Reino Unido critica bloqueio de Gaza e suspende diálogo comercial com Israel

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O chanceler britânico, David Lammy, suspendeu nesta terça, 20, as negociações de um acordo comercial com Israel, citando o radicalismo do governo israelense e declarações de ministros do gabinete do premiê Binyamin Netanyahu defendendo a "purificação de Gaza" e a expulsão dos palestinos.

 

"A nova ofensiva em Gaza é moralmente injustificável, totalmente desproporcional e contraproducente", afirmou o chanceler britânico. Lammy criticou também a recusa de Israel em permitir a entrada de ajuda humanitária em Gaza e disse que o tratamento dado aos palestinos era "uma afronta aos valores britânicos".

 

Ao mesmo tempo, reunidos em Bruxelas, os chanceleres da União Europeia decidiram suspender um acordo comercial com Israel após um pedido da Holanda. Dezessete dos 27 membros apoiaram a medida e bloquearam a renovação do acordo, até que uma revisão determine se a campanha militar em Gaza viola os termos do tratado.

 

Alerta

 

Israel acusou o Reino Unido de ter uma "obsessão" contra o país. "Se, devido à obsessão anti-Israel e a considerações políticas internas, o governo britânico estiver disposto a prejudicar a economia britânica, é um problema deles", disse o porta-voz da chancelaria israelense, Oren Marmorstein. "O mandato britânico terminou há 77 anos."

 

Na segunda-feira, 19, após pressão internacional, cinco caminhões de ajuda humanitária entraram em Gaza, encerrando um bloqueio de 11 semanas imposto por Israel. Ontem, Netanyahu autorizou a entrada de mais 93 caminhões da ONU. Observadores, no entanto, dizem que é pouco. Durante o cessar-fogo, 600 carretas cruzavam diariamente a fronteira com comida, remédio e combustível.

 

Ontem, o subsecretário-geral para Assistência Humanitária da ONU, Tom Fletcher, afirmou que 14 mil bebês podem morrer em Gaza nos próximos dias se carregamentos de ajuda humanitária não chegarem rapidamente à população civil. "Quero salvar o máximo possível desses 14 mil bebês", disse. "A entrada de cinco caminhões é apenas uma gota no oceano."

 

A pressão sobre Netanyahu, no entanto, não vem apenas de fora. Segundo o jornal Times of Israel, o analista de defesa do Canal 13, Alon Ben David, disse ter conversado com oficiais da força aérea israelense que começam a expressar desconforto com relação aos ataques realizados em Gaza. "Os membros da força aérea sabem que os ataques estão matando centenas de palestinos e estão se perguntando se isso é justificável e se serve a algum propósito", disse David.

 

No meio político, a crítica mais dura veio de um líder da oposição, o general Yair Golan, do partido Democratas - uma fusão do Meretz e dos trabalhistas, de esquerda.

 

"Israel está a caminho de se tornar um Estado pária entre as nações, como a antiga África do Sul, se não voltar a se comportar como um país normal", disse Golan. "Um país saudável não trava uma guerra contra civis, não mata bebês por hobby e não estabelece metas que envolvam a expulsão de populações."

 

Reação

 

Netanyahu acusou Golan de "incitação" contra as tropas israelenses e de "ecoar os mais desprezíveis libelos antissemitas contra o Estado de Israel". Yair Lapid, outro líder opositor, disse que a afirmação de que soldados matam crianças por hobby é um "presente para nossos inimigos". O ex-general se defendeu, dizendo que as declarações se referiam ao governo, não ao exército.

 

Trump ameaça retirar apoio a Netanyahu, diz imprensa americana

 

O presidente dos EUA, Donald Trump, está "frustrado" com a guerra em Gaza e acredita que o conflito é o último nó que impede a prosperidade no Oriente Médio. Ele quer que o governo israelense encerre a ofensiva. De acordo com reportagem do site Axios, citando funcionários da Casa Branca, Trump vem pressionando Israel a permitir a entrada de mais ajuda humanitária. O presidente americano estaria incomodado com as imagens de crianças desnutridas.

 

Segundo o jornal Washington Post, Trump teria dado um ultimato aos israelenses, ameaçando retirar o apoio a Israel se o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu não encerrar a guerra em Gaza. "A equipe do presidente disse a Israel: 'Nós vamos abandonar vocês se essa guerra não terminar'", afirmou a fonte da Casa Branca, não identificada pelo jornal.

 

A pressão aumentou desde que Israel mobilizou mais reservistas e intensificou a ofensiva. Os ataques mataram mais de 500 palestinos nos últimos oito dias, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Três dos quatro ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) votaram pelo recebimento da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Eduardo Tagliaferro, que foi assessor de Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com isso, será aberta uma ação penal e ele será transformado em réu.

Ele foi acusado de agir contra a legitimidade do processo eleitoral e atuar para prejudicar as investigações de atos como os de 8 de janeiro de 2023. Tagliaferro está na Itália. O governo brasileiro já iniciou um processo de extradição contra ele.

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O ex-assessor responderá por quatro crimes: revelar ou facilitar a divulgação de um fato que o servidor público tem conhecimento em razão do seu cargo e que deve permanecer secreto; coação no curso de processo judicial; tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito; e tentar impedir ou dificultar investigação contra organização criminosa.

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Após instaurada a ação penal, as investigações serão aprofundadas, com a produção de provas e o depoimento do acusado, de testemunhas de defesa e de testemunhas de acusação. Ao fim das apurações, a Primeira Turma vai realizar o julgamento final, que pode ser pela condenação ou absolvição do réu.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro disse no sábado, 8, que o Congresso Nacional está "de joelhos em frente ao Supremo Tribunal Federal" e que o Judiciário governa o País. Ela também defendeu o nome do marido, Jair Bolsonaro, como "única opção" para 2026, ignorando o fato de ele estar inelegível.

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No dia anterior, a defesa de Jair Bolsonaro saiu derrotada do julgamento de um recurso à condenação do ex-presidente por tentativa de golpe de Estado. Ele deve começar a cumprir a pena de 27 anos e três meses de prisão ainda neste ano.

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Michelle está cotada para ser candidata a presidente da República em 2026, mas Bolsonaro ainda não bateu o martelo sobre quem será seu herdeiro político. Dentro da família, Michelle sofre a concorrência do senador Flávio Bolsonaro, um dos filhos do ex-presidente.

Com a disputa interna da direita indefinida, a ex-primeira-dama preferiu dizer que "a única opção para presidente da República da direita chama-se Jair Messias Bolsonaro". Ela disse que, se isso não acontecer, será "o verdadeiro golpe que o Judiciário está dando no povo de bem, no povo brasileiro".

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O discurso de Lula foi feito na Cúpula Celac-União Europeia em Santa Marta, na Colômbia. O presidente brasileiro disse que a América Latina é uma "região de paz" e pretende continuar assim.

"A ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe. Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais. Somos região de paz e queremos permanecer em paz. Democracias não combatem o crime violando o direito internacional", declarou.

Segundo Lula, a "democracia também sucumbe quando o crime corrompe as instituições, esvaziam espaços públicos e destroem famílias e desestruturam negócios". O presidente brasileiro disse que garantir "segurança é dever do Estado e direito humano fundamental" e que "não existe solução mágica para acabar com a criminalidade". O presidente defendeu "reprimir o crime organizado e suas lideranças, estrangulando seu financiamento e rastreando e eliminando o tráfico de armas".

Lula citou a última reunião da cúpula Celac-União Europeia, há dois anos, em Bruxelas. Disse que, naquela época, "vivíamos um momento de relançamento dessa histórica parceria", mas, "deste então, experimentamos situações de retrocessos".

O petista criticou a falta de integração entre os países latinoamericanos. Afirmou que "voltamos a ser uma reunião dividida" e com ameaças envolvendo o "extremismo político".

"A América Latina e o Caribe vivem uma profunda crise em seu projeto de integração. Voltamos a ser uma região dividida, mais voltada para fora do que para si própria. A intolerância cria força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam se sentar na mesma mesa. Voltamos a viver com a ameaça do extremismo político, da manipulação da informação e do crime organizado. Projetos pessoais de apego ao poder muitas vezes solapam a democracia", afirmou.

Em seu discurso, Lula também citou a realização da COP30, em Belém, e mencionou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). Disse que o fundo "é solução inovadora para que nossas florestas valham mais em pé do que derrubadas" e que a "transição energética é inevitável".

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