Veneno, agente nervoso, quedas. Há anos, inimigos do Kremlin são atacados ou mortos

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Os ataques vão dos exóticos - envenenamento por chá contaminado com polônio ou exposição a um agente nervoso letal - aos mais prosaicos, como um tiro à queima-roupa. Alguns sofrem uma queda fatal por uma janela aberta.

Ao longo dos anos, críticos políticos ao Kremlin, espiões traidores e jornalistas investigativos foram mortos ou agredidos de diversas formas.

Na sexta-feira, 16, as autoridades russas informaram que o principal adversário político do presidente Vladimir Putin, Alexei Navalny, havia morrido em uma colônia penal no Ártico. Não se sabem os detalhes do que teria ocorrido; a equipe de Navalny afirma não ter confirmação oficial de sua morte, e as autoridades russas dizem que as causas ainda estão sendo apuradas. Seus aliados já haviam acusado anteriormente as autoridades russas de tentarem envenená-lo com um agente nervoso em 2020.

Tentativas de assassinato contra os inimigos de Putin foram comuns ao longo de seus mais de vinte anos no poder. As pessoas próximas das vítimas e alguns sobreviventes culpam as autoridades russas, mas o Kremlin, por padrão, nega qualquer envolvimento.

Também já houve relatos de importantes executivos russos que morreram em circunstâncias misteriosas, como quedas de janelas, embora às vezes seja difícil determinar se teriam sido assassinatos intencionais ou suicídios.

Alguns casos relevantes de assassinatos documentados ou tentativas:

Opositores políticos

Em agosto de 2020, Navalny passou mal durante um voo da Sibéria para Moscou. O avião aterrissou em Omsk, onde Navalny foi internado e ficou em coma. Dois dias depois, foi transportado de avião para Berlim, onde se recuperou.

Seus aliados quase imediatamente afirmaram que ele teria sido envenenado, mas as autoridades russas negaram. Laboratórios da Alemanha, França e Suécia confirmaram que Navalny havia sido envenenado por um agente nervoso do período soviético, conhecido como Novichok, que segundo ele teria sido aplicado em suas roupas íntimas.

Navalny voltou à Rússia e foi condenado, em agosto do ano passado, a 19 anos de prisão por extremismo. Foi sua terceira condenação com pena de prisão em dois anos. Ele diz que as acusações tiveram motivação política.

Na sexta-feira, 16, a Administração Penitenciária Federal da Rússia informou que Navalny havia se sentido mal após uma caminhada, e teria perdido a consciência. Uma ambulância havia chegado ao local, mas não conseguiu reanimá-lo. O órgão diz que a causa da morte ainda estava "sendo determinada".

Em 2018, Pyotr Verzilov, fundador do grupo de protesto Pussy Riot, adoeceu gravemente e também foi levado de avião para Berlim, onde os médicos disseram que o envenenamento era "altamente plausível". Ele acabou se recuperando. No início daquele ano, Verzilov constrangeu o Kremlin ao correr pelo campo durante a final da Copa do Mundo em Moscou, com outros três ativistas, para protestar contra a violência policial. Seus aliados dizem que ele poderia ter sido perseguido por seu ativismo.

Vladimir Kara-Murza, uma importante figura de oposição, sobreviveu ao que acredita terem sido tentativas de envenenamento, em 2015 e 2017. Ele quase morreu de insuficiência renal no primeiro caso, e suspeita de envenenamento, mas nenhuma causa foi determinada. Ele foi internado com um quadro semelhante em 2017, e submetido a um coma induzido. Sua esposa diz que os médicos confirmaram que ele havia sido envenenado.

Kara-Murza sobreviveu, e seu advogado afirma que a polícia teria se recusado a investigar. No ano passado, ele foi condenado a 25 anos de prisão por traição. Em janeiro, ele foi transferido para um presídio na Sibéria, e colocado em confinamento solitário sob alegação de uma infração leve.

O assassinato de maior destaque de um opositor político nos últimos anos foi o de Boris Nemtsov. Nemtsov foi vice-primeiro-ministro na época de Boris Yeltsin, e era um político popular e crítico ferrenho de Putin. Em uma noite fria de fevereiro, em 2015, ele foi morto a tiros por assaltantes em uma ponte ao lado do Kremlin, enquanto caminhava com sua namorada; foi uma morte que chocou o país.

Cinco homens da região russa da Chechênia foram condenados por seu assassinato, e o atirador recebeu uma pena de 20 anos de prisão. Mas os aliados de Nemtsov consideram que essa foi uma tentativa de transferir a responsabilidade do governo.

Ex-agentes de inteligência

Em 2006, o desertor russo Alexander Litvinenko, ex-agente da KGB e da agência pós-soviética que a sucedeu, a FSB, ficou gravemente doente em Londres após beber chá envenenado com polônio-210 radioativo. Ele morreu três semanas depois.

Litvinenko estava investigando o assassinato a tiros da jornalista russa Anna Politkovskaya, além dos supostos vínculos do serviço de inteligência russo com o crime organizado. Antes de morrer, Litvinenko contou aos jornalistas que a FSB ainda tinha em operação um laboratório de venenos do período soviético.

Uma investigação britânica revelou que agentes russos haviam matado Litvinenko, provavelmente com a aprovação de Putin, mas o Kremlin negou qualquer envolvimento.

Outro ex-agente de inteligência russo, Sergei Skripal, foi envenenado no Reino Unido em 2018. Ele e sua filha adulta, Yulia, passaram mal na cidade de Salisbury, e ficaram semanas em estado crítico. Eles sobreviveram, mas o ataque posteriormente custou a vida de uma mulher britânica e deixou um homem e um policial gravemente doentes.

As autoridades dizem que ambos foram envenenados com o agente nervoso militar Novichok. O Reino Unido culpou a inteligência russa, mas Moscou negou qualquer participação. Putin chamou Skripal, que foi um agente duplo da Grã-Bretanha durante sua carreira de espionagem, de "canalha" sem interesse para o Kremlin, porque foi julgado na Rússia e entregue em uma troca de espiões em 2010.

JornalistaS

Inúmeros jornalistas que criticaram as autoridades russas foram assassinados ou sofreram mortes misteriosas, que seus colegas em alguns casos atribuíram a alguém na hierarquia política. Em outros casos, os relatos de relutância das autoridades em investigar levantaram suspeitas.

Politkovskaya, a jornalista do jornal Novaya Gazeta cuja morte Litvinenko estava investigando, foi morta a tiros no elevador de seu prédio em Moscou, em 7 de outubro de 2006 - o dia do aniversário de Putin. Ela havia recebido reconhecimento internacional por suas reportagens sobre violações de direitos humanos na Chechênia. O atirador, da Chechênia, foi condenado a 20 anos na prisão pelo assassinato. Quatro outros chechenos receberam penas mais curtas por seu envolvimento no assassinato.

Yuri Shchekochikhin, também repórter do Novaya Gazeta, morreu de uma doença súbita e violenta em 2003. Shchekochikhin estava investigando negócios corruptos e o possível papel dos serviços de segurança russos nos atentados a bomba em prédios residenciais em 1999, que foram atribuídos a insurgentes chechenos. Seus colegas insistiram que ele havia sido envenenado, e acusaram as autoridades de dificultarem deliberadamente a investigação.

Yevgeny Prigozhin e seus assistentes

Um acidente de avião em agosto do ano passado, que matou Yevgeny Prigozhin e seus principais assistentes do grupo militar privado Wagner, aconteceu dois meses depois do dia em que ele lançara uma rebelião armada que Putin considerou "uma punhalada nas costas" e "traição". Embora não fosse um opositor de Putin, Prigozhin criticou a liderança militar russa e questionou os motivos da guerra na Ucrânia.

Uma análise de inteligência dos EUA revelou que o acidente que matou todas as 10 pessoas a bordo havia sido causado intencionalmente por uma explosão, segundo autoridades ocidentais e americanas. As autoridades falaram sob condição de anonimato porque não tinham autoridade para se manifestar. Uma delas disse que a explosão ia ao encontro do "longo histórico de tentativa de silenciamento de seus críticos" por Putin.

O porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, rejeitou as alegações de que o Kremlin estivesse por trás do acidente. "Claro, no Ocidente essas especulações são divulgadas a partir de um certo ângulo, e é tudo uma completa mentira", disse ele aos repórteres.

Em seus primeiros comentários públicos após o acidente, Putin pareceu sugerir que não havia desentendimento entre ele e Prigozhin. Mas Abbas Gallyamov, ex-redator de discursos do Kremlin que se tornou analista político, disse que: "Putin já demonstrou que se você não obedecer a ele sem questionar, ele irá se livrar de você sem piedade, como um inimigo, mesmo que você seja formalmente um patriota".

Em outra categoria

O advogado da plataforma de vídeos Rumble e da Trump Media Group, Martin de Luca, classificou a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes como "censura" e afirmou que a empresa não tomou nenhuma ação sobre as decisões do magistrado.

"É particularmente agravante quando sabemos que a ordem judicial é para censurar contas dentro dos Estados Unidos, de um residente americano, um residente político brasileiro, que mantém contas bancárias dentro dos Estados Unidos. E a ordem também pede para parar o fluxo de fundo e monetização das contas para esse residente político", afirmou Luca em entrevista à CNN.

"O mandado do ministro Alexandre de Moraes está solicitando que uma empresa americana bloqueie fundos dentro dos Estados Unidos, para um residente dos Estados Unidos e bloqueie as contas globalmente de um residente americano", disse. O advogado afirmou que não sabe se a empresa irá recorrer da decisão do bloqueio.

O ministro determinou na última sexta-feira, 21, a suspensão do funcionamento da rede social Rumble no Brasil por descumprir a determinação judicial que exigia da empresa a indicação de um representante legal no Brasil, o que não ocorreu. O bloqueio é por tempo indeterminado, até o cumprimento da ordem judicial e o pagamento de multas.

Luca afirmou ainda que a empresa ainda não tomou nenhuma ação a respeito da medida e negou que a Rumble devesse indicar um representante no Brasil por não ter operações no País, sob o argumento de que não é um modelo viável para a atuação das empresas na era digital.

"Não é um mecanismo no qual, na era digital, as empresas podem operar, você não pode contratar um representante legal em 193 países do mundo simplesmente porque seu conteúdo se espalha pelo mundo", afirmou Luca.

Sem a atuação de advogados no caso, o ministro Alexandre de Moraes determinou que a empresa indicasse representantes no Brasil dentro de 48 horas. "O ordenamento jurídico brasileiro prevê a necessidade de que as empresas que administram serviços de internet no Brasil tenham sede no território nacional, bem como atendam às decisões judiciais que determinam a retirada de conteúdo ilícito gerado por terceiros", destacou Moraes em despacho.

CEO da Rumble desafiou Moraes nas redes sociais

O CEO da plataforma de vídeos Rumble, Chris Pavlovski, desafiou Moraes através do X (antigo Twitter). Pavlovski mencionou o ministro em uma publicação na última quarta-feira, 19, dizendo que não cumpriria as ordens legais de Moraes.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) chegou a responder a postagem na rede social dizendo que "o mundo precisa ser livre". Pavlovski voltou a provocar o ministro do STF no dia seguinte, afirmando que recebeu "mais uma ordem ilegal e sigilosa" de Moraes e que ele não tem autoridade sobre a Rumble nos Estados Unidos. "Repito - nos vemos no tribunal", escreveu o CEO.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou o início dos pagamentos do programa Pé-de-Meia e confirmou a gratuidade dos 41 medicamentos do Farmácia Popular, durante pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão, nesta segunda-feira, 24. As falas ocorrem em meio à queda na popularidade do petista, que atingiu o pior índice dos seus três mandatos na Presidência. A aprovação do governo Lula chegou a 24%, segundo o último levantamento do Datafolha.

Lula destacou que os pagamentos do programa Pé-de-Meia começam a ser feitos nesta terça-feira, 25. O benefício, no valor de R$ 1.000, será pago a estudantes que concluíram o ensino médio e atenderam aos critérios do programa. O presidente afirmou que mais de 90% dos jovens participantes passaram de ano e que a iniciativa já atende mais de 4 milhões de alunos em todo o País.

O programa prevê o pagamento mensal de R$ 200 aos estudantes que frequentam as aulas regularmente, podendo chegar a um total de R$ 9.200 para aqueles que concluírem o ciclo escolar e realizarem o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Além disso, Lula anunciou a criação do Pé-de-Meia Licenciatura, um incentivo para estudantes que tiveram bom desempenho no Enem e desejam seguir a carreira de professor.

Outro ponto abordado no pronunciamento foi a ampliação da gratuidade do Farmácia Popular. A partir de agora, todos os 41 medicamentos oferecidos pelo programa serão distribuídos gratuitamente. O presidente destacou que a medida beneficiará especialmente pacientes com doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e asma. Além dos medicamentos, o programa também passa a ofertar fraldas geriátricas de forma gratuita.

"Depois de dois anos de reconstrução de um país que estava destruído, estamos trabalhando muito para trazer prosperidade para todo o Brasil, principalmente para quem mais precisa", afirmou o presidente.

O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse nesta segunda-feira, 24, que não tem motivos para ser impedido de participar do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no inquérito do golpe.

A defesa do ex-presidente informou que vai pedir o impedimento dele. O requerimento terá como base uma queixa-crime movida por Dino contra Bolsonaro em 2021.

"Em relação a mim, não há nenhum desconforto, nenhum incômodo, nada desse tipo", disse o ministro a jornalistas antes de uma palestra na PUC de São Paulo.

"O Supremo é composto por 11 ministros. Todos chegaram lá do mesmo modo. Todos os ministros foram escolhidos por presidentes da República e aprovados no Senado. Existem ministros indicados por cinco presidentes da República diferentes", acrescentou.

Flávio Dino afirmou ainda que o julgamento "vai se dar de acordo com as regras do jogo previstas na lei e no regimento interno, com isenção e com respeito à ampla defesa".

A expectativa é que a votação sobre o recebimento da denúncia ocorra na Primeira Turma do STF, o que também contraria a defesa de Bolsonaro. O ex-presidente quer ser julgado no plenário. Hoje, pelas regras internas do Supremo, as duas turmas da Corte são responsáveis pelos julgamentos de casos criminais.

"Todos os outros casos criminais estão sendo julgados nas turmas. Isso já vem de alguns anos. Então, para haver uma mudança nisso, seria preciso rever o regimento interno", declarou. "Pode mudar de novo? Pode. Mas isso depende da presidência. E os advogados podem fazer os pedidos que entenderem necessários."

Relator dos processos sobre a distribuição de emendas, que pressionam o Congresso para dar mais transparência aos repasses, Flávio Dino disse que espera avançar em um consenso na reunião prevista nesta semana.

"O que é importante é compreender que existe um sentido de cumprimento da Constituição. E a minha expectativa é positiva, no sentido de que novos passos serão dados, o que não significa que os processos vão ser finalizados."

Mais cedo, o ministro esteve na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Durante a palestra aos calouros do Largo do São Francisco, rebateu as críticas por decisões "ativistas". "Nenhum ministro do Supremo foi visto de toga ou sem ela, de capa ou sem ela, correndo na Praça dos Três Poderes atrás de processos", disparou Dino.

O ministro defendeu que o volume de direitos previstos na Constituição de 1988 e de políticas públicas constitucionalizadas, somado ao rol de atores legitimados a acionar o STF, abre caminho para a intervenção do tribunal em diferentes assuntos sociais, políticos e econômicos.

"Os tempos são outros, e obrigaram a que o STF, esse terceiro poder, outrora desconhecido, se tornasse de algum modo partícipe da vida das pessoas, e isto não é derivado de uma deformação moral, ou de uma opção individual dos atuais jogadores do Supremo", disse aos calouros.

O ministro afirmou também que, quando é acionado, o STF não poder se omitir, caso contrário se tornará uma instituição "acovardada, omissa, prevaricadora".

Dino adereçou, por exemplo, a decisão em que ele determinou que o município de São Paulo retomasse a cobrança de serviços cemiteriais e funerários em valores anteriores à concessão dessas atividades à iniciativa privada.

"Eu só posso falar nos autos ou em palestra, então me perdoem o desabafo. O que é mais fundamental do que o direito de uma família conseguir sepultar com dignidade o seu ente querido, sem ser submetido a uma situação de vexame? O que pode ser mais fundamental do que isto?"