Cercado de dúvidas sobre apoio aos seus planos, Milei assume hoje

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O motorista de aplicativo Ernesto Damian, de 29 anos, votou em Javier Milei nos dois turnos das eleições presidenciais porque quer uma mudança de rumo para a Argentina. No entanto, agora que seu candidato se tornou presidente, ele tem dúvidas sobre o que de fato o libertário conseguirá fazer. Damian não está sozinho: o mercado financeiro, a indústria, o agronegócio, os economistas, os analistas políticos e até o Fundo Monetário Internacional (FMI) têm desconfianças sobre como Milei se comportará no comando da Casa Rosada.

"Não concordo com tudo o que ele diz, mas ninguém nunca vai concordar 100% com alguém. Mas temos

que dar uma chance para ele tentar fazer diferente. Vamos ver se vai conseguir", diz o motorista.

Milei foi eleito com uma campanha em que prometeu medidas radicais para tentar conter a crise

econômica. Conforme o jornal Clarín, ele prepara um pacote que será anunciado amanhã e

prevê corte de gastos, aumento de impostos, privatizações e desvalorização da moeda. Não se sabe,

porém, qual será o tamanho do apoio político ao recém-eleito para levar adiante seus planos.

Embora sua vitória tenha sido avassaladora nas urnas em 19 de novembro, com 11 pontos de

diferença para Sergio Massa, sua base de apoio é minúscula. No Congresso, seu partido, o A

Liberdade Avança (LLA), tem 38 cadeiras, exigindo que o libertário construa alianças não só com

partidos de direita, como o Proposta Republicana (PRO), de Mauricio Macri, e o União Cívica

Radical (UCR), mas também com peronistas, especialmente os antikirchneristas, do cordobês Juan

Schiaretti.

"Os primeiros sinais que Milei deu foram de que nem todos do A Liberdade Avança saíram ganhando

com as mudanças e a composição de gabinetes. E que nem todo o peronismo e o PRO perderam", diz o

cientista político da Universidade de Buenos Aires (UBA), Facundo Galván.

No seu gabinete, que será empossado hoje, Milei deixou de incluir nomes de peso do seu partido,

como Ramiro Marra e Carolina Píparo. Ao mesmo tempo, deu cargos relevantes ao PRO, com Patricia

Bullrich (que ficou em terceiro na disputa presidencial), que será ministra da Segurança, e Luis

Caputo, futuro ministro da Economia. Em nome da governabilidade, o libertário teve ainda de abrir

mão de uma de suas pautas mais caras: a dolarização imediata da economia.

Além de Patricia e Caputo, até o momento os nomes confirmados por Milei por meio de comunicados

na rede social X (antigo Twitter) são: Nicolás Posse, como chefe de Gabinete; Luis Petri (vice de

Patricia) na Defesa; Guillermo Francos, no Interior; Guillermo Ferraro, na Infraestrutura; Diana

Mondino, nas Relações Exteriores; Mariano Cúneo Libarona, na Justiça; Sandra Petovello, no

Capital Humano - que concentrará Educação, Trabalho e Desenvolvimento Social -; e Mario Russo, na

Saúde, ministério que Milei havia prometido extinguir.

Também houve definições para as presidências da Câmara e do Senado, bem como órgãos de extrema

relevância, como Anses (assistência social), YPF (estatal do petróleo) e Banco Central - que

também seria extinto, segundo a promessa de Milei na campanha.

Os cargos foram distribuídos entre libertários, macristas e peronistas.

MISTÉRIO. Para o economista Fabio Rodriguez, da UBA, as duas grandes incógnitas de Milei

até agora são seu plano econômico e seus acordos de governabilidade. Segundo ele, há uma grande

fragmentação no Congresso e não se conhece a capacidade política dos aliados de Milei para

costurar acordos. "O seu músculo político é escasso porque tem cerca de 10% do Senado e menos de

15% da Câmara dos Deputados, e as alianças com os partidos que vão apoiá-lo ainda não estão nada

claras", diz.

Na sexta-feira, a diretora do FMI Julie Kozack disse que Milei precisa ter apoio político se

quiser continuar negociando a dívida do país com o fundo. "É necessário um plano de estabilização

forte, crível e politicamente apoiado para encarar de forma duradoura os desequilíbrios

macroeconômicos e os desafios estruturais da Argentina, protegendo ao mesmo tempo os mais

vulneráveis", disse, observando que para tal é necessário um "Banco Central forte e crível", indo

na contramão da proposta de Milei de "explodir" a autoridade monetária.

NOVIDADE. Milei e seu movimento libertário são uma novidade em um país historicamente

marcado pela polarização peronismo versus antiperonismo. Ambos os movimentos possuem força

política enraizada, não só no Legislativo, mas também nos poderes estaduais e federais. Muito

diferente de Milei, que conquistou uma vitória praticamente sozinho. "O LLA tem um cardápio amplo

para garantir governabilidade, mas ainda não optou por nenhum", diz Facundo Cruz, analista

político e de dados de opinião pública pelo observatório Pulsar da UBA.

EX-PRESIDENTE. O respaldo político do ex-presidente Mauricio Macri foi o grande motor para

a vitória de Javier Milei e para a costura de seus primeiros movimentos de governo. A dúvida

agora é o quanto desse capital político emprestado por Macri se transformará em apoio político.

"Para mim ainda não está claro que Macri será o garantidor da governabilidade", afirma Facundo

Cruz. Para o cientista político, os únicos movimentos claros foram o de uma linha-dura na área de

segurança e de realinhamento na política internacional da Argentina com uma direita mais

conservadora. Jair Bolsonaro e Viktor Orbán estarão presentes na posse de Milei. "Todo o restante

é incerteza", diz.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Após uma intervenção do presidente Donald Trump, a Amazon recuou da iniciativa de informar em seus produtos o custo das novas tarifas para itens importados.

A informação sobre a medida foi divulgada pelo site Punchbowl News. Na sequência, em uma entrevista coletiva conjunta com o secretário do Tesouro, Scott Bessent, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que havia acabado de falar ao telefone com Trump sobre os planos relatados da Amazon e criticou a empresa. "Esse é um ato hostil e político da Amazon", disse Karoline.

Segundo o jornal Washington Post, Trump ligou para Jeff Bezos, dono do jornal e fundador da Amazon, para se queixar da medida. Mais tarde, o porta-voz da companhia, Tim Doyle, disse que a equipe da Haul - empresa de comércio eletrônico criada pela Amazon para concorrer com a Temu - "considerou a possibilidade", que não atingiria a Amazon. Na sequência, ele disse que essa medida também estava descartada. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, propôs nesta terça-feira, 29, o fim dos descontos diretos nos benefícios de aposentados e pensionistas. Lupi sugeriu que o Congresso elabore uma nova legislação sobre o assunto. Ao participar de audiência na Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da Câmara, Lupi afirmou que, na sua opinião, o governo não deveria se meter na relação entre o trabalhador e uma associação.

Ele previu novos casos suspeitos se não houver mudança na lei. "Se não, daqui a algum tempo, e não vai demorar muito, você vai ter novamente denúncia que isso acontece. Daqui a pouco, se a gente não extinguir o câncer, a obrigatoriedade do desconto da folha. Por que o INSS tem que fazer isso, se tem duas instituições que podem se acordar? Essa, para mim, é a melhor solução", disse o ministro

"O trabalhador tem que se entender com a associação. A associação quer fazer cobrança, que se resolva entre eles. Resolveram colocar o INSS para fazer esse trabalho (de intermediação), como se tivéssemos pouco trabalho. Qual o papel da previdência de intermediar nesse processo?", questionou.

'Faz um pix aí, vovô'

"Se eu sou uma entidade representativa, eu busco testar serviço, busco aposentado e faço a cobrança diária com ele. Faz um boleto, faz um Pix, como diz aqui meu neto sempre: 'Faz um Pix aí, vovô'. Por que o INSS tem que cuidar disso? Acho que não é a função principal do Instituto Nacional de Seguridade Social", completou Lupi. Ele disse que vai conversar com a Casa Civil e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o fim do intermédio do INSS.

O ministro enfrenta forte desgaste em razão das investigações que apontam para um esquema de desvios de recursos de aposentados e pensionistas. Ontem ele voltou a se defender, afirmando que não demorou em determinar a apuração das suspeitas.

'Ira santa'

O deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) levou à comissão uma idosa que disse ter sido alvo de descontos indevidos em sua aposentadoria. Van Hattem chegou a embargar a voz para falar da senhora, que sentou ao seu lado no plenário do colegiado.

Parlamentares questionaram a conduta do deputado do Novo. Lupi cobrou respeito de Van Hattem. "Eu enfrentarei (injustiças) com tranquilidade, com a lucidez dos justos, mas cuidado, a minha ira é santa", afirmou.

A mulher contestou o ministro: "E nós aposentados não merecemos respeito?" Em resposta, Lupi disse que "não tem quem defenda mais aposentado" do que ele.

Van Hattem questionou sobre uma eventual ameaça durante a discussão. "Não sei o que o ministro quis dizer com ira santa, se quis, de alguma forma, ameaçar, mas eu não me sinto amedrontado por vossa excelência", afirmou o deputado.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A vereadora Cris Monteiro (Novo) afirmou nesta terça-feira, 29, durante discurso na tribuna da Câmara Municipal de São Paulo, que "mulher branca, bonita e rica incomoda". A declaração foi dirigida a sindicalistas que acompanhavam a votação do reajuste dos servidores municipais e gerou forte reação da plateia e de parlamentares.

Durante sua fala, Cris repreendeu a vereadora Luana Alves (PSOL), que tentava confrontá-la, e disse: "Por favor, Luana, calada. Pode me devolver o tempo. Eu escutei todos vocês calados (...) Agora, quando vem uma mulher branca aqui, falar a verdade para vocês, vocês ficam todos nervosos. Porque uma mulher branca, bonita e rica incomoda muito vocês".

Ela completou dizendo que representa uma parcela da população que a elegeu e criticou os grevistas. "Eu não vou defender essas pessoas que deixam as nossas crianças na sala de aula fazendo greve."

A vereadora Luana Alves, que é negra, classificou a fala como racista e pediu a suspensão da sessão. Segundo ela, Cris Monteiro teria direcionado suas palavras diretamente a ela enquanto discursava.

O áudio da transmissão oficial da sessão pela Rede Câmara, canal da Casa no YouTube, chegou a ser interrompido por alguns minutos, mas foi restabelecido em seguida. Após o retorno, a vereadora do Novo pediu desculpas.

"Lamento profundamente se alguém em particular se sentiu ofendido com a minha fala, não foi minha intenção. Faço uso da tribuna, como qualquer parlamentar, para defender minhas ideias e falar o que penso".

O presidente da Câmara, Ricardo Teixeira (União), disse que a Casa "não permite racista" e mencionou o caso do ex-vereador Camilo Cristófaro (Avante), cassado em 2023 por fala racista. No entanto, após rever o vídeo da declaração de Cris, avaliou que não houve racismo.

"Nós vimos e revimos várias vezes o vídeo. Na nossa opinião, não houve racismo", afirmou o presidente da Câmara. Segundo ele, a Corregedoria da Câmara acompanhará o caso. "Esse fato será analisado com sangue tranquilo, temperatura normal, pressão também".

A vereadora do PSOL, no entanto, reforçou a acusação. Para ela e outros vereadores, se tratou de um ato de racismo evidente.

"A vereadora Cris irá responder na Corregedoria. Fico muito triste que uma cassação não tenha sido suficiente para aprenderem que não se pode desrespeitar a população negra nessa Câmara", disse. Ela espera que o desfecho seja semelhante ao do caso Cristófaro.

Essa não foi a primeira polêmica envolvendo a vereadora Cris Monteiro. Em 2021, ela se envolveu em um episódio de agressão com a então vereadora Janaína Lima, à época também filiada ao Novo. Na ocasião, Cris afirmou esperar que Janaína fosse cassada.

Um relatório da Corregedoria da Câmara Municipal recomendou a suspensão das funções legislativas de ambas - Janaína e Cris - após a briga ocorrida no banheiro ao lado do Plenário, durante a votação da reforma da Previdência. No entanto, a ação disciplinar não avançou.