A primeira-dama Rosângela da Silva, a "Janja" deve embarcar para Roma no próximo mês para participar de uma reunião que definirá o presidente da Aliança Global de Combate à Fome. A primeira-dama vai acompanhar o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias. A previsão é que a viagem ocorra entre os dias 9 e 13 de fevereiro.
Ao Estadão, Wellington Dias afirmou que ele e Janja foram convidados para uma programação na capital italiana. Além da reunião da Aliança Global de Combate à Fome, a primeira-dama deve participar de uma reunião do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), que é vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU) e tem sede em Roma.
"Eu reforcei a importância de irmos juntos, considerando a experiência técnica e atuação dela na área social", afirmou o ministro do Desenvolvimento Social. Segundo Dias, a agenda na Itália e a presença de Janja deve ser discutida a partir desta quinta-feira, 30.
O objetivo da viagem de Janja e Dias é conquistar a presidência da Aliança Global de Combate à Fome, um bloco multilateral formado por 142 membros entre países, instituições internacionais e organizações não governamentais (ONGs). A iniciativa foi lançada durante a última Cúpula de Líderes do G-20, realizada no Rio em novembro do ano passado.
Como mostrou o Estadão, Janja não exerce cargo no governo federal, mas conta com uma equipe "informal" que exerce funções de assessoria à primeira-dama e a acompanha em viagens ao exterior. O time de Janja conta com ao menos 12 pessoas e, desde o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), gastou mais de R$ 1,2 milhão em viagens, entre custos com translado e diárias.
Apesar de não possuir cargo formal no governo, Janja viaja acompanhada do aparato de segurança oficial do País, formado por policiais e delegados federais.
Janja esteve em julho de 2024 em Paris, na França, para a abertura das Olimpíadas. A primeira-dama representou o governo brasileiro na cerimônia, uma prática que, embora comum entre outras nações, contraria a postura adotada por Lula em seus dois primeiros mandatos presidenciais. O petista representou o País na solenidade em Atenas, na Grécia, em 2004 e em Pequim, na China, em 2008.
Nos Jogos de Paris, Lula alegou "agenda cheia", mas não escalou seu sucessor imediato, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). A concessão de uma credencial oficial a Janja, conferida pelo Comitê Olímpico Brasileiro após o prazo para o requerimento, foi criticada por políticos de oposição.
Na época, o Estadão mostrou que o erário pagou R$ 203,6 mil para custear a estadia da comitiva de Janja na capital francesa. Além do gasto com as passagens aéreas da primeira-dama, estão na soma os valores de passagens aéreas e diárias internacionais de cinco servidores que integraram o grupo. Só para o deslocamento aéreo, foram R$ 148,4 mil.
A Transparência Internacional, entidade especializada em acesso a informações públicas e combate à corrupção, criticou a resistência do governo federal em conceder informações sobre viagens da primeira-dama. "É público e notório que a primeira-dama está exercendo função pública, com intensa agenda de representação governamental e equipe de apoio", afirmou a ONG.
O posicionamento da entidade veio à tona após o jornal O Globo mostrar que o governo federal, em repetidas ocasiões, negou a concessão de informações sobre Janja sob o argumento de que a primeira-dama não detém cargo formal.
Como mostrou o Estadão, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, resistiu a nomear Janja para um cargo oficial no governo. Durante os primeiros meses do terceiro mandato presidencial de Lula, a primeira-dama chegou a trabalhar no desenho de seu futuro gabinete.
No entendimento de Costa, porém, um cargo formal para Janja poderia configurar nepotismo. Em novembro de 2024, durante entrevista à CNN Brasil, a esposa de Lula atribuiu a negativa para possuir uma equipe formal ao "machismo".