Irã dobra enriquecimento de urânio e pode produzir até 10 bombas, diz ONU

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Enquanto negocia um acordo nuclear com os EUA para não desenvolver armas atômicas, o governo do Irã quase dobrou o estoque de urânio enriquecido com um alto grau de pureza nos últimos três meses, indica um relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) distribuído neste sábado.

 

Segundo a AIEA, o Irã acumulou, até 17 de maio, 408,6 quilos de urânio enriquecido em até 60% de pureza. O nível é quase o dobro do estimado em fevereiro pela agência: 274,8 quilos. O aumento coloca o Irã como o único Estado sem armas nucleares em um ponto próximo de obtê-las, segundo a agência. Para construir uma bomba atômica, é necessário enriquecer urânio a níveis superiores a 95%.

 

O aumento ainda dá ao governo de Teerã a capacidade de produzir cerca de 10 bombas nucleares, caso o regime dos aiatolás opte por seguir em frente com o programa.

 

O relatório da AIEA aponta também que o regime iraniano decidiu acelerar sua produção provavelmente para ganhar vantagem em negociações conduzidas pelo governo americano, que busca um acordo com Irã para que o país interrompa a seu programa nuclear.

 

Nesta semana, o presidente americano, Donald Trump, disse estar otimista sobre as negociações. O aumento, no entanto, coloca nova pressão sobre Washington, que vem pressionando o Irã a interromper toda a produção de material nuclear.

 

O diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, disse que o relatório indicava a necessidade de uma resolução diplomática da crise, com o auxílio de um sistema de inspeção muito robusto da agência.

 

Nos últimos anos, o Irã desativou muitas das câmeras e sensores da agência em locais importantes, mas permitiu que os inspetores entrassem no país e medissem seus crescentes estoques de urânio enriquecido.

 

Ameaça israelense

 

A indicação de que Irã caminha para a bomba ocorre em paralelo às ameaças de Israel de um ataque militar a instalações do programa nuclear iraniano. Nas últimas semanas, o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, tem argumentado que as principais instalações de produção de combustível nuclear do Irã nas cidades de Natanz e Fordow estão mais vulneráveis do que nunca, depois que as forças israelenses atacaram as defesas aéreas iranianas em outubro passado.

 

Quando o relatório da AIEA começou a circular nesta manhã, Netanyahu divulgou uma declaração dizendo que eles pintaram um quadro "grave" e que as nações ao redor do mundo devem "agir agora para deter o Irã".

 

Mas ele não fez ameaças militares. Israel não é signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear e acredita-se que possua um arsenal nuclear próprio, com cerca de 100 armas.

 

Trump, por sua vez, disse nesta semana que avisou Netanyahu que seria "inadequado" bombardear as instalações quando ele achava que estava perto de um acordo. Mas ele também afirmou que qualquer acordo diplomático alcançado por Witkoff permitiria aos Estados Unidos desmantelar as instalações de produção nuclear do Irã - algo que os iranianos disseram que nunca permitiriam.

 

"Quero que seja muito forte, que possamos entrar com inspetores, que possamos levar o que quisermos, que possamos explodir o que quisermos, mas que ninguém seja morto. Podemos explodir um laboratório, mas ninguém estará no laboratório", disse Trump aos repórteres.

Em outra categoria

Durante a tarde desta segunda-feira, 9, os mais fervorosos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva fizeram a mesma coisa: ambos pararam para assistir a sessão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira, 9, que deu início ao interrogatório do ex-chefe do Executivo e outros sete réus da ação penal que trata da tentativa de golpe de Estado.

O PT, em especial, tratou de convocar a militância durante o dia. "Prepare a pipoca, bote a cerveja para gelar e vamos engajar as redes", dizia uma mensagem em circulação em grupos de WhatsApp petistas na manhã e no começo da tarde desta segunda-feira. O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) postou um vídeo salgando a pipoca para assistir ao interrogatório.

Bolsonaristas, do outro lado, ficaram mais focados em separar cortes da sessão para espalhar nas redes.

As perguntas feitas pelo ministro Luiz Fux, do STF, foram as que mais repercutiram entre grupos bolsonaristas. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid disse a Fux que a minuta de golpe não foi assinada. Esse trecho foi cortado e divulgado em redes sociais por figuras como o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) e o deputado estadual de São Paulo Bruno Zambelli (PL). "Pergunta de Fux acaba com o julgamento e prova inocência do Bolsonaro", escreveu Gayer.

No mesmo depoimento, porém, Cid disse que Bolsonaro recebeu, leu e pediu alterações em uma minuta golpista para anular o resultado das eleições. Segundo o ex-ajudante de ordens, Bolsonaro "enxugou" o documento, que inicialmente previa as prisões de diversas autoridades do Judiciário e do Congresso, como ministros do STF e o então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Essa minuta com propostas golpistas teria sido levada a Bolsonaro pelo ex-assessor Filipe Martins, que cuidava de Assuntos Internacionais, segundo Mauro Cid.

Essa parte do depoimento de Cid foi o que mais repercutiu do lado petista. "Mauro Cid confirma tudo: Bolsonaro queria golpe e prender Alexandre de Moraes. Sem anistia! Bolsonaro preso já!", escreveu Lindbergh Farias (RJ), líder do PT na Câmara, em publicação no X (ex-Twitter). "Era golpe mesmo. E agora tudo se confirma", postou o Twitter no Instagram.

Fux acabou se tornando o membro da Primeira Turma do STF a quem bolsonaristas costumam reservar boas expectativas no julgamento da ação penal. Foi ele quem pediu vista do julgamento da cabeleireira Débora dos Santos, que pichou a frase "Perdeu, mané" na estátua da Justiça no 8 de Janeiro.

Como mostrou o Estadão, Fux já sinalizou que deve atuar como um "revisor informal" da relatoria de Alexandre de Moraes no caso que apura a tentativa de golpe de Estado. Durante a análise das questões preliminares da ação penal. Fux foi o único ministro a divergir do posicionamento de Moraes a favor do julgamento de Bolsonaro e dos demais denunciados na Primeira Turma em vez do plenário do STF.

Além de Fux e Moraes, fazem parte da Primeira Turma os ministros Flávio Dino, Carmen Lúcia e Cristiano Zanin. Esse último é o presidente do grupo.

Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, é o primeiro a depor. Como ele fechou acordo de colaboração premiada, os demais acusados têm o direito de falar por último. Nesta segunda-feira, foram interrogados Cid e o deputado federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem (PL-RJ).

Na sequência de Cid, os réus vão ser chamados por ordem alfabética: Alexandre Ramagem (deputado federal e ex-diretor da Abin), Almir Garnier (ex-comandante da Marinha), Anderson Torres (ex-ministro da Justiça), Augusto Heleno (ex-ministro do GSI), Jair Bolsonaro, Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa) e Walter Braga Netto(ex-ministro da Defesa e Casa Civil).

O Partido Novo protocolou nesta segunda-feira, 9, uma representação no Tribunal de Contas da União (TCU) que pede a suspensão do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) como "ferramenta de comunicação institucional" da gestão Lula.

A iniciativa do Novo, uma legenda de oposição, foi motivada por reportagem publicada pelo Estadão no fim de semana, mostrando que ministérios começaram a usar o aplicativo WhatsApp para enviar mensagens à população sobre programas do governo federal.

A nova estratégia de comunicação digital ocorre em um momento de queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que planeja disputar novo mandato, em 2026.

O CadÚnico identifica famílias de baixa renda e é uma das bases de dados utilizadas pelo Executivo para o disparo de informações aos beneficiários dos programas sociais.

Para as bancadas do Novo na Câmara e no Senado, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, comandado por Wellington Dias, tem feito "uso indevido" desse cadastro com fins de "autopromoção" institucional e política. A principal vitrine da pasta é o programa Bolsa Família.

"Transformar dados sociais em ativo eleitoral é uma afronta à democracia e um escândalo ético na gestão pública", disse a deputada Adriana Ventura (Novo-SP), signatária da representação. "O TCU não pode ser cúmplice de um vale-tudo pela reeleição", completou ela.

Como mostrou o Estadão, a ofensiva do governo federal é inspirada em um modelo adotado pela prefeitura do Recife, dirigida por João Campos (PSB).

No Palácio do Planalto, a estratégia foi batizada como "Zap do Sidônio", numa referência ao publicitário Sidônio Palmeira, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom) que "importou" a iniciativa.

Uma pesquisa Quaest divulgada na semana passada revelou que 60% dos entrevistados desconhecem programas e propostas do governo. Além disso, Lula tem perdido apoio principalmente entre os eleitores que ganham de um a dois salários mínimos, público que tradicionalmente votava no PT.

Levantamentos feitos pelo governo também indicam que beneficiários de programas sociais da gestão Lula não se sentem contemplados pelo governo federal. Com a ofensiva de mensagens por WhatsApp, o Planalto pretende carimbar a paternidade dos programas, uma vez que muitos eleitores atribuem as conquistas a governos estaduais e municipais.

A Lei Geral de Proteção de Dados (n.º 13.709/2018) permite o tratamento de dados pessoais pelo governo quando a medida é dirigida à execução de políticas públicas. Mesmo assim, é preciso autorização do titular.

Nos últimos três meses, o Ministério da Saúde identificou aproximadamente 2 milhões de pessoas com diagnóstico de hipertensão que não retiraram os medicamentos gratuitos do Farmácia Popular. A base de dados usada, nesse caso, foi a do DataSus.

De posse dessas informações, o ministério capitaneado por Alexandre Padilha disparou alertas por WhatsApp para os usuários do Farmácia Popular que deixaram de buscar seus remédios.

"O controle da pressão depende do uso contínuo e você pode retirar (o medicamento) em qualquer farmácia cadastrada no programa", diz o aviso. O texto termina com uma pergunta: "Deseja continuar recebendo mensagens deste programa do Governo Federal?"

Na representação encaminhada ao TCU, os parlamentares do Novo argumentam que a prática pode ter conotações eleitorais. Para o senador Eduardo Girão (Novo-CE), o governo usa "dados de brasileiros pobres como munição de campanha" eleitoral.

"O uso generalizado e promocional dessa base de dados, sem conexão objetiva com os programas efetivamente usufruídos pelo destinatário, equivale, em contexto analógico, a enviar correspondência física a todos os cidadãos cujos endereços constem em cadastros públicos para divulgar, de forma genérica, ações do governo", afirma a representação. "Tal conduta representa inequívoco desvio de finalidade."

Além de Adriana Ventura e de Girão, assinam o documento os deputados Marcel van Hattem (RS), Ricardo Salles (SP), Luiz Lima (RJ) e Gilson Marques (SC).

Em nota, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome informou que as mensagens estabelecidas com os integrantes do Cadastro Único são de utilidade pública, e não de "propaganda institucional".

O ministério destacou, ainda, que essa abordagem não é utilizada em nenhuma de suas comunicações. "Todas as mensagens versam sobre prestação de serviços, esclarecimentos e direitos sobre os quais os beneficiários têm disponíveis", sustentou a pasta.

O Tribunal Regional Eleitoral do Amapá (TRE-AP), em cumprimento à determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), realizou na manhã desta segunda-feira, 9, a cerimônia de retotalização dos votos para os cargos proporcionais das eleições de 2022, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

A medida alterou a distribuição das chamadas "sobras eleitorais" e, por consequência, modificou o resultado final da eleição para deputado federal, trocando quatro das oito cadeiras da bancada amapaense na Câmara dos Deputados.

Na ocasião, o juiz federal Anselmo Gonçalves, membro da Comissão Apuradora, esclareceu que o procedimento não se trata de uma recontagem de votos, mas de uma nova forma de cálculo.

"A retotalização dos votos cumpre, com exatidão, a decisão do Supremo Tribunal Federal e reafirma o compromisso da Justiça Eleitoral com a segurança jurídica e a lisura do processo democrático. Atuamos com total transparência, garantindo que os novos eleitos reflitam fielmente os critérios legais em vigor", afirmou o magistrado.

Veja quem foram os candidatos eleitos após a retotalização:

- André Abdon (PP) - média de 39.086 - 11.380 votos;

- Aline Gurgel (Republicanos) - média de 38.346 - 13.633 votos;

- Marcivânia Flexa (FE Brasil) - média de 36.416 - 13.245 votos;

- Paulo Lemos (Federação PSOL-REDE) - média de 36.225 - 9.240 votos.

As quatro cadeiras foram redistribuídas conforme a nova regra de cálculo das sobras eleitorais, fixadas pelo STF, que desconsidera a exigência de desempenho eleitoral mínimo.

Dessa forma, ficam cancelados os diplomas expedidos anteriormente a:

- Sonize Barbosa (PL);

- Maria Goreth (PDT);

- José Augusto Pupio (MDB);

- Sílvia Nobre - Silvia Waiãpi (PL).

Permanecem inalterados, os mandatos dos quatro primeiros nomes da bancada federal. São eles:

- Josenildo Abrantes (PDT) - 27.112 votos - eleito por Quociente Partidário (QP);

- Vinícius Gurgel (PL) - 13.253 votos - eleito por média;

- Acácio Favacho (MDB) - 24.064 votos - eleito por média;

- Dorinaldo Malafaia (PDT) - 11.473 votos - eleito por média.

Segundo o TRE-AP, o novo resultado será submetido à aprovação na sessão desta terça-feira, 10, quando também ocorre a diplomação dos novos eleitos, conforme determina a Resolução TSE nº 23.677/2021, com as alterações da Resolução do TSE nº 23.734/2024.

Entenda a mudança

No Brasil, as eleições para vereadores e deputados são proporcionais, ou seja, não necessariamente os candidatos mais votados são os eleitos. A distribuição das vagas é feita em três fases, que têm relação com o cálculo do quociente eleitoral.

O quociente eleitoral é um índice calculado a partir da divisão do total de votos válidos para um cargo pelo número de vagas disponíveis. Por exemplo: se uma cidade registrou 150 mil votos válidos para vereador e tem 17 vagas para o cargo, o quociente é 8.824. Para ser eleito, um vereador precisa ter ao menos 10% desse quociente, ou seja 882 votos.

Em fevereiro do ano passado, o STF entendeu que todos os partidos e candidatos, independentemente de terem alcançado um quociente mínimo eleitoral, poderiam participar da última etapa de distribuição das sobras eleitorais - ou seja, as vagas remanescentes após a primeira distribuição por quociente eleitoral.

A decisão do STF era de que a nova regra sobre sobras eleitorais passaria a valer para as eleições futuras. Os partidos Rede Sustentabilidade, PSB e PP entraram com uma ação questionando regras de distribuição das sobras eleitorais incluídas no Código Eleitoral de 2021. O Supremo deu ganho de causa aos partidos que recorreram, o que levou a retotalização dos votos e substituição dos deputados.

Além disso, no caso dos deputados estaduais, não houve alteração no resultado. Conforme o relatório de totalização, nenhum candidato eleito por média teve votação inferior a 20% do quociente eleitoral.

Segundo o Tribunal, relatório completo da retotalização e a memória de cálculo serão publicados ainda hoje no portal do TRE Amapá, garantindo a publicidade e o acesso público às informações.