Embaixador do Irã no Brasil indica que presidente pode vir ao Brics no Rio

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

O embaixador do Irã em Brasília, Abdollah Nekounam, indicou nesta quinta-feira, 26, que o presidente Masoud Pezeshkian deve visitar o Brasil para participar da Cúpula do Brics, entre 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro. A presença dele esteve em dúvida por causa da guerra com Israel e dos ataques aéreos realizados contra instalações nucleares no país pelos Estados Unidos, mas com o cessar-fogo entre as partes em vigor, a visita deve ocorrer.

Segundo o embaixador, o governo iraniano está dando sequência à programação da primeira visita de Pezeshkian ao Brasil. "Estamos na fase de programação para essa possibilidade de o senhor presidente da República Islâmica do Irã Dr. Masoud Pezeshkian ir à Cúpula do Brics. Estamos seguindo as nossas programações", afirmou Nekounam.

Diplomatas do Brasil consideram a viagem complexa do ponto de vista da segurança, mas integrantes da diplomacia iraniana sinalizaram reservadamente acreditar que não deve haver problemas relacionados a isso durante a viagem. A reabertura do espaço aéreo do país para voos comerciais, algo esperado para ocorrer nos próximos dias, deve ser um indicativo de que a viagem deve ocorrer.

Pezeshkian poderia usar o Brics no Brasil como plataforma para falar sobre o conflito. Se o presidente não vier, deverá ser substituído e representado pelo chanceler iraniano Abbas Aragchi, que tem sido o porta-voz do país nos últimos dias em viagens internacionais a países próximos entre eles a Rússia e a Turquia.

Caso venha ao Brasil, o presidente iraniano deve se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela primeira vez, em conversa bilateral no Rio.

O embaixador agradeceu a manifestação do presidente Lula em defesa do Irã, condenando com veemência os ataques, e também a nota do Brics em sequência - o tom do petista foi, inclusive, considerado pelos iranianos mais duro do que o adotado em sequência pelo próprio bloco e em detrimento das relações entre Brasil e EUA.

O Irã faz parte do grupo de países emergentes desde o ano passado, tendo sido convidado em 2023. Pezeshkian participou da Cúpula de 2024, em Kazan, na Rússia, pela primeira vez.

Em 2023, o ex-presidente Ebrahim Raisi compareceu à Cúpula de Johannesburgo, na África do Sul, e se reuniu com Lula. Ele morreria em acidente aéreo de helicóptero, em maio de 2024, por causa de complicações de aeronavegabilidade por mau tempo, segundo a investigação oficial.

Em outra categoria

Jair Bolsonaro (PL) participou de eventos políticos em Belo Horizonte (MG) nesta quinta-feira, 26. No diretório do PL no Estado, o ex-presidente citou os processos que enfrenta e afirmou que "teremos um julgamento político pela frente. Acredito em Deus, o que vier a acontecer... Nós suportaremos". O ex-presidente é réu em processo por tentativa de golpe no Supremo Tribunal Federal (STF).

"Fizeram de tudo na minha vida, reviraram tudo...", declara o ex-presidente. Bolsonaro cita investigações e processos aos quais ele foi alvo, como o caso do desvio das joias, a multa ambiental por ter importunado uma baleia jubarte e outros.

"Fui acusado por cinco anos de ser mentor da morte de Marielle Franco. Foram atrás de mim até na questão da baleia, na questão dos presentes, vacinas e imóveis comprados no Vale do Ribeira, região mais pobre do Estado de São Paulo. [...] Agora, essa falsa tentativa de golpe, onde ninguém consegue comprovar nada disso".

O político ainda agradeceu as doações de R$ 17 milhões recebidas via Pix. "Se não fosse isso, não conseguiria ter uma boa defesa nestes processos", ele explica. O ex-presidente disse que os valores o deram uma "sobrevida", permitindo que recorresse.

Bolsonaro termina a sua fala afirmando que "estamos juntos em 2026", dando a entender que participará da corrida eleitoral, e convidando os presentes para o ato que participará na Avenida Paulista no próximo domingo, 28. O político, no entanto, inelegível até 2030 por determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Apesar de estar com problemas estomacais e soluço persistente, o ex-presidente optou por manter a sua viagem para Minas Gerais nesta quinta-feira e por reafirmar presença no ato evangélico no domingo.

A agenda o coloca em exposição como possível candidato da Direita, enquanto o político atrasa o apoio para um nome viável e dá oportunidades para que Bolsonaro conteste as acusações e processos que enfrenta.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) absolveu o blogueiro Allan dos Santos da condenação por calúnia contra a cineasta Estela Renner.

A decisão do ministro Antonio Saldanha é da noite desta quarta-feira, 25, e reconsidera uma sentença de julho de 2022 do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS). Santos havia sido condenado pela Justiça gaúcha a um ano e sete meses de prisão.

Em setembro de 2017, Allan dos Santos publicou um vídeo no canal Terça Livre relacionando a cineasta Estela Renner ao uso de maconha por jovens. Na ocasião, Santos fazia comentários sobre a exposição Queermuseu, que abordava questões de gênero e gerou controvérsia por não contar com classificação indicativa que restringisse o acesso das obras a menores de idade.

Santos afirmou que Estela estava "destruindo a vida das nossas criancinhas" e insinuou que o Instituto Alana, que já produziu filmes de Renner, obtinha vantagens por meio de isenções fiscais.

"Penso que os fatos narrados não permitem a conclusão de que as palavras proferidas pelo recorrente (Allan dos Santos) subsomem-se aos crimes de calúnia ou difamação". Para Saldanha, a sentença do TJ-RS não aferiu "com a precisão necessária" requisitos que configuram o delito de calúnia, como a existência de fato específico e determinado.

No caso concreto, segundo o ministro, embora tenha havido uma imputação falsa de incentivo ao uso de drogas, Allan dos Santos não explicitou de qual forma, em que momento e em qual ocasião Estela teria cometido tal delito.

Para Saldanha, a ilação de Santos sobre o recebimento de valores por parte do Instituto Alana podem ser configurados como injúria. No entanto, nesse caso, o crime já está prescrito.

Allan dos Santos é investigado pelos crimes de organização criminosa, contra a honra, incitação, preconceito e lavagem de dinheiro. Dois inquéritos que envolvem o blogueiro tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF): o das fake news e o de milícias digitais. Ele está foragido da Justiça brasileira desde outubro de 2021, quando foi expedida contra ele uma ordem de prisão da Polícia Federal. Na ocasião, o blogueiro já estava fora do País.

Santos deixou o Brasil em julho de 2020 e ingressou nos Estados Unidos com um visto de turista. Ele protocolou um pedido de asilo político e permanece em condição legal no país enquanto aguarda uma decisão das autoridades americanas. No momento, o blogueiro afirma trabalhar como motorista de aplicativo em Orlando, na Flórida.

O ministro-chefe da Advocacia Geral da União (AGU), Jorge Messias, disse nesta quinta-feira, 26, que o órgão vai estudar cobrar dos agentes da ditadura militar os valores pagos em forma de indenização pelos pelo Estado brasileiro às famílias de mortos e desaparecidos. "A AGU atua tecnicamente. Isso (a cobrança) precisa ser estudado na perspectiva jurídica", afirmou.

O ministro foi à sede do Instituto Vladimir Herzog, em São Paulo, para um ato no qual assinou o acordo judicial fechado pela AGU com a família Herzog, para, 50 anos depois do crime, indenizar a família do jornalista. Ele prevê o pagamento de R$ 3 milhões à família.

O compromisso do Estado com a família foi divulgado no dia 18 de junho e foi assinado nesta quarta-feira, 25, na véspera do dia em que o jornalista faria 88 anos. A viúva do jornalista, Clarice Herzog, também recebe pagamentos mensais no valor R$ 34.577,89, em uma reparação econômica concedida pela 2.ª Vara Federal Cível do Distrito Federal.

No caso de se buscar responsabilizar os agentes pelo dano causado ao Erário, eles poderiam ser obrigados a indenizar o Estado por meio de uma ação regressiva, pois responderiam solidariamente pelo dano causado às famílias de vítimas de violência estatal, como a do jornalista Vladimir Herzog.

Messias estava ao lado de Ivo Herzog, filho do jornalista assassinado em 1975 sob tortura na sede do Destacamento de Operações de Informações (DOI), do 2.º Exército, em São Paulo. Os dois defenderam ainda que o Supremo Tribunal Federal (STF) apresse o julgamento sobre a Lei de Anistia a fim de que os agentes do regime possam ser processados também criminalmente por todos os delitos cometidos e não somente pela ocultação de cadáver.

A Corte já formou em fevereiro maioria no julgamento que verifica se podem ser punidos os agentes responsáveis pela ocultação de cadáver dos desaparecidos políticos. O argumento é de que se trataria de crime permanente, que continuaria sendo cometido no presente e, portanto, após a promulgação da Lei de Anistia, de 1979.

Desde 1978, por meio de uma ação declaratória a fim que a Justiça federal reconhecesse a responsabilidade do Estado pela morte de Herzog. "Eu conversei com a Clarice e disse a ele que entrasse com a ação por danos morais, mas ela foi enérgica dizendo que não queria indenização, pois 'se não vão dizer que é coisa de judeu'. Então fizemos a ação declaratória, que levou ao reconhecimento da responsabilidade do Estado para que a qualquer momento pudesse ser pedida a reparação", afirmou o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, e integrante da Comissão Arns.

Ivo Herzog afirmou que a família só se resolveu agora a pedir a indenização em razão da enfermidade que acometeu sua mãe, a fim de poder ter fundos com os quais será possível o tratamento médico. "Tenho certeza que a doença é consequência de tudo o que ela viveu", afirmou.

De acordo com ele, o processo de busca por Justiça para a família começou logo depois da morte de seu pai, quando sua mãe se recusou a aceitar a versão fraudulenta de suicídio com a qual os militares do 2.º Exército procuraram se eximir da responsabilidade pela morte de Herzog nas dependências do destacamento. Na época, um IPM concluiu que o preso se suicidara. Era mentira.

Há 15 anos, o Estadão entrevistou três veteranos do DOI-Codi - um oficial do Exército, um investigador e um tenente da PM - que confirmaram a morte sob tortura do jornalista, descrita como "um acidente de trabalho". Dois trabalhavam na Seção de Interrogatório e Análise e um na Seção de Investigação. Além deles, o então secretário da Segurança Pública da época, o coronel do Exército Erasmo Dias, confirmou em entrevista gravada que fraudou perícias a fim de encenar suicídios de presos no DOI do 2.º Exército. Herzog havia sido intimado a depor no DOI no âmbito da ofensiva do regime militar contra o Partido Comunista Brasileiro (PCB).

Após a conseguir que a Justiça Federal declarasse o estado brasileiro culpado pela morte de Herzog, a família buscou a condenação do Brasil na Corte Interamericano de Direitos Humanos, o que aconteceu em 2018. A decisão determinou que o Estado brasileiro adotasse medidas para que se reconhecesse, "sem exceção, a imprescritibilidade das ações emergentes de crime contra a humanidade".

Ou seja, a morte de Herzog não poderia ser alvo de anistia, nem o direito podia ser considerado prescrito. "Queríamos que o Estado brasileiro peça desculpas pelo que aconteceu. È difícil expressar a gratidão pelo acordo. A AGU propôs um acordo em vez de levar adiante uma ação que só prolongaria o sofrimento da minha mãe", disse Ivo Herzog. Messias respondeu que a assinatura do acordo com a família Herzog erra o dia mais importante de toda a sua gestão à frente da AGU.

A família agora programa um novo ato ecumênico na Catedral da Sé, a exemplo do realizado pelo em 1975 pelo então cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns, em memória de Herzog. O ato deve ocorrer no próximo dia 25 de outubro e deve contar com a presença do atual cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer. "Faço um apelo ao ministro (Messias) que leve ao presidente Lula o convite para que venha à catedral", disse José Carlos Dias.