África do Sul: eleições nesta quarta-feira podem ameaçar hegemonia de partido governista

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times
As eleições na África do Sul determinarão o quão cansado o país se tornou do partido governista, o Congresso Nacional Africano (ANC), que está no poder desde o fim do sistema de apartheid da minoria branca, há 30 anos.

O presidente Cyril Ramaphosa e o ANC lutam para manter a maioria parlamentar, as pesquisas de opinião no país têm indicado que o partido tem menos dos 50% de apoio pouco antes das eleições, que acontecem nesta quarta-feira, 29. Porém, isso não significa que o ANC ficará fora do poder na economia mais avançada de África.

Embora a organização outrora liderada por Nelson Mandela tenha registrado um declínio na sua popularidade, ninguém se elevou à posição de substituí-la. Em vez disso, os sul-africanos que se afastaram do ANC procuraram respostas entre uma série de partidos da oposição.

Espera-se ainda que o ANC obtenha a maior parcela de votos, mas sem uma maioria absoluta, seria necessário formar uma coligação para permanecer no governo e manter Ramaphosa para um segundo e último mandato. Para um país-chave do continente africano, isso poderá trazer novas complicações. Coligações recentes formadas no país fracassaram em seus propósitos.

Como funciona a eleição presidencial?

Quase 28 milhões de uma população de 62 milhões podem votar naquela que é apenas a sétima eleição nacional totalmente democrática da África do Sul, desde que o apartheid foi desmantelado.

Os sul-africanos não votam diretamente no presidente, mas sim decidem a composição do Parlamento, que se chama Assembleia Nacional. Dessa maneira, votam em partidos e esses partidos obtêm assentos no Parlamento de acordo com a sua porcentagem de votos. A Assembleia Nacional de 400 membros elege então o presidente, o que significa que o partido que tiver maioria escolhe o chefe de Estado.

O ANC sempre foi maioral, desde as primeiras eleições multirraciais em 1994, mas desta vez pode precisar de acordos com outros partidos para obter os 201 votos para reeleger Ramaphosa, de 71 anos, e formar um governo. O principal dia eleitoral é quarta-feira, e as pessoas votarão em todas as nove províncias. As eleições decidirão a composição das legislaturas nacionais e provinciais. Os resultados são esperados dentro de alguns dias.

Quem está concorrendo?

Há mais de 50 partidos políticos registrados para as eleições nacionais, o maior número da história, e ainda mais para as legislaturas provinciais. Candidatos independentes poderão concorrer pela primeira vez.

A principal oposição ao ANC é a Aliança Democrática Centrista (DA). A DA entrou em acordo com alguns partidos menores, na esperança de que o seu voto combinado pudesse forçar o ANC a sair do governo, mas isso não deve acontecer. Os Lutadores da Liberdade Econômica, de extrema-esquerda (EEF), são o terceiro maior partido e são liderados por Julius Malema, um ex-líder jovem do ANC.

A DA ganhou cerca de 20% das cadeiras nas últimas eleições nacionais e a EFF 10%, contra 57,5% do ANC. Nenhum dos partidos da oposição parece ter aumentado significativamente em popularidade.

Isso se deve em grande parte às dezenas de outros partidos, muitos deles novos, que conquistaram pequenas participações. Embora 80% da população da África do Sul seja negra, é uma sociedade multirracial, com muitas etnias e 12 línguas oficiais. Um quadro político igualmente diverso começa a aparecer.

Dos novos partidos, o Partido MK, ou uMkhonto weSizwe (que significa Lança da Nação), ganhou holofotes, porque é liderado pelo ex-presidente sul-africano Jacob Zuma, que virou as costas ao ANC. Zuma foi desqualificado para se candidatar ao Parlamento, mas ainda pode fazer campanha pelo seu partido.

Em outra categoria

O deputado federal Gilberto Nascimento (PSD-SP) foi eleito presidente da bancada evangélica no Congresso. Apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, Gilberto venceu o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ), que se aproximou recentemente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A votação ocorreu em meio a um racha da frente evangélica. Gilberto recebeu 117 votos, enquanto Otoni ficou com 61 votos. Durante a votação, a deputada federal Greyce Elias (Avante-MG), que concorria como candidata da terceira via, desistiu da candidatura para apoiar Gilberto Nascimento. Com o apoio de última hora, ela se tornou vice-presidente da bancada.

A Frente Parlamentar Evangélica (FPE) reúne 219 deputados e 26 senadores e tem papel fundamental na votação de pautas que envolvem costumes.

Desde a segunda-feira, 25, o presidente Jair Bolsonaro (PL) vinha ligando para parlamentares para pedir votos em Nascimento. Outro fiador da campanha do deputado foi o pastor evangélico Silas Malafaia.

O ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) sugeriu nesta terça-feira, 25, o nome do ex-ministro da Economia Paulo Guedes para disputar uma vaga no Senado Federal por Minas Gerais.

"Gostaria que o Paulo Guedes aceitasse ser senador por Minas Gerais. Estamos tentando. É um baita nome para o Senado", afirmou Bolsonaro durante entrevista ao jornalista Leo Dias.

Na eleição do ano que vem, os eleitores escolherão dois nomes para o Senado (por Estado), o que amplia a chance de eleição. Carioca, Guedes tem relação com Minas Gerais. Ele se formou em economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte.

Em território mineiro, no entanto, há o nome do deputado federal Nikolas Ferreira (PL), que já afirmou a intenção de disputar uma das vagas para o Senado em caso de mudança constitucional, que tramita no Congresso Nacional.

Pela atual texto da Constituição Federal de 1988, pode disputar uma vaga ao Senado todo brasileiro com, no mínimo, 35 anos. Nikolas terá 30 anos na disputa de 2026. Mas há uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que visa diminuir a idade mínima para 30 anos, o que beneficiaria Nikolas.

O Senado Federal é a porta de entrada no Legislativo para análise e abertura de cassação de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), o que nunca ocorreu. Bolsonaro já deu indícios de desejar uma ampliação de aliados dentro da Casa, o que facilitaria o embate com ministros do Supremo.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid foi "torturado" em sua delação premiada e defendeu a narrativa de que os atos golpistas de 8 de janeiro foram planejados pela esquerda. Denunciado pela Procuradoria Geral da República (PGR) por tentativa de golpe, Bolsonaro se defendeu das acusações e disse que os autores dos ataques são "pobres coitados".

"Ele foi torturado [...] em dado momento, estava lá o dono de tudo, o dono inquieto, é a vítima, é tudo. Falando: 'Olha, você tem um pai, uma esposa e uma filha'. Tortura psicológica", disse Bolsonaro se referindo ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, em entrevista ao jornalista Léo Dias.

Bolsonaro voltou a defender a narrativa de que os ataques golpistas do 8 de janeiro teriam sido "programados pela esquerda", justificando a falta de imagens do momento das invasões.

"Esse 8 de janeiro foi programado pela esquerda. Quando você tem imagens do pessoal quebrando lá dentro, não foi quando entrou a turma que começou a quebrar, não. Quebrando sozinho, o cara quebrando o vidro sozinho. Derrubando o quadro sozinho. Você tem essas imagens [...] Só tinha imagens de um magrinho derrubando o relógio [...] Foram 33 alertas da Abin para o GSI. Por isso que no meu entender era algo programado. Só pode ter sido pela esquerda".

Ele se referiu aos invasores como "pobres coitados, com bíblia na mão" e defendeu que o ato golpista foi "vandalismo". "Vai dar golpe em um prédio? Sem nada, sem presidente, sem arma? Você acha que vai preparar um golpe com 1500 pessoas e isso não vaza?", afirmou.

Bolsonaro ainda se defendeu dizendo que na data não estava no Brasil e afirmou que "tinha o pressentimento de que alguma coisa esquisita poderia acontecer". O ex-presidente viajou para os Estados Unidos após a eleição de 2022.

Áudios inéditos revelados pelo Fantástico, da TV Globo, mostram o envolvimento de militares e civis em um plano de golpe de Estado após a derrota de Bolsonaro em 2022. Conversas obtidas pela Polícia Federal indicam que militares em postos de comando incentivaram a participação popular, e quando não conseguiam avançar, buscavam apoio direto do ex-presidente.

Ao ser questionado sobre os áudios, o ex-presidente afirmou que estudou hipóteses para decretar estado de defesa e de sítio após o Tribunal Superior Eleitoral decidir multar o PL caso o partido questionasse os resultados nas eleições.

"Nós temos que nos preparar. Em havendo um problema no Brasil, como vamos reagir? [...] Houve uma convocação dos conselhos da defesa da minha parte? Para o estado de sítio? Não. Vamos supor que tivesse convocado. Eu mandaria uma mensagem para o Congresso. Com exposições de motivos. Pedindo ao Congresso autorização para baixar o decreto [...] Mas se não houve nem convocação dos conselhos, sem comentários. Não houve nem tentativa, nem convocação, nada. Por que essas conversas? De hipóteses de dispositivos constitucionais. Porque nos foi negado, a gente queria discutir com TSE."

Durante a entrevista, Bolsonaro ainda falou sobre sua relação com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump e sua família. Ele afirmou que "Deus me salvou da facada como salvou Trump do tiro", comparando sua trajetória à do ex-presidente dos Estados Unidos. Ao comentar sua relação com Trump, afirmou que "sabia meu lugar ao falar com ele".

Em tom descontraído, relembrou as críticas que recebeu no início do relacionamento com Michelle Bolsonaro, dizendo que as colegas da ex-primeira-dama alertavam: "Se você ficar com ele, vai te espancar".