante de ordens, Machado disse que não se recordava exatamente, mas que foi pouco depois das eleições, quando "prepararam juntos um documento para ser lido como discurso pelo então presidente em novembro daquele ano".
"O contato foi pessoal, não se recorda de ter tido mais contato com ele, supondo inclusive que ele trocou de telefone; que, portanto, nunca manteve contato com ele durante o período em que ele esteve preso ou agora que se encontra com uma série de restrições, inclusive de deixar o País", afirma o registro do depoimento.
'Inocência'
Ao chegar ao Instituto de Medicina Legal (IML), no bairro de Santo Amaro, no Recife, para exame de corpo de delito, Machado se disse inocente. "Venho a público reafirmar minha total inocência. Não cometi crime algum. Não matei, não trafiquei drogas. Apenas pedi um passaporte para meu pai, por telefone, no consulado português do Recife. Ele tem 85 anos. E o passaporte, se ele não recebeu, está para receber a renovação do passaporte português dele", afirmou o ex-ministro.
De acordo com o advogado de Machado, Célio Avelino, a defesa não teve acesso ao processo. "A Polícia Federal recebeu um mandado de prisão, mas não disse os motivos da prisão. Ele prestou depoimento, esclareceu o que perguntaram sobre se teria interferido para conseguir um passaporte para Mauro Cid. Ele disse que não. E é só isso que eu sei."
Delator
Cid também prestou depoimento à PF, ontem, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A audiência durou cerca de três horas, e ele negou ter planejado fugir do Brasil. Disse que tem cidadania portuguesa e que isso já havia sido comunicado ao STF, em fevereiro. Na ocasião, a defesa de Cid se ofereceu para entregar a carteira de identidade portuguesa a Moraes. Sobre a viagem de familiares, declarou que foram visitar parentes nos EUA.
O advogado de Cid, Cezar Bitencourt, afirmou ao Estadão que essa versão de fuga foi inventada por Bolsonaro e que seu cliente cumpre todos os compromissos como delator. "Nunca houve tentativa de fuga. O Cid não tem por que fugir. De onde surgiu essa idiotice? Do Bolsonaro. Ele inventou isso."
Cid também foi questionado sobre mensagens publicadas pela revista Veja atribuídas a ele. Segundo a revista, ele usou um perfil no Instagram em nome de "Gabriela" para se comunicar com uma pessoa próxima ao círculo de Bolsonaro ao longo do processo de delação, em uma espécie de jogo duplo. O militar negou a autoria das mensagens. (COLABORARAM GUSTAVO CÔRTES E RAYANDERSON GUERRA)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.