Índia e Paquistão escalam conflito e passam a bombardear alvos militares

Internacional
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Índia e Paquistão escalaram nesta sexta-feira, 8, o conflito e passaram a atacar alvos militares, com bombardeios pesados relatados dos dois lados da fronteira. Explosões foram registradas na cidade de Jammu, na Caxemira indiana, causando um blecaute total. O governo da Índia disse ter "neutralizado" o sistema de defesa aérea da cidade paquistanesa de Lahore.

A troca de fogo começou na quarta-feira, 7, (noite de terça-feira, 6, no Brasil), quando a Índia bombardeou "nove alvos terroristas" no território paquistanês - os ataques mais profundos dentro do Paquistão em décadas. A operação, segundo o premiê indiano, Narendra Modi, foi em retaliação a um atentado de combatentes islâmicos que matou 26 pessoas em Pahalgam, na Caxemira controlada pela Índia, em abril.

O governo paquistanês negou envolvimento no atentado e afirmou que a força aérea indiana atingiu seis localidades, nenhuma delas ligada às duas organizações terroristas mais famosas do Paquistão, o Lashkar-e-Taiba e o Jaish-e-Mohammad. Islamabad garante ter derrubado cinco caças da Índia, incluindo três jatos Rafale, de fabricação francesa - Paris confirmou a derrubada de pelo menos uma aeronave.

Ontem, Índia e Paquistão continuaram a afirmar que não estavam buscando uma escalada no conflito. A realidade, porém, indicava que os dois arquirrivais não estão prontos para reduzir as tensões.

O governo indiano disse ter frustrado as tentativas paquistanesas de lançar drones e mísseis contra alvos militares em 15 cidades e vilas, incluindo Amritsar, Srinagar e Chandigarh. O Ministério da Defesa da Índia citou ataques a três bases militares: em Jammu e Udhampur, na Caxemira, e Pathankot, no Estado de Punjab.

Reação

Um oficial de segurança do alto escalão do governo paquistanês afirmou ao jornal britânico The Guardian que o Paquistão ainda não havia iniciado os ataques retaliatórios contra os indianos. "Não disparamos nenhum míssil ou realizamos ataques com drones dentro da Índia ou em qualquer instalação militar", afirmou. "Essas são notícias falsas de autoridades indianas. A resposta virá agora."

O ministro da Defesa do Paquistão, Khawaja Asif, também negou que seu país seja responsável por qualquer ataque na Caxemira indiana. "Não atacaremos para depois negar", disse Asif à BBC. "Todo o mundo ficará sabendo quando o Paquistão decidir atacar." Fontes de segurança paquistanesas disseram que as alegações da Índia tinham como objetivo criar uma "narrativa enganosa" de que o Paquistão está realizando ataques dentro da Índia.

Escalada

Asif era um dos poucos dentro do governo paquistanês a adotar um tom moderado. Na quarta-feira, ele garantiu que o Paquistão já havia respondido ao abater aviões e drones indianos e prometeu não escalar o conflito se a Índia evitasse novos ataques e concordasse com uma investigação independente sobre a crise. Ontem, no entanto, o ministro alertou para a "possibilidade clara" de que o "confronto se expandirá".

O ministro da Defesa da Índia, Rajnath Singh, justificou a escalada militar e não afastou novas ações. "Sempre desempenhamos o papel de uma nação responsável", disse. "Se alguém tentar tirar proveito de nossa paciência, deveria estar preparado para enfrentar ataques como os de ontem."

Em um sinal da preocupação internacional com o conflito, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, conversou ontem com líderes dos dois países e enfatizou a necessidade de "redução imediata da escalada", de acordo com o Departamento de Estado. Já o vice-presidente americano, J.D. Vance, afirmou que a Casa Branca não pretende se meter na crise. "Não é da nossa conta", disse.

Diplomatas de Irã e Arábia Saudita tentam mediar um acordo

Os dois principais diplomatas de Irã e Arábia Saudita estiveram ontem em Nova Délhi para tentar mediar um acordo entre Índia e Paquistão. Os chanceleres iraniano, Abbas Araghchi, e saudita, Adel al-Jubeir, desembarcaram na capital indiana e se reuniram separadamente com representantes do governo da Índia.

O Irã, governado por uma teocracia xiita, e a Arábia Saudita, uma monarquia sunita, são arquirrivais regionais e disputam influência no Golfo Pérsico. Os dois países têm laços estreitos com indianos e paquistaneses.

O Irã é um velho aliado da Índia - os indianos continuam comprando petróleo iraniano, apesar das sanções. Os sauditas sempre apoiaram o Paquistão, mas ultimamente vêm sendo cortejados pelo premiê da Índia, Narendra Modi, que estabeleceu uma relação pessoal com o príncipe herdeiro, Mohamed bin Salman. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste domingo, 9, que "a ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe", em um sinal indireto às ameaças promovidas pelo governo dos Estados Unidos contra a Venezuela. Ele afirmou que "democracias não combatem o crime violando o direito internacional".

O governo de Donald Trump tem usado como pretexto para intensificar sua presença militar no Caribe o combate ao narcotráfico. Nos últimos meses, destruiu barcos que trafegavam pela região alegando que se tratava de embarcações de traficantes. Os tripulantes foram mortos.

O discurso de Lula foi feito na Cúpula Celac-União Europeia em Santa Marta, na Colômbia. O presidente brasileiro disse que a América Latina é uma "região de paz" e pretende continuar assim.

"A ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe. Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais. Somos região de paz e queremos permanecer em paz. Democracias não combatem o crime violando o direito internacional", declarou.

Segundo Lula, a "democracia também sucumbe quando o crime corrompe as instituições, esvaziam espaços públicos e destroem famílias e desestruturam negócios". O presidente brasileiro disse que garantir "segurança é dever do Estado e direito humano fundamental" e que "não existe solução mágica para acabar com a criminalidade". O presidente defendeu "reprimir o crime organizado e suas lideranças, estrangulando seu financiamento e rastreando e eliminando o tráfico de armas".

Lula citou a última reunião da cúpula Celac-União Europeia, há dois anos, em Bruxelas. Disse que, naquela época, "vivíamos um momento de relançamento dessa histórica parceria", mas, "deste então, experimentamos situações de retrocessos".

O petista criticou a falta de integração entre os países latinoamericanos. Afirmou que "voltamos a ser uma reunião dividida" e com ameaças envolvendo o "extremismo político".

"A América Latina e o Caribe vivem uma profunda crise em seu projeto de integração. Voltamos a ser uma região dividida, mais voltada para fora do que para si própria. A intolerância cria força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam se sentar na mesma mesa. Voltamos a viver com a ameaça do extremismo político, da manipulação da informação e do crime organizado. Projetos pessoais de apego ao poder muitas vezes solapam a democracia", afirmou.

Em seu discurso, Lula também citou a realização da COP30, em Belém, e mencionou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). Disse que o fundo "é solução inovadora para que nossas florestas valham mais em pé do que derrubadas" e que a "transição energética é inevitável".

O petista também lamentou o tornado que atingiu a cidade de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, e manifestou suas condolências às vítimas da tragédia climática dos últimos dias.

O novo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, afirmou na tarde deste sábado, 8, em São Paulo, que governadores bolsonaristas "preferem fazer demagogia com sangue, ao tratar todo mundo da comunidade como se fosse bandido". Boulos disse que essa é a visão dos governadores do Rio, Cláudio Castro (PL), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de outros chefes de Executivo estadual apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele lançou no Morro da Lua, região de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, o Projeto Governo na Rua, que tem a finalidade de ouvir a população e levar as manifestações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Boulos declarou também que a questão do combate ao crime é antiga, mas que Luiz Inácio Lula da Silva é quem tomou a iniciativa de tentar resolver com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e o projeto de lei antifacção. Conforme o ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência, com essas propostas aprovadas, o governo federal terá mais atribuições e responsabilidades para o enfrentamento ao crime.

"A gente acredita que o combate ao crime tem que fazer da maneira correta, como a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, para pegar o peixe grande, não o bagrinho. O peixe grande está na Avenida Faria Lima, não na favela", acredita.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), divulgou neste sábado, 8, a pauta da Casa para a próxima semana, com a inclusão do projeto de lei antifacção - texto encaminhado pelo governo ao Congresso na esteira da megaoperação que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro. A proposta é relatada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de segurança de São Paulo.

Motta marcou a primeira sessão deliberativa da Casa da semana para terça-feira, 11, às 13h55. A sessão será semipresencial, conforme decidido pelo presidente da Câmara em atenção a pedido de líderes partidários. Isso significa que os deputados poderão votar a distância nas sessões dessa semana, sem precisarem estar em Brasília.

A pauta também contém outros projetos relacionados à Segurança Pública, como o que aumenta a destinação da arrecadação com jogos de apostas de quota fixa (bets) para o financiamento da segurança pública. O relator de tal projeto é o deputado Capitão Augusto (PL-SP).

Outro projeto na lista de serem debatidos pelos parlamentares é o que condiciona a progressão de regime, a saída temporária e a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva à coleta de material biológico para obtenção do perfil genético do preso. O relator é o deputado Arthur Maia (União-BA).

Ainda consta na pauta a discussão de um projeto que altera o Código Tributário Nacional para tratar de normas gerais para solução de controvérsias, consensualidade e processo administrativo em matéria tributária e aduaneira. A tramitação em regime de urgência da proposta foi aprovada no último dia 21. O relator é o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG).