Casal branco dos EUA é condenado a décadas de prisão por abuso de filhos adotivos negros

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Um casal da Virgínia Ocidental, nos Estados Unidos, recebeu no último dia 19 a pena de décadas de prisão por abusar de seus filhos adotivos. Os abusos incluíam trabalhos forçados, trancá-los nos quartos, obrigar alguns a dormir no chão de concreto e fazê-los permanecer em pé por horas com as mãos na cabeça.

Jeanne Kay Whitefeather foi condenada a até 215 anos de prisão, enquanto seu marido, Donald Lantz, recebeu uma sentença de até 160 anos. No dia 29 de janeiro, um júri do condado de Kanawha os considerou culpados de várias acusações, incluindo trabalho forçado, tráfico humano e abuso e negligência infantil. Whitefeather também foi condenada por violações de direitos civis com base em raça.

Whitefeather poderá solicitar liberdade condicional após cumprir 40 anos, e Lantz, após 30 anos.

"Vocês trouxeram essas crianças para a Virgínia Ocidental, um lugar que eu conheço como 'Quase um Paraíso', e as colocaram no inferno. Agora, este tribunal colocará vocês no de vocês", declarou a juíza Maryclaire Akers aos réus. "E que Deus tenha misericórdia de suas almas. Porque este tribunal não terá."

Um a um, os depoimentos escritos por quatro das crianças foram lidos no tribunal por uma representante do escritório da promotoria para apoio às vítimas. Algumas das crianças ficaram ao lado da representante enquanto os textos eram lidos. As cartas descreveram traumas inimagináveis, dificuldades para confiar nas pessoas, pesadelos e medo de demonstrações de afeto.

A filha mais velha, agora com 18 anos, falou diretamente à corte, dirigindo-se a Whitefeather. "Eu nunca vou entender como você consegue dormir à noite. Quero que saiba que você é um monstro", disse.

A juíza Akers havia determinado anteriormente que os veículos de imprensa não publicassem os nomes ou imagens das crianças.

O casal, que é branco, adotou cinco irmãos negros enquanto morava em Minnesota. Depois, mudou-se para uma fazenda no Estado de Washington em 2018 e, em maio de 2023, levou a família para a Virgínia Ocidental, quando as crianças tinham entre 5 e 16 anos.

Cinco meses após a mudança para Sissonville, o casal foi preso depois que vizinhos viram Lantz trancar a filha mais velha e o irmão adolescente em um galpão e deixar a propriedade. Um policial precisou usar um pé de cabra para libertá-los.

Dentro da residência principal, uma menina de 9 anos foi encontrada chorando sozinha em um sótão, sem proteção contra quedas, segundo a denúncia criminal. Os policiais descreveram as crianças como malcheirosas e vestindo roupas sujas. O filho mais velho estava descalço e apresentava feridas nos pés.

Outra criança estava com Lantz quando ele finalmente retornou. Mais tarde, os policiais localizaram uma menina de 5 anos. Todas as cinco crianças foram entregues aos serviços de proteção infantil após a prisão do casal.

No mês passado, a filha mais velha processou o casal, alegando abuso físico e emocional severo, além de negligência que a deixou com marcas permanentes.

Depois que Whitefeather e Lantz fizeram declarações breves no tribunal, a juíza Akers afirmou que eles se recusaram a assumir a responsabilidade por seus atos.

A juíza mencionou um relatório pré-sentença no qual o casal culpava o corretor imobiliário "por não encontrar um lugar suficientemente isolado". Akers ironizou: "Acho que vocês deveriam ter explicado ao corretor que precisavam de um lugar isolado para continuar abusando de suas crianças."

Crianças eram forçadas a cavar com as mãos

Durante o julgamento, vizinhos testemunharam que nunca viam as crianças brincando e que Lantz as obrigava a ficar enfileiradas ou a realizar tarefas pesadas no quintal, como carregar objetos muito grandes. Quando Lantz percebeu o olhar curioso dos vizinhos, as crianças passaram a ficar mais tempo dentro de casa.

A filha mais velha relatou que a maior parte do trabalho forçado ocorreu no Estado de Washington e que algumas das crianças eram obrigadas a cavar usando as mãos. Ela também afirmou que eram constantemente xingadas e que Whitefeather usava linguagem racista.

Segundo o depoimento da jovem, Whitefeather demonstrava preferência pela filha mais nova, que não estava envolvida nas acusações, e dizia aos outros filhos que desejava uma vida sem eles.

A filha mais velha também relatou que a alimentação era limitada a sanduíches de pasta de amendoim, servidos em horários programados, e que algumas refeições eram sobras do dia anterior. Algumas crianças eram obrigadas a ficar em pé em seus quartos por horas, com as mãos na cabeça. A filha e o filho mais velhos dormiam no chão do mesmo cômodo e precisavam compartilhar um balde como banheiro, enquanto o outro segurava um lençol para se proteger das câmeras de segurança da casa, segundo os depoimentos.

O casal e seus advogados contestaram as acusações, alegando que os serviços domésticos eram apenas uma forma de ensinar responsabilidade às crianças.

Defesa argumenta que casal estava sobrecarregado

A defesa afirmou que o casal estava apenas sobrecarregado ao tentar lidar com os problemas de saúde mental das crianças, que vinham de um histórico de abuso e trauma antes da adoção. O advogado de Lantz, John Balenovich, culpou a agência de assistência social do Estado, dizendo que a família havia pedido ajuda diversas vezes, mas que o sistema "falhou completamente".

No entanto, um psicólogo forense da acusação testemunhou que o tratamento dado pelo casal às crianças piorou seus problemas emocionais e psicológicos.

A promotora assistente Madison Tuck afirmou que o casal nunca buscou ajuda para o filho mais velho, apesar de uma clínica de saúde mental ficar a poucos minutos da casa. O menino, que teve um desentendimento físico com Whitefeather em 2022 - apontado pelos advogados como o início das dificuldades familiares -, está atualmente internado em uma instituição psiquiátrica recebendo cuidados em tempo integral.

O advogado de Whitefeather, Mark Plants, argumentou no encerramento do julgamento que o casal foi culpado apenas por tomar decisões ruins na criação dos filhos. "Essas são pessoas de fazenda que fazem tarefas de fazenda", disse Plants. "Isso não teve nada a ver com raça. Não teve nada a ver com trabalho forçado."

*Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado pela equipe editorial do Estadão. Saiba mais em nossa Política de IA.

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O líder do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias (RJ), protocolou um requerimento à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa solicitando o encaminhamento imediato do processo de perda do mandato da deputada Carla Zambelli (PL-SP) à Mesa Diretora da Casa.

"Já tínhamos o entendimento e deduzido o pedido, em conformidade com o acórdão condenatório, no sentido de que o trânsito em julgado impõe a suspensão imediata de seus direitos políticos, nos termos do artigo 15, III, da Constituição Federal, a ser declarada pela Mesa, contudo, houve a remessa à Comissão de Constituição e Justiça, em trâmite anômalo e ilegal", escreveu o deputado.

A defesa da deputada no processo de cassação foi apresentada no começo deste mês. O processo é relatado pelo deputado Diego Garcia (Republicanos-PR), que deve apresentar relatório pedindo a cassação ou não da deputada.

Mesmo condenada e agora presa, Zambelli segue com seu mandato parlamentar enquanto a Câmara não deliberar sobre a cassação ou até que se configure o número de faltas não justificadas previsto pela Constituição.

Cabe à Mesa Diretora iniciar o procedimento com base na condenação criminal. A praxe do presidente da Casa, entretanto, tem sido levar o tema à votação no plenário.

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse que aguarda manifestações oficiais do Ministério da Justiça e do governo italiano sobre a prisão da deputada.

Zambelli foi presa na Itália nesta terça-feira, 29. Ela estava foragida desde junho, quando saiu do Brasil dias após ser condenada a dez anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O nome da deputada constava na lista de difusão vermelha da Interpol.

Segundo apurou o Estadão com investigadores, a deputada foi localizada pelo adido da Polícia Federal (PF) em Roma, que trabalha na embaixada, em conjunto com as autoridades italianas.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse que aguarda manifestações oficiais do Ministério da Justiça e do governo italiano sobre a prisão da deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP).

Motta ainda destacou a Casa legislativa não tem poder para decidir sobre a prisão da parlamentar, podendo apenas avaliar a cassação dela. Nesta terça, o líder do PT na Casa, Lindbergh Farias (RJ), protocolou um requerimento à Comissão de Constituição e Justiça da Casa solicitando o encaminhamento imediato do processo de perda do mandato da deputada à Mesa Diretora da Casa.

Em publicação feita no X (ex-Twitter), o presidente da Câmara disse que soube da detenção de Zambelli pela imprensa e conversou com o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, que passou informações preliminares.

"Importante lembrar que as providências que cabem à Câmara já estão sendo adotadas, por meio da Representação que tramita na CCJC (sigla da Comissão de Constituição e Justiça), em obediência ao regimento e à Constituição. Não cabe à Casa deliberar sobre a prisão - apenas sobre a perda de mandato", disse.

A CCJ instaurou no fim da segunda-feira o prazo para Carla Zambelli apresentar a defesa e indicar provas no processo que cassa o seu mandato parlamentar, aberto por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF).

A defesa da deputada foi apresentada no começo deste mês de julho. Agora caberá ao relator, Diego Garcia (Republicanos-PR), apresentar um relatório pedindo a cassação ou não da deputada.

Depois da votação na CCJ, deputados decidem isso no plenário da Câmara. São necessários, no mínimo, 257 votos para cassar o mandato de Zambelli.

A parlamentar foi condenada a dez anos de prisão pela invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Zambelli está foragida na Itália, país que tem cidadania, e é alvo de uma mandado de prisão definitiva de autoria do ministro Alexandre de Moraes.

O deputado italiano de esquerda Angelo Bonelli, do Partido Europa Verde, diz ter encontrado a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) em Roma, e fornecido o endereço dela na capital italiana à polícia nacional. A parlamentar foi presa no país europeu nesta terça-feira, 29.

"Carla Zambelli está em um apartamento, em Roma. Forneci o endereço à polícia, neste momento a polícia está identificando Zambelli", escreveu o deputado em seu perfil do X (antigo Twitter).

Segundo apurou o Estadão com investigadores, a deputada foi localizada pelo adido da Polícia Federal (PF) em Roma, que trabalha na embaixada, em conjunto com as autoridades italianas.

Bonelli tem 62 anos e é ativista ambiental. Em 2022, se tornou presidente da Aliança Verde-Esquerda, coligação que faz oposição ao governo da primeira-ministra Giorgia Meloni.

O deputado vinha defendendo publicamente a extradição de Zambelli, após a deputada ser declarada foragida das autoridades brasileiras.

No início de junho, Bonelli pressionou o governo da Itália, questionando ao ministro das Relações Exteriores e da Cooperação Internacional, ao ministro do Interior e ao ministro da Justiça, sobre a permanência de Zambelli no país.

No documento, o italiano questionou "que medidas urgentes os ministros interrogados pretendem adotar, no âmbito de suas competências, para cumprir as disposições da Lei n.º 144 de 1991 sobre extradições, especificamente no caso Zambelli?".

Dias antes, o deputado oficiou o governo italiano pedindo "medidas urgentes" para extradição e revogação da dupla cidadania da deputada.

Bonelli afirmou, em entrevista à Globonews, que a deputada foi localizada por volta das 18h (horário local), no bairro Aurélio, em Roma. O deputado informou ao chefe da polícia italiana que, segundo ele, confirmou duas horas depois que Zambelli havia sido encontrada em um apartamento.

Nas publicações do italiano nas redes, afirmando ter informado o endereço de Zambelli às autoridades italianos, uma enxurrada de brasileiros foi agradecer ao deputado.

"Vamos providenciar pra esse querido um CPF, carteirinha do SUS, uma caipirinha, um chinelo havaianas e uma cadeira na praia :)", escreveu uma usuária do Instagram. "Dia 29 de julho, dia de Angelo Bonelli!", escreveu outro internauta.