Wall Street faz coro para Biden desistir e vê Fed mais restritivo com Trump

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O frustrante desempenho do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, no primeiro debate contra o ex-presidente Donald Trump fez Wall Street reforçar o coro pela desistência do democrata nas eleições presidenciais americanas. Investidores já começam a pensar em como posicionar os seus portfólios para capturar ganhos em uma eventual vitória do republicano, considerando suas principais estratégias econômicas, de redução de impostos, desregulamentação e aumento de tarifas.

Os pedidos para Biden largar a corrida à Casa Branca começaram de forma instantânea ao fim do debate, que aconteceu na quinta-feira, 27, em Atlanta, na Geórgia. Foi a primeira vez que Trump e Biden se enfrentaram desde 2020, sem público ou assessores.

O megainvestidor de Wall Street Bill Ackman, da gestora Pershing Square, puxou a fila ao defender que Biden deve abandonar a tentativa de reeleição neste ano. Em seu lugar, ele voltou a citar o maior banqueiro do mundo, Jamie Dimon, CEO do JPMorgan, como o candidato que o partido Democrata deveria escolher para duelar com Trump.

"O fato é que Biden não pode ser nosso próximo presidente. Se o partido Democrata fosse inteligente, Jamie Dimon seria o candidato. Jamie disse que não concorreria a menos que fosse ungido presidente. Esta seria a sua unção", escreveu Ackman, em seu perfil no X (antigo Twitter).

O fundador do Venture for America e empresário americano Andrew Yang também pediu a retirada de Biden da corrida à Casa Branca. Ele afirmou que "Biden é uma boa pessoa e que deve fazer o que é certo para o país". Yang foi candidato nas primárias democratas de 2020.

A consultoria inglesa TS Lombard considera "difícil" trocar Biden no contexto atual. Mas o democrata pode sofrer pressão para abandonar o posto, seja através de aliados ou do ponto de vista financeiro. "Se todos os grandes doadores começarem a reter doações para pressionar o presidente a desistir em favor de um candidato mais viável, isso será um sinal importante", diz a diretora geral de pesquisas políticas da TS Lombard, Grace Fan.

De acordo com ela, a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, encabeça a lista de possíveis substitutos para disputar a corrida à Casa Branca do lado do partido democrata. Outros nomes de possíveis candidatos seriam os dos governadores da Califórnia, Gavin Newsom; de Illinois, J.B. Pritzker; de Michigan, Gretchen Whitmer; e da Pensilvânia, Josh Shapiro.

Apesar do coro generalizado para Biden abandonar a tentativa de uma reeleição, o britânico Barclays considera como "improvável" que o democrata abandone a corrida à Casa Branca. O banco, assim como a consultoria Capital Economics, veem chances de o atual presidente dos EUA se recuperar até as eleições americanas, que acontecem em novembro.

O analista do Barclays Michael McLean diz que outros políticos americanos passaram por turbulências em suas candidaturas, mas conseguiram se reerguer e acabaram vencendo as eleições. Como exemplo mais recente, cita o senador democrata John Fetterman, casado com a brasileira Gisele Barreto Fetterman. Ele sofreu um derrame em 2022, mas acabou garantindo o assento na Pensilvânia ao partido Democrata após a sua mulher entrar em cena e conduzir a campanha enquanto o democrata se recuperava.

"Tal como as condenações criminais de Trump não se revelaram um golpe fatal, Biden pode se recuperar de um debate sem brilho", diz o economista-chefe para as Américas da Capital Economics, Paul Ashworth.

O primeiro debate foi marcado por ataques pessoais e mútuos, iniciados já na primeira pergunta, sobre economia. Temas como inflação, imigração, guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza, além de políticas comerciais estiveram no centro dos debates.

Pesquisa de opinião da CNN apontou que 67% dos espectadores elegeram Trump, de 78 anos, como o vencedor do debate, enquanto 33% classificaram a desenvoltura de Biden como a melhor da noite. A imprensa americana repercutiu as várias mentiras do republicano durante o debate. Foram 26, contabilizou o The New York Times. Mas as manchetes dos jornais americanos também evidenciaram a fraqueza de Biden, de 81 anos, e que terá 86 anos ao final de um eventual segundo mandato.

A reação levou os investidores a começarem a se preparar para uma possível administração Trump. "É provável que [os investidores] aumentem a exposição às ações dos EUA, com foco em setores que provavelmente se beneficiarão da desregulamentação e de impostos mais baixos, como tecnologia, energia e serviços financeiros", afirma o CEO do deVere Group, Nigel Green.

Em termos de política monetária, o banco americano Brown Brothers Harriman (BBH) avalia que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) pode ser restritivo por mais tempo em Trump II. "Trump planeja reduzir impostos e aumentar tarifas se for eleito. Esta combinação é inflacionária e poderá forçar o Fed a manter uma política restritiva por mais tempo", conclui. (COLABOROU GABRIEL TASSI LARA)

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O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou o ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992) a cumprir pena em prisão domiciliar. Segundo a defesa, o ex-presidente ficará em Maceió.

A decisão tomada nesta quinta-feira, 1º, levou em consideração a idade e os problemas de saúde do ex-presidente. "A necessidade de tratamento específico admitem a concessão de prisão domiciliar humanitária", escreveu Moraes.

Collor terá que usar tornozeleira eletrônica e só poderá receber visitas de advogados, de médicos e da família. Moraes determinou a suspensão do passaporte do ex-presidente.

A defesa pediu a prisão domiciliar humanitária alegando que Collor enfrenta comorbidades graves e depende de medicamentos de uso contínuo.

Ao ser ouvido na audiência de custódia - horas depois de ser preso na madrugada de sexta passada, 25 -, no entanto, o ex-presidente negou ter problemas de saúde ou tomar remédios.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, foi a favor da prisão domiciliar "excepcional". Em parecer enviado ao STF, Gonet afirmou que a defesa comprovou a "gravidade" do quadro de saúde de Collor.

Por exigência de Moraes, os advogados tiveram que apresentar histórico médico, prontuários, laudos e exames que atestassem os problemas de saúde do ex-presidente.

O ministro afirma na decisão que houve a "constatação real da presença progressiva de graves sintomas não motores e motores" da Doença de Parkinson, "inclusive histórico de quedas recentes".

"A compatibilização entre a Dignidade da Pessoa Humana, o Direito à Saúde e a efetividade da Justiça Penal indica a possibilidade de concessão da prisão domiciliar humanitária à Fernando Affonso Collor de Mello, pois está em tratamento da Doença de Parkinson - há, aproximadamente, 6 (seis) anos", diz a decisão.

Collor foi preso para cumprir a condenação de 8 anos e 6 meses em um processo da Operação Lava Jato. Collor foi considerado culpado pelo recebimento de R$ 20 milhões em propinas da UTC Engenharia em troca do direcionamento de contratos de BR Distribuidora. Ele está detido no Presídio Baldomero Cavalcanti de Oliveira, em Maceió.

A prisão foi decretada por Alexandre de Moraes e depois confirmada pelo plenário do Supremo Tribunal Federal. O ministro considerou que não há mais recursos possíveis para reverter a condenação do ex-presidente e que os pedidos da defesa agora são apenas "protelatórios".

O líder do PDT na Câmara dos Deputados, Mário Heringer (MG) critica a condução do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na crise que envolve o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e o tratamento dado ao ministro da Previdência, Carlos Lupi. Segundo ele, a demissão do chefe da pasta também poderia levar à saída da bancada da base.

"Eu defendo essa posição (a saída). Minha bancada, até onde sei, todos defendem essa posição. É claro que não depende só exclusivamente de mim, mas essa é a posição que defenderei", afirmou.

Na avaliação dele, o governo vem adotando posição duvidosa na condução da crise. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, defendeu a permanência de Lupi no governo, mas afirmou que se houver algo no futuro, será afastado. Poucas horas após essa entrevista, Lula nomeou o procurador federal Gilberto Waller Junior como novo presidente do INSS, sem consultar Lupi.

"A entrevista da Gleisi foi salomônica. Ela fala que o governo vai manter o ministro e logo embaixo o ministro desqualifica o ministro fazendo a indicação do presidente do INSS sem ter conversado com Lupi antes. Se ele acreditasse na nossa posição, chamaria o Lupi junto e indicariam juntos", disse Heringer.

Para o líder do PDT na Câmara, o governo deveria assumir parte da responsabilidade, e não jogá-la apenas a Lupi.

"Na verdade, quem indica é o ministro, mas quem aprova é a Casa Civil. Lupi indicou, mas vocês assinaram embaixo". afirmou. "Essa responsabilidade é que o governo deveria entender que tem na indicação, e ter trabalhado junto conosco junto na defesa da posição do ministro. Isso é uma posição de extremo constrangimento."

Na semana passada, a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram uma operação que identificou um esquema de cobranças irregulares que soma R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024, segundo a PF.

No processo, 11 entidades associativas foram alvo de medidas judiciais. Em troca dos descontos mensais, elas afirmam que prestam serviços dos mais diversos tipos, como assistência funerária, consultas médicas e "maridos de aluguel" (reparos em residências). A operação levou à queda o ex-presidente do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), Alessandro Stefanutto, indicado por Lupi.

Nesta quarta-feira, 31, a Justiça Federal decretou a quebra do sigilo das comunicações pessoais e corporativas de Stefanutto e mais seis ex-integrantes do alto escalão da autarquia sob suspeita de envolvimento com o esquema.

Na Câmara, a pressão sobre o governo e sobre Lupi crescem. Também na quarta-feira, a oposição protocolou um requerimento pedindo a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as fraudes. Cabe ao presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), abrir ou não a CPI.

Em audiência na Câmara nesta terça-feira, o ministro da Previdência, Carlos Lupi se defendeu e disse que não houve ações sobre as fraudes agora sob investigação em governos passados e afirmou que já está aparecendo quem são os mentores.

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho (PT), disse nesta quinta-feira, 1.º, que a permanência do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), no cargo passa por uma avaliação das condições políticas do governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) resiste a demitir o aliado e quer mostrar que o centro da crise está no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).

Lupi está acossado desde a semana passada pelo escândalo bilionário dos descontos indevidos nos benefícios recebidos por aposentados e pensionistas, que veio à tona após uma operação da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU).

Marinho fez a declaração para a imprensa ao chegar ao ato de 1.º de Maio promovido pelas centrais sindicais na zona norte de São Paulo. Ao contrário de anos anteriores, Lula não participou do evento após o baixo comparecimento no ato de 2024.

De acordo com Marinho, quando há troca de ministro "não necessariamente" o motivo é o cometimento de alguma ilegalidade.

"A condição política pode determinar a continuidade ou não (do ministro do cargo). O que o governo está fazendo é dar instrumento ao ministro Lupi, primeiro, mostrar capacidade de resolver os problemas. Hoje, tem um novo presidente do INSS, que é a instituição principal para solucionar esses problemas. Então, o ministro tem em mãos todas as ferramentas para virar essa chave. Vai depender agora da funcionalidade, da velocidade dessas soluções", disse Marinho.

Como mostrou o Estadão, Lula determinou uma intervenção no INSS e escolheu na quarta-feira, 30, o procurador federal Gilberto Waller Júnior como novo presidente do órgão. Ele substitui Alessandro Stefanutto, indicado de Lupi que pediu demissão após ser afastado pela operação da PF.

Um dos objetivos da intervenção determinada por Lula é mostrar a origem do esquema, que, de acordo com a Polícia Federal, começou no governo de Jair Bolsonaro.

Este ponto foi reforçado por Luiz Marinho ao chegar ao evento das centrais sindicais. "Esse fato começou em 2019, no governo anterior. Houve ali a criação de uma quadrilha para prejudicar os aposentados e pensionistas. À medida que se descobriu, o governo determinou a apuração rigorosa. Doa a quem doer, nós vamos até o fim da apuração e quem dever tem que pagar", disse.

Macêdo diz que não há nada que 'desabone' conduta de Lupi

Ao discursar no ato em São Paulo, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo, disse que quem tinha que ser preso, afastado ou demitido assim o foi. Em entrevista, Macêdo afirmou que "até o presente momento" não há nada que "desabone" a conduta de Lupi.

Uma das críticas ao ministro da Previdência Social é a demora em agir após ser informado em 2023 sobre o aumento de denúncias de descontos não autorizados nas aposentadorias e pensões - Lupi nega ter sido omisso e argumenta que ordenou uma apuração sobre o caso, concluída em 2024.

"Ele (Lupi) ou qualquer outro ministro se cometer algum ato que não seja correto está sujeito a ser demitido pelo presidente da República. Reafirmo o que já foi dito pelos autos: não tem nenhum envolvimento do ministro. Portanto, ele tem condição de conduzir sua pasta fazendo as investigações internas que têm que ser feitas", disse Macêdo.

Lula diz que seu governo descobriu fraude no INSS

No pronunciamento feito na quarta-feira em rede nacional de rádio e TV, para comemorar o Dia do Trabalhador, 1.º de Maio, Lula afirmou que foi seu governo quem descobriu a fraude no INSS."Determinei à Advocacia-Geral da União que as associações que praticaram cobranças ilegais sejam processadas e obrigadas a ressarcir as pessoas que foram lesadas", disse o presidente.

Mesmo assim, aliados do presidente defendem a demissão de Lupi, mas o presidente resiste a trocar o aliado para manter o discurso que a crise está concentrada no INSS e para não perder a aliança com o PDT.

A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), defendeu a permanência do pedetista no cargo e afirmou que não há nada contra ele no inquérito da Polícia Federal.

"O presidente (Lula) sempre é muito cauteloso em relação à presunção de inocência. Eu acho que ele (Lupi) está fazendo as explicações, se defendendo. E, obviamente, se tiver alguma coisa que no futuro venha a envolvê-lo, aí não só ele, como qualquer outro ministro, será afastado", disse Gleisi, em entrevista à GloboNews na quarta-feira.

Na tentativa de conter os danos, a pasta anunciou que parte do dinheiro desviado dos aposentados e pensionistas será devolvido na próxima folha de pagamento. A equipe de Lula ainda tenta encontrar, porém, um instrumento legal para ressarcimento de todo o montante. Pelos cálculos da Polícia Federal, os valores descontados irregularmente, de 2019 a 2024, chegam a R$ 6,3 bilhões.