Irã intensifica posição contra existência de Israel, amplia exigências e complica fala do Brics

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Os ataques de Israel e dos Estados Unidos ao Irã complicaram ainda mais um consenso no Brics. Além de exigir uma manifestação mais forte do grupo sobre a guerra e os ataques que sofreu, a delegação iraniana no Rio recrudesceu sua posição e agora quer mudar até a forma como o bloco vai se referir a Israel.

A negociação para obter uma declaração final no Brics, desta vez em nome dos líderes políticos, ficou mais "difícil", relatou um diplomata envolvido na negociação da Cúpula no Rio.

Os países membros do Brics discutem se vão subir o tom no comunicado de líderes, como exige o Irã. O chanceler iraniano, Abbas Araghchi, está a caminho do Rio, e pode se envolver na negociação.

A posição iraniana extrapola como o grupo pretendia tratar os ataques aéreos de 12 dias e contaminou até manifestação do grupo sobre a questão palestina, outro ponto sensível, já que o grupo tem países mais próximos de Israel e dos EUA, como a Índia, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.

Após o bombardeios, porém, o Irã recrudesceu e quer usar uma linguagem mais próxima da oficial em Teerã e da diplomacia de guerra. Os ataques sem precedentes na história atingiram o programa nuclear iraniano, mataram lideranças militares e cientistas, unidades das Forças Armadas e até uma rede estatal de TV.

Por princípio, a liderança islâmica do Irã nega a existência do Estado de Israel, o que leva o governo israelense a considerar que enfrenta uma questão existencial caso os iranianos consigam fabricar uma bomba nuclear. Esse foi um dos pretextos dos ataques.

Em Teerã, autoridades governamentais costumam se referir ao país como "inimigo", "entidade sionista" ou "regime sionista". Uma versão similar chegou a ser defendida pela diplomacia persa dentro do Brics. O tema é considerado importante pelo Irã.

A cobrança persa era esperada, pelo fato de o grupo ter um país atacado. Além disso, o cessar-fogo é visto como "instável" por integrantes de chancelarias presentes ao Rio.

Não há consenso porque delegações no Brics rejeita esse tipo de linguagem ou até a simples menção direta a Israel e Estados Unidos.

Os três pontos pendentes agora são como se pronunciar sobre a questão palestina, os ataques ao Irã e resolver a proposta de reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, na qual o Brasil sofreu um revés em Kazan.

O tema também é considerado "difícil", mas o Brasil tenta contornar a disputa africana, que impede a menção a um país africano como candidato a uma vaga no Conselho de Segurança. A objeção de Egito e Etiópia derrubou também o apoio explícito a Brasil e Índia.

Não houve menções ao recente ataque da Rússia contra a Ucrânia, a maior operação aérea desde o início da invasão. O recente conflito entre Paquistão e Índia também teve menor impacto.

A declaração principal também será enfática sobre o tarifaço comercial, vai mas não citará o presidente Donald Trump e os Estados Unidos. Por outro lado, o recado do Brics em defesa do multilateralismo ficará explícito pelos convites especiais a entidades combatidas por Trump: o diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Adhanom, e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

Além disso, o Brics vai publicar três comunicados específicos sobre: Financiamento Climático, Parceria Para Eliminação de Doenças Socialmente Determinadas e Inteligência Artificial.

Em outra categoria

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) retoma nesta terça-feira, 11, o julgamento que pode cassar o mandato do governador de Roraima, Antônio Denarium (PP), acusado de abuso de poder político e econômico.

Denarium foi condenado quatro vezes pelo Tribunal Regional Eleitoral de Roraima (TRE-RR) em 2023, por abuso de poder político e econômico nas eleições de 2022. Ele permanece no cargo enquanto os recursos são analisados, situação que se mantém devido à suspensão temporária do processo.

O caso já havia sido pautado em agosto, mas a análise foi suspensa logo após o voto da relatora, ministra Isabel Gallotti, em razão de um pedido de vista do ministro André Mendonça.

Em nota, a assessoria do governador afirmou que continua "confiando na Justiça, nas instituições e em todos que, assim como nós, acreditam em um Estado melhor para viver, trabalhar e empreender".

Denarium destacou ainda os avanços do estado: "Um Estado que se destaca no Brasil com o maior crescimento do PIB, a maior redução do número de homicídios, com aumento da área plantada e do rebanho bovino", disse em publicação nas redes sociais.

Na sessão, também será julgado o vice-governador Edson Damião (Republicanos), acusado pelos mesmos crimes. A ministra Isabel Gallotti, apontou que o número de beneficiários do programa "Cesta da Família" aumentou 400% em 2022, passando de 10 mil para 50 mil pessoas atendidas.

Em seu voto, Gallotti destacou ainda o programa "Morar Melhor", voltado à reforma de moradias de famílias de baixa renda, afirmando que ele foi "um engenhoso expediente que culminou na criação de novos programas em ano eleitoral, com dividendos eleitorais em favor do candidato à reeleição ao governo do Estado".

A Procuradoria-Geral da República (PGR) defendeu nesta segunda-feira, 10, em manifestação enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF), a condenação dos deputados Josimar Maranhãozinho (PL-MA) e Pastor Gil (PL-MA), além do suplente de deputado Bosco Costa (PL-SE), por corrupção com emendas parlamentares.

Segundo a PGR, os deputados condicionaram a destinação de R$ 6,67 milhões em emendas ao município de São José de Ribamar, na região metropolitana de São Luís, ao pagamento de R$ 1,67 milhão em propinas. Os parlamentares negam irregularidades.

A Procuradoria afirma que as provas são "irrefutáveis" e que a autoria e a materialidade dos crimes estão comprovadas por diálogos e documentos obtidos na investigação.

"Embora os deputados Josimar e Bosco Costa tenham negado a autoria das emendas, aproveitando-se da baixa transparência dos dados públicos sobre a procedência desses recursos, as provas confirmam serem eles os responsáveis pelas destinações", diz a PGR.

O vice-procurador-geral da República, Hindemburgo Chateaubriand, enviou ao STF os últimos argumentos da acusação no processo. As defesas ainda vão apresentar suas alegações finais, última etapa antes do julgamento. O relator do processo é o ministro Cristiano Zanin.

Além da condenação, a PGR pede a perda dos mandatos e o pagamento de uma indenização por danos morais coletivos.

A PGR afirma que Josimar Maranhãozinho "ostentava a posição de liderança" do suposto esquema e, nessa condição, "coordenava a destinação dos recursos patrocinados pelos demais congressistas" e depois distribuía as propinas.

"Não há dúvida de que os réus, sob a chefia do deputado Josimar, constituíram e integraram organização criminosa", diz a Procuradoria nas alegações finais.

Os repasses teriam ocorrido entre dezembro de 2019 e abril de 2020, de acordo com a denúncia. Na época, o prefeito de São José de Ribamar era José Eudes Sampaio Nunes. A PGR afirma que ele foi "insistentemente abordado para ceder à solicitação de propina".

As defesas vêm pedindo o arquivamento da ação por falta de provas.

O novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos (Psol-SP), criticou a escolha do deputado Guilherme Derrite (PP-SP), ex-secretário de Segurança do governo paulista, como relator do projeto de lei antifacção.

"Colocar o Derrite como relator de um projeto do governo para o combate das facções criminosas me soa como uma provocação", disse Boulos, em entrevista depois de um painel sobre resíduos sólidos e crédito de carbono na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30).

Boulos criticou a escolha argumentando que o deputado está partidária, direta e eleitoralmente comprometido com quem tem se colocado como adversário do governo Lula. "Ele está, inclusive, comprometido com quem foi contra a PEC da Segurança Pública, que é o que permite que o governo federal atue de forma mais eficaz no combate ao crime organizado", disse o ministro.