Presos na fronteira: o drama de brasileiros e americanos que tentam fugir de Gaza

Internacional
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Em meio a temores de uma incursão de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza para retaliar os atentados terroristas do dia 7, estrangeiros aguardam há dias a movimentação diplomática de vários países para que o Egito abra a passagem fronteiriça de Rafah, no sul do enclave palestino, para deixar o local, que desde a semana passada é alvo de um cerco das Forças Armadas israelenses.

Pelo menos 28 brasileiros sofrem há dias para deixar a Faixa de Gaza em segurança. O grupo conseguiu chegar ao sul e está concentrado entre as cidades de Rafah e Khan Younis, perto do Egito, mas se deparou com a fronteira fechada. Junto com eles, o governo tenta resgatar mais seis palestinos que têm residência no Brasil, mas ainda não conseguiu embarcá-los.

Hasan Rabee está na lista de resgate do governo brasileiro e conta que a situação é dramática. Em um vídeo nas redes sociais, ele relatou que saiu para procurar pão - alimento cada vez mais raro em Gaza - e tentar carregar o celular quando se deparou com uma explosão.

"Saí para carregar o celular, pegar água e pão, mas não consegui pão ainda. Atacaram uma casa de civis, tem bastante gente ferida, o resgate ainda não está funcionando, os hospitais colapsaram, pessoas feridas estão correndo na rua. Infelizmente, está muito difícil. Cai bomba de todos os lados, a casa da esquina foi completamente destruída", contou.

Avião de prontidão

Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) aguarda em Roma, na Itália, a abertura da fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito para buscar os 28 cidadãos brasileiros. O grupo tem 14 crianças, 8 mulheres e 6 homens - 22 deles nasceram no Brasil, três são imigrantes palestinos e três são palestinos que possuem cidadania brasileira.

No sábado, 14, após Israel pedir um esvaziamento do norte de Gaza, ameaçando novos e mais intensos ataques na região para tentar resgatar os israelenses feitos de reféns pelo grupo terrorista Hamas, o governo brasileiro contratou ônibus para transportar os brasileiros, que estavam na Cidade de Gaza, no norte do território palestino, até o sul.

Três homens, três mulheres e quatro crianças estão, agora, em Rafah, cidade palestina de onde se pode ir andando até a fronteira com o Egito. Os outros três homens, cinco mulheres e dez crianças estão em Khan Younes, há 10 quilômetros da fronteira. O embaixador do Brasil na Palestina, Alessandro Candeas, passou a relação de pessoas e confirmou ao Estadão que elas estão bem, alojadas em casas alugadas pela Embaixada.

Assim que autorizada a passagem dos brasileiros, o avião da FAB deve se deslocar até o Egito para fazer o resgate, informou Candeas e o Itamaraty. Enquanto isso, os brasileiros têm recebido apoio psicológico da Embaixada. Uma profissional da psicologia foi contratada em Gaza para fazer o acompanhamento das famílias.

Americanos presos em Rafah

Não são só os brasileiros que sofrem com a indefinição em Rafah. Antes do amanhecer de segunda-feira, 16, a Embaixada dos EUA em Jerusalém enviou um e-mail aos cidadãos americanos presos na Faixa de Gaza, sugerindo que se dirigissem à fronteira com o Egito e oferecendo a perspectiva de fuga.

No entanto, não se tratava de uma promessa. Um fim de semana de negociações diplomáticas para abrir a fronteira entre o Egito e Gaza, até o momento, não rendeu muito além de confusão, mesmo na embaixada. O e-mail sobre a abertura da fronteira não citava conversas com o Egito ou Israel - baseava-se em notícias.

A falta de clareza ficou clara no local. Na segunda-feira, dezenas de pessoas carregaram malas e sacos de lixo com os pertences pessoais que puderam levar para a única passagem da fronteira com o Egito, apenas para encontrar os portões do lado de Gaza fechados e ficarem presos à espera de esforços diplomáticos que não deram certo.

"Será que nunca vamos sair daqui???" Lena Beseiso, 57 anos, uma americana presa perto da passagem, na cidade de Rafah, escreveu em uma mensagem de texto para um repórter. Foi a segunda vez nos últimos sete dias que ela e sua família foram para a fronteira na esperança de escapar antes da ameaça de invasão israelense em Gaza.

A confusão em Rafah foi apenas uma das vertentes do caos que tomou conta de Gaza desde que Israel impôs um bloqueio total e lançou ataques aéreos de retaliação após o ataque do grupo terrorista Hamas em 7 de outubro, que matou mais de 1.400 pessoas em Israel.

Os ataques aéreos mataram 2.750 pessoas, segundo o Ministério da Saúde da Palestina, e mais de meio milhão de habitantes de Gaza atenderam aos avisos israelenses de uma invasão iminente e fugiram de suas casas para o sul do enclave.

Israel cortou o fornecimento de combustível na semana passada, e não há mais energia suficiente para abastecer a única usina elétrica de Gaza. Isso, por sua vez, desligou as usinas de dessalinização, deixando o território com suprimentos de água cada vez menores.

As lojas foram esvaziadas de alimentos e suprimentos básicos. A ONU disse na segunda-feira que Gaza estava até mesmo ficando sem sacos para cadáveres.

Fadel Waheed, um engenheiro de software, fugiu com sua família da Cidade de Gaza, no norte, e também foi para a cidade de Khan Younis, no sul, há alguns dias. Eles não conseguiram encontrar um lugar para ficar, então ele passa a noite com dois de seus filhos em seu carro estacionado, enquanto seus outros dois filhos, sua esposa e seu pai dormem amontoados em um apartamento de 1.000 metros quadrados com dezenas de parentes.

Todos estão com fome. Quando o Waheed, 33 anos, conseguiu comprar macarrão em uma loja, ele e sua família tiveram que comê-lo seco - não havia gás para ferver água. O motorista de um caminhão de água permitiu que ele tomasse alguns goles do tanque por meio de uma torneira, mas se recusou a lhe vender água. Ele não troca de roupa há dias.

"O dinheiro não tem valor", disse Waheed em uma entrevista por telefone. "Haverá uma grande luta por água, comida e até remédios em dois dias."

Ele acrescentou: "Estou faminto, humilhado, desmaiado, oprimido e paralisado".

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O líder da oposição na Câmara dos Deputados, Zucco (PL-RS), protocolará nesta sexta-feira, 2, uma representação criminal contra o ministro da Previdência, Carlos Lupi, ao esquema no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que, segundo a Polícia Federal, causou um prejuízo de R$ 6,3 bilhões a milhares de aposentados.

O documento aponta a falta de ação do ministro, mesmo tendo conhecimento prévio do problema, e também pede que a investigação seja remetida ao Supremo Tribunal Federal (STF), se houver indícios, além do afastamento de Lupi do cargo.

"Não lhe faltavam atribuições legais e regimentais, nem muito menos ferramentas institucionais, aptas a municiar ações de acompanhamento e controle destinadas a coibir o escândalo de descontos ilegais nas aposentadorias", afirma Zucco.

Entre alguns dos argumentos dados pela oposição, Zucco aponta que Lupi foi informado em junho de 2023, que havia um aumento de denúncias de descontos sem autorização em aposentadorias e pensões do INSS e não tomou providências por dez meses, de acordo com as atas das reuniões do Conselho Nacional de Previdência Social.

Uma pesquisa AtlasIntel divulgada nesta quinta-feira, 1º., mostra que 85,3% dos brasileiros dizem que Lupi deveria ser demitido do cargo.

Até o momento, o governo sinaliza que Lupi deverá permanecer no cargo. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, defendeu a permanência de Lupi no governo, mas afirmou que se houver algo no futuro será afastado.

O líder do PDT na Câmara dos Deputados, Mário Heringer (MG) critica a condução do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nessa crise e o tratamento dado ao ministro da Previdência, Carlos Lupi. Segundo ele, a demissão do chefe da pasta também poderia levar à saída da bancada da base.

Na Câmara, a pressão sobre o governo e sobre Lupi crescem. Também na quarta-feira, a oposição protocolou um requerimento pedindo a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as fraudes. Cabe ao presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), abrir ou não a CPI.

Em audiência na Câmara nesta terça-feira, o ministro da Previdência, Carlos Lupi se defendeu e disse que não houve ações sobre as fraudes agora sob investigação em governos passados e afirmou que já está aparecendo quem são os mentores.

Pesquisa AtlasIntel divulgada nesta quinta-feira, 1º., mostra que 85,3% dos brasileiros dizem que o ministro da Previdência, Carlos Lupi, deveria ser demitido do cargo após a crise no Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), alvo de operação que apura um esquema que, segundo a Polícia Federal, causou um prejuízo de R$ 6,3 bilhões a milhares de aposentados.

A pesquisa também diz que 84,4% dos brasileiros "acompanharam bem o caso", ante 15,6% que sabem pouco do assunto. O levantamento ouviu mil brasileiros entre esta terça-feira, 29, e esta quinta-feira. A margem de erro é de três pontos porcentuais para cima ou para baixo.

A pesquisa também ouviu se os entrevistados conhecem ou não pessoas afetadas ou se eles próprias foram lesadas. O resultado mostra que 58% dos brasileiros não foram vítimas e nem conhecem prejudicados; outros 35,6% conhecem quem foi teve descontos indevidos em benefícios do INSS e outros 6,4% foram vítimas.

Até o momento, o governo sinaliza que Lupi deverá permanecer no cargo. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, defendeu a permanência de Lupi no governo, mas afirmou que se houver algo no futuro será afastado.

O líder do PDT na Câmara dos Deputados, Mário Heringer (MG) critica a condução do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nessa crise e o tratamento dado ao ministro da Previdência, Carlos Lupi. Segundo ele, a demissão do chefe da pasta também poderia levar à saída da bancada da base.

Na Câmara, a pressão sobre o governo e sobre Lupi crescem. Também na quarta-feira, a oposição protocolou um requerimento pedindo a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as fraudes. Cabe ao presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), abrir ou não a CPI.

Em audiência na Câmara nesta terça-feira, o ministro da Previdência, Carlos Lupi se defendeu e disse que não houve ações sobre as fraudes agora sob investigação em governos passados e afirmou que já está aparecendo quem são os mentores.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou o ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992) a cumprir pena em prisão domiciliar. Segundo a defesa, o ex-presidente ficará em Maceió.

A decisão tomada nesta quinta-feira, 1º, levou em consideração a idade e os problemas de saúde do ex-presidente. "A necessidade de tratamento específico admitem a concessão de prisão domiciliar humanitária", escreveu Moraes.

Collor terá que usar tornozeleira eletrônica e só poderá receber visitas de advogados, de médicos e da família. Moraes determinou a suspensão do passaporte do ex-presidente.

A defesa pediu a prisão domiciliar humanitária alegando que Collor enfrenta comorbidades graves e depende de medicamentos de uso contínuo.

Ao ser ouvido na audiência de custódia - horas depois de ser preso na madrugada de sexta passada, 25 -, no entanto, o ex-presidente negou ter problemas de saúde ou tomar remédios.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, foi a favor da prisão domiciliar "excepcional". Em parecer enviado ao STF, Gonet afirmou que a defesa comprovou a "gravidade" do quadro de saúde de Collor.

Por exigência de Moraes, os advogados tiveram que apresentar histórico médico, prontuários, laudos e exames que atestassem os problemas de saúde do ex-presidente.

O ministro afirma na decisão que houve a "constatação real da presença progressiva de graves sintomas não motores e motores" da Doença de Parkinson, "inclusive histórico de quedas recentes".

"A compatibilização entre a Dignidade da Pessoa Humana, o Direito à Saúde e a efetividade da Justiça Penal indica a possibilidade de concessão da prisão domiciliar humanitária à Fernando Affonso Collor de Mello, pois está em tratamento da Doença de Parkinson - há, aproximadamente, 6 (seis) anos", diz a decisão.

Collor foi preso para cumprir a condenação de 8 anos e 6 meses em um processo da Operação Lava Jato. Collor foi considerado culpado pelo recebimento de R$ 20 milhões em propinas da UTC Engenharia em troca do direcionamento de contratos de BR Distribuidora. Ele está detido no Presídio Baldomero Cavalcanti de Oliveira, em Maceió.

A prisão foi decretada por Alexandre de Moraes e depois confirmada pelo plenário do Supremo Tribunal Federal. O ministro considerou que não há mais recursos possíveis para reverter a condenação do ex-presidente e que os pedidos da defesa agora são apenas "protelatórios".