Tensão aumenta entre Venezuela e Guiana em disputa por território; entenda

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A disputa é secular e voltou à tona com a descoberta de petróleo na Guiana, que passou a ter um dos crescimentos econômicos mais rápidos do mundo. A ditadura de Nicolás Maduro na vizinha Venezuela agora insiste que parte desse território é seu por direito e convocou um referendo, que acirra a tensão na América do Sul.

A votação está marcada para o 3 de dezembro, quando os venezuelanos terão que responder se apoiam a criação do Estado chamado "Guiana Essequiba". No último domingo, os eleitores foram convocados para uma simulação do referendo. A Venezuela celebrou o ensaio geral como um "sucesso", sem dar mais detalhes do comparecimento às urnas.

A anexação do território de 160.000 quilômetros quadrados já foi antecipada em mapas divulgados pela ditadura e prevê que os seus 125 mil habitantes recebam cidadania venezuelana. Esse novo Estado que a Venezuela quer para si, da fronteira até o Rio Essequibo, corresponde a 75% do que hoje é a Guiana. É um território do tamanho da Tunísia, rico em ouro diamantes e petróleo.

O presidente da Guiana, Irfaan Ali, diz esperar que a "sensatez" prevaleça, mas que está preparado se Caracas escolher escolher o caminho da "imprudência".

Escalada da crise

O referendo é uma resposta da Venezuela ao leilão de exploração de petróleo anunciado pela Guiana este ano. Caracas alega que Georgetown não tem o direito de lançar concessões em áreas marítimas na região e lançou a ofensiva.

Esse é o ponto mais alto da disputa que se intensifica desde 2015. Naquele ano, a crise na Venezuela já dava o sinais do colapso que estava por vir. Enquanto a inflação disparava e o governo se afundava em dívidas, o ditador Nicolás Maduro prometia uma "grande vitória": a retomada do Essequibo.

A Guiana havia fechado um acordo de perfuração com a americana Exxon Mobil, depois de uma "descoberta significativa" de petróleo, que já chega a 11 milhões de barris. Em 2018, o caso foi parar na Corte Internacional de Justiça e a disputa, que tem raízes históricas, parece longe de uma solução.

As origens do conflito

Após declarar independência da Espanha, em 1811, a Venezuela avançou em direção ao rio. Acontece que, três anos depois, o Reino Unido assumiu o controle do que hoje é Guiana, em um acordo com a Holanda. A definição das fronteiras ficou em aberto e a coroa Britânica abocanhou o território em disputa.

Nas décadas seguintes, a Venezuela passou a disputar a fronteira e recorreu à ajuda dos Estados Unidos, algo que hoje seria impensável. A saída diplomática veio em 1899, quando foi convocado um tribunal composto por dois americanos (indicados pela Venezuela), dois britânicos e um russo para o desempate. Ficou decidido que o território pertencia a então Guiana inglesa.

Cinco décadas mais tarde, a Venezuela voltou a contestar o território alegando que o juiz russo fez parte de um complô com os britânicos. A discussão se arrastou até 1966, quando um acordo firmado em Genebra, meses antes da independência da Guiana, abriu o caminho para uma solução negociada, mas nunca houve consenso.

Agora, a Guiana pede à Corte Internacional de Justiça que a decisão de 1899 seja mantida enquanto a Venezuela usa a brecha de 1966 para reivindicar o território.

"Recorremos ao acordo de Genebra, que se firmou quando o Reino Unido decidiu dar a independência a Guiana, segundo o qual as partes se comprometem a buscar uma solução prática", justificou Nicolás Maduro em vídeo que celebrava os 55 anos da negociação. "Então esse território historicamente e legalmente é venezuelano, todo ele, até o rio Essequibo", concluiu.

Brasil pede diálogo

Com o anúncio do referendo, a Guiana voltou à Corte Internacional de Justiça para avisar que enfrenta uma "ameaça existencial" e pediu um recurso urgente contra a votação na Venezuela. Em audiência na semana passada, o representante de Caracas disse que esse é um assunto "doméstico" e que nada vai impedir o referendo.

Diante do impasse, os ministros da Defesa e das Relações Exteriores de todos os países sul-americanos, incluindo representantes de Georgetown e Caracas, se reuniram esta semana em Brasília.

"Os delegados da Guiana e da Venezuela apresentaram suas posições, e os outros países os pediram para que cheguem a um entendimento por meio de canais diplomáticos e resolvam suas disputas pacificamente", relatou o chanceler brasileiro Mauro Vieira, o anfitrião do encontro.

Oposição acusa Maduro de 'distração' antes da eleição

Em pesquisa divulgada nesta quinta-feira, 23, na estatal Telesur, 57% dos venezuelanos defenderam a união na disputa pelo Essequibo, independente das posições políticas. Apesar do apoio popular, essa não é uma unanimidade na Venezuela. A líder da oposição María Corina Machado pede que o referendo seja suspenso e acusa Nicolás Maduro de usar a disputa para criar uma "distração" antes da eleição geral marcada para 2024.

Em acordo costurado pelos Estados Unidos, o regime se comprometeu em garantir uma votação justa. Em troca, a Casa Branca relaxou parte das sanções importas à Caracas. A oposição foi às primárias com essa garantia e escolheu María Corina Machado como candidata com mais de 90% dos votos, mesmo com a líder de centro-direita impedida de assumir cargos públicos por 15 anos.

No entanto, em mais um golpe para oposição, o Tribunal Supremo de Justiça suspendeu "todos os efeitos" das primárias, depois que aliados de Nicolás Maduro alegaram supostas irregularidades no processo. A decisão é vista pelos opositores como quebra o acordo e aumenta a incerteza que paira sobre a eleição do ano que vem. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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O governo federal anunciou há pouco que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta sexta-feira, 2, o pedido de demissão do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, em meio ao desgaste do governo com a revelação de fraudes bilionárias no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A decisão foi tomada durante audiência no Palácio do Planalto. Para o lugar de Lupi, o presidente convidou o atual secretário-executivo da pasta, Wolney Queiroz, que assumirá o comando do ministério.

A exoneração de Lupi e a nomeação de Wolney,ex-deputado pelo PDT, serão publicadas ainda hoje em edição extra do Diário Oficial da União. O movimento marca a primeira mudança formal no alto escalão do governo desde que veio à tona a investigação sobre irregularidades na concessão de descontos em benefícios previdenciários.

Na semana passada, a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram a Operação Sem Desconto, que apura um esquema de deduções indevidas em contracheques de aposentados e pensionistas do INSS. Segundo os investigadores, o total de descontos sem autorização chega a R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024. Considerando dados desde 2016, o montante pode chegar a quase R$ 8 bilhões.

Lupi vinha sendo pressionado nos bastidores desde que o escândalo ganhou visibilidade. A fraude se baseava em adesões forjadas a associações e serviços, gerando descontos automáticos e indevidos nos benefícios pagos pelo INSS. Os alvos da operação incluíram servidores, empresas e entidades beneficiadas com os valores desviados.

O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, pediu demissão do cargo nesta sexta-feira, 2, após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A saída é consequência do escândalo dos descontos indevidos de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Lupi anunciou seu desligamento por meio de uma publicação na rede social. "Tomo esta decisão com a certeza de que meu nome não foi citado em nenhum momento nas investigações em curso", disse.

Para o lugar de Lupi, Lula convidou o atual secretário-executivo da pasta, Wolney Queiroz, que também é um quadro do PDT de Carlos Lupi. A exoneração e a nomeação serão publicadas ainda nesta sexta no Diário Oficial da União.

O Palácio do Planalto avaliou a permanência de Carlos Lupi como insustentável porque o desligamento de Alessandro Stefanutto da presidência do INSS não aliviou a pressão sobre o governo.

Lupi e o partido dele, o PDT, também estavam incomodados com a maneira como o Planalto estava encaminhando a solução da crise. O substituto de Stefanutto no INSS, o procurador Gilberto Waller, foi escolhido à revelia do ministro, ao qual o órgão é ligado.

O nome é fruto de uma ordem de intervenção de Lula, que se envolveu pessoalmente para tentar conter a crise. Entretanto, as dimensões do escândalo já fizeram dele uma fonte munição política contra o governo no Congresso.

A oposição protocolou pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara. A instalação depende do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB). Em paralelo, os opositores articulam, para a próxima semana, um pedido de CPI Mista, que abrange a participação de deputados e senadores. A iniciativa é encabeçada pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI).

A Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) realizaram, em 23 de abril, a Operação Sem Desconto, fruto de uma investigação que aponta um esquema fraudulento de deduções indevidas em benefícios de aposentados e pensionistas do INSS.

Associações e sindicatos faziam descontos em folha dos benefícios a partir de acordos de cooperação técnica firmados com o INSS. Em muitos casos, as retiradas mensais ocorriam sem qualquer aval ou ciência do beneficiário.

O valor estimado em cobranças irregulares soma R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024, segundo a PF. Se retroagir a data até 2016, esse valor sobe para quase R$ 8 bilhões referentes a descontos sem autorização. Apesar de o esquema não ter sido instituído neste governo, a investigação aponta um salto no volume descontado a partir de 2023.

A investigação da PF não aponta responsabilidade de Carlos Lupi no êxito das fraudes. No entanto, ele tem sido cobrado por uma suposta omissão diante de alertas recebidos desde 2023 de órgãos como o Tribunal de Contas da União (TCU), Controladoria-Geral da União (CGU), do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS), de auditores do próprio INSS e da imprensa. O inquérito da PF foi aberto a partir de reportagens do site Metrópoles.

Lupi rechaça as acusações de omissão e alega que uma auditoria realizada pelo órgão seria a "prova cabal" de que ele agiu para evitar desvios indevidos no pagamento de aposentadorias. A auditoria foi realizada depois do surgimento das denúncias.

Os indícios de desvios foram relatados em uma reunião do CNPS ainda em 2023 por uma conselheira, mas não foram tratados como prioridade. Em sua defesa, Lupa afirmou que o problema foi apresentado "sem nenhum documento como prova para discutir os abusos que poderiam estar sendo executados".

"Eu pedi, à época, que o INSS, que é a instituição responsável pela ação dessa política pública, começasse a apurar as denúncias apresentadas. Levou-se tempo demais", declarou, durante reunião do CNPS realizada na segunda-feira, 28.

O governo suspendeu todos os convênios com as entidades investigadas e informou que os valores retirados indevidamente serão restituídos aos aposentados.

A troca no Ministério da Previdência é a 11ª mexida no primeiro escalão do atual mandato de Lula e a terceira motivada por envolvimento em algum escândalo. Sílvio Almeida, dos Direitos Humanos, foi desligado por investigação sobre assédio sexual e Juscelino Filho, das Comunicações, saiu após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por corrupção.

O presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), defendeu em entrevista à Rádio Eldorado nesta sexta-feira, 2, que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) indique ainda neste ano quem deverá disputar a eleição presidencial de 2026 pelo seu grupo político. O ex-chefe do Executivo federal está inelegível até 2030.

Ciro Nogueira afirmou que a definição ajudaria nos preparativos para a campanha se o escolhido for alguém que esteja exercendo algum mandato agora, como o de governador.

Na avaliação de Ciro, a definição só ficaria para o ano que vem em caso de escolha de alguém da família do ex-presidente para a disputa.

À Rádio Eldorado, Ciro Nogueira também negou o envolvimento de Bolsonaro com a tentativa de golpe de Estado após a eleição de Lula, alegando ter recebido ordens do ex-presidente, como seu ministro da Casa Civil, para conduzir a transição para o novo governo.

Bolsonaro está inelegível desde junho de 2023 quando o Tribunal Superior Eleitoral condenou o ex-presidente por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, pela reunião com embaixadores em que atacou o sistema eleitoral do País, sem apresentar nenhuma prova. Em outubro do mesmo ano, ele foi condenado mais uma vez, por abuso de poder político durante o feriado de 7 de Setembro em 2022, por usar a data para fazer campanha eleitoral, segundo o entendimento dos magistrados.

Fraude no INSS e União Progressista

O presidente do PP também anunciou que deve ser apresentado no Senado, na próxima semana, um pedido de instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para apurar fraudes no INSS. Já há um requerimento nesse sentido na Câmara, mas Ciro argumenta que, no caso de uma comissão mista, a instalação é obrigatória e mais rápida.

Questionado se a apuração também envolveria o governo de Jair Bolsonaro, já que as investigações da Polícia Federal apontam que já existia um esquema de descontos de aposentadorias e pensões naquele período, o senador disse que a CPMI deveria investigar "o tempo que for necessário".

Ciro afirmou, ainda, ser favorável à saída do governo Lula dos quatro ministros que são do União Brasil e do PP. Os dois partidos anunciaram nesta semana a formação de uma nova federação, chamada União Progressista, que terá a maior bancada na Câmara e no Senado.