Lula fala com famílias de reféns do Hamas após acusar Israel de genocídio e de matar 'milhões'

Internacional
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversou nesta quinta-feira, 26, com representantes das famílias dos reféns tomados pelo grupo terrorista Hamas durante os atentados de 7 de outubro em Israel e com famílias de brasileiros de origem palestina retidas na Faixa de Gaza. O encontro via videoconferência foi organizado pelo Planalto um dia depois de o presidente ter chamado a retaliação de Israel contra o Hamas de genocídio, e em meio a declarações conflitantes e imprecisas do presidente sobre o tema nas últimas semanas. A sequência de idas e vindas no discurso presidencial sobre Gaza repete um padrão observado em suas posições sobre a guerra da Ucrânia.

"Quero que vocês saibam que eu comungo do sentimento de vocês e me coloco ao lado de vocês para poder reivindicar a volta das pessoas que vocês amam e não participaram da guerra", disse Lula aos parentes das vítimas. "Contem com o governo brasileiro. Vou continuar conversando com todos os presidentes que for possível conversar para que a gente consiga soltar os reféns."

No dia anterior, durante a cerimônia de abertura do conselho da Federação, o presidente chamou de genocídio a morte de civis na Faixa de Gaza em consequência dos ataques israelenses, especialmente as crianças.

'Genocídio e milhões de mortes'

"É muito grave o que está acontecendo neste momento no Oriente Médio, ou seja, não se trata de ficar discutindo quem está certo, quem está errado, de quem deu o 1º tiro, quem deu o 2º. O problema é o seguinte aqui: não é uma guerra, é um genocídio que já matou quase 2 mil crianças que não têm nada a ver com essa guerra, que são vítimas dessa guerra", disse Lula.

Ele também disse, no programa Conversa com o Presidente, o petista exagerou nos números da operação de Israel em Gaza. "Não é porque o Hamas cometeu um ato terrorista contra Israel que esse país tem que matar milhões de inocentes", disse. "Todo dia, a gente vê Israel invadir a terra dos palestinos e a ONU não faz nada porque está enfraquecida."

Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, mais de 5 mil palestinos morreram nos ataques. Os números não podem ser identificados de maneira independente. Em Israel, 1,4 mil pessoas morreram nos atentados e 224 estão sendo mantidas reféns, segundo o governo local.

Reação

Entidades judaicas repercutiram as declarações de Lula. O Instituto Brasil-Israel emitiu nota dizendo que a atitude do presidente é bem-vinda, mas lamentou declarações anteriores do petista sobre o conflito.

"A decisão do Presidente de dialogar com o "Fórum de Famílias de Reféns e Desaparecidos" que estão em Israel, expressa empatia e uma preocupação humanitária legítima, amplamente majoritária no Brasil, no sentido de encorajar a libertação dos reféns como um importante passo para um cessar-fogo nesse terrível conflito", diz o texto.

"A despeito deste gesto, entendemos que a estratégia brasileira, ao tratar o Hamas como uma organização política, acaba por abrir mão da oportunidade de fortalecer a luta pela solução de dois Estados. "Também lamentamos as referências ao termo "genocídio" feitas pelo presidente. Entendemos que a banalização do termo não colabora para a solução justa da tragédia ora em curso em Gaza e em Israel", segue a nota.

Idas e vindas

No dia dos atentados, Lula publicou uma mensagem em seu Twitter condenando o terrorismo e os ataques, mas sem nomear o Hamas pelos atos daquele dia. Lula afirmou estar chocado com os ataques terroristas e repudiou o terrorismo e ações violentas, de todas as formas, defendendo negociações para a existência de um estado palestino, que possa viver pacificamente com Israel.

A hesitação em apontar o Hamas como autor dos ataques, no entanto, bem como a manutenção da posição histórica do Itamaraty em adotar apenas a classificação do Conselho de Segurança da ONU para grupos terroristas, da qual o grupo não faz parte, provocou ruídos dentro do governo, tanto em círculos políticos quanto diplomáticos.

Na semana passada, pressionado, o presidente passou a condenar mais diretamente a ação do Hamas. Associou o grupo ao terrorismo, mas ao mesmo tempo, qualificou de insana a reação israelense.

"Fico lembrando que 1500 crianças já morreram na Faixa de Gaza, 1500 crianças que não pediram para o Hamas fazer o ato de loucura que fez, de terrorismo, atacando Israel. Mas também não pediram para que Israel reagisse de forma insana e matasse eles, justamente aqueles que não tem nada a ver com a guerra, que só querem viver, brincar, que não tiveram o direito de ser criança", afirmou Lula, de improviso.

Ucrânia

As falas contraditórias e muitas vezes de improviso do presidente no campo da política externa têm gerado ruídos não apenas no caso do Oriente Médio como também na guerra da Ucrânia.

Ainda na campanha, no ano passado, o petista disse que a Ucrânia, que teve o território invadido e ocupado, tinha tanta culpa pela guerra quanto a Rússia. Mais recentemente, provocou polêmica ao dizer que o presidente russo Vladimir Putin não seria preso e entregue ao Tribunal Penal Internacional (TPI) caso viesse ao Brasil, o que é inviável juridicamente.

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A Justiça do Distrito Federal condenou nesta terça-feira, 29, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) ao pagamento de R$ 200 mil por danos morais coletivos. A sentença é resultado de uma ação civil pública movida contra o parlamentar após um discurso considerado ofensivo à população trans. Procurado, o deputado não retornou.

Em março de 2023, durante uma sessão na Câmara dos Deputados, Nikolas usou uma peruca e se apresentou como "deputada Nikole". Na ocasião, ele afirmou, em tom irônico, que se sentia uma mulher e que, por se considerar de "gênero fluido", bastava colocar ou tirar a peruca para se transformar na "deputada Nikole".

"As mulheres estão perdendo seu espaço para homens que se sentem mulheres", disse o parlamentar. Ele também afirmou que empresas estariam deixando de contratar mulheres para dar lugar a "homens que se sentem mulheres", em referência à população trans.

Na sentença, a juíza Priscila Faria da Silva, da 12ª Vara Cível de Brasília, considerou que o discurso do deputado mineiro ultrapassou os limites do direito à livre manifestação do pensamento e constituiu "verdadeiro discurso de ódio", na medida em que descredibiliza a identidade de gênero assumida pela população transsexual e insuflam a sociedade a fazer o mesmo.

"A ausência de termos explicitamente ofensivos não desnatura o cunho discriminatório do discurso, evidenciado desde a utilização de uma peruca para escarnecer a transição de gênero por que passam os indivíduos transsexuais até a propagação da ideia de que a existência de mulheres trans põe em risco direitos como a segurança e a liberdade de mulheres cisgênero", escreveu a magistrada na decisão.

A juíza da 12ª Vara Cível de Brasília julgou parcialmente procedentes os pedidos apresentados pela Aliança Nacional LGBTI+ e pela Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas (Abrafh), ao considerar que as declarações de Nikolas Ferreira configuraram dano moral coletivo.

Porém, ela reduziu significativamente o valor da indenização solicitado pelas entidades. Na ação, as associações pediam o pagamento de R$ 5 milhões. Como a decisão foi em primeira instância, cabe recurso.

Essa não foi a primeira vez que Nikolas foi condenado em uma ação do tipo. Em abril de 2023, o deputado federal foi sentenciado pela Justiça de Minas Gerais a pagar uma indenização de R$ 80 mil à também parlamentar Duda Salabert (PDT-MG), por danos morais.

Na ocasião, o juiz José Freitas Véras, da 33ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte, entendeu que Nikolas cometeu ato ilícito passível de responsabilização ao se negar a reconhecer a identidade de gênero de Duda, que é uma mulher transexual.

O presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Juliano Lopes (Podemos), promulgou, nesta segunda-feira, 28, a lei que cria o auxílio-alimentação para vereadores no valor de R$ 2.374. O texto, publicado nesta terça-feira, 29, no Diário Oficial do Município, determina ainda um aumento de 10% no salário dos servidores da Casa.

A Lei 11.849/2025 entra em vigor imediatamente e já será pago a partir o próximo dia 1.º. Hoje, apenas os servidores efetivos e comissionados recebiam, por dia útil, R$ 49,68, para jornadas de até 6h, e R$ 63,24 para aqueles que trabalhavam em jornadas de 8h. Os parlamentares, até então, não recebiam nenhum valor para alimentação.

O texto é de autoria dos vereadores da Mesa Diretora da Câmara e foi aprovado, em março deste ano, com 37 votos a favor e apenas três contrários: os três vereadores do Novo, Braulio Lara, Fernanda Altoé e Marcela Trópia.

De acordo com os cálculos apresentados no projeto, o reajuste salarial de servidores e o novo valor de vale-alimentação, para os anos de 2025, 2026 e 2027, representam um impacto orçamentário de R$ 32,7 milhões neste ano.

Em 2026, o gasto total estimado será de R$ 50,6 milhões. E em 2027, R$ 62,7 milhões. Nos três anos, o impacto total será de R$ 146 milhões.

Os servidores, que recebiam cerca de R$ 1.250 mensais em auxílio-alimentação, também passaram a receber o valor de R$ 2,3 mil, um aumento de 89,9%.

O reajuste de 10% nos salários dos servidores não se estende aos vereadores. Os parlamentares da capital mineira recebem R$ 18.402,02 mensais.

De acordo com o projeto aprovado na Câmara, o objetivo da lei é "demonstrar que a gestão valoriza os serviços desempenhados e reconhece a importância do trabalho desenvolvido como fundamental para o exercício da atividade legislativa".

"Além disso, a alteração no valor e forma de cálculo do auxílio-alimentação é uma forma de compensar os efeitos negativos da inflação e do custo dos alimentos na cidade de Belo Horizonte e se alinha com a praxe administrativa de órgãos de referência que concedem o auxílio-alimentação da mesma maneira que a CMBH passará a conceder, como Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Ministério Público de Minas Gerais, Assembleia Legislativa de Minas Gerais e Tribunal de Contas de Minas Gerais", diz o texto da proposta aprovada.

A Polícia Federal concluiu as investigações sobre o atentado ocorrido em novembro de 2024, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, nas proximidades do Supremo Tribunal Federal (STF). As investigações apontam que o autor, Francisco Wanderley Luiz, o Tiü França, agiu sozinho, "sem participação ou financiamento de terceiros", e que a motivação do crime foi "o extremismo político".

Na noite de 13 de novembro, Francisco se matou ao explodir uma bomba junto à sua cabeça em frente à estátua da Justiça, na Praça dos Três Poderes.

Em nota divulgada nesta terça, 29, a PF informou que recorreu a diversos meios de prova, com destaque para a análise das comunicações e dos dados bancários e fiscais, exames periciais em todos os locais vinculados aos fatos, reconstituição cronológica das ações do autor antes e durante o atentado e, ainda, os depoimentos de mais de uma dezena de testemunhas.