Suprema Corte dos EUA anula decisão de juíza e abre caminho para demissões em massa de Trump

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O governo dos Estados Unidos recebeu a autorização da Suprema Corte nesta terça-feira, 8, para realizar demissões no serviço público federal e desmantelar a estrutura de agências. A decisão pode resultar na perda de empregos para milhares de funcionários públicos americanos, em áreas como o Departamento de Estado, do Tesouro e de Habitação e Desenvolvimento.

A decisão da Suprema Corte anulou a decisão de um tribunal inferior, que bloqueava as demissões em massa. Ela não está assinada e não tem o número de votos favoráveis e contrários - o que segue um costume em ações emergenciais. A juíza da corte Ketanji Brown Jackson se posicionou publicamente contra a decisão.

O caso significa um teste crucial do tamanho do poder do presidente Donald Trump para reestruturar o governo federal sem participação do Congresso. Tecnicamente, a decisão dos juízes é temporária e orienta como o governo pode agir enquanto os planos de Trump são desafiados judicialmente. Mas, na prática, significa que o presidente pode prosseguir com a reestruturação até que a questão seja julgada em definitivo.

Em uma decisão de dois parágrafos, os juízes da Suprema Corte dizem ter concluído que o governo "provavelmente terá sucesso" na defesa de que o decreto no qual Trump expôs os planos de cortes é legal. Os juízes acrescentam que a decisão desta terça não tem um juízo de valor sobre a legalidade das demissões ou reorganizações feitas pelo governo.

A decisão marca a vitória mais recente de uma série de ações ganhas pelo governo Trump na Suprema Corte dos EUA em pedidos de emergência, relacionadas aos seus planos de reformular a administração federal rapidamente.

Em 27 de junho, os juízes da corte suprema também limitaram o poder de magistrados de tribunais inferiores de bloquearem as políticas de Trump.

Embora os votos não tenham sido divulgados, a decisão incluiu uma breve concordância pública da juíza Sonia Sotomayor, uma dos três liberais do tribunal - o que sugere amplo consenso entre os juízes quanto ao resultado. Sotomayor escreveu que concordava com a decisão da Suprema Corte, mas acrescentou que os tribunais de primeira instância são "livres para considerar" a legalidade dos planos de cortes da Casa Branca.

Em um pronunciamento de 15 páginas, a juíza Ketanji Brown Jackson criticou duramente a decisão da Suprema Corte, sob o argumento de que ela mina a autoridade dos juízes de primeira instância. "(A decisão) não é apenas verdadeiramente infeliz, mas também arrogante e sem sentido", escreveu a juíza.

"Não é papel deste tribunal intervir e questionar as conclusões factuais de um tribunal inferior", acrescentou, em uma posição semelhante a que expressou no mês passado no caso que diminuiu o poder dos juízes de tribunais inferiores.

Ela afirmou que "ninguém contesta seriamente" que o decreto executivo do presidente americano "levaria a enormes consequências no mundo real", incluindo "o desmonte de grande parte do governo federal, conforme criado pelo Congresso".

"O que uma pessoa (ou presidente) poderia chamar de inchaço burocrático é a perspectiva de um fazendeiro ter uma colheita saudável, a chance de um mineiro de carvão respirar livre da doença do pulmão negro ou a oportunidade de uma criança em idade pré-escolar aprender em um ambiente seguro", escreveu a juíza.

Nas últimas semanas, os juízes emitiram outras decisões em pedidos de emergência que permitiram aos membros do Departamento de Eficiência Governamental obter acesso a registros confidenciais de milhões de americanos mantidos pela Administração da Previdência Social. As decisões também encerraram um programa humanitário destinado a dar residência temporária a mais de 500 mil imigrantes de países que enfrentam guerra e crise política e deram autorização a Trump para demitir dois chefes de agências independentes.

O pedido sobre as demissões em massa em agências federais decorre de um decreto executivo, assinado por Trump em fevereiro, em que instrui as autoridades a elaborarem planos para cortes em larga escala na administração federal.

Depois que o decreto foi anunciado, diversos sindicatos e governos locais entraram com ações judiciais para tentar anulá-lo.

Em maio, uma juíza do Tribunal Distrital Federal do Distrito Federal do Distrito Norte da Califórnia, Susan Illston, suspendeu temporariamente os planos da Casa Branca para as demissões e encerramento de programas. A decisão impediu que mais de 20 agências da administração americana avançassem nos planos de cortes.

A princípio, Illston bloqueou os decretos por duas semanas. Ela expandiu o bloqueio no mesmo mês, sob o argumento de que o decreto havia criado uma ameaça aos serviços essenciais prestados pelo governo.

De acordo com a juíza, os cortes também provavelmente são ilegais sem a aprovação do Congresso. Ela concluiu que o presidente não pode conduzir uma reorganização ampla do poder executivo sem a cooperação do Congresso e precisaria seguir o processo aprovado pelo poder legislativo para reestruturação do governo. As demissões e o fechamento de agências foram congeladas de forma temporária durante a tramitação do processo.

O governo Trump recorreu da decisão, mas um tribunal de segunda instância manteve a decisão da juíza. A reação, então, foi um pedido de emergência na Suprema Corte.

Na ação, o procurador-geral americano John Sauer afirmou que a decisão do juiz de primeira instância proibiu "quase todo o poder executivo - 19 agências, incluindo 11 departamentos ministeriais" de executar os planos de Trump para reformular o governo. Para ele, a decisão de primeira instância se baseou na premissa "indefensável" de que o presidente deve ter "autorização estatutária explícita" do Congresso para agir com base em "decisões internas de pessoal do poder executivo".

Em resposta, o sindicato dos trabalhadores federais dos EUA, autores da ação inicial, afirmaram que os tribunais inferiores determinaram corretamente que o decreto de Trump provavelmente excedeu a autoridade e violou a separação de poderes. "Por mais de 100 anos, presidentes de todo o espectro político obtiveram autorização do Congresso antes de empreender a reorganização do governo federal", escreveram em um memorando aos juízes.

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O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), disse nesta segunda-feira, 10, acreditar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já tomou a decisão de indicar o advogado-geral da União, Jorge Messias, ao Supremo Tribunal Federal (STF), apesar de não anunciar essa escolha.

"Tenho de trabalhar com o dado que tenho. E o dado que tenho é que há uma escolha feita pelo presidente, apesar de não anunciada formalmente", afirmou Wagner, referindo-se à indicação de Messias.

Ele disse ser natural que a "torcida" do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para a vaga fique triste, mas não vislumbra dificuldades de Messias de ser aprovado no Senado. Segundo ele, a demora para o anúncio formal se justifica pela necessidade de Lula ter de promover conversas em Brasília, como com o próprio Pacheco, por exemplo.

A maioria dos integrantes do Congresso Nacional aponta o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como o nome mais capaz de liderar a direita no Brasil e unificar o campo nas eleições de 2026 na ausência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Levantamento exclusivo do Ranking dos Políticos para o Estadão divulgado nesta segunda-feira, 10, mostra que, apesar de reconhecerem a liderança de Tarcísio, a maioria dos parlamentares consultados acredita que o grupo deve chegar dividido às urnas, com várias candidaturas e polos concorrentes.

A pesquisa ouviu 107 deputados de 20 partidos e 27 senadores de 12 partidos entre os dias 21 e 31 de outubro, por meio de entrevistas presenciais e telefônicas. A margem de erro é de dois pontos percentuais e o nível de confiança é de 95%.

Na Câmara dos Deputados, 48,6% dos deputados entrevistados apontaram Tarcísio como o principal nome capaz de liderar a direita brasileira. Ele é seguido por Eduardo Bolsonaro (PL), com 15%; Michelle Bolsonaro (PL), com 13,1%; Ratinho Júnior (PSD), com 9,3%; Romeu Zema (Novo), com 3,7%; Ronaldo Caiado (União), com 0,9%; e a opção Outro (1,9%). 7,5% não souberam responder.

No Senado, o governador paulista também é o mais mencionado (44,5%), à frente de Eduardo e Michelle Bolsonaro, empatados com 14,8%, e de Ratinho Júnior, com 7,4%. O índice de indecisos entre senadores é de 18,5%.

Em comparação com a pesquisa anterior, feita em julho de 2023, Tarcísio manteve vantagem expressiva, enquanto Michelle Bolsonaro teve leve alta e Romeu Zema perdeu espaço. Já nomes como Eduardo Leite (PSD) e Flávio Bolsonaro (PL), que figuravam entre as opções no ano passado, deixaram de ser citados.

Questionados sobre quem teria mais condições de unir a direita em torno de uma candidatura única competitiva em 2026, 56,1% dos deputados e 55,6% dos senadores apontaram Tarcísio. Ratinho Júnior aparece em segundo lugar, com 15% das menções na Câmara e 11,1% no Senado. Michelle Bolsonaro tem 11,2% e 7,4%, respectivamente, enquanto Caiado, Zema e Eduardo Bolsonaro registraram índices menores.

Apesar dessa percepção de liderança, 67,3% dos deputados e 63% dos senadores acreditam que o campo conservador deve permanecer fragmentado em 2026. Apenas 29,9% e 22,2%, respectivamente, veem chance de união, ainda que com candidatos de partidos diferentes, por meio de alianças e blocos partidários.

Para o diretor de operações do Ranking dos Políticos, Luan Sperandio, os resultados mostram que o governador paulista consolidou seu papel de liderança, mas enfrenta um ambiente de dispersão política e uma avaliação predominante de que a direita não marchará unida, o que pode interromper negociações por alianças e definição antecipada de cabeça de chapa.

"Ainda tem o fato de ele não contar com declarações públicas de seu padrinho político, Jair Bolsonaro, o que acaba facilitando a criação de várias candidaturas da direita em 2026 que buscam se viabilizar", explica.

A pulverização das candidaturas tem sido apontada como benéfica por figuras como Caiado, que já afirmou que uma variedade de nomes oposicionistas pode reduzir as chances de vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Para o diretor do Ranking dos Políticos, a estratégia contém riscos. "Uma coisa é ter vários candidatos que contribuam na discussão, outra é se eventualmente enveredar a ataques entre eles, o que pode prejudicar e fazer com que o representante (da direita) chegue fragilizado a um segundo turno".

Não mencionado na edição de 2023, Ratinho Júnior foi mais lembrado que Zema e Caiado na última pesquisa. Segundo Sperandio, apesar de suas ambições presidenciais e movimentação no sentido de nacionalizar sua imagem, os frutos devem ser colhidos em pleitos futuros.

"Não só o Ratinho, mas temos outros nomes jovens que vão estar no jogo nas próximas eleições e não necessariamente precisam se visibilizar no próximo ano. Certamente essa safra de governadores é uma nova geração na política que vamos ver nas próximas duas décadas", analisa.

O Tribunal de Justiça do Espírito Santo abriu uma investigação administrativa para esclarecer como uma calcinha foi parar em uma sala de acesso restrito do Fórum de Cachoeiro de Itapemirim, a 133 quilômetros de Vitória.

O mistério da calcinha esquecida alterou a rotina forense. É um desafio e tanto, que se põe até mesmo diante de Têmis, a deusa grega que simboliza a Justiça.

Câmeras de segurança instaladas no corredor que dá acesso à sala de audiências estão sendo analisadas em busca de pistas sobre o insólito capítulo da vida.

Os registros de entrada no edifício também foram checados.

A calcinha, supostamente já usada, estava em um cômodo do Núcleo de Audiências de Custódia. Duas servidoras encontraram a peça íntima, supostamente já usada, quando chegaram para trabalhar, no dia 29 de outubro.

A sala ficou trancada no dia anterior por causa do feriado do Dia do Servidor.

A investigação interna foi instaurada a pedido do juiz André Guasti Motta, coordenador do núcleo, que classificou o episódio como "grave" e defendeu a "apuração imediata".

Segredo de Justiça

"A sala contém equipamentos de informática, impressoras, mobiliário e documentos diversos, alguns deles sob segredo de Justiça, que devem permanecer sob guarda e vigilância constantes do Poder Judiciário", afirmou o magistrado em ofício à direção do fórum.

O caso foi revelado por A Gazeta, de Vitória. Em entrevista ao periódico, o juiz Bernardo Fajardo Lima, diretor do fórum, informou que nenhum documento ou equipamento foi subtraído nem houve acesso indevido aos sistemas do Judiciário, o que enfraquece a hipótese de uma invasão.

O acesso de pessoas não autorizadas ao cômodo, no entanto, ainda não foi descartado.

Atividades físicas

A direção do fórum também trabalha com uma segunda linha de investigação: a de que a calcinha tenha caído eventualmente de uma bolsa ou mochila.

Segundo Fajardo, magistrados e servidores costumam levar roupas sobressalentes para a prática de atividades físicas antes do expediente.