Após violência em Gaza, distribuição de alimentos por grupo apoiado por Israel é questionada

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Um palestino morreu e outros 48 ficaram feridos durante uma distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza feita por uma fundação apoiada por Israel e pelos Estados Unidos e que tem provocado críticas da ONU. Uma multidão se aproximou dos centros de distribuição na terça-feira, 27, e foi recebida com tiros pelo Exército israelense, informou o ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.

Após quase três meses de bloqueio israelense à entrada de qualquer ajuda humanitária, o que levou à escassez de alimentos e de remédios no território, milhares de palestinos correram para receber os primeiros suprimentos da iniciativa israelense chamada de Fundação Humanitária de Gaza em um centro de distribuição no que restou da cidade de Rafah.

Em meio a empurrões e tumulto, alguns acabaram rompendo as cercas do local, o que levou soldados israelenses a dispararem tiros de advertência, segundo o Exército de Israel.

O episódio levantou ainda mais questionamentos sobre a mais recente tentativa de Israel de reformular a entrega de ajuda aos habitantes de Gaza, em uma ação que líderes israelenses dizem ser para enfraquecer o Hamas. A ONU e muitos outros grupos humanitários boicotaram a iniciativa, que também provocou indignação entre vários aliados ocidentais de Israel.

A iniciativa israelense surge em meio à crescente condenação internacional diante das ameaças de Israel de lançar uma nova ofensiva terrestre contra o Hamas. O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, prometeu que a campanha militar planejada será um golpe decisivo contra o Hamas.

Nesta quarta-feira, 28, enquanto a chamada Fundação Humanitária de Gaza afirmava ter estabelecido dois centros de distribuição e fornecido milhares de pacotes de ajuda sem incidentes, diplomatas europeus criticaram ainda mais o programa.

"O uso desproporcional da força e as mortes de civis são intoleráveis", disse Kaja Kallas, principal diplomata da União Europeia, acrescentando que a ajuda "nunca deve ser politizada ou militarizada."

Pelo novo sistema criado por Israel, quatro locais de distribuição de ajuda no sul de Gaza estão sendo protegidos por soldados israelenses e supervisionados por terceirizados dos Estados Unidos.

Antes, a ONU coordenava amplamente a distribuição de ajuda no território, mas autoridades israelenses têm demonstrado interesse em contornar a organização, acusando-a de parcialidade contra Israel e de não impedir que o Hamas se aproprie dos suprimentos.

Autoridades da ONU boicotaram a Fundação Humanitária de Gaza, alegando que ela viola princípios humanitários fundamentais. Elas afirmam que a proposta de Israel substituiria centenas de pontos de distribuição da ONU por apenas quatro, exigindo que muitos palestinos percorram longas distâncias e passem por cordões de tropas israelenses para obter ajuda.

A organização também afirmou que o novo sistema não atenderá às necessidades dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza e permite que Israel use alimentos como arma para controlar a população.

Até esta quarta-feira, dois centros de distribuição estavam operacionais e mais de 14.000 pacotes de ajuda haviam sido distribuídos.

Jalal al-Homs, um palestino deslocado que está em Khan Younis, testemunhou a multidão e os tiros israelenses de terça-feira, quando tentava conseguir ajuda no centro localizado no bairro Tel al-Sultan, em Rafah. Ele acabou indo embora horas depois, sem conseguir uma caixa de alimentos para sua família, com quem vive em uma tenda.

Nesta quarta-feira, al-Homs, de 35 anos, disse que tentou novamente chegar a um dos centros de ajuda. Ao se aproximar, viu uma multidão reunida, todos esperando comida. Com medo de que a situação se repetisse, decidiu voltar para casa.

"Não há organização", disse al-Homs por telefone. "Fiquei com medo de que hoje fosse igual a ontem, que foi um desastre."

Jonathan Whittall, um alto funcionário humanitário da ONU, classificou a tentativa de Israel de controlar a ajuda humanitária aos palestinos como parte de "um ataque à dignidade humana deles".

"Ontem vimos dezenas de milhares de pessoas desesperadas - sob fogo - invadindo um ponto de distribuição militarizado, construído sobre os escombros de suas casas", disse Whittall em uma coletiva de imprensa nesta quarta-feira.

Netanyahu tentou descrever o tumulto, em um discurso na noite de terça-feira, 27, como uma breve perda de controle em um lançamento por outro lado bem-sucedido da nova iniciativa.

Israel bloqueou a ajuda humanitária a Gaza por mais de dois meses, provocando uma fome generalizada entre os palestinos. Autoridades israelenses acusam o Hamas de ter se apoderado de grande parte dos alimentos, combustíveis e medicamentos que passavam pelo sistema coordenado pela ONU.

Whittall afirmou que não há "nenhuma evidência" de que grandes quantidades de ajuda coordenada pela ONU tenham sido desviadas pelo Hamas. Segundo ele, o principal obstáculo à distribuição são gangues armadas em Gaza, muitas das quais estariam roubando a ajuda "sob o olhar das forças israelenses".

"Não precisa ser assim: precisamos que nosso sistema existente seja permitido", acrescentou.

Danny Danon, embaixador de Israel na ONU, acusou o órgão internacional - sem apresentar provas - de atrasar a entrega de ajuda nos pontos de passagem fronteiriços.

"Enquanto falamos, há mais de 400 caminhões já do outro lado da cerca, esperando para serem distribuídos, mas a ONU não apareceu para buscá-los," disse Danon a jornalistas nesta quarta-feira. "Abrimos as passagens. Fornecemos rotas seguras para esses caminhões. Mas a ONU não apareceu."

Durante um cessar-fogo no início deste ano, cerca de 600 caminhões entravam em Gaza todos os dias.

O embaixador também negou as declarações da ONU e do ministério da saúde de Gaza de que forças israelenses atiraram contra palestinos que tentavam obter ajuda. "Houve alguns distúrbios. As equipes americanas demoraram um pouco para controlar a situação, mas posso dizer em voz alta: não atiramos em ninguém lá."

Danon confirmou que Israel continuará permitindo que a ONU realize entregas de ajuda em Gaza enquanto o novo mecanismo é expandido por toda a Faixa de Gaza.

A ONU, porém, negou compartilhar esforços com a fundação privada encarregada da ajuda no momento porque seu plano não está em conformidade com os princípios humanitários da ONU de neutralidade, independência e imparcialidade na entrega de ajuda, disse, Stephane Dujarric, porta-voz da organização.

Nesta quarta, centenas de palestinos invadiram um armazém do Programa Mundial de Alimentos da ONU no centro da Faixa de Gaza, em uma tentativa desesperada de obter ajuda alimentar.

Pessoas gritavam e se empurravam à sombra da porta principal do enorme armazém, enquanto outras arrancavam pedaços das paredes de metal para tentar entrar. Dezenas de pessoas em busca de ajuda podiam ser vistas carregando grandes sacos de farinha enquanto abriam caminho de volta para a luz do sol, em meio à multidão que se aglomerava para entrar. Cada saco de farinha pesa cerca de 25 quilos. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

Em outra categoria

A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) foi vaiada durante um show da banda Roupa Nova em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. A senadora usou o microfone durante um momento em que a banda abriu espaço para perguntas da plateia na sexta-feira, 1º.

"Está tudo certo, a gente vive numa democracia", reagiu Soraya, que é ex-aliada do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e relatou a CPI das Bets do Senado. A senadora do Mato Grosso do Sul candidatou-se à Presidência em 2022 pelo União Brasil. Obteve a 5ª colocação no pleito, com 600.955 votos.

O grupo musical se manifestou sobre o episódio por meio de uma nota oficial. No comunicado, a banda esclareceu que não sabia que a senadora faria uso do microfone.

"Reforçamos que o episódio não representa, de forma alguma, um posicionamento político da banda ou de um integrante isolado", disse a banda. "Esperamos sinceramente esse momento isolado não prejudique a conexão sincera que construímos com milhões de fãs ao longo dos anos, nem nos leve a rever o formato do show."

Em nota, Soraya lamentou o episódio. "A senadora lamenta que a polarização política tenha alcançado até espaços de cultura e lazer, onde deveria prevalecer o respeito mútuo. Reitera que estava ali como cidadã, fã da banda, e não em exercício de seu mandato", afirmou o gabinete da parlamentar, em nota.

O ato em favor de Jair Bolsonaro (PL) na Avenida Paulista neste domingo, 3, reverteu a tendência de queda de público registrada em manifestações anteriores, mas teve um trio elétrico esvaziado em relação aos outros protestos de apoiadores do ex-presidente realizados na capital paulista.

A principal ausência foi a do próprio Bolsonaro, alvo de medidas cautelares desde 18 de julho, entre as quais um recolhimento domiciliar aos finais de semana. Nenhum dos presidenciáveis da direita foi ao ato, denominado "Reaja, Brasil", o que rendeu críticas no principal discurso da tarde, do pastor Silas Malafaia, organizador do protesto.

Sem citar nomes, Malafaia criticou a ausência dos que pleiteiam herdar o espólio eleitoral do ex-presidente nas eleições presidenciais do ano que vem. "Cadê aqueles que dizem ser a opção no lugar de Bolsonaro? Onde eles estão? Era para estarem aqui!", disse o pastor. "Isso prova que Bolsonaro é insubstituível! Vão enganar trouxa! E eu não sou trouxa. Estão com medo do STF, né? Por isso não vieram. Arrumaram desculpa, né? Por isso, minha gente, 2026 é Bolsonaro", disse Malafaia. Bolsonaro acumula duas penas de inelegibilidade do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e não pode concorrer a cargos públicos até 2030.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), informou na quinta-feira, 31 de julho, que faltaria ao ato devido a um procedimento médico. Tarcísio é o político de direita melhor colocado nas pesquisas de intenção de voto, embora despiste uma candidatura ao Palácio do Planalto. Os governadores Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, e Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, também não compareceram ao ato na Avenida Paulista.

O governador Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro, participou do ato bolsonarista na orla de Copacabana, mas não seguiu para o protesto em São Paulo, assim como o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o filho "01" do ex-presidente". Castro pretende disputar o Senado e não se coloca como pré-candidato ao Planalto.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro participou do ato bolsonarista de Belém (PA), onde cumpria uma agenda do PL Mulher, e não foi a São Paulo.

Deputados federais bolsonaristas discursaram no ato da Avenida Paulista, como Paulo Bilynskyj (PL), Marco Feliciano (PL) e Rosana Valle (PL), os três eleitos por São Paulo. Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) também discursou. O mineiro Nikolas Ferreira (PL), o parlamentar com mais seguidores nas redes sociais, participou do ato pró-Bolsonaro em Belo Horizonte pela manhã e, de tarde, esteve em São Paulo. Durante seu discurso, Nikolas colocou Jair Bolsonaro na linha.

Deputados da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) também estiveram presentes, como Paulo Mansur (PL), Conte Lopes (PL), Lucas Bove (PL), Tomé Abduch (Republicanos) e Capitão Telhada (PP). Embora tenha ido subido no trio elétrico, Telhada não discursou.

Aliados de Jair Bolsonaro na política paulistana também foram ao ato, como os vereadores Lucas Pavanato (PL) e Zoe Martínez (PL), além do próprio prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB), acompanhado de seu vice, Ricardo Mello Araújo (PL).

O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, também foi ao ato, mas não discursou.

O ato na Avenida Paulista reuniu 37,6 mil apoiadores. A estimativa é do Monitor do Debate Público do Meio Digital, do Cebrap e da Universidade de São Paulo (USP), que fez o levantamento a partir de fotos aéreas em diversos momentos do ato. A estimativa tem uma margem de erro de 12% em relação ao total, o que faz com que o número possa variar entre 33,1 mil e 42,1 mil participantes.

Segundo estimativas do Monitor do Debate Público, o ato deste domingo quase triplicou o público presente na última manifestação bolsonarista na capital paulista, no dia 29 de julho. A adesão, no entanto, ainda está distante da registrada no ato de fevereiro de 2024, quando 185 mil estiveram na Paulista.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) apagou o vídeo que mostrava o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participando, por telefone, do ato na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, neste domingo, 3. O vídeo está fora do ar na manhã desta segunda-feira, 4.

O áudio do telefonema feito a Bolsonaro por Flávio foi conectado no sistema de alto-falantes. "Boa tarde, Copacabana. Boa tarde, meu Brasil. Um abraço a todos, é pela nossa liberdade. Estamos juntos", disse o ex-presidente aos manifestantes que foram até a orla.

O momento da saudação foi registrado em vídeo e publicado no perfil oficial de Flávio Bolsonaro no Instagram. O ex-presidente aparece com o celular na mão e com a tornozeleira eletrônica que é obrigado a usar em destaque. Na publicação, o filho "01" do ex-presidente escreveu: "Palavras de Bolsonaro em Copacabana. A legenda é com vocês".

Em São Paulo, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) mostrou no celular uma videochamada com Bolsonaro. "Não pode falar, mas pode ver", afirmou ao público.

Como mostrou o Estadão, a publicação de Flávio pode configurar o descumprimento da medida cautelar que proíbe o ex-presidente de utilizar redes sociais, inclusive de terceiros. Essa também é a avaliação de interlocutores do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

A restrição de uso de redes sociais é uma das cinco medidas cautelares impostas a Bolsonaro em 18 de julho. A medida já causou controvérsia entre o relator e a defesa do ex-presidente.

Três dias depois de ser alvo da restrição, Bolsonaro discursou na Câmara. As declarações foram gravadas e replicadas por apoiadores nas redes sociais.

Moraes pediu esclarecimentos à defesa, que alegou desconhecer a proibição de conceder entrevistas. O relator decidiu que o ex-presidente cometeu uma "irregularidade isolada".