Teoria da conspiração acusa Kamala de usar brinco com escuta em debate

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times
Apoiadores de Donald Trump espalharam uma teoria da conspiração que explicaria o seu desempenho considerado pior que o de Kamala Harris no debate: a democrata teria trapaceado, usando brincos com tecnologia bluetooth. Suas pérolas seriam, na verdade, escutas. Mas um olhar atento da suposta evidência derruba a tese, desmentida por agências de checagem dos Estados Unidos.

A teoria da conspiração começou a circular no X (antigo Twitter) ainda durante o debate, e chegou a outras redes, como a Truth Social, do próprio Donald Trump. As publicações comparam fotos do acessório usado por Kamala no debate ao Nova H1 audio, fone sem fio embutido em brinco de pérolas banhado a ouro.

"Circulam rumores de que Kamala Harris estava usando brincos com áudio e sendo alimentada com falas. Isso não é contra as regras do debate?", questiona uma publicação na Truth Social, em resposta ao perfil oficial de Trump, que continava espalhando alegações falsas sobre imigrantes depois do debate.

"Ora, ora, ora, brincos de áudio nas orelhas da Kamala", afirma outra publicação com as fotos. No pé da imagem está escrito "siga o coelho branco", expressão associada à teoria da conspiração da extrema direita QAnon.

A tese foi amplificada por perfis conhecidos da extrema direita, como Laura Loomer. "Escolha interessante de brincos para esta noite, Kamala Harris", ironizou. Notória semeadora de mentiras, ela tem viajado com a campanha de Trump e foi associada à alegação infundada de que imigrantes haitianos estariam comendo animais de estimação em Ohio, difundida pelo republicano no debate.

Jason Miller, conselheiro de Trump, compartilhou com um emoji de olho arregalado a declaração da desenvolvedora doNova H1 audio, que fala em "semelhança impressionante" entre os brincos. O que a publicação omite é o tom irônico alemã Icebach Sound.

"Não sabemos se Kamala Harris usava um de nossos produtos. A semelhança é impressionante e, embora nosso produto não tenha sido desenvolvido especificamente para uso em debates presidenciais, ele é adequado para isso", disse o diretor Malte Iversen ao site Just The News.

"Para garantir igualdade de condições para os candidatos, estamos atualmente desenvolvendo uma versão masculina e em breve poderemos oferecê-la à campanha de Trump. A escolha da cor é um pouco desafiadora, pois o laranja não combina com muitas cores", seguiu, em alusão à pele do republicano, que costuma parecer alaranjada.

Ao contrário do que propaga a teoria conspiração, Kamala Harris teria usado o modelo South Sea Pearl Earrings, da joalheria Tiffany, notou o blog "What Kamala Wore". A página que acompanha o estilo da vice-presidente afirma que ela havia usado o acessório em outras ocasiões.

Agências de checagem dos Estados Unidos classificaram a tese como falsa ou infundada, destacando que há diferenças claras entre os brincos. Na verdade, a única semelhança talvez sejam as pérolas.

Os brincos que democrata usou no debate eram compostos por uma pérola, acompanhada por duas hastes finas de ouro, que descem pela orelha no formato de "U". Enquanto o Nova H1 audio é como um brinco de pressão, com uma única estrutura de ouro, mais grossa, que se encaixa no lóbulo.

Eles podem até parecer semelhantes em uma das fotos usadas para disseminar a teoria da conspiração. Acontece que a imagem em questão mostra uma mulher com três brincos, o Nova H1 audio e duas argolas que, olhando de relance, podem lembrar as hastes de ouro do Tiffany de Kamala Harris.

Alegações semelhantes - e infundadas - foram espalhadas antes contra os candidatos do Partido Democrata Hillary Clinton (2016) e Joe Biden (2020), acusados de usar fones de ouvido em debates contra Donald Trump.

E a boataria não é exclusividade da direita. O alvo, nas eleições de 2004, foi o republicano George W. Bush que, segundo os rumores, teria recebido respostas do poderoso estrategista Karl Rove por rádio. A campanha explicou na época que o retângulo no terno, apontado como escuta, era um vinco no tecido.

Em outra categoria

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demitiu Brunna Rosa, aliada da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, da chefia da Secretaria de Estratégias e Redes da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom). A exoneração foi publicada no Diário Oficial da União desta sexta-feira, 17.

Brunna, que coordenou a comunicação digital da campanha de Lula em 2022, será substituída por Mariah Queiroz Costa Silva, responsável anteriormente pelas redes sociais do prefeito de Recife, João Campos (PSB).

Como mostrou o Estadão, a decisão de substituir Brunna Rosa reflete mudanças promovidas por Sidônio Palmeira, novo ministro da Secom. Segundo fontes do Planalto, Janja desejava que Brunna fosse transferida para a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), mas a ideia não foi bem recebida por Sidônio. A tendência é que tanto ela quanto Priscila Calaf, diretora do Departamento de Canais Digitais da Secretaria de Redes, passem a ser ligadas ao gabinete de Lula, onde ficariam na equipe de Janja.

Mariah Queiroz foi apresentada a Lula por Sidônio e Laércio Portela, secretário de imprensa, em uma reunião nesta quinta-feira, 16, antes da sanção da reforma tributária.

Lula também conversou com João Campos, que compartilhou estratégias de comunicação digital consideradas bem-sucedidas na campanha de 2024. Campos foi reeleito com 78,11% dos votos e é o prefeito de capital mais popular no Instagram.

A Secom busca por estratégias mais eficazes para melhorar a aprovação de Lula, que enfrenta 50% de reprovação. A equipe de João Campos foi sondada para colaborar informalmente com a comunicação digital do governo, e parte de seus integrantes deve auxiliar na reformulação da estratégia de redes sociais.

As mudanças na Secom também têm em vista as eleições de 2026, com foco em aumentar a popularidade do governo nas redes sociais. A transição completa da equipe, iniciada com a saída de Paulo Pimenta, deve ser concluída até o final de janeiro. Lula já elogiou publicamente o potencial político de Campos, destacando a postura e o trabalho como prefeito.

Na trilha do programa 'Precatórios: Prioridade Máxima', lançado em 2022 para agilizar a liberação dos valores depositados por entidades devedoras aos credores, o Tribunal de Justiça de São Paulo liberou ao longo do ano passado R$ 12,5 bilhões. O valor foi disponibilizado pela Diretoria de Execuções de Precatórios e Cálculos (Depre). O maior volume diz respeito à Fazenda do Estado (R$ 6,5 bilhões), seguida pela Municipalidade de São Paulo (R$ 3,4 bilhões).

Precatórios são valores devidos pelo Poder Público a um cidadão ou empresa por determinação judicial. Da distribuição do processo até o pagamento do precatório algumas etapas exigidas por lei têm de ser percorridas. Os Tribunais de Justiça estaduais são responsáveis por organizar as filas de precatórios devidos pelo estado, municípios e autarquias que estão sob sua jurisdição.

O credor, muitas vezes, amarga longos anos para receber o seu dinheiro. Para aliviar a espera angustiante que marca a fila dos precatórios, o TJ de São Paulo criou há cerca de três anos o 'Precatórios: Prioridade Máxima'.

O processo tem uma decisão na primeira instância, mas as partes podem recorrer. Quando se esgotam as possibilidades de recurso e o caso é concluído, se a dívida apurada for maior que o limite considerado como pequeno valor pela entidade devedora, ela vira um precatório.

Antes do lançamento do programa, o dinheiro era repassado para contas vinculadas aos juízos de execução, que expediam os mandados de levantamento (MLs), documentos que viabilizam o saque do valor.

"O objetivo do Tribunal de Justiça de São Paulo sempre foi encurtar esse caminho e houve uma adequação do sistema informatizado, para que a própria Diretoria de Execuções pudesse realizar os pagamentos aos credores/beneficiários", destaca o Tribunal.

Desde maio do ano passado, todos os valores passaram a ser liberados diretamente pela Depre, exceto nos casos em que há questões jurisdicionais a serem apreciadas, como, por exemplo, valores penhorados.

"Os resultados são fruto da priorização da Presidência do Tribunal com as atividades do setor, além de um esforço coletivo e compromisso de todos que fazem parte da nossa equipe", enfatiza o desembargador Afonso de Barros Faro Júnior, coordenador da Diretoria de Execuções de Precatórios e Cálculos.

Faro Júnior anota que os procedimentos administrativos 'foram otimizados para que os pagamentos sejam feitos de forma mais eficiente, impactando a vida dos cidadãos que aguardam há algum tempo o pagamento e o efetivo cumprimento das decisões judiciais'.

Outro ponto de destaque, informa o Tribunal, foi a publicação do Provimento CSM nº 2.753/24, que regulamentou a gestão dos precatórios e procedimentos operacionais no âmbito do Poder Judiciário, em complemento à Resolução nº 303/19 do Conselho Nacional de Justiça.

Já estavam em vigor portarias e comunicados esparsos, o que dificultava a orientação das partes e advogados. O novo sistema auxiliou na organização do trabalho, com foco na eficiência e segurança jurídica. "Embora o volume de pagamentos tenha sido expressivo em 2024, estamos trabalhando para que os números sejam ainda maiores neste ano", projeta o desembargador.

Afonso Faro Júnior destaca que a Diretoria sob sua coordenação passou por uma completa reestruturação funcional - Portaria nº 10.521/24 da Presidência -, além de receber mais servidores, contando com equipe atual de 176 colaboradores.

Houve também, ele pontua, 'profunda reformulação do fluxo de tramitação dos expedientes e dos sistemas informatizados, providências imprescindíveis para o desenvolvimento das atividades relacionadas ao processamento, cálculo e pagamento dos precatórios'.

Quando há alguma questão jurisdicional pendente, que impede o pagamento direto pela Diretoria de Execuções e Cálculos, na via administrativa, o valor é repassado para o juízo de execução. Na Capital, a Unidade de Processamento das Execuções Contra a Fazenda Pública (Upefaz) é a responsável pela expedição de mandados de levantamento.

"A Depre é um órgão administrativo e a Upefaz é um órgão jurisdicional. Algumas questões somente podem ser resolvidas pelo órgão jurisdicional e é por isso que alguns depósitos ainda precisam ser encaminhados para o juízo de execução", explica o juiz Bruno Luiz Cassiolato, coordenador da Upefaz.

No ano passado a Upefaz expediu 57.527 Mandados de Levantamento, que movimentaram R$ 6,5 bilhões.

Antes da expedição dos mandados são feitas algumas verificações para garantir que a quantia chegue ao destinatário correto. O trâmite para a liberação de valores é cauteloso, diz o juiz, pois há processos com mais de cem volumes, muitos exequentes, cessões de créditos, diversos advogados habilitados, penhoras, pedidos de habilitações de herdeiros, etc.

Cassiolato pondera que essas tarefas são realizadas de 'maneira criteriosa, porque cabe ao Poder Judiciário afastar eventuais tentativas de fraudes e garantir que os valores sejam destinados aos seus corretos beneficiários'.

"Desde abril, foram implementadas metas para cada setor da Upefaz, fiscalizadas mês a mês, o que gerou impactos positivos em várias tarefas cumpridas pelas equipes, especialmente no prazo de expedição de mandados, que atualmente está em cerca de 20 dias para os casos considerados prioritários e 45 dias para os demais. Em 2025, as metas serão revistas para que os resultados sejam ainda melhores, aumentando a quantidade de levantamentos", afirma Bruno Luiz Cassiolato.

O magistrado ressalta. "Isso será possível não apenas pelas providências de reorganização dos métodos de trabalho da unidade durante o ano anterior, mas, especialmente, pela dedicação e empenho de toda a equipe de servidores e colaboradores, que acreditou nas diretrizes propostas e as executou de forma muito competente."

Mais três juízes do Tribunal de Justiça de Mato Grosso conseguiram na Justiça o direito de receber diferenças salariais referentes ao período em que ficaram afastados das funções. Juntos, Antônio Horácio da Silva Neto, Marcos Aurélio dos Reis Ferreira e Maria Cristina de Oliveira Simões vão ganhar R$ 16,9 milhões.

Os magistrados foram aposentados compulsoriamente pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão que fiscaliza o Poder Judiciário, na esteira de um dos maiores escândalos de corrupção que atingiu o Tribunal de Justiça de Mato Grosso, o Escândalo da Maçonaria.

A investigação da Corregedoria da Corte revelou desvios de R$ 1,4 milhão dos cofres da Justiça de Mato Grosso para uma loja maçônica, entre 2003 e 2005. Ao todo, dez magistrados, entre juízes e desembargadores, foram aposentados compulsoriamente pelo CNJ.

Decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) reverteram as penalidades e abriram caminho para o retorno dos magistrados a seus cargos. Eles foram reintegrados em 2022.

Após reassumirem os cargos, eles deram entrada em ações judiciais para receber retroativamente valores que não foram pagos durante o afastamento. São verbas remuneratórias e indenizatórias, como diferenças da licença-prêmio, da parcela de irredutibilidade e da parcela autônoma de equivalência.

Os pagamentos foram autorizados pelo juiz Paulo Márcio Soares de Carvalho, da 4.ª Vara da Fazenda Pública da Cuiabá, que homologou os valores reivindicados após consultar o Tribunal de Justiça.

"Considerando a ausência de impugnação e a concordância das partes quanto ao valor devido, homologo o cálculo apresentado", diz a sentença.

Os pagamentos serão feitos por meio de precatórios, com prioridade, em razão da idade dos magistrados e da natureza alimentar da verba.

A Justiça de Mato Grosso já havia autorizado o pagamento de R$ 5,8 milhões à juíza Juanita Cruz da Silva Clait Duarte, em um processo semelhante.

O Tribunal de Mato Grosso está entre os que mais gastam com juízes e desembargadores. Dados do Conselho Nacional de Justiça mostram que, em 2023, cada magistrado do Estado custou em média R$ 116,6 mil por mês. Como mostrou o Estadão, todos os 39 desembargadores da Corte vêm recebendo remunerações muito acima do limite permitido pela Constituição. Além disso, servidores do tribunal recebem mais de três vezes o salário dos ministros do STF.