Trump chama imigrantes ilegais de 'animais' durante discurso de campanha em Michigan

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Donald Trump, que acusou os imigrantes de "envenenar o sangue do país" e prometeu lançar a maior operação de deportação doméstica da história do país caso eleito, chamou os imigrantes que estão ilegalmente nos EUA de "animais", usando uma linguagem desumanizadora que, segundo estudiosos do extremismo, aumenta o risco de violência.

 

"Os democratas dizem: 'Por favor, não os chame de animais. Eles são humanos'. Eu digo: 'Não, eles não são humanos, eles não são humanos, eles são animais'", disse ele.

 

A declaração ocorreu enquanto o ex-presidente citava novamente o assassinato de Laken Riley, uma estudante de enfermagem na Geórgia. Um homem venezuelano que, segundo as autoridades, entrou ilegalmente nos EUA, foi acusado do assassinato. A família de Riley compareceu ao comício de Trump na Geórgia no mês passado e se reuniu com ele nos bastidores. Trump se referiu ao suspeito da morte de Riley como um "animal estrangeiro ilegal".

 

"Sob o comando do corrupto Joe Biden, todo Estado agora é um Estado fronteiriço. Toda cidade agora é uma cidade fronteiriça porque Joe Biden trouxe a carnificina, o caos e a matança de todo o mundo e os despejou diretamente em nossos quintais", disse Trump em Grand Rapids, onde estava ladeado por policiais uniformizados.

 

Embora os crimes violentos tenham diminuído, Trump e outros republicanos atacaram Biden aproveitando uma onda de crimes supostamente cometidos por imigrantes que estão ilegalmente nos EUA. A imigração ilegal se tornou o tema central da campanha americana, já que as travessias de fronteira atingiram níveis recordes. As pesquisas sugerem que Trump tem uma vantagem sobre Biden nessa questão, porque muitos eleitores em potencial dizem estar preocupados com o impacto da entrada de imigrantes.

 

Trump continuou a martelar o tema em um comício em Green Bay, Wisconsin, na noite de terça-feira, 2, quando o Estado estava realizando suas primárias presidenciais. Trump acusou nações desonestas de "bombear migrantes através de nossa fronteira aberta" e "enviar prisioneiros, assassinos, traficantes de drogas, doentes mentais, terroristas" - embora não haja nenhuma evidência de que algum país esteja envolvido nesse tipo de esforço coordenado.

 

Ele também alegou que os imigrantes custariam ao país trilhões de dólares em benefícios públicos e fariam com que a Previdência Social e o Medicare "cedessem e entrassem em colapso".

 

"Se você quiser ajudar Joe Biden a jogar a vovó do penhasco para financiar os benefícios do governo para os ilegais, então vote em Joe Biden", disse ele. "Mas quando eu for presidente, em vez de jogar a vovó ao mar, mandarei os estrangeiros ilegais de Joe Biden de volta para casa.

 

Família de vítima desmente fala do ex-presidente

 

Trump também invocou o assassinato de Ruby Garcia, uma mulher de Michigan que foi encontrada morta ao lado de uma rodovia de Grand Rapids em 22 de março. A polícia diz que ela estava em um relacionamento amoroso com o suspeito, Brandon Ortiz-Vite. Ele disse à polícia que atirou nela várias vezes durante uma discussão antes de deixar o corpo dela na beira da estrada e sair dirigindo seu Mazda vermelho.

 

Trump se referiu incorretamente a Garcia, de 25 anos, como sendo um jovem de 17 anos. As autoridades dizem que Ortiz-Vite é cidadão do México e já havia sido deportado após uma prisão por dirigir embriagado. Ele não tem um advogado listado nos registros do tribunal.

 

Em seus comentários, Trump disse que havia conversado com alguns membros da família dela. A irmã de Garcia, Mavi, no entanto, contestou seu relato, dizendo à Fox17 que não. "Não, ele não falou conosco", disse o veículo de comunicação em uma mensagem de texto, recusando-se a fazer mais comentários.

 

Na semana passada, ela também pediu no Facebook que os repórteres parassem de politizar a história de sua irmã e, na terça-feira, pediu privacidade, dizendo que só queria que "a justiça fosse feita" e que "fosse deixada em paz".

 

Discurso anti-imigração

 

As estatísticas do FBI mostram que os crimes violentos, em geral, caíram novamente nos EUA no ano passado, dando continuidade a uma tendência de queda após um pico na era da pandemia. Em Michigan, os crimes violentos atingiram uma baixa de três anos em 2022, segundo os dados mais recentes disponíveis. O crime na maior cidade de Michigan, Detroit, também diminuiu, com o menor número de homicídios no ano passado desde 1966.

 

Michigan e Wisconsin são vistos como Estados críticos no campo de batalha da eleição deste ano. Trump venceu ambos em 2016, derrubando o chamado "muro azul" dos democratas, mas os perdeu para Biden em 2020. Sua campanha espera reconquistá-los com um foco especial nos trabalhadores braçais e membros de sindicatos.

 

Em Green Bay, alguns apoiadores enfrentaram a nevasca por três horas para entrar no local do evento. Em Grand Rapids, mais de 100 apoiadores enfrentaram a chuva fria para se alinharem na rua por onde a comitiva de Trump deveria passar.

 

Em um parque próximo, um pequeno grupo que defendia a reforma imigratória se reuniu para fazer um momento de silêncio por Garcia, segurando cartazes que diziam "Nenhum ser humano é ilegal" e "Michigan acolhe imigrantes".

 

A campanha de Biden tentou rebater os ataques de Trump atacando o ex-presidente por seu papel na eliminação de um acordo bipartidário sobre a fronteira que teria acrescentado mais de 1.500 novos funcionários da Alfândega e Proteção de Fronteiras, além de outras restrições.

 

"Havia uma solução na mesa. Na verdade, foi o ex-presidente que incentivou os republicanos a desistir de fazer o acordo", disse a governadora de Michigan, a democrata Gretchen Whitmer, na segunda-feira, dia 1º. "Não tenho muita tolerância com pontos políticos quando isso continua a colocar em risco nossa economia e, até certo ponto, nosso povo, como vimos acontecer em Grand Rapids recentemente."

 

Trump tem se inclinado a uma retórica inflamada sobre o aumento do número de migrantes na fronteira sul desde que se tornou o candidato presumido de seu partido. Ele retratou os migrantes como "envenenando o sangue do país", questionou se alguns deveriam sequer ser considerados pessoas e alegou, sem provas, que os países estão esvaziando suas prisões e manicômios nos EUA.

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O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitou, neste sábado, 28, o pedido da defesa de Daniel Silveira para restabelecer a liberdade do ex-deputado federal.

Daniel Silveira foi preso pela Polícia Federal (PF) na última terça-feira após ordem de Moraes, segundo quem o ex-deputado descumpriu as condições impostas para que ele pudesse deixar a prisão, benefício que havia sido concedido dias antes.

A defesa do ex-deputado classificou a decisão como "desproporcional, arbitrária, ilegal e irracional", alegando que ela reflete um "espírito persecutório" e constitui "abuso de autoridade". Os advogados também afirmaram que todas as justificativas foram apresentadas, mas desconsideradas pelo relator.

Na decisão deste sábado, Moraes diz que as alegações dos advogados de Silveira, que incluem suposto desconhecimento sobre as regras para a liberdade condicional, revelam "má-fé" ou "desconhecimento da legislação".

"Somente absoluta má-fé ou lamentável desconhecimento da legislação processual penal podem justificar as alegações da defesa. Essa mesma restrição judicial (Proibição de ausentar-se da Comarca e obrigação de recolher-se à residência no período noturno, das 22h00 às 6h00, bem como nos sábados, domingos e feriados), recentemente, foi determinada em mais de 1.100 casos relacionados aos crimes de 8/1, tendo sido todas observadas integralmente e sem qualquer confusão de entendimento", diz Alexandre de Moraes ao rejeitar os embargos da defesa de Silveira.

A Associação Amazonense de Municípios (AAM) cumpriu ainda nesta sexta-feira, 27, a determinação do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), e publicou uma nota dizendo que não houve a "retirada" de recursos de emendas parlamentares destinadas à Saúde, mas sim um bloqueio temporário.

Nesta sexta-feira, Dino respondeu a um ofício protocolado pela entidade, que questionou o bloqueio e alegou haver uma "retirada" de verbas, o que, segundo a organização, estaria prejudicando os serviços de saúde no Amazonas.

Em resposta, o ministro disse que a transferência dos recursos "pode e deve" ser feita a qualquer momento, assim que cada município ou Estado abra uma conta específica para o recebimento daquela emenda, e detalhou o passo a passo de como deve ser feita.

Sobre a correção da informação, Dino deu 24 horas para a entidade esclarecer a sociedade amazonense, por meio de nota à imprensa e publicada em seu site. No novo comunicado, a associação copiou e colou partes da determinação do ministro, e acrescentou um "alerta" sobre o "curto prazo dado para o cumprimento" da exigência das contas, o que, segundo alega, "afetou negativamente a execução orçamentária e financeira dos municípios, especialmente em um período de transição de mandato".

A suspensão das emendas em questão foi consequência do descumprimento de decisão judicial de agosto, que determinava a abertura de contas específicas para o recebimento desses recursos, o que garantiria maior rastreabilidade. Dino sustentou que o bloqueio foi uma sugestão técnica do Tribunal de Contas da União (TCU), visando evitar o mau uso das emendas parlamentares na Saúde.

Dino ainda reiterou que o bloqueio se refere exclusivamente a emendas parlamentares. "Esclareço que não houve nem há bloqueio de recursos oriundos de outras fontes inerentes ao SUS. Os Fundos podem ser usados normalmente. As medidas em foco referem-se exclusivamente a emendas parlamentares federais[...]", explicou. Na mesma determinação, o ministro deu o prazo de 10 dias úteis para que a Advocacia-Geral da União (AGU) explique porque as contas não foram abertas.

Na última segunda-feira, 23, Dino suspendeu pagamentos de R$ 4,2 bilhões em emendas parlamentares, alegando falta de transparência. Nesta sexta-feira, 27, Câmara dos Deputados argumentou à Corte que seguiu a legislação vigente para os repasses e pediu a revogação das medidas determinadas por Dino.

O prefeito de São Paulo Ricardo Nunes (MDB) autorizou nesta sexta-feira, 27, a instauração de um processo para rescindir os contratos com as empresas de ônibus UpBus e Transwolff, acusadas pelo Ministério Público de ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC).

O despacho, publicado no Diário Oficial do município na noite da sexta-feira, esclarece que o processo será conduzido pela Secretaria Municipal de Transportes e que a decisão caberá ao Chefe do Executivo. As empresas serão notificadas e terão o prazo de 15 dias para se defenderem. Caso a Prefeitura decida pela perda da validade dos contratos, novas contratações serão lançadas.

"Esse é o início do processo, agora abre prazo para defesa e após, dependendo da defesa, se decreta a caducidade. A Procuradoria do Município está fazendo tudo com muita cautela, com prazo para defesa, direito ao contraditório… visando instruir bem o processo", disse Nunes ao Estadão.

As defesas das duas empresas não foram encontradas para comentar a decisão da Prefeitura. O espaço segue aberto.

Desde o ano passado, as duas empresas são investigadas pela Operação Fim da Linha, que revelou as possíveis ligações com PCC. O presidente de uma delas, a UPBus, Ubiratan Antônio da Cunha, foi preso na última sexta-feira, 20, por descumprir medidas cautelares no bojo da mesma Operação.

Em fevereiro, o Estadão revelou que após as acusações terem se tornado públicas, em 2022, com prisões efetuadas e apreensões de bens, as companhias, mesmo assim, receberam R$ 827 milhões em repasses da Secretaria Municipal de Transportes e assinaram oito novos contratos para operar o sistema.

No total, sete companhias de ônibus foram ou estão sendo investigadas pela Polícia e pelo Ministério Público por suspeita de elo com o crime organizado. Juntas, são responsáveis por transportar 27,5% dos passageiros de ônibus da capital, e receberam R$ 2 bilhões da prefeitura de SP apenas em 2023.

Relembre o caso

A investigação do Ministério Público aponta para uma "infiltração" do PCC no setor de transportes, por meio do controle de empresas de ônibus operado por uma rede de laranjas e CNPJs fantasma. Duas das maiores empresas de ônibus de São Paulo foram acusadas de terem sido criadas com o dinheiro do PCC: a UPBus, supostamente controlada por integrantes da cúpula do PCC e seus parentes; e a Transwolff, a terceira maior empresa do setor na cidade, com 1.111 veículos circulando.

Como mostrou o Estadão em abril, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), o Ministério Público de São Paulo, a Receita Federal e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica apontaram, após quatro anos de investigação, para a existência de um cartel montado pelo crime organizado para se apossar do chamado Grupo Local de Distribuição do sistema municipal de transportes.

A Justiça determinou o afastamento de 15 acionistas da UPBus e seis da direção da Transwolff e da cooperativa Cooperpam. Na ocasião, também foi determinado que a Prefeitura fizesse uma intervenção nas duas empresas.

Poucos dias após a Operação Fim da Linha, Nunes afirmou que a Transwolff não iria mais administrar o sistema de ônibus aquáticos na represa Billings, na zona sul de São Paulo. A investigação foi amplamente usada por oponentes contra o então candidato a reeleição durante a campanha pela Prefeitura da capital paulista neste ano.