Trump firma 4 vezes mais decretos do que há 8 anos nos 100 dias iniciais

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Donald Trump completa nesta terça-feira, 29, 100 dias como presidente dos EUA. É a arrancada mais avassaladora desde os anos 30, quando Franklin D. Roosevelt estabeleceu a tradição de impor uma agenda política nos três primeiros meses de mandato para deixar uma marca.

 

Se Roosevelt combateu a Grande Depressão com regulamentação e aumento do papel do Estado na economia, por meio de leis aprovadas no Congresso, Trump tenta desmontar esse legado na base do decreto. "Estamos forjando uma nova maioria política que está destruindo e substituindo a coalizão do New Deal, de Roosevelt, que dominou a política americana por quase 100 anos", disse Trump em encontro com governadores republicanos, em fevereiro.

 

Já foram mais de 140 decretos assinados desde janeiro, quatro vezes mais que na comparação com o primeiro mandato, quando Trump emitiu 33 decretos, e mais que FDR, o recordista até então, com 99.

 

Esses decretos envolvem as quatro prioridades do presidente no segundo mandato: comércio exterior, imigração, redução do Estado e combate ao que chama de "ideologia woke" (como os republicanos se referem pejorativamente às iniciativas de diversidade).

 

Para Lucas de Souza Martins, historiador da Temple University, na Filadélfia, o segundo mandato de Trump rompe com várias tradições da política americana. "Ele transforma instituições em algo que serve a um partido, em vez de um Estado", disse.

 

Embora presidentes americanos tenham cada vez mais recorrido a essa ferramenta, em virtude do impasse legislativo provocado pela polarização, os decretos teriam um escopo limitado e serviriam apenas para a organização do governo federal, segundo a Constituição.

 

Os decretos de Trump foram alvos de mais de 150 ações judiciais que contestam sua legalidade. Muitos foram bloqueados de forma parcial ou total por não estarem de acordo com a Constituição. Um dos mais notórios é o decreto que extingue o direito de cidadania por nascimento nos EUA.

 

Choque de poderes

 

A resistência dos tribunais detonou uma guerra entre o presidente e o Judiciário. Trump diz ter um cheque em branco para implementar sua agenda e não permite ser contestado por juízes. Em ao menos uma oportunidade, advogados do governo descumpriram a ordem de um juiz federal, quando não agiu para repatriar Kilmer Garcia, deportado por engano para uma prisão em El Salvador.

 

A retórica agressiva provocou uma rara reprimenda da Suprema Corte. Em março, o presidente do tribunal, o conservador John Roberts, publicou um comunicado criticando o impeachment de juízes, defendido por Trump, que decidiram contra o governo.

 

Na semana passada, o FBI prendeu uma juíza de primeira instância, acusando-a de ajudar um imigrante ilegal a escapar da deportação. A medida aumentou a preocupação entre especialistas sobre o choque de poderes nos EUA.

 

Com uma maioria enxuta no Congresso, Trump tem conseguido aprovar poucas leis. A única mais importante até agora foi o projeto que permite a prisão de imigrantes ilegais suspeitos de roubo. Nos mesmos 100 dias, Roosevelt aprovou 16 leis, muitas desenhadas para tirar o país da Grande Depressão. Mas Roosevelt tinha um capital político maior que o de Trump. Eleito com 57% dos votos, tinha maioria de quase dois terços no Senado e na Câmara.

 

Ponto forte de Trump na campanha, a economia foi um de seus focos nos primeiros 100 dias, sobretudo com a imposição de tarifas para quase todos os países do mundo, incluindo aliados como México, Canadá e Europa. "Muitos países tem procurado outros clientes para fugir dos EUA, por causa das tarifas. É o caso de União Europeia e China, que busca alianças com Japão e Coreia do Sul", observa Natália Fingermann, professora de relações internacionais da ESPM.

 

Eleito com a promessa de fazer o poder de compra dos americanos aumentar, ele herdou uma inflação de 3% que tem boas chances de aumentar quando as tarifas forem repassadas para consumidores. O índice de inflação anualizado de março foi de 2,4%.

 

Deportações

 

Na imigração, Trump decretou emergência na fronteira e autorizou o uso de militares no combate aos ilegais. As entradas, que chegaram a 250 mil pessoas por mês, no governo Biden, já estavam baixas quando Trump tomou posse. Desde então, caíram de 8,3 mil para 7,1 mil travessias mensais.

 

O foco de Trump parece ser as deportações. Segundo a revista Newsweek, mais de 37 mil pessoas foram deportadas no primeiro mês de mandato, número abaixo da média de governos anteriores. Desde então, a Casa Branca parou de divulgar os números.

 

Segundo a ONG Migration Policy, estima-se que até o fim do ano Trump deportará 500 mil pessoas, metade da meta prometida pela Casa Branca. Para facilitar o processo, o presidente forjou uma aliança com o presidente salvadorenho, Nayib Bukele, para enviar imigrantes para prisões de segurança máxima na América Central.

 

"Essa política migratória acaba afastando pessoal qualificado. No longo prazo, isso provocará um problema muito sério, já que os EUA deixarão de ser o lugar onde os grandes cérebros querem estar e debater", disse Natália.

 

Outro foco de Trump, o corte de gastos ficou a cargo do dono da Tesla, Elon Musk, e de seu Departamento de Eficiência Governamental (Doge). Ao assumir o cargo, Musk prometeu economizar US$ 1 trilhão com demissões. Ele obteve acesso a dados sensíveis de milhões de americanos, com uma devassa em agências do governo. A economia, no entanto, ficou aquém do desejado. Segundo dados oficiais, US$ 150 bilhões foram economizados, mas apenas US$ 32 bilhões comprovados.

 

Trump chega aos 100 dias com a pior avaliação de um presidente na era moderna, perdendo apenas para si mesmo em seu primeiro mandato. Até em áreas onde ele era forte, seus números estão caindo. Segundo pesquisa do Ipsos, Trump é aprovado por 39% da população e reprovado por 55%. Para 61%, seu manejo da economia é ruim e para 58% dos independentes, ele não faz um bom trabalho.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em outra categoria

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foram os principais alvos do ato realizado neste domingo, na Avenida Paulista, por apoiadores do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL). Sem a presença do ex-presidente, impedido de deixar sua residência aos finais de semana por determinação do STF, o pastor Silas Malafaia acabou sendo o principal orador do ato realizado num dos principais cartões postais da capital paulista.

O pastor voltou a chamar Moraes de "criminoso", cobrou o arquivamento das ações em curso contra bolsonaristas e pediu "um minuto de silêncio" para rezar e pedir a Deus para quebrar "a dureza, ambição e vaidade" dos parlamentares e ministros do STF.

Em ato pela anistia realizado em Copacabana, em março, Malafaia já havia chamado Moraes de "criminoso". Para o líder evangélico, o ministro da Suprema Corte comete crimes porque "rasga a Constituição" em suas decisões e na maneira como conduz as ações que estão sob sua relatoria no STF.

Neste domingo, Malafaia defendeu que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) não é "traidor da pátria".

Eduardo articulou com autoridades norte-americanas sanções contra o Brasil que já começaram a ser colocadas em prática contra Alexandre de Moraes, ministros do STF e Lula.

Na tentativa de minimizar as ações do deputado, o pastor acusou Lula, a ex-presidente da República Dilma Rousseff (PT), outros políticos de esquerda e movimentos sociais de denunciarem o Brasil em Cortes internacionais, no contexto da prisão do petista no âmbito da Operação Lava Jato.

O mesmo argumento foi reproduzido por outros bolsonaristas, como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG).

"Lula é o verdadeiro traidor da pátria", gritou o pastor.

Malafaia também apontou as ausências dos governadores presidenciáveis: o de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e o de Goiás, Ronaldo Caiado (União), que alegaram motivos diversos para não comparecerem.

Do trio elétrico da manifestação, deputados estaduais, federais e vereadores fizeram discursos com pautas distintas, pedido anistia a Bolsonaro, atacando Lula, Moraes e citando os condenados do 8 de Janeiro.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), esteve presente e acenou ao público, mas não discursou.

O líder do PL na Câmara, deputado federal Sóstenes Cavalcante (RJ), pediu a anistia de Bolsonaro, mirando nas eleições de 2026. "Somente com Bolsonaro na urna em 2026 esse País terá paz. Se não permitirem que o maior líder, o líder das pesquisas eleitores, o Brasil terá guerra nas ruas, lamentavelmente", disse.

Bolsonaro segue inelegível por condenação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até 2030.

Sóstenes ainda mandou recado aos políticos da base do presidente Lula, afirmando que a hora para "pularem do barco furado do descondenado" é agora, e não às vésperas do pleito do próximo ano.

O líder ainda atacou as pesquisas da Universidade de São Paulo (USP) que mostraram queda de público nas manifestações bolsonaristas. O parlamentar afirmou que a Universidade "não sabe contar os brasileiros", afirmando que a manifestação deste domingo é a maior até agora.

O comparecimento aos atos em favor do ex-presidente minguou à medida do avanço da investigação e da ação penal por tentativa de golpe de Estado, da qual é réu.

A redução do público é superior a 90%. Em fevereiro de 2024, mais de 125 mil pessoas estiveram presentes na Avenida Paulista. Em 29 de junho, um protesto no mesmo local reuniu 12,4 mil pessoas. Os dados são Monitor do Debate Público do Meio Digital, da USP.

O presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, se bastou a agradecer o público e os políticos presentes, e pediu a volta de Bolsonaro, em menos de um minuto falando com os apoiadores.

Já Nikolas fez um discurso de mobilização da base no qual disse amar Bolsonaro e mostrou à multidão o celular em ligação com o ex-presidente. Mais cedo na manifestação realizada no Rio de Janeiro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) transmitiu mensagem do pai por meio de ligação.

Ainda num movimento de agitação dos manifestantes, o parlamentar disse que os bolsonaristas "não vão se dobrar a Alexandre de Moraes" e que o ministro "sem a toga, não é nada".

O deputado focou as críticas a Lula e ao Judiciário, e repetiu o discurso de Sóstenes, de que será golpe caso Bolsonaro, inelegível, tenha a candidatura impedida no próximo pleito.

Em recado ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), Nikolas pediu que a anistia de Bolsonaro seja pautada e fez referência à briga pública entre o Tarcísio e Eduardo Bolsonaro, afirmando que "chegou a hora de dividir os meninos dos homens".

O deputado mineiro também prometeu ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que mais um pedido de impeachment chegará à mesa do senador. Em recado aos senadores, Nikolas afirmou que ou os políticos "expurgam Moraes do STF, ou nós expurgamos vocês ano que vem nas eleições".

O deputado federal Paulo Bilynskyj (PL-SP) comparou Moraes ao Primeiro Comando da Capital (PCC), afirmando que ambos foram sancionados pela Lei Magnitsky. A sanção foi imposta pelo governo Trump na quarta-feira, 30, contra o ministro. Foi a primeira vez que uma autoridade de país democrático é punida com a norma, criada para restringir direitos de violadores graves dos direitos humanos.

A deputada federal Rosana Valle (PL-SP) focou o discurso em oposição ao governo, puxando coro de "fora Lula, fora PT", e afirmando que representa a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), que ao invés de vir a São Paulo decidiu participar das manifestações bolsonaristas em Belém, no Pará.

Eduardo Bolsonaro, que acompanhou o ato de sua casa nos Estados Unidos, apareceu em ligação de vídeo com o deputado estadual Paulo Mansur (PL), recebendo aplausos do público.

O deputado federal Marco Feliciano (PL-SP) foi o primeiro a pedir diretamente a anistia ao condenados pelo 8 de Janeiro e afirmar que os senadores em missão nos Estados Unidos para negociar o tarifaço de Trump não tiveram sucesso "porque a moeda de troca" é o perdão aos bolsonaristas.

Vice-prefeito de São Paulo, Coronel Mello Araújo, indicado por Bolsonaro na chapa de Ricardo Nunes nas eleições passadas, também focou o discurso na crítica aos senadores, os quais afirmou que "não fazem a lição de casa".

"Os senadores deveriam tomar providências, e se calam", disse Mello Araújo, sem citar pedido de impeachment a Moraes.

O advogado Carlos José Luna dos Santos Pinheiro, acusado de ligação com organização criminosa formada por quatro desembargadores e dois juízes de primeira instância do Tribunal de Justiça do Maranhão, tentou destruir provas sobre compra de sentenças na Corte. Segundo a Operação 18 Minutos, que investiga o esquema, acuado pela chegada da Polícia Federal, Luna arremessou seu celular pela janela do apartamento no 10.º andar do prédio onde reside em São Luís.

O Estadão busca contato com Carlos Luna e outros advogados sob suspeita e deixou está aberto para manifestação. A reportagem pediu manifestação do Tribunal de Justiça do Maranhão, que não respondeu até o fechamento deste texto.

A Operação 18 Minutos foi deflagrada no dia 14 de agosto do ano passado, por ordem do ministro José Otávio de Noronha, do Superior Tribunal de Justiça. Agentes federais fizeram prisões e buscas nos endereços de investigados, entre eles Carlos Luna e os magistrados.

Na denúncia de 313 páginas enviada ao Superior Tribunal de Justiça, a Procuradoria-Geral da República destacou a conduta de Luna e de um outro advogado, Edilázio Gomes da Silva Júnior, ex-deputado federal e genro da desembargadora Nelma Sarney - cunhada do ex-presidente José Sarney -, apontada como 'líder da organização criminosa'. Edilázio também tentou destruir provas da memória de seu celular, segundo a PF.

A Procuradoria atribui a Luna os crimes de corrupção ativa em pelo nove casos que estavam em curso no TJ do Maranhão e 413 atos de lavagem de dinheiro, além de embaraço à investigação.

Segundo relato dos investigadores, no dia em que chegaram ao prédio de Luna, na deflagração ostensiva da operação, o advogado atirou seu celular pela janela do 10.º andar, 'no momento em que a equipe policial entrou no apartamento'.

O aparelho foi recolhido pelo porteiro do condomínio, Marcone Heleno Rocha dos Reis, que 'imediatamente' o entregou aos policiais que faziam a busca.

A perícia criminal da Polícia Federal constatou o dano e atestou, dois dias depois, que 'o aparelho celular encontrava-se bastante danificado' e que, até ali, não havia sido possível realizar a extração dos dados eventualmente armazenados'.

"É importante destacar que a presença da força policial não constrangeu Carlos Luna a agir para destruir provas, de modo consciente e voluntário", anotou a PF.

O mesmo procedimento para aniquilar provas foi adotado por Edilázio, afirma a PF. Ele é apontado como importante elo do 'núcleo causídico' com o 'núcleo jurídico' da trama para venda de sentenças - o valor atualizado amealhado pela organização criminosa, apenas com a execução dos crimes denunciados, perfaz R$ 54,7 milhões, segundo a PGR, o que 'demonstra a gravidade concreta das condutas praticadas, a periculosidade dos agentes e a sofisticação da organização criminosa'.

O genro de Nelma Sarney estava em Brasília no dia em que estourou a operação. Ele retornou a São Luís em voo das 8h55. Quando desembarcou, os agentes o aguardavam munidos de ordem de busca pessoal emitida pelo ministro João Otávio de Noronha.

O celular do ex-deputado foi apreendido, mas os peritos federais logo perceberam que Edilázio restaurou o aparelho para as configurações de fábrica, eliminando todos os arquivos.

A restauração ocorreu às 8h20 daquele mesmo dia, duas horas e vinte minutos após o início das buscas domiciliares realizadas pela Operação 18 Minutos. A restauração elimina todos os arquivos, inclusive conversas, documentos, imagens, e-mails.

Ele chegou a São Luís às 11h09 - a fase ostensiva da operação havia sido deflagrada às 6hs. Os investigadores suspeitam que Edilázio foi avisado, ainda quando estava em Brasília naquela manhã, sobre as manobras da PF, inclusive em seus próprios endereços comercial e residencial.

Os federais foram aguardar Edilázio acompanhados de um representante da OAB, Frederico Dualibe Lima. O ex-deputado foi abordado na área de recepção de bagagens e desembarque por dois agentes à paisana. Ali estava também um advogado do próprio Edilázio.

"Não pairam dúvidas de que Edilázio Júnior estava ciente de que era alvo da operação, de modo que atuou para impedir o acesso da Polícia Federal a dados de interesse à investigação que estavam armazenados no aparelho de telefone celular, destruindo evidências digitais", diz a PF. "Portanto, ao restaurar a configuração do aparelho de telefone celular após ter ciência da Operação 18 Minutos, ele agiu deliberadamente para embaraçar investigação que envolve organização criminosa."

A Procuradoria imputa a Edilázio corrupção passiva por duas vezes, 80 atos de lavagem de dinheiro, organização criminosa e embaraço de investigação.

Carlos Luna e Edilázio são apontados como personagens importantes no esquema montado no TJ do Maranhão - além de Nelma Sarney, são acusados os desembargadores Luiz Gonzaga Almeida Filho, Antônio Pacheco Guerreiro Júnior, Marcelino Everton Chaves (aposentado) e os juízes de primeira instância, Alice de Souza Rocha e Cristiano Simas de Souza.

O grupo dos causídicos encontrou acesso fácil ao Tribunal via a desembargadora Nelma. Segundo a investigação, Luna e outros dois advogados, José Helias Sekeff e Frederico Campos, eram, na época, advogados pessoais de Edilázio e de sua mulher, Alina Sarney, filha da desembargadora. Edilázio seria 'sócio oculto' do Maranhão Advogados.

Segundo a PF, a análise do celular de Nelma, apreendido na Operação 18 minutos, 'evidencia que a desembargadora e Edilázio atuam juntos, de forma sistemática, para negociar decisões judiciais'.

Entre as sentenças rastreadas pelos federais estão duas que resultaram em saques milionários contra o Banco do Nordeste, um deles no montante de R$ 14,1 milhões em favor do advogado Francisco Xavier que atuou na instituição financeira e entrou com ação requerendo R$ 12 milhões a título de honorários.

Os investigadores colaram nos autos do inquérito mensagens entre a desembargadora e o genro. Um diálogo resgatado indica que o ex-deputado sugeriu, em um processo movido contra o Banco do Nordeste, 'a redação do dispositivo de decisão a ser tomada por Nelma Sarney' - 'conceder o efeito suspensivo em parte, tão somente pra impedir qualquer levantamento até o julgamento do presente agravo de instrumento'.

A desembargadora, em seguida, encaminhou o mesmo texto para sua assessora, Carolina Arósio Jorge, incluir na minuta da decisão. "Ao final, a decisão foi expedida da forma como sugerida por Edilázio Júnior", afirma a PF.

No celular de Zely Brown, assessora e chefe de gabinete de Nelma, os investigadores também constataram 'evidente e recorrente ajuste de decisões entre a desembargadora e Edilázio'.

Zely Brown, em uma ocasião, mencionou expressamente que recebeu um pedido de Edilázio para que Nelma concedesse efeito suspensivo em um recurso de apelação.

A Operação 18 Minutos ganhou esse nome porque este era o tempo que a organização levava para sacar o dinheiro obtido por meio da compra e venda de sentenças.

A PF sustenta que 'a articulação' da organização criminosa e os vínculos entre os membros dos núcleos judicial, causídico e operacional são evidenciados também pelo fato de que o advogado José Helias Sekeff e o filho do desembargador Marcelino Chaves - Marcelo Eduardo Costa Everton - foram assessores de Edilázio no gabinete dele na Câmara dos Deputados.

As mensagens recuperadas nos celulares de outros denunciados também demonstram que Edilázio 'atuou em concurso com a desembargadora Nelma Sarney na execução do crime de corrupção passiva'.

Em um diálogo, Eliana Ramos, filha de Francisco Xavier, 'menciona claramente' a Fernando Ramos, filho do advogado, que o caminho para negociar com a desembargadora 'é através de Edilázio'.

Na oportunidade, a mulher de Xavier relatou que os advogados Felipe Ramos e Carlos Luna 'entraram em contato com Edilázio para, assim, negociar com Nelma Sarney sobre outro processo contra o Banco do Nordeste'.

"Agora deixa eu te falar uma coisa, eu tinha falado pro Felipe esse juiz não ia despachar esse processo, que era pra ele procurar entrar por outro lado, aí quando foi ontem ele viu que isso não ia acontecer porque ele não despachou e o Felipe pegou e junto com o Carlos foram falar com Evilázio para falar com a doutora, com a desembargadora Nelma, entendeu?", escreveu a mulher de Xavier.

Ela seguiu. "Aí eu não sei o que foi que deu por que ele passou lá em casa lá no apartamento e só fez dizer isso, eu disse 'te avisei que tu não perdesse tempo que ele não ia despachar esse processo', te falei não sei quantas vezes, mas tu não acreditou, e já vai sair é o outro...O outro é que já tá mais perto de sair do que esse daí, porque esse documento daí ele tá prendendo e o outro já tá mais solto do que antes, entendeu? Ele foi falar com Bogéa, pro Bogéa pegar e botar em pauta de reunião de coisa pra ser julgado, aí esse daí também, esse é melhor esse é TRÊS MILHÕES, entendeu? Pois é tá nesse pé aí."

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) liderou a manifestação bolsonarista em Belo Horizonte neste domingo, 3, e usou o seu discurso para provocar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que foi alvo de sanções do governo norte-americano de Donald Trump na última semana.

"Alexandre de Moraes, você é um cara corajoso. Mas sem toga você é nada", disse Niikolas. "Nós muito bem sabemos que o STF não é o dono do Brasil", completou.

O parlamentar ainda disse ter tido um dia "magnitsky" na última quarta-feira, 30, quando a lei de mesmo nome foi aplicada contra o magistrado. Ainda em seu gesto de provocação ao ministro, Nikolas disse que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) não violou a soberania popular ao "fritar um cabeça de ovo com a Lei Magnitsky".

O dispositivo legal acionado pela Secretaria do Tesouro dos Estados Unidos contra Moraes impõe sanções financeiras a estrangeiros acusados de corrupção ou violações graves de direitos humanos.

Em seu discurso, Nikolas ainda afirmou que a prioridade do movimento bolsonarista deve ser o "Fora Lula" e, em segundo lugar, o impeachment de Moraes.

O deputado listou os episódios recentes em que presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi à Argentina apoiar a ex-presidente Cristina Kirchner condenada por corrupção e o empréstimo de aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) para trazer a ex-primeira-dama do Peru Nadine Heredia como exemplos de violação da soberania de outros países.

O argumento foi usado para relativizar o movimento de Eduardo em defesa de sanções ao Brasil como forma de pressionar os ministros do STF a arquivar a ação penal contra o seu pai, o ex-presidente da República, Jair Bolsonaro.

Manifestações no País

Além de Belo Horizonte, as manifestações ocorrem em diversas cidades do País, incluindo em municípios do interior.

Mais cedo, houve protestos em Brasília, Goiânia e no Rio de Janeiro. A maior mobilização se concentra em São Paulo, na Avenida Paulista, em ato puxado pelo pastor Silas Malafaia.

No Rio de Janeiro, o ato foi liderado pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). O ato ocorreu na orla de Copacabana.

Em Brasília, a manifestação foi feita em forma de passeata na eixo de lazer.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) faltou ao ato na Avenida Paulista, mas participou da manifestação realizada em Belém.

"Hoje é o dia em que se comemora o Fim da Censura no Brasil! Censura que, infelizmente, voltou! Que as manifestações de hoje reacendam o vigor brasileiro para recuperarmos nossa liberdade e acabar com o avanço da censura no Brasil ! Aqui em Belém, pude sentir toda a emoção e vibração positiva do povo do Norte", afirmou Michelle em posto nas redes sociais após o evento.