Greve na Argentina paralisa serviços e Milei incentiva 'disque-denúncia'

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Para enfrentar sua terceira greve geral, nesta quinta-feira, 10, o governo de Javier Milei elevou o tom contra os sindicatos, chamando-os de "animais selvagens" e dizendo que a paralisação era um "ataque à república". A expressão foi reproduzida em telas nas estações de trem, dizendo que a ação se tratava de um atentado a milhões de argentinos que queriam trabalhar, junto com uma linha direta para denunciar quem fosse "obrigado" a cruzar os braços.

 

A greve teve adesão parcial e a Casa Rosada tentou minimizar o impacto, ainda que tenha estimado um "prejuízo de US$ 880 milhões (cerca de R$ 5,15 bilhões) aos argentinos". Há 16 meses no cargo, Milei conduz um mandato no qual busca eliminar o déficit fiscal com medidas de austeridade severas, as quais têm provocado protestos como o de ontem.

 

Para aliviar a situação, o governo argentino está na expectativa do anúncio de um pacote de resgate de US$ 20 bilhões do FMI, cujo acordo técnico foi alcançado no início da semana.

 

Interrupção

 

Na paralisação de ontem, trens e metrôs foram interrompidos, mais de 250 voos foram cancelados, os envios de grãos foram suspensos, as entregas foram paralisadas e os bancos, fechados. A adesão foi alta entre os funcionários públicos, mas muitas lojas estavam abertas e parte dos ônibus circulou.

 

O movimento - liderado pela principal confederação sindical do país, a CGT - tentou paralisar a Argentina um dia após sindicalistas se juntarem a um protesto semanal de aposentados que reivindicam aumentos de pensões, a maioria delas agora fixada em cerca de US$ 300 por mês - atualmente, elas perderam valor frente à inflação.

 

Membros de sindicatos, incluindo maquinistas de trem, professores, funcionários da alfândega, coletores de lixo e trabalhadores dos correios, suspenderam o trabalho por 24 horas. Aeroportos ficaram vazios, enquanto as principais companhias aéreas interromperam operações. Muitos hospitais públicos estavam lidando apenas com emergências.

 

"Estamos aderindo à greve por uma negociação coletiva justa, solidariedade com os aposentados e os mais pobres do país e pela crise que estamos enfrentando", disse Néstor Segovia, secretário-assistente do sindicato dos trabalhadores do metrô.

 

No entanto, diferentemente das greves de janeiro e maio do ano passado, as ruas de Buenos Aires apresentaram adesão mista, principalmente porque o principal sindicato dos motoristas de ônibus não aderiu ao movimento, facilitando assim o deslocamento para o trabalho.

 

O sindicato optou por não participar por haver negociações salariais em andamento. Embora os taxistas tenham apoiado a paralisação, táxis podiam ser vistos circulando pelas ruas à procura de passageiros. Nos bairros da moda de Buenos Aires, cafés e lojas de roupas estavam movimentados como de costume.

 

Oposição

 

Os poderosos sindicatos da Argentina são controlados pelo partido peronista - o movimento político agora na oposição - desde que ajudaram a levar seu fundador, Juan Domingo Perón, ao poder, em 1945. Eles permanecem centrais para o sistema que Milei tenta derrubar.

 

O porta-voz de Milei, Manuel Adorni, usou seu canal no WhatsApp para criticar a paralisação, dizendo que era um movimento "da casta sindical kirchnerista", referindo-se à líder da oposição e ex-presidente Cristina Kirchner.

 

"Eles estão entrincheirados no poder político e sindical, entrincheirados no ninho da casta. O avanço da liberdade implica o fim de seus negócios e, como animais selvagens encurralados, eles contra-atacam para sobreviver", postou Adorni.

 

Milei pareceu inabalável. Durante toda a manhã, ele compartilhou dezenas de postagens nas redes sociais celebrando um anúncio de que o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, planeja visitar a Argentina na próxima semana. "Milei trouxe a Argentina de volta do esquecimento econômico", disse o comunicado americano. Mais tarde, ele postou fotos de seu gabinete completo na Casa Rosada com a legenda: "Aqui se trabalha." (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em outra categoria

Três dos quatro ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) votaram pelo recebimento da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Eduardo Tagliaferro, que foi assessor de Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com isso, será aberta uma ação penal e ele será transformado em réu.

Ele foi acusado de agir contra a legitimidade do processo eleitoral e atuar para prejudicar as investigações de atos como os de 8 de janeiro de 2023. Tagliaferro está na Itália. O governo brasileiro já iniciou um processo de extradição contra ele.

A votação começou no plenário virtual na sexta-feira, 7, e deve ser oficialmente encerrada na próxima sexta-feira, 14. Votaram até agora Alexandre de Moraes, Flávio Dino e Cristiano Zanin. Falta o voto de Cármen Lúcia.

O ex-assessor responderá por quatro crimes: revelar ou facilitar a divulgação de um fato que o servidor público tem conhecimento em razão do seu cargo e que deve permanecer secreto; coação no curso de processo judicial; tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito; e tentar impedir ou dificultar investigação contra organização criminosa.

"A participação do denunciado manifestou-se de forma engendrada com a organização criminosa que atuava com o objetivo de praticar golpe de Estado, reforçando a campanha de deslegitimação das instituições mediante vazamento de informações sigilosas e criação de ambiente de intimidação institucional", escreveu Moraes no voto.

Após instaurada a ação penal, as investigações serão aprofundadas, com a produção de provas e o depoimento do acusado, de testemunhas de defesa e de testemunhas de acusação. Ao fim das apurações, a Primeira Turma vai realizar o julgamento final, que pode ser pela condenação ou absolvição do réu.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro disse no sábado, 8, que o Congresso Nacional está "de joelhos em frente ao Supremo Tribunal Federal" e que o Judiciário governa o País. Ela também defendeu o nome do marido, Jair Bolsonaro, como "única opção" para 2026, ignorando o fato de ele estar inelegível.

"A gente tem visto um Congresso de joelhos em frente ao STF, isso é uma tristeza para a gente, porque, hoje, só quem governa é o Judiciário", disse Michelle em um evento do PL Mulher em Londrina (PR). "Os nossos deputados aprovam leis e se não tiver em concordância, eles anulam", concluiu.

No dia anterior, a defesa de Jair Bolsonaro saiu derrotada do julgamento de um recurso à condenação do ex-presidente por tentativa de golpe de Estado. Ele deve começar a cumprir a pena de 27 anos e três meses de prisão ainda neste ano.

Herança política de Bolsonaro ainda indefinida

Michelle está cotada para ser candidata a presidente da República em 2026, mas Bolsonaro ainda não bateu o martelo sobre quem será seu herdeiro político. Dentro da família, Michelle sofre a concorrência do senador Flávio Bolsonaro, um dos filhos do ex-presidente.

Com a disputa interna da direita indefinida, a ex-primeira-dama preferiu dizer que "a única opção para presidente da República da direita chama-se Jair Messias Bolsonaro". Ela disse que, se isso não acontecer, será "o verdadeiro golpe que o Judiciário está dando no povo de bem, no povo brasileiro".

No mesmo evento, Michelle disse que o marido "tem vivido dias muito difíceis". Segundo ela, Bolsonaro sofre de soluços desde que passou pela última cirurgia. "Ele chega a exaustão, ele tem vários problemas de saúde decorrente dessa última cirurgia, por ele não ter tido tempo para se recuperar, paz de espírito para se recuperar, um ambiente favorável", afirmou.

Apesar dos lamentos, Michelle demonstrou no discurso esperança com dias melhores. "Um abismo foi puxando o outro. Ele tem vivido dias muito difíceis, tendo todos os seus direitos violados. Mas essa injustiça vai acabar, eu creio", declarou.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste domingo, 9, que "a ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe", em um sinal indireto às ameaças promovidas pelo governo dos Estados Unidos contra a Venezuela. Ele afirmou que "democracias não combatem o crime violando o direito internacional".

O governo de Donald Trump tem usado como pretexto para intensificar sua presença militar no Caribe o combate ao narcotráfico. Nos últimos meses, destruiu barcos que trafegavam pela região alegando que se tratava de embarcações de traficantes. Os tripulantes foram mortos.

O discurso de Lula foi feito na Cúpula Celac-União Europeia em Santa Marta, na Colômbia. O presidente brasileiro disse que a América Latina é uma "região de paz" e pretende continuar assim.

"A ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe. Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais. Somos região de paz e queremos permanecer em paz. Democracias não combatem o crime violando o direito internacional", declarou.

Segundo Lula, a "democracia também sucumbe quando o crime corrompe as instituições, esvaziam espaços públicos e destroem famílias e desestruturam negócios". O presidente brasileiro disse que garantir "segurança é dever do Estado e direito humano fundamental" e que "não existe solução mágica para acabar com a criminalidade". O presidente defendeu "reprimir o crime organizado e suas lideranças, estrangulando seu financiamento e rastreando e eliminando o tráfico de armas".

Lula citou a última reunião da cúpula Celac-União Europeia, há dois anos, em Bruxelas. Disse que, naquela época, "vivíamos um momento de relançamento dessa histórica parceria", mas, "deste então, experimentamos situações de retrocessos".

O petista criticou a falta de integração entre os países latinoamericanos. Afirmou que "voltamos a ser uma reunião dividida" e com ameaças envolvendo o "extremismo político".

"A América Latina e o Caribe vivem uma profunda crise em seu projeto de integração. Voltamos a ser uma região dividida, mais voltada para fora do que para si própria. A intolerância cria força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam se sentar na mesma mesa. Voltamos a viver com a ameaça do extremismo político, da manipulação da informação e do crime organizado. Projetos pessoais de apego ao poder muitas vezes solapam a democracia", afirmou.

Em seu discurso, Lula também citou a realização da COP30, em Belém, e mencionou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). Disse que o fundo "é solução inovadora para que nossas florestas valham mais em pé do que derrubadas" e que a "transição energética é inevitável".

O petista também lamentou o tornado que atingiu a cidade de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, e manifestou suas condolências às vítimas da tragédia climática dos últimos dias.