Chefe do Hezbollah exalta ataque do Hamas e chama conflito com Israel de 'guerra santa'

Internacional
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Em Beirute, uma multidão acompanhava o esperado discurso de Hassan Nasrallah, chefe do grupo radical islâmico Hezbollah, que é financiado pelo Irã e tem trocado disparos com Israel na fronteira com o Líbano. A expectativa era grande, e não só na capital libanesa: o mundo inteiro observou com atenção, em meio ao temor de que a guerra pudesse ganhar uma nova escala com a entrada oficial do Hezbollah no conflito - o que não aconteceu, pelo menos até agora.

"Todas as opções estão na mesa. Devemos estar preparados para todas as possibilidades no futuro", ameaçou Nasrallah. "O desenvolvimento na fronteira com o Líbano depende do que vai acontecer em Gaza."

Apesar de negar qualquer envolvimento no ataque terrorista do Hamas, exaltado por ele como uma "operação bem-sucedida", o chefe do Hezbollah disse que eles entraram na batalha no dia seguinte, com os disparos na fronteira que "podem parecer modestos, mas são muito significativos", pois, segundo ele, tiram o foco de Gaza e obrigam Israel a manter tropas também no norte do país.

"A operação de 7 de outubro (o ataque terrorista do Hamas a Israel) foi planejada em total sigilo, nem outras facções palestinas tiveram conhecimento, muito menos os movimentos de resistência em outros países", disse ele. "A comunidade internacional continua trazendo à tona o Irã, mas o 7 de outubro foi uma operação 100% palestina, planejada e executada por palestinos para a causa palestina, sem qualquer relação com questões internacionais ou regionais", acrescentou, antes de exaltar a chamada Operação Inundação Al-Aqsa - nome dado pelo Hamas ao ataque terrorista - como "certa, corajosa e no tempo certo".

Nasrallah definiu o conflito como "guerra santa", saudou o que chamou de mártires, criticou a comunidade internacional por "ignorar os crimes de Israel contra os palestinos" e alegou que civis de Israel teriam sido mortos pelos próprios militares israelenses, não pelos terroristas do Hamas, no dia 7 de outubro.

Discurso mais 'moderado' que o esperado

Em resumo, o recado foi o seguinte: o Hezbollah apoia o Hamas, mas não vai entrar na guerra de maneira efetiva, como se temia. Analistas ouvidos pelo Estadão acreditam que esse discurso mais "moderado" que o esperado é o resultado de pressões externas.

O professor de Relações Internacionais da ESPM Leonardo Trevisan acredita que uma operação de bastidores de Estados Unidos e China teve impacto sobre o Irã, o grande ator por trás dos radicais islâmicos. E lembra que o chanceler chinês, Wang Yi, esteve em Washington na semana passada para discutir interesses em comum com os EUA, como a contenção da crise no Oriente Médio.

"É evidente que o Hezbollah atua por procuração do Irã", pontua Trevisan. "E o Irã não tem nenhum interesse de queimar a aproximação com a China, que de alguma forma se comprometeu em atuar junto a diplomacia americana para conter os ânimos no Oriente Médio. Isso não significa uma declaração de paz entre Washington e Pequim, mas a escalada do conflito não interessa aos EUA, e muito menos a China, que precisa retomar o seu crescimento e sofreria com os impactos que uma guerra ampliada no Oriente Médio teria com a explosão do preço do petróleo e o enfraquecimento da atividade econômica no mundo inteiro".

O professor do IBMEC, Christopher Mendonça concorda que o tom "ameno" para o Hezbollah, que é um grupo extremista islâmico, tem a ver com atores externos, mas acredita que essa pressão vem do mundo árabe, que não se mostrou disposto a entrar na guerra. "O grande medo dos árabes mais moderados é a escalada do conflito, que já entrou em uma fase crítica com a incursão terrestre de Israel na Faixa de Gaza. Não há interesse em uma guerra regional", aponta o professor.

Embora essa espiral da violência pelo Oriente Médio não interesse a ninguém, Mendonça acredita que ainda é cedo para descartar uma aliança de grupos extremistas em apoio ao Hamas, como sugeriu Nasrallah ao deixar em aberto que "considerada todas as possibilidades".

"Israel já anunciou o cerco à Cidade de Gaza e deixou claro que não vai retroceder. Os bombardeios tem se intensificado e as imagens que chegam do enclave palestino podem despertar o sentimento de vingança da chamada irmandade mulçumana. Não descarto que ainda possa haver uma unificação desses grupos", alertou.

Para o analista, alguns pontos do discurso evidenciam que o Hezbollah ainda representa uma ameaça. Exemplos disso são a crítica à defesa de Israel, que Nasrallah chamou de "mais fraca que uma teia de aranha" ou o tom desafiador com os Estados Unidos, resumido na afirmação de que o grupo extremista não será "intimidado" pelos EUA, nem pelos navios de guerra que posicionou no Oriente Médio.

O poder de fogo do Hezbollah

O Hezbollah é um grupo radical islâmico, que tem atuado politicamente no Líbano e mantém o controle sobre parte do país, mesmo depois de uma recente derrota eleitoral. Mas é também uma força paramilitar, que opera com financiamento do Irã e se envolveu em atentados nas últimas décadas.

A força estimada do Hezbollah é de 50 mil a 100 mil combatentes, além de um vasto arsenal com 200 mil armas, incluindo mísseis de alta precisão, aponta o Instituto de Estudos para Segurança Nacional, think tank com sede em Tel-Aviv. "Isso tudo exige que estejamos em alerta contínuo para as intenções do Hezbollah", destacou o analista associado ao instituto Yehoshua Kalisky, em artigo publicado no mês passado, depois do ataque terrorista do Hamas que matou mais de 1,4 mil pessoas em Israel.

Um conflito com o Hezbollah não seria inédito. Em 2006, as tropas de Israel invadiram o sul do Líbano, depois que os radicais islâmicos lançaram foguetes na fronteira e sequestraram dois soldados israelenses. O conflito se arrastou por 34 dias e matou quase 1,2 mil pessoas, apontou uma investigação conduzida pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU.

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O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta sexta-feira, 14, manter a suspensão da rede social Rumble no Brasil. A Primeira Turma da Corte acompanhou o voto do relator, ministro Alexandre de Moraes, que determinou o bloqueio da plataforma de vídeos no país.

Moraes suspendeu a Rumble após a empresa descumprir a determinação judicial que exigia da empresa a indicação de um representante legal no Brasil, o que não ocorreu. O bloqueio é por tempo indeterminado e permanecerá em vigor até que a plataforma cumpra a determinação e pague as multas estipuladas. Os ministros Luiz Fux, Cármen Lúcia, Cristiano Zanin e Flávio Dino votaram para manter a decisão de Moraes.

O embate entre o ministro e a Rumble teve início após a plataforma se recusar a bloquear o perfil do blogueiro Allan dos Santos, que está foragido das autoridades brasileiras. Investigado por disseminação de fake news e ataques a integrantes do STF, Santos já teve seus perfis suspensos em outras redes sociais.

O CEO da Rumble, Chris Pavlovski, reagiu à decisão no X (antigo Twitter), afirmando que não acataria a ordem judicial. "Em vez disso, nos veremos no tribunal. Atenciosamente, Chris Pavlovski", publicou.

O comentário faz referência a uma ação movida pelo Rumble e pela Trump Media - empresa ligada ao ex-presidente Donald Trump - contra Moraes nos Estados Unidos, que acusam o ministro de violar a soberania americana.

Na decisão que determinou o bloqueio da plataforma, Moraes criticou a postura de Pavlovski, afirmando que o empresário "confunde liberdade de expressão com uma inexistente liberdade de agressão, confunde deliberadamente censura com proibição constitucional ao discurso de ódio e de incitação a atos antidemocráticos".

O ministro também ressaltou que redes sociais não podem ser usadas como "escudo" para justificar atividades ilícitas.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, arquivou todas as denúncias feitas pela oposição contra Rosângela da Silva, a Janja, que questionavam e pediam investigações sobre os gastos da primeira-dama em viagens internacionais. A informação foi publicada pela Folha de S. Paulo e confirmada pelo Estadão.

"As representações oferecidas não expõem elementos de desvio de recursos públicos, mas juízos de inconformismo com custos de atividades, ao que se nota, tornados públicos, como devido. Não se tem aqui tema de legalidade apurável no âmbito da competência do Ministério Público", diz trecho da decisão publicada pelo jornal.

Gonet afirmou ainda que a participação de Janja nos eventos oficiais é prevista e que o presidente da República pode delegar ao cônjuge esse tipo de ato protocolar, quando propiciarem "melhores resultados diplomáticos".

O procurador-geral da República citou como exemplo a mulher do ex-presidente Getúlio Vargas, afirmando que não há novidade na atuação de Janja. "É inegável, além disso, a consolidação da tradição no Brasil e em outros tantos países do papel social desempenhado pelas suas assim chamadas primeiras-damas. Entre nós, lembre-se, a mero título exemplificativo, de Darcy Vargas, mulher do presidente Getúlio Vargas, a quem se liga a criação e a direção da Legião Brasileira de Assistência (LBA), de fins assistenciais", escreveu.

Como mostrou o Estadão, parlamentares de oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acionaram tanto a Controladoria-Geral da União (CGU) quanto o Tribunal de Contas da União (TCU) para que investigassem as viagens internacionais de Janja, com passagens na classe executiva.

Em fevereiro, a primeira-dama esteve em Roma, na Itália, onde participou de eventos do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida) e se encontrou com o Papa Francisco. As passagens de ida e volta da primeira-dama custaram R$ 34,1 mil.

Janja costuma ser alvo de críticas tanto pelas viagens internacionais representando o Brasil, como por não ter um cargo formal no governo, mas utilizar estrutura e verbas públicas. Como mostrou o Estadão, o "gabinete informal" gerido pela primeira-dama tem pelo menos 12 integrantes, e já gastou ao menos R$ 1,2 milhão em viagens desde o começo do terceiro mandato de Lula.

As críticas provocaram mudanças no comportamento da primeira-dama, como, por exemplo, passar a divulgar seus compromissos nas redes sociais. Janja também desistiu de viajar a Nova York, nesta semana, para chefiar a delegação brasileira e discursar representando o Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU).

O Tribunal de Contas da União (TCU) abriu cinco auditorias nos comitês de cultura criados pelo governo federal após suspeitas de uso político e eleitoral das estruturas pelo partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As representações foram protocoladas por parlamentares da oposição ao governo no Congresso e tramitam sob a relatoria do ministro Augusto Nardes.

Em paralelo, os congressistas preparam um pacote de medidas para pressionar a pasta da ministra Margareth Menezes. Como revelou o Estadão, os comitês estão ligados a ações partidárias e eleitorais, embora tenham sido criados no âmbito de uma política pública que vai custar R$ 59 milhões em dois anos.

Puxados por integrantes do PL, os integrantes da oposição discutem convocação da ministra da Cultura, a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e a criação de uma comissão externa para acompanhar o caso.

O líder da oposição na Câmara, deputado Luciano Zucco (PL-RS), considera inadmissível o governo utilizar o aparato estatal para promover agendas ideológicas específicas.

"Tal prática fere os princípios da impessoalidade e da moralidade administrativa previstos na Constituição Federal. Enquanto isso, os verdadeiros artistas e produtores culturais do Brasil estão sendo excluídos de políticas públicas que poderiam fomentar a arte e a geração de empregos no setor cultural", disse.

Para além das possíveis criações de comissões, opositores realizaram uma série de pedidos de informações ao Ministério da Cultura em busca de esclarecimentos e como forma de pressão sobre a pasta. O deputado Kim Kataguiri (União-SP) já pediu a abertura de uma investigação pela Procuradoria-Geral da República.

"Caso essa grave situação seja confirmada, configura-se um potencial desvio de finalidade e a utilização indevida de recursos públicos, em afronta aos princípios da legalidade, moralidade e impessoalidade, bem como às normas da legislação eleitoral, que vedam expressamente o emprego de verbas públicas em campanhas eleitorais", destacou a senadora Damares Alves (Republicanos-DF).

Em nota, o Ministério da Cultura informou que não existe impedimento a ONGs dirigidas por militantes partidários, "desde que não envolvam membros de Poder ou servidores públicos responsáveis pelo edital". A pasta também acrescentou que o "modelo do PNCC fortalece o controle social e a fiscalização cidadã, afastando riscos de instrumentalização partidária".

No TCU, os processos de auditoria abertos foram iniciativas do senador Rogério Marinho (PL-RN) e dos deputados Carlos Jordy (PL-RJ), Carla Zambelli (PL-SP), delegado Caveira (PL-PA) e Ubiratan Sanderson (PL-RS).