Sem Putin, Zelenski cancela ida a Istambul, mas diz que enviará delegação para conversas de paz

Internacional
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Rússia e Ucrânia devem realizar suas primeiras negociações de paz diretas em três anos, disseram ambos os países nesta quinta-feira, 15. Porém, as esperanças de um avanço permaneceram fracas depois que o presidente russo, Vladimir Putin, rejeitou uma oferta do presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, de se encontrarem pessoalmente na Turquia.

Mais cedo, a Rússia revelou que enviaria apenas uma delegação de segundo escalão de vice-ministros e especialistas para Istambul, onde devem ocorrer as conversas. Pouco tempo depois, Zelenski cancelou sua ida, mas disse que enviará uma equipe liderada por seu ministro da Defesa, Rustem Umerov, para se encontrar com a delegação russa, embora o lado de Moscou não inclua "ninguém que realmente tome decisões", disse.

Poucos esperavam que Putin aparecesse na Turquia, e sua ausência minou qualquer esperança de progresso significativo nos esforços para pôr fim à guerra de três anos, impulsionados nos últimos meses pelo governo Donald Trump e por líderes da Europa Ocidental.

Uma rodada antecipada de negociações já começou em confusão, quando delegações ucranianas e russas chegaram a cidades diferentes - os ucranianos estão na capital Ancara e os russos em Istambul - e passaram boa parte do dia questionando se elas sequer se encontrariam.

Zelenski criticou o Kremlin por seu "desrespeito" ao enviar uma delegação de nível médio a Istambul. "Não há horário para a reunião, não há pauta para a reunião, não há delegação de alto nível", disse Zelenski em entrevista coletiva após se reunir com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. "Acho que a atitude da Rússia não é séria."

Ao optar por enviar seu ministro da Defesa, o ucraniano disse ter tomado a decisão de demonstrar que a Ucrânia se engajaria em qualquer esforço de paz, mesmo aquele com a menor chance de sucesso.

Ofuscando tudo isso estava o presidente Trump, que disse aos repórteres que viajavam com ele no Air Force One que "nada vai acontecer até que Putin e eu nos encontremos". Trump, que esteve no Catar e nos Emirados Árabes Unidos nesta quinta, havia dito anteriormente que poderia viajar para a Turquia na sexta-feira "se algo acontecesse" nas negociações de paz. No entanto, não havia nenhuma outra indicação de que uma cúpula de última hora se concretizaria.

No último fim de semana, Putin propôs negociações diretas entre a Rússia e a Ucrânia, no que seria a primeira negociação presencial conhecida entre os dois lados desde as primeiras semanas da guerra, em março de 2022, logo após a invasão russa. Zelenski dobrou a aposta convidando o próprio Putin para comparecer, chegando a Ancara nesta quinta com seu ministro das Relações Exteriores e outros altos funcionários.

Mas Putin recusou e, em vez disso, enviou uma delegação idêntica à que havia enviado para as negociações de 2022, que fracassaram após cerca de dois meses e incluíram uma reunião de alto nível em Istambul. Nessa negociação, a Rússia fez inúmeras exigências inaceitáveis para a Ucrânia, buscando a promessa de que o país jamais se juntaria à Otan e limitaria o tamanho de suas forças armadas.

Vladimir Medinski, ex-ministro da cultura que liderou a delegação russa em 2022 e retomou o cargo na quinta-feira, disse a repórteres que a Rússia viu a nova rodada de negociações como "uma continuação do processo de paz" daquele ano.

"A delegação está comprometida com uma abordagem construtiva, focada em encontrar possíveis soluções e pontos de contato", disse Medinski. "A Rússia vê as negociações como uma continuação do processo de paz em Istambul, que foi interrompido pelo lado ucraniano há três anos".

O comentário ecoou as declarações de Putin no domingo, nas quais ele não reconheceu as exigências ocidentais por um cessar-fogo de 30 dias e, em vez disso, pressionou para "retomar" as fracassadas negociações diretas de 2022 com a Ucrânia durante os primeiros meses da guerra, buscando manter Trump envolvido no processo e evitar pintar a Rússia como a parte difícil.

Nenhuma das partes especificou quando, exatamente, a reunião ocorreria. Zelenski deixou claro que as expectativas da Ucrânia eram baixas. "A Rússia não quer acabar com esta guerra", disse ele.

Zelenski afirmou que os Estados Unidos e a Turquia participariam de quaisquer negociações. Uma autoridade turca afirmou que Keith Kellogg, enviado especial de Trump para a Ucrânia, estava em Istambul nesta, e que Steve Witkoff, enviado especial para o Oriente Médio e a Rússia, deveria chegar na sexta-feira.

O Secretário de Estado Marco Rubio, em Antália, Turquia, para outras reuniões, disse que o governo Trump estava "impaciente" pelo progresso nas negociações de paz entre a Ucrânia e a Rússia. Os Estados Unidos estavam "abertos a praticamente qualquer mecanismo" que pudesse gerar uma paz duradoura, disse Rubio, acrescentando: "Continuamos comprometidos com isso".

A diplomacia caótica desta quinta jogou luz na grande divergência entre Moscou e Kiev sobre como acabar com a guerra.

Zelenski quer um cessar-fogo imediato e incondicional, seguido de negociações sobre um potencial acordo de paz. Mas Putin, que parece confiante na superioridade da Rússia no campo de batalha, recusa-se a interromper os combates antes de obter concessões significativas de Kiev e do Ocidente.

Medinski, chefe da delegação russa, indicou que a Rússia continuaria a buscar concessões abrangentes em vez de um cessar-fogo imediato. Falando no consulado russo em Istambul, Medinski repetiu a frase frequente de Putin de que qualquer acordo de paz precisaria abordar as "causas profundas" do conflito - uma nomenclatura do Kremlin para uma série de questões, incluindo a existência da Ucrânia como um país independente alinhado ao Ocidente.

"O objetivo das negociações diretas com o lado ucraniano é - mais cedo ou mais tarde - alcançar o estabelecimento de uma paz duradoura, abordando as causas fundamentais do conflito", disse Medinski. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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O novo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, afirmou na tarde deste sábado, 8, em São Paulo, que governadores bolsonaristas "preferem fazer demagogia com sangue, ao tratar todo mundo da comunidade como se fosse bandido". Boulos disse que essa é a visão dos governadores do Rio, Cláudio Castro (PL), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de outros chefes de Executivo estadual apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele lançou no Morro da Lua, região de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, o Projeto Governo na Rua, que tem a finalidade de ouvir a população e levar as manifestações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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"A gente acredita que o combate ao crime tem que fazer da maneira correta, como a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, para pegar o peixe grande, não o bagrinho. O peixe grande está na Avenida Faria Lima, não na favela", acredita.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), divulgou neste sábado, 8, a pauta da Casa para a próxima semana, com a inclusão do projeto de lei antifacção - texto encaminhado pelo governo ao Congresso na esteira da megaoperação que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro. A proposta é relatada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de segurança de São Paulo.

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A pauta também contém outros projetos relacionados à Segurança Pública, como o que aumenta a destinação da arrecadação com jogos de apostas de quota fixa (bets) para o financiamento da segurança pública. O relator de tal projeto é o deputado Capitão Augusto (PL-SP).

Outro projeto na lista de serem debatidos pelos parlamentares é o que condiciona a progressão de regime, a saída temporária e a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva à coleta de material biológico para obtenção do perfil genético do preso. O relator é o deputado Arthur Maia (União-BA).

Ainda consta na pauta a discussão de um projeto que altera o Código Tributário Nacional para tratar de normas gerais para solução de controvérsias, consensualidade e processo administrativo em matéria tributária e aduaneira. A tramitação em regime de urgência da proposta foi aprovada no último dia 21. O relator é o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG).

O sócio-fundador da SPX Capital, Rogério Xavier, alertou neste sábado, 8, para a situação fiscal explosiva do Brasil. Com o juro real perto de 11% e o atual nível de endividamento, o País corre risco de quebrar se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) for reeleito e não mudar suas políticas. Por outro lado, pode virar a página caso eleja um candidato de centro-direita, escapando do duelo Lula versus Jair Bolsonaro e colocando um ponto final no ciclo pós-ditadura.

"O País quer uma coisa diferente dessa oferta que foi nos dada nos últimos anos, que aponte para o futuro. Chega de Bolsonaro, chega de Lula, está bom", disse Xavier, durante painel na conferência MBA Brasil 2025, em Boston, nos Estados Unidos.

Segundo ele, Lula e Bolsonaro representam um período "do nós contra eles" que o Brasil vive desde o fim da ditadura. "Temos uma alternativa de acabar com esse ciclo já no ano que vem", disse, sem mencionar um candidato específico. Na sua visão, qualquer candidato da direita hoje pode ser a 'cara' do centro-direita nas eleições de 2026, mas que ainda não é hora de se colocar. "Vai apanhar", afirmou.

Xavier prevê uma eleição "super acirrada", em que não será possível saber o vencedor das urnas nem 24 horas antes do pleito. E, nesse ambiente, a situação fiscal d Brasil pode se deteriorar ainda mais, com o governo petista gastando mais para vencer a disputa. Na sua visão, "o Brasil está em risco".

"A gente está criando um endividamento muito alto e que é explosivo. 11% de juro real para um país que já tem uma dívida desse tamanho, a gente quebra", alertou. "A gente está se aproximando muito perto do encontro com a dívida", acrescentou. Uma eventual piora da situação fiscal do Brasil pode levar credor da dívida brasileira a questionar a vontade do País de honrá-la. "Dívida é capacidade vontade. A capacidade está ficando em dúvida e já tem um pouco de dúvida se (o governo) tem muita vontade de pagar mesmo".

Ao falar a estudantes brasileiros de MBA no exterior, ele analisou o histórico dos partidos políticos no Brasil para reforçar a cobrança da sociedade por uma proposta nova. Na sua visão, o PT "morreu", assim como o PSDB perdeu relevância nacional. No entanto, o Partido dos Trabalhadores tem o Lula, que é "muita coisa", mas demonstra um "egoísmo brutal" ao continuar sendo presidente e não dar oportunidade para outros.

"A reeleição é um câncer no Brasil. O incentivo do político é se reeleger. Virou uma profissão", criticou o gestor. "O político deveria servir as pessoas, servir o povo. Não se servir", emendou.

Segundo ele, é importante que o ciclo pós-ditadura termine para que o Brasil aponte para o futuro. Mesmo que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tenha surpreendido para cima nos últimos anos, sob a ótica de crescimento, quando comparado a outros emergentes, o Brasil "ficou para trás", na sua visão. "O Brasil nunca teve horizonte, nunca teve previsibilidade", concluiu.

*A repórter viajou a convite da MBA Brasil