Em discurso no Congresso, Trump ameniza briga com Zelenski e cita Brasil como alvo de tarifas

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ressaltou a sua defesa por um cessar-fogo na guerra da Ucrânia e afirmou mais uma vez que deseja retomar o controle do Canal do Panamá e anexar a Groenlândia em seu longo discurso durante uma sessão conjunta do Congresso americano na madrugada desta quarta-feira, 5. Trump também citou o Brasil como um dos países que "cobram muito" dos Estados Unidos e prometeu novas tarifas.

 

O mandatário americano disse que recebeu uma carta do presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, na terça-feira, 4, apontando que Kiev está pronta para negociar o fim do conflito. O republicano também ressaltou que a Rússia quer acabar com a guerra. "Tivemos discussões sérias com a Rússia e recebemos fortes sinais de que eles estão prontos para a paz", disse Trump. "Não seria lindo?"

 

O republicano afirmou novamente que os americanos estavam vivendo "a era de ouro dos Estados Unidos". "Desde que iniciei meu governo, todas as ações têm sido rápidas e implacáveis para inaugurar a maior e mais bem-sucedida era da história do nosso país."

 

Ucrânia

 

As desavenças entre Trump e o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, dominaram o noticiário nos últimos dias após um bate-boca entre os dois no Salão Oval na sexta-feira, 28. O clima ruim fez com que Trump anunciasse uma pausa na ajuda americana a Kiev, com os argumentos de que o presidente ucraniano não queria o fim da guerra.

 

Nesta terça-feira, 4, o presidente ucraniano mudou o tom e se disse disposto a negociar a paz. Em uma série de publicações na plataforma X, Zelenski afirmou que poderia concordar com um cessar-fogo parcial com a Rússia, que envolveria uma troca de prisioneiros e proibiria ataques de longo alcance à infraestrutura civil e energética.

 

Durante o discurso, Trump também citou e pediu uma salva de palmas para o americano Marc Fogel, que foi detido pelas forças russas em agosto de 2021 e libertado por Moscou após um acordo com Trump no dia 11 de fevereiro. "Se você quer acabar com as guerras, você tem que falar com ambos os lados", disse Trump.

 

Apesar de rumores de que Trump anunciaria a assinatura do acordo de minerais entre Kiev e Washington, isso não aconteceu durante o discurso.

 

Canal do Panamá e Groenlândia

 

O presidente americano também mencionou mais uma vez a sua promessa de que os Estados Unidos irão "retomar" o Canal do Panamá. Trump disse novamente que estimula a independência da Groenlândia e que a região autônoma pode se juntar aos Estados Unidos se desejar.

 

"Acho que vamos conseguir. De um jeito ou de outro, vamos conseguir", afirmou Trump sobre a Groenlândia.

 

Tarifas

 

O republicano seguiu defendendo as tarifas e citou o Brasil como um dos países que "cobram demais dos Estados Unidos". Na terça-feira, 4, Trump anunciou tarifas de 25% em todos os produtos do Canadá e México, e de 10% em produtos chineses. Ele ressaltou que a medida serve como um incentivo para que empresas estabeleçam fábricas nos Estados Unidos.

 

O presidente americano também culpou o antecessor Joe Biden pela inflação e disse que quer aprovar uma legislação de corte de impostos. "Agora, pela primeira vez na história moderna, mais americanos acreditam que nosso país está indo na direção certa do que na direção errada", disse Trump.

 

O republicano afirmou que "resgatar a economia americana e aliviar a situação da classe trabalhadora" estava entre suas maiores prioridades. Ele prometeu reduzir os preços dos ovos e de energia, sem oferecer detalhes de seus próprios planos.

 

Elogios e interrupção

 

O discurso do presidente americano também ficou marcado por vários elogios do presidente aos feitos de seu governo nas primeiras seis semanas do mandato. Trump afirmou que sua administração estava "apenas começando" e disse que a sua vitória eleitoral foi um "mandato" da população americana.

 

A fala de Trump foi interrompida por protestos da bancada democrata e o congressista Al Green, do partido da oposição, foi removido do Congresso.

 

Após a saída de Green, Trump listou as ações tomadas pelo seu governo em temas como imigração e burocracia federal. O presidente americano também celebrou a saída dos EUA da Organização Mundial da Saúde (OMS) e o desmantelamento da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).

 

"O povo me elegeu para fazer o trabalho, e eu estou fazendo isso", disse Trump. O republicano classificou Biden como o "pior presidente da história dos Estados Unidos".

 

Musk

 

Durante o discurso, Trump citou o bilionário Elon Musk. O republicano agradeceu Musk por seu trabalho no Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) e apontou exemplos de como a ajuda internacional americana estava sendo usada antes de sua volta à Casa Branca.

 

O Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), liderado pelo homem mais rico do mundo, está desmantelando agências governamentais, reduzindo a força de trabalho federal e obtendo acesso a dados confidenciais do governo - tudo em uma tentativa, segundo o departamento, de "restaurar a democracia".

 

Mas a maior parte do que o Serviço DOGE dos EUA está fazendo sob o comando de Musk está sob escrutínio legal, com os tribunais analisando se isso viola as leis de privacidade, os direitos dos funcionários federais e os controles e equilíbrios da Constituição.

 

O DOGE agiu tão rapidamente que está sendo alvo de críticas cuidadosas até mesmo de alguns republicanos, preocupados com o fato de que os serviços básicos do governo - e a manutenção de ameaças contra o país - poderiam ser prejudicados. As pessoas que fazem a manutenção das armas nucleares dos Estados Unidos foram demitidas e depois recontratadas às pressas.

 

Imigração

 

Trump também afirmou que desde que assumiu a Casa Branca, os números de imigrantes ilegais que entraram na fronteira americana diminuíram. Ele agradeceu a secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, e o seu czar de fronteira, Tom Homan, pelo trabalho.

 

O presidente se referiu a família de Laken Riley, estudante de enfermagem que foi assassinada por um imigrante venezuelano na Geórgia em fevereiro de 2024, durante o discurso. Familiares de Riley estavam presentes na sessão conjunta do Congresso.

 

Trump também destacou Alexis Nungaray, mãe de Jocelyn Nungaray, de 12 anos, que foi morta por imigrantes ilegais enquanto caminhava por uma rua no Texas. O presidente americano pediu ao Congresso que lhe forneça financiamento para avançar sua agenda de deportação.

 

Criminalidade

 

O presidente americano buscou promover uma agenda dura contra o crime. Ele apontou que cidades governadas por políticos democratas são mais violentas, apesar das estatísticas mostrarem uma tendência de queda nos crimes.

 

Trump também ressaltou a necessidade de um policiamento mais agressivo. "À medida que recuperamos nossa soberania, também devemos trazer de volta a lei e a ordem às nossas cidades. Nos últimos anos, nosso sistema de Justiça foi virado de cabeça para baixo por lunáticos da esquerda radical". (Com agências internacionais).

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Três dos quatro ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) votaram pelo recebimento da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Eduardo Tagliaferro, que foi assessor de Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com isso, será aberta uma ação penal e ele será transformado em réu.

Ele foi acusado de agir contra a legitimidade do processo eleitoral e atuar para prejudicar as investigações de atos como os de 8 de janeiro de 2023. Tagliaferro está na Itália. O governo brasileiro já iniciou um processo de extradição contra ele.

A votação começou no plenário virtual na sexta-feira, 7, e deve ser oficialmente encerrada na próxima sexta-feira, 14. Votaram até agora Alexandre de Moraes, Flávio Dino e Cristiano Zanin. Falta o voto de Cármen Lúcia.

O ex-assessor responderá por quatro crimes: revelar ou facilitar a divulgação de um fato que o servidor público tem conhecimento em razão do seu cargo e que deve permanecer secreto; coação no curso de processo judicial; tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito; e tentar impedir ou dificultar investigação contra organização criminosa.

"A participação do denunciado manifestou-se de forma engendrada com a organização criminosa que atuava com o objetivo de praticar golpe de Estado, reforçando a campanha de deslegitimação das instituições mediante vazamento de informações sigilosas e criação de ambiente de intimidação institucional", escreveu Moraes no voto.

Após instaurada a ação penal, as investigações serão aprofundadas, com a produção de provas e o depoimento do acusado, de testemunhas de defesa e de testemunhas de acusação. Ao fim das apurações, a Primeira Turma vai realizar o julgamento final, que pode ser pela condenação ou absolvição do réu.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro disse no sábado, 8, que o Congresso Nacional está "de joelhos em frente ao Supremo Tribunal Federal" e que o Judiciário governa o País. Ela também defendeu o nome do marido, Jair Bolsonaro, como "única opção" para 2026, ignorando o fato de ele estar inelegível.

"A gente tem visto um Congresso de joelhos em frente ao STF, isso é uma tristeza para a gente, porque, hoje, só quem governa é o Judiciário", disse Michelle em um evento do PL Mulher em Londrina (PR). "Os nossos deputados aprovam leis e se não tiver em concordância, eles anulam", concluiu.

No dia anterior, a defesa de Jair Bolsonaro saiu derrotada do julgamento de um recurso à condenação do ex-presidente por tentativa de golpe de Estado. Ele deve começar a cumprir a pena de 27 anos e três meses de prisão ainda neste ano.

Herança política de Bolsonaro ainda indefinida

Michelle está cotada para ser candidata a presidente da República em 2026, mas Bolsonaro ainda não bateu o martelo sobre quem será seu herdeiro político. Dentro da família, Michelle sofre a concorrência do senador Flávio Bolsonaro, um dos filhos do ex-presidente.

Com a disputa interna da direita indefinida, a ex-primeira-dama preferiu dizer que "a única opção para presidente da República da direita chama-se Jair Messias Bolsonaro". Ela disse que, se isso não acontecer, será "o verdadeiro golpe que o Judiciário está dando no povo de bem, no povo brasileiro".

No mesmo evento, Michelle disse que o marido "tem vivido dias muito difíceis". Segundo ela, Bolsonaro sofre de soluços desde que passou pela última cirurgia. "Ele chega a exaustão, ele tem vários problemas de saúde decorrente dessa última cirurgia, por ele não ter tido tempo para se recuperar, paz de espírito para se recuperar, um ambiente favorável", afirmou.

Apesar dos lamentos, Michelle demonstrou no discurso esperança com dias melhores. "Um abismo foi puxando o outro. Ele tem vivido dias muito difíceis, tendo todos os seus direitos violados. Mas essa injustiça vai acabar, eu creio", declarou.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste domingo, 9, que "a ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe", em um sinal indireto às ameaças promovidas pelo governo dos Estados Unidos contra a Venezuela. Ele afirmou que "democracias não combatem o crime violando o direito internacional".

O governo de Donald Trump tem usado como pretexto para intensificar sua presença militar no Caribe o combate ao narcotráfico. Nos últimos meses, destruiu barcos que trafegavam pela região alegando que se tratava de embarcações de traficantes. Os tripulantes foram mortos.

O discurso de Lula foi feito na Cúpula Celac-União Europeia em Santa Marta, na Colômbia. O presidente brasileiro disse que a América Latina é uma "região de paz" e pretende continuar assim.

"A ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe. Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais. Somos região de paz e queremos permanecer em paz. Democracias não combatem o crime violando o direito internacional", declarou.

Segundo Lula, a "democracia também sucumbe quando o crime corrompe as instituições, esvaziam espaços públicos e destroem famílias e desestruturam negócios". O presidente brasileiro disse que garantir "segurança é dever do Estado e direito humano fundamental" e que "não existe solução mágica para acabar com a criminalidade". O presidente defendeu "reprimir o crime organizado e suas lideranças, estrangulando seu financiamento e rastreando e eliminando o tráfico de armas".

Lula citou a última reunião da cúpula Celac-União Europeia, há dois anos, em Bruxelas. Disse que, naquela época, "vivíamos um momento de relançamento dessa histórica parceria", mas, "deste então, experimentamos situações de retrocessos".

O petista criticou a falta de integração entre os países latinoamericanos. Afirmou que "voltamos a ser uma reunião dividida" e com ameaças envolvendo o "extremismo político".

"A América Latina e o Caribe vivem uma profunda crise em seu projeto de integração. Voltamos a ser uma região dividida, mais voltada para fora do que para si própria. A intolerância cria força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam se sentar na mesma mesa. Voltamos a viver com a ameaça do extremismo político, da manipulação da informação e do crime organizado. Projetos pessoais de apego ao poder muitas vezes solapam a democracia", afirmou.

Em seu discurso, Lula também citou a realização da COP30, em Belém, e mencionou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). Disse que o fundo "é solução inovadora para que nossas florestas valham mais em pé do que derrubadas" e que a "transição energética é inevitável".

O petista também lamentou o tornado que atingiu a cidade de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, e manifestou suas condolências às vítimas da tragédia climática dos últimos dias.