Trump ameaça México com tarifas se país não cumprir com compartilhamento de água na fronteira

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Quando as negociações comerciais pareciam estar avançando, uma nova frente está surgindo entre os Estados Unidos e o México: o compartilhamento de água na fronteira. Na quinta-feira, 10, o presidente Donald Trump ameaçou o México com tarifas e até mesmo sanções, caso o país não pague a água que deve ao Texas, de acordo com um tratado bilateral de 1944 que gerencia o compartilhamento de água de três bacias hidrográficas fronteiriças, uma questão cada vez mais delicada em face das secas crescentes.

No mês passado, os Estados Unidos interromperam algumas remessas de água para Tijuana, mas agora o tom da ameaça se intensificou, já que a possibilidade de taxas comerciais voltou à mesa, apesar da promessa da presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, nos últimos dias, de cumprir "pouco a pouco". De acordo com Trump, o México deve 1,6 bilhão de metros cúbicos de água e não está apenas "violando" suas obrigações, mas também "roubando água" dos fazendeiros do Texas.

O líder norte-americano alega que isso levou ao fechamento da única usina de açúcar do Estado no ano passado. "Isso é muito injusto", escreveu ele na rede social Truth. "Continuaremos a aumentar as consequências, incluindo tarifas, e talvez até sanções, até que o México honre o tratado e dê ao Texas a água que lhe é devida."

Sheinbaum explicou em sua conta na rede social X que "foram três anos de seca e, na medida da disponibilidade de água, o México tem cumprido". Ela acrescentou que a Comissão Internacional de Fronteiras e Água está buscando soluções "favoráveis a ambos os países" e que, na quarta-feira, o México enviou uma proposta para tratar do fornecimento de água ao Texas "que inclui ações de curto prazo".

Nesta sexta, 11, ela afirmou em entrevista que o tratado com os Estados Unidos é "justo" e que a temporada de chuvas no país deve ajudar a enviar mais água para os americanos. "Estamos buscando outras alternativas para podermos cumprir com o tratado", disse ao projetar uma negociação "razoável" entre as duas nações para a situação.

Segundo o tratado de 1944, o México é obrigado a entregar 430 milhões de metros cúbicos de água por ano, ou aproximadamente 2,15 bilhões de metros cúbicos em cinco anos ao longo da parte leste da fronteira comum (o Rio Grande). Os Estados Unidos, em troca, fornecem ao México ainda mais água de outras fontes mais a oeste (as bacias dos rios Colorado e Tijuana).

Com uma janela de cinco anos, o México pode arcar com uma dívida de água nos primeiros quatro anos e saldá-la no quinto, o que levou o país a atrasar os pagamentos até a chegada de furacões ou tempestades. Isso irrita os agricultores do Texas, que precisam de um suprimento de água confiável. No ciclo atual, que começou em 2020, o México entregou cerca de um quarto do que deve para o período de cinco anos que termina em outubro de 2025.

Carlos de la Parra, um acadêmico que passou mais de 30 anos estudando a água na fronteira, explicou que, embora haja "um atraso considerável" nos pagamentos do México, não se pode dizer que o país esteja violando o tratado porque o ciclo atual de pagamento ainda não foi concluído. A questão é uma prioridade para o Texas, como o senador republicano Ted Cruz deixou claro durante a audiência do novo embaixador dos EUA no México, Ron Johnson, no mês passado. Cruz insistiu então que "custos reais" deveriam ser impostos ao México pelo não pagamento da água, já que as indústrias dos EUA estão "morrendo" como resultado.

Johnson, que foi ratificado como embaixador na quarta-feira, 9, comprometeu-se a garantir que o México cumpra todas as suas obrigações, incluindo "o tratado de água com o Texas" e "proteger a fronteira e interromper o fluxo de fentanil".

Dias após a audiência, os EUA se recusaram a enviar água para Tijuana. A decisão não teve consequências significativas porque não se tratava de um corte, mas de uma recusa em usar determinada infraestrutura dos EUA, explicou De la Parra.

O acadêmico indicou que o uso dessa infraestrutura sempre teve um custo "e o México o cobriu". "O que não tem precedentes é a tentativa de punir uma região pela contabilidade da água que é transportada em outra", porque a água em cada bacia sempre foi gerenciada separadamente. A questão tem provocado disputas recorrentes entre os dois países porque, para enviar água para os Estados Unidos, o México precisa liberá-la das represas que alimentam o Rio Grande, o que gera oposição dos agricultores mexicanos.

Há décadas, os dois países vêm chegando a acordos, mas a situação atual é muito mais delicada devido às constantes ameaças tarifárias de Trump se o México não atender às suas solicitações sobre segurança e migração. No entanto, Sheinbaum disse que estava confiante em chegar a um acordo, como foi feito em outras questões, e disse que ordenou que os responsáveis pelo assunto entrassem em contato "imediatamente" com seus homólogos norte-americanos.

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A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) afirmou neste sábado, 26, que vive como "exilada política" na Itália e agradeceu ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) por ter pedido às autoridades do país europeu que a recebessem. Condenada por invadir o sistema eletrônico do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ela deixou o País antes que a sentença pudesse ser cumprida.

"Eu queria dizer que hoje acordei com uma notícia muito boa, que é um vídeo do Flávio Bolsonaro falando por mim, pedindo por mim para a Giorgia Meloni [primeira-ministra da Itália], para o Matteo Salvini, que é o vice-primeiro-ministro daqui, pedindo para que me recebessem porque sou uma exilada política, sou uma perseguida política no Brasil", declarou Zambelli em vídeo publicado em seu perfil reserva no Instagram.

Os perfis oficiais da deputada, de sua mãe - Rita Zambelli -, e de seu filho foram retirados do ar após decisão judicial do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A nova conta já acumula mais de 11 mil seguidores e 40 publicações; a primeira postagem foi feita em 13 de junho.

Carla Zambelli está na Itália há quase dois meses, na tentativa de evitar o cumprimento de sua pena no Brasil. A parlamentar foi condenada a 10 anos de prisão e perda do mandato, acusada de ser mentora intelectual da invasão do sistema eletrônico do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

"Em tempos sombrios como este, em que sou alvo de uma perseguição política implacável, cada gesto de solidariedade tem um valor imenso", escreveu a parlamentar.

Na quinta-feira, 24, em entrevista ao portal Metrópoles, o filho "01" do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu que o governo italiano "abra as portas" para Zambelli.

Senadores brasileiros tiveram uma primeira reunião de trabalho na noite desde sábado, em Washington, nos Estados Unidos, no âmbito da missão oficial à capital americana para debater as tarifas de 50% aos produtos brasileiros, a partir do dia 1º de agosto. Participaram das conversas Teresa Cristina (PP-MS), Nelsinho Trad (PSD-MS), Esperidião Amin (PP-SC), o astronauta Marcos Pontes (PL-SP) e Fernando Farias (MDB-AL).

O encontro foi preparatório e teve como foco atualizar os parlamentares sobre os temas prioritários e alinhar os pontos que deverão ser discutidos nas reuniões com congressistas norte-americanos e representantes do setor produtivo dos EUA.

"O objetivo foi promover uma atualização da temática e alinhar os pontos que deveremos abordar ao longo da missão. Essa preparação é fundamental para garantir uma atuação coesa, institucional e estratégica em nome do Brasil", afirmou o senador Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores e coordenador da missão, em nota.

Os senadores Carlos Viana (Podemos-MG), Jacques Wagner (PT-BA) e Rogério Carvalho (PT-SE) devem chegar a Washington neste domingo.

A missão oficial do Senado brasileiro à capital americana ocorre em meio ao início do recesso parlamentar nos EUA. A Câmara dos Deputados entrou em recesso na semana passada, enquanto o Senado americano deve ter sessão até o dia 31 de julho.

Com a agenda parlamentar esvaziada, o foco da missão brasileira deve ser o setor corporativo. As tentativas de negociações do Brasil com os EUA ganharam corpo nos últimos dias, mas nenhum avanço de fato ocorreu, em meio ao temor de que os americanos adotem novas sanções contra o País.

Há a expectativa de que o presidente dos EUA, Donald Trump, assine uma ordem executiva nos próximos dias com as justificativas legais para taxar os produtos importados do Brasil em 50%, a partir de agosto, conforme relatos na imprensa. Isso porque a investigação do Escritório de Representação de Comércio dos EUA (USTR, na sigla em inglês) para apurar práticas comerciais injustas no Brasil, e que também teria o mesmo objetivo, poderia consumir mais tempo.

Na semana passada, senadores americanos enviaram uma carta ao presidente Trump, criticando a taxação ao Brasil. No documento, acusam o chefe da Casa Branca de "claro abuso de poder" e que interferir no sistema jurídico de uma nação soberana cria um "precedente perigoso" e provoca uma "guerra comercial desnecessária ".

A defesa do general Mario Fernandes pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a revogação de sua prisão preventiva ou a aplicação das mesmas medidas cautelares impostas a Jair Bolsonaro (PL). O argumento dos advogados é de que o ex-presidente da República foi denunciado como líder da organização criminosa envolvendo a tentativa de golpe, posição superior à do general dentro da acusação.

A manifestação foi protocolada no STF na noite do sábado, 26, após se encerrarem os interrogatórios do núcleo dois da ação penal da tentativa de golpe.

A defesa também afirmou que o general "não confessou plano de matar ninguém" e argumentou que os interrogatórios comprovaram que o documento "Punhal Verde Amarelo" não foi recebido por nenhum outro acusado.

Na quinta-feira, 24, Fernandes confirmou, em depoimento ao STF, ser o autor do documento "Punhal Verde Amarelo", que descrevia a possibilidade de "envenenamento" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e "neutralização" do seu vice, Geraldo Alckmin (PSB).

O arquivo havia sido encontrado em um HD apreendido com o general, em fevereiro de 2024. O militar disse que o documento não foi apresentado a ninguém.

"Esse arquivo digital nada mais retrata do que um pensamento meu que foi digitalizado, um compilar de dados, um estudo de situação meu, de pensamento, uma análise de riscos que eu fiz e por um costume próprio decidi digitalizá-lo. Não foi apresentado a ninguém ou compartilhado com ninguém", afirmou no interrogatório.

Com base no depoimento, a Procuradoria-Geral da República opinou que o general deveria ser mantido preso e disse que as provas colhidas "tornam inverossímil presumir que o requerente, após confeccionar o material, não o divulgou a seus pares".

O argumento foi rebatido pela defesa do general. Os advogados citaram que o tenente-coronel Mauro Cid, delator na ação, foi questionado sobre o Punhal Verde e Amarelo e confirmou não ter recebido cópia do documento.

Cid também disse que o general nunca conversou com ele sobre ações de monitoramento do ministro do Supremo Alexandre de Moraes, que foram realizadas por militares das Forças Especiais. De acordo com a defesa, essas informações demonstrariam que o general não participou de nenhuma ação concreta envolvendo o plano de golpe.

"A defesa nunca presumiu nada, apenas demonstrou, e não caberia a ela este ônus, que o arquivo eletrônico não foi apresentado a ninguém, tal como declarou Mauro Cid. Agora, quem não pode presumir no devido processo legal é a acusação, que por imposição legal e sem presunções, tem o dever efetivo de comprovar e provar o fato narrado na denúncia", escreveram os advogados Marcus Vinicius Figueiredo, Igor Monteiro e Diogo Borges.

A defesa argumenta que, no interrogatório, o general somente confirmou um fato já comprovado nos autos, mas que não realizou nenhuma ação para colocar em prática o Punhal Verde Amarelo. Por isso, a defesa afirma que ele "não confessou plano de matar ninguém".

"A minuta punhal verde amarelo já era vinculada ao requerente, razão pela qual a confirmação daquele arquivo pelo requerente em seu interrogatório não exprime qualquer confissão de crime, pois como já incontroversamente constatado não foi objeto de compartilhamento ou debate com quaisquer dos acusados", afirmou a defesa.

Por isso, afirmam que a prisão preventiva e uma eventual condenação só poderiam se basear em "elementos concretos" e na certeza das provas. Eles argumentam que o fato de que outros investigados estavam no Palácio do Planalto no mesmo horário em que o documento foi impresso não comprova a acusação descrita na denúncia: "Condenação se legitima apenas pela certeza, nunca pela coincidência".

Decreto golpista de Bolsonaro

O general também havia confirmado, em seu interrogatório, ter tomado conhecimento de que o ex-presidente Jair Bolsonaro discutia um decreto com teor golpista, mas disse não ter participado da construção do documento.

A Polícia Federal citou, no relatório final, a existência de mensagens enviadas por ele a Mauro Cid nas quais pede ao tenente-coronel que convencesse Bolsonaro a assinar o decreto.

A defesa afirmou que esses elementos indicam que ele não participou da elaboração do documento. "O requerente tomou conhecimento da suposta minuta do Golpe por conversas de corredor, tanto é que jamais participou de qualquer reunião ou qualquer outra situação envolvendo a construção daquela minuta - fato incontroverso", diz a manifestação da defesa.

Por último, os advogados solicitaram que a prisão preventiva do general seja revogada ou que deveriam ser aplicadas a ele as mesmas medidas cautelares impostas a Bolsonaro, já que o ex-presidente foi denunciado como líder da organização criminosa, posição superior à ocupada por Mario Fernandes na estrutura da acusação.

"Insubsistente a manifestação da d. Procuradoria que não reflete a realidade dos fatos, causando estranheza a contradição entre a denúncia e o conteúdo da sua manifestação, objeto da presente petição, impondo-se a revogação da prisão preventiva ou a aplicação das mesmas medidas recentemente destinadas ao acusado Jair Messias Bolsonaro - indicado na denúncia como líder da organização criminosa", solicitou a defesa.