"Mulher branca, bonita e rica." É assim que se autodescreve a vereadora de São Paulo Cris Monteiro (Novo), de 63 anos, reeleita para mais um mandato no ano passado. Cris se envolveu em uma discussão nesta terça-feira, 29, ao proferir a frase citada anteriormente e dizer que uma pessoa com tais características "incomoda".
A declaração, dirigida a sindicalistas que acompanhavam a votação do reajuste dos servidores municipais, provocou forte reação da plateia e de parlamentares, e resultou em uma representação movida pela vereadora Luana Alves (PSOL) à Corregedoria da Casa.
Entre as três características atribuídas por Cris Monteiro a si mesma, uma pode ser comprovada por números: segundo declarou à Justiça Eleitoral ano passado, a vereadora possui mais de R$ 16 milhões em patrimônio, valor que segue mais ou menos inalterado desde a primeira eleição em que concorreu, em 2018. Candidata a deputada estadual por São Paulo, ela obteve 23.394 votos e ficou como suplente.
Nas eleições municipais de 2020, foi eleita para seu primeiro mandato na Câmara, com 18.085 votos, e no ano passado reeleita com quase o triplo da votação, 56.904.
Atualmente, a líder do partido Novo na Câmara possui entre seus bens uma casa em São Sebastião, litoral de São Paulo, de mais de R$ 1,5 milhão, um apartamento na capital paulista, fundos de investimento, ações no exterior, entre outros.
Segundo a autobiografia da vereadora, natural do Rio de Janeiro, ela nasceu em um bairro pobre e é filha de um taxista e de uma empregada doméstica, mas que ascendeu socialmente graças à educação. Formada em ciências contábeis, Cris conta que começou a trabalhar como recepcionista e depois conseguiu um emprego como bancária, quando também começou os estudos no nível superior.
Antes de entrar na política, a vereadora fez carreira no mercado financeiro, ocupando cargos de diretora de auditoria e compliance em bancos estrangeiros como JPMorgan, Goldman Sachs e Bank of America.
Ainda quando criança, Cris desenvolveu alopecia areata, condição que a fez perder o cabelo e hoje a vereadora usa peruca. Segundo ela, a doença autoimune fez com que sofresse bullying por não ter cabelo, o que a fez se afastar de outras crianças e se dedicar mais aos estudos, por influência do pai.
Entenda o caso
O caso ocorreu nesta terça-feira, 29, quando, na tribuna da Câmara, Cris Monteiro dirigiu-se a sindicalistas que acompanhavam a votação do reajuste dos servidores municipais e provocou forte reação da plateia e de parlamentares.
Durante o discurso, Cris repreendeu a vereadora Luana Alves (PSOL) que tentava confrontá-la, e disse: "Por favor, Luana, calada. Pode me devolver o tempo. Eu escutei todos vocês calada. (...) Agora, quando vem uma mulher branca aqui, falar a verdade para vocês, vocês ficam todos nervosos. Porque uma mulher branca, bonita e rica incomoda muito vocês". Em coro, servidores que acompanhavam a sessão das galerias gritaram "racista" após a declaração da vereadora do Novo.
Luana acionou nesta quarta-feira, 30, a Corregedoria da Câmara Municipal de São Paulo contra Cris, alegando que a conduta da colega configurou um ato de racismo e quebra de decoro parlamentar.
Em nota, Cris afirmou que "em nenhum momento teve a intenção de ofender qualquer pessoa" e que "sempre pautou sua atuação pelo respeito aos colegas parlamentares e à população de São Paulo".
Em 2021, a vereadora se envolveu em outra polêmica, em um episódio de agressão com a então vereadora Janaína Lima, à época também filiada ao Novo. A briga ocorreu no banheiro ao lado do plenário, durante a votação da reforma da Previdência.
Na ocasião, ambas pediram a cassação do mandato das outras na Corregedoria da Câmara Municipal - visto como desproporcional pelo relator - e registraram um boletim de ocorrência. Um relatório recomendando a suspensão das funções legislativas de ambas - Janaína e Cris - foi publicado pela Corregedoria em dezembro de 2022, mas a ação disciplinar não avançou.