Lula saúda novo primeiro-ministro do Reino Unido: 'conte com Brasil para fortalecer os laços'

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva parabenizou o novo primeiro-ministro eleito do Reino Unido, Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista, nesta sexta-feira, 5. Ao desejar um ótimo mandato ao premiê, o chefe do Executivo disse para Starmer contar com o Brasil para o "fortalecimento" dos laços diplomáticos.

"Quero saudar Keir Starmer, novo primeiro ministro eleito do Reino Unido pelo Partido Trabalhista. Desejo um ótimo mandato", escreveu Lula nesta manhã em publicação no X, antigo Twitter. "Conte com o Brasil para o fortalecimento dos laços diplomáticos entre nossos países, o desenvolvimento sustentável e o fortalecimento da democracia."

O líder do Partido Trabalhista se tornou oficialmente primeiro-ministro do Reino Unido nesta sexta-feira, após reunião com o rei Charles III. Após um cerimonial "beijo de mãos", o monarca convidou o trabalhista para o cargo e lhe concedeu a bênção para que forme um governo em seu nome.

Starmer levou o Partido Trabalhista a uma enorme vitória eleitoral e se tornou o primeiro líder do partido de centro-esquerda a vencer uma eleição nacional no Reino Unido desde Tony Blair, que venceu três eleições consecutivas a partir de 1997.

Com quase todas as 650 disputas declaradas, o Partido Trabalhista havia conquistado mais de 410 cadeiras e os Conservadores estavam a caminho de menos de 130. Essa seria a pior derrota para os Conservadores nos quase 200 anos de história do partido.

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A Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC Brasil) realizada em Balneário Camboriú (SC) no fim de semana deixou clara a estratégia de comunicação bolsonarista para manter os eleitores mobilizados, mesmo fora do poder. A aposta é definir porta-vozes para diferentes públicos e alcançar o máximo possível de pessoas, como já ocorreu na manifestação de 25 de fevereiro na Avenida Paulista.

Nos bastidores, uma pessoa próxima de Bolsonaro e de Michelle confirmou ao Estadão que o grupo pensa a comunicação de forma segmentada para atingir um maior número de setores da sociedade. Há ainda parlamentares cujo papel é incendiar a militância e abordar temas caros ao bolsonarismo, como liberdade de expressão e críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Nessa segmentação, o líder do grupo, ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), adota tom popularesco em seus discursos, enquanto a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) mira o eleitorado feminino com toques religiosos. Outro expoente do bolsonarismo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) é responsável pelo discurso técnico em relação à economia e à infraestrutura, listando medidas adotadas pelo governo Bolsonaro nessas áreas.

Completando o "elenco", o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) tem função dupla: se dirige aos jovens com uma linguagem dinâmica e própria das redes sociais, ao mesmo tempo em que permeia suas falas com referências religiosas. O pai do parlamentar é pastor em Belo Horizonte.

"A direita precisa ter paciência, não passiva, mas ativa. E é necessário a gente construir 'Bolsonaros' em cada área da sociedade. Caso contrário, a gente está deixando um espaço vazio e esse espaço vazio não vai ficar vazio. Essa é uma das características da política", disse Nikolas, em um mini-documentário exibido durante a CPAC Brasil.

Fortalecimento da direita internacional

O evento também teve entre seus objetivos o fortalecimento dos laços com outros elementos da direita internacional. O principal destaque foi o presidente da Argentina, Javier Milei, mas políticos do Chile, de El Salvador e da Holanda também discursaram. Essa frente de ação é coordenada por Eduardo Bolsonaro (PL-SP), organizador da CPAC Brasil.

Havia expectativa de que Milei fizesse novas críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com quem trocou farpas ao longo da semana passada, mas ele não fez referências ao petista em sua passagem pelo Brasil. Em vez disso, direcionou sua artilharia de forma genérica para "governos socialistas" da América Latina e afirmou que Bolsonaro é alvo de "perseguição judicial".

Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal por peculato, lavagem e associação criminosa no caso das joias sauditas, revelado pelo Estadão em março do ano passado. O assunto foi pouco comentado no evento ao longo do fim de semana. No discurso, o ex-presidente limitou-se a dizer que "não vai recuar".

Ao ser questionado pelo Estadão após o evento, ele disse que só falaria sobre o assunto em uma sabatina ao vivo na TV Globo. Já Michelle Bolsonaro também desconversou e afirmou que era necessário perguntar para quem "ficou com as joias".

Nikolas Ferreira ganha exposição

Embora seja apenas um deputado federal, como mais de uma dezena dos que discursaram, Nikolas Ferreira teve destaque na conferência. Cotado para ser candidato ao governo de Minas Gerais em 2026, ele foi o responsável por abrir o painel de encerramento do primeiro dia, enquanto Bolsonaro, Michelle, Tarcísio e o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL-SC) estavam no palco. Com um cargo mais alto na hierarquia política em comparação com Nikolas, o senador Jorge Seif (PL-SC) participou do painel, mas não teve direito à palavra.

Um documento interno da organização do evento sobre a ordem e o tempo de fala de cada palestrante mostra o status do deputado mineiro entre os bolsonaristas. Segundo a programação, Nikolas teria direito a discursar por 25 minutos, tempo inferior somente aos 40 minutos previstos para Jair Bolsonaro e o presidente da Argentina, Javier Milei, que encerraram o evento no sábado e no domingo, respectivamente.

Como comparação, Tarcísio e Jorginho poderiam falar no máximo por 20 minutos cada. Outros deputados federais, como Marcos Pollon (PL-MS) e Mário Frias (PL-SP), tiveram direito a 10 minutos cada. Os tempos não foram seguidos à risca por causa de atrasos e remanejamentos ao longo dos dois dias

Além disso, o livro de Nikolas, "O Cristão e a Política", foi o mais vendido do evento, segundo uma funcionária da livraria instalada no local.

Eleições municipais viram assunto principal e imprensa é hostilizada

De forma geral, as palestras da CPAC Brasil pouco abordaram a pauta de costumes, que é cara ao bolsonarismo, com temas como aborto, drogas e combate ao feminismo, mas houve menções a uma suposta ditadura judicial instalada no País, além de queixas sobre censura e liberdade de expressão, assim como pedidos para anistiar pessoas presas por participarem dos atos golpistas de 8 de Janeiro.

O foco, porém, foram as eleições municipais. Deputados e lideranças bolsonaristas que discursaram pediam a todo momento que pré-candidatos a vereador e prefeito que estavam na plateia levantassem a mão e frisavam que um bom desempenho no pleito era fundamental para sustentar uma candidatura presidencial bolsonarista em 2026.

Apesar de Bolsonaro estar inelegível, ele foi apontado ao longo dos dois dias do evento como o pré-candidato da direita e alguns deputados, como o paulista Gil Diniz (PL-SP), criticaram governadores que tentam se viabilizarem como sucessores do ex-presidente.

Tarcísio de Freitas, nome mais cotado para herdar o espólio político do ex-chefe do Executivo, foi efusivamente elogiado por Bolsonaro, o que tem se tornado praxe nos últimos meses. O governador paulista afirma que não deseja se candidatar a presidente em 2026 e prefere tentar a reeleição.

Políticos que perderam expressão com o fim do governo Bolsonaro também circularam entre o público, como os ex-ministros Onyx Lorenzoni (PL-RS), que está sem mandato, e Osmar Terra (MDB-RS), atualmente deputado federal.

Por outro lado, não houve destaque para a pré-candidatura do filho "04" do ex-presidente, Jair Renan (PL-SC). Ele é pré-candidato a vereador em Balneário Camboriú, cidade sede do evento, e integrantes do PL local apostam que ele será puxador de votos com potencial para aumentar a bancada do partido dos atuais 5 vereadores para 7 - o Legislativo municipal tem 19 parlamentares no total.

Desconfortável em conceder entrevistas, Jair Renan afirmou ao Estadão, quase de forma monossilábica, que está empolgado com a pré-candidatura, mas depois entrou em uma área reservada e não respondeu à pergunta sobre quais eram seus projetos para a cidade.

A imprensa foi hostilizada em duas ocasiões. No sábado, a reportagem do Estadão foi xingada por bolsonaristas após perguntar a Michelle Bolsonaro sobre o indiciamento da Polícia Federal. Um grupo de pessoas seguiu o repórter e um deles o empurrou com o ombro. Já no domingo, uma repórter da CNN Brasil teve que ser escoltada para fora do local do evento ao ser hostilizada por dezenas de pessoas.

"A direção da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC) repudia veementemente toda e qualquer forma de agressão aos profissionais de imprensa. O CPAC é um espaço democrático e tem como princípio a garantia da liberdade de expressão a todos", disse a organização do evento em nota enviada ao canal de televisão.

A CPAC Brasil foi realizada no Expocentro de Balneário Camboriú, onde foram instaladas cerca de 3.500 cadeiras. A organização anunciou que os ingressos, vendidos a R$ 250, esgotaram. Foram cobrados R$ 21,90 para quem quisesse assistir online, mas o link não funcionou e havia uma transmissão oficial gratuita no YouTube.

Houve problemas de organização, principalmente no sábado. O sistema de credenciamento e leitura dos ingressos não funcionou na parte da manhã e o público acessou o auditório mesmo sem comprovar que havia adquirido as entradas. O Estadão também flagrou um homem que conseguiu entrar no prédio sem passar pela revista por detector de metais. No período da tarde e no domingo os problemas foram corrigidos.

A organização também aproveitou para vender souvenirs do bolsonarismo, como o vinho Bolsonaro, lançado por Eduardo Bolsonaro, porta-retratos com fotografias do ex-presidente e uma tiara de flores, marca da deputada federal Júlia Zanatta (PL-SC) adotada por diversas mulheres que circulavam pelo CPAC Brasil. A versão mais cara do adereço foi vendida por R$ 100.

A parlamentar processou no mês passado o influenciador Felipe Neto por associá-la ao nazismo por causa da tiara. "Eu tenho muito orgulho de ser catarinense e não ligo se falam. Têm muitas tiarinhas aqui. A venda das tiaras mais volumosas se esgotou. Serão muitas tiarinhas por todo o Brasil", disse ela durante sua fala no evento.

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu disse, em entrevista ao Canal Livre, da Bandeirantes, que a taxa de juros no Brasil "não subiu ou desceu por causa dos ataques (do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Banco Central) ou porque deixou de atacar".

Na entrevista divulgada neste domingo, 7, Dirceu avaliou haver "uma situação global". "O dólar subiu na Coreia do Sul, no Japão, no Chile, no México, na Colômbia e até em países europeus. Há uma situação global. O Brasil está crescendo, emprego crescendo, renda crescendo, superávit da balança comercial, País está com rumo, reforma tributária aprovada", afirmou.

Questionado sobre a política fiscal do governo Lula, José Dirceu defendeu uma reforma tributária sobre a renda. Segundo ele, essa mudança seria essencial para suportar o Estado de bem-estar social e os gastos públicos com o lado social defendidos por Lula e respaldados pela Constituição.

"Temos um problema gravíssimo. Fizemos uma Constituição em 1988 com Estado de bem-estar social, que não existe em outros países da América Latina, mas não fizemos reforma tributária sobre a renda, riqueza e patrimônio, que a Europa fez no século 19. Se trouxer para o Brasil a estrutura tributária da OCDE, está resolvido o problema do Brasil".

Governabilidade

O ex-ministro de Lula disse, ainda, que o presidente enfrenta um problema de governabilidade crônico por causa do tamanho de sua base aliada mais fiel no Congresso.

"O mundo mudou e o Brasil mudou. No Congresso, os partidos que o apoiaram (nas eleições) são minoria. Tem 300 votos liderados pelo Arthur Lira. Esse é um governo quase impossível. O Partido Trabalhista venceu na Grã-Bretanha, vai governar com 410 deputados. Governos em minoria no Congresso têm dificuldade de implementar sua agenda", declarou.

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu disse, em entrevista ao Canal Livre, da Bandeirantes, divulgada neste domingo, 7, que o governo deveria ter formado uma "mesa da frente ampla" que apoiou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva logo após a eleição de 2022, com o intuito de dar "uma cara da frente ampla".

"(Nas eleições) O governo conseguiu um diálogo com Congresso e forças políticas. O que não aconteceu (depois das eleições)? Devíamos ter constituído uma mesa da frente ampla, com personalidades, com endereço, com posições de apoio ao governo, de propostas e críticas. Com uma cara da frente ampla. Como os partidos têm", disse o ex-ministro.

Dirceu disse que pretende reorganizar sua vida nos próximos meses antes de decidir seu futuro político. Ele afirmou que teria sido preso no âmbito da Operação Lava Jato para que fizesse uma delação premiada.

"Tenho que reorganizar a minha vida. À medida em que vou sendo absolvido. Fui preso quatro vezes, não me deixavam solto, porque queriam que eu fizesse delação. Eu escrevi dois livros de memórias, o segundo que devo publicar até março. Procurei ler e reler clássicos brasileiros", afirmou o ex-ministro, citando que ainda "há uma pendência" na Justiça.

"A única razão para me prender era para denunciar o Lula. Está na Vaza Jato as conversas. 'Arruma um processo aí, denuncia a filha dele que ele faz delação. Ele vai morrer na prisão. Agora vai fazer delação quando denunciarmos a filha dele'. O (Antonio) Palocci é outra história que não vou entrar aqui porque não é do meu feitio", declarou.

Questionado se jantou com o presidente Lula nos últimos dias, negou. "Não falo com o presidente pessoalmente desde que ele tomou posse. Eu falo com os ministros, com presidentes de partido. Tenho relação com deputados, senadores e governadores. Atuo politicamente, isso é quase necessário na minha vida", declarou.

"Agora é a eleição de 2024 que interessa, depois a renovação do PT no ano que vem. Aí em 2026, vamos ver como me recoloco na vida política institucional do País", completou.