Xangai cancela centenas de voos à medida que tufão Bebinca se aproxima

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Os aeroportos de Xangai, na China, cancelaram centenas de voos neste domingo enquanto se preparam para o impacto do tufão Bebinca, que deve tocar o solo nas primeiras horas da segunda-feira, disseram as autoridades.

 

Voos após às 20h no horário local serão cancelados nos aeroportos de Hongqiao e Pudong, disseram funcionários dos aeroportos em um comunicado, afetando mais de 600 voos. A cidade também anunciou que estava suspendendo viagens em algumas pontes enquanto restringia a movimentação em outras rodovias.

 

O tufão Bebinca está a poucas centenas de quilômetros de distância da costa.

 

A expectativa é de que os ventos do tufão atinjam 151 km/h na noite deste domingo, de acordo com a Administração Meteorológica da China, que o categorizou como um tufão forte.

 

A mídia estatal relatou que 377 mil pessoas foram evacuadas de toda Xangai.

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O PT enviou nesta quarta-feira, 20, ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um pedido de arquivamento do projeto de lei que anistia os condenados pela invasão das sedes dos três Poderes nos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023. O partido argumenta que é "inoportuno" e "inconveniente" manter a tramitação da proposta no Congresso após as revelações da Polícia Federal sobre um plano de assassinato elaborado em 2022 contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

O projeto da anistia quase foi votado em outubro na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), diante da pressão de parlamentares bolsonaristas. No entanto, Lira retirou a proposta do colegiado e a encaminhou para uma comissão especial, o que prolongou o tempo de tramitação.

"Além de demonstrar a gravíssima trama criminosa dos chefes do golpe, que poderiam vir a se beneficiar da anistia proposta, a perspectiva de perdão ou impunidade dos envolvidos tem servido de estímulo a indivíduos ou grupos extremistas de extrema direita", diz nota assinada pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e pelo líder da sigla na Câmara, Odair Cunha (MG).

A anistia chegou a virar assunto da sucessão de Lira na Câmara. Nas negociações para apoiar o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), favorito para vencer a eleição da Mesa Diretora em fevereiro, o PT pediu compromisso com o arquivamento do projeto. O PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, defendeu o avanço do texto. Para que o tema não contaminasse o processo sucessório, Lira avisou que resolveria o imbróglio ainda este ano. A promessa abriu caminho para que tanto o PT quanto o PL embarcassem na candidatura de Motta.

No requerimento enviado a Lira, Gleisi e Odair pedem o arquivamento do projeto da anistia "em virtude da perda de oportunidade". Os petistas argumentam que o presidente da Câmara tem a atribuição de engavetar uma proposta legislativa de ofício, ou seja, por decisão própria.

"Os recentes e gravíssimos acontecimentos relacionados com o objeto de deliberação do presente Projeto de Lei configuram inquestionável perda de oportunidade, de maneira que se faz necessário o seu arquivamento", diz o requerimento.

O plano de matar Lula, Alckmin e Moraes foi revelado nesta terça-feira, 19, pela PF na Operação Contragolpe. Foram presos o general reformado Mário Fernandes, ex-assessor do governo Bolsonaro; Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira e Rodrigo Bezerra de Azevedo, todos militares das Forças Especiais do Exército, conhecidos como "kids pretos"; e Wladimir Matos Soares, policial federal. Eles são suspeitos de planejar um golpe de Estado após a derrota de Bolsonaro para Lula nas eleições de 2022.

De acordo com a PF, o general Braga Neto, ex-ministro da Defesa de Bolsonaro, participou de uma reunião em sua residência no dia 12 de novembro de 2022. Na ocasião, segundo os investigadores, foi apresentado e aprovado o plano chamado de "Punhal Verde e Amarelo". A PF afirma que o plano chegou a ser iniciado em 15 de dezembro de 2022, mas acabou abortado.

"O maior beneficiário dos crimes e do golpe seria Jair Messias Bolsonaro. E agora querem dizer que ele não tinha nada com isso? O Brasil só terá paz e só ficará livre dos terroristas da extrema direita quando todos eles pagarem por seus crimes, a começar pelo chefe", publicou Gleisi em seu perfil no X (antigo Twitter).

No documento enviado a Lira, o PT também cita o atentado que ocorreu no último dia 13 na Praça dos Três Poderes, quando um homem chamado Francisco Wanderley Luiz explodiu bombas em frente ao STF e em área próxima à Câmara dos Deputados. Ele morreu no local. Em depoimento à PF, a ex-mulher de Francisco, Daiane Dias, revelou que o plano era assassinar Moraes.

No último dia 14, um dia após o atentado em Brasília, o PSOL também pediu a Lira o arquivamento do projeto da anistia. Nesta terça-feira, 19, o partido fez um ato na Câmara contra o projeto e defendeu a prisão de Bolsonaro, que é investigado por possível participação nos planos golpistas.

O ato teve a participação dos deputados do PSOL Chico Alencar (RJ), Glauber Braga (RJ), Ivan Valente (SP), Luciene Cavalcante (SP), Luiza Erundina (SP), Sâmia Bomfim (SP) e Tarcísio Motta (RJ). Também marcaram presença os parlamentares do PT Elton Welter (PR), Erika Kokay (DF) e Rogério Correia (MG).

Os deputados de esquerda se reuniram em frente a um busto de homenagem a Rubens Paiva, ex-deputado do PTB que foi cassado durante a ditadura militar e assassinado após ter sido preso por militares. Os parlamentares também ergueram um cartaz do filme Ainda Estou Aqui (2024), que conta a história da família Paiva.

"Seguem as demonstração de que há um grande complô, uma grande organização que envolve civis, militares, parlamentares e empresários que não se contentam com as liberdades democráticas duramente conquistadas por todos aqueles que lutaram contra a ditadura civil-militar, que não se contentam com o resultado das eleições que deram a vitória ao presidente Lula", disse Sâmia Bomfim.

"Essa figura não pode continuar solta", afirmou Erundina, ao defender a prisão de Bolsonaro.

A Operação Contragolpe, deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta terça-feira, 19, identificou um padrão utilizado pelo general da reserva Mário Fernandes para nomear arquivos de conteúdo "sensível".

Segundo a investigação, Fernandes é o autor do plano "Punhal Verde e Amarelo", que continha um detalhamento para executar, em dezembro de 2022, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e a chapa vencedora das eleições presidenciais daquele ano, formada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB). A ação esperava o apoio operacional de "kids pretos", como são conhecidos os recrutas das Forças Especiais do Exército Brasileiro. O documento contendo o plano foi nomeado como "Fox_2017.docx".

O general também foi identificado como o autor de uma minuta com nomeações para um "gabinete de crise", o qual, segundo a investigação, assumiria a gestão do País após as execuções. O esboço foi nomeado como "HD_2022.docx". Também foram atribuídos a Fernandes documentos de nome "Ranger_2014.docx" e "BMW_2019.docx". De acordo com a PF, o padrão utilizado pelo general foi o de nomear os arquivos com o modelo e o ano de seus veículos pessoais: Fox, da marca Volkswagen; "HD", acrônimo da marca de motos Harley-Davidson; Ranger, da Ford; e BMW.

Outro padrão identificado pelo inquérito foi o de conteúdos iguais em arquivos de nomes diferentes. Segundo a PF, as renomeações ocorriam quando havia a "necessidade de encaminhar ou imprimir os documentos", de modo que o general despistasse sua autoria do arquivo.

O arquivo com o plano de execuções de Moraes, Lula e Alckmin, por exemplo, foi renomeado de "Fox_2017.docx" para "Plnj.docx" minutos antes de ser impresso nas dependências do Palácio do Planalto, o local de trabalho do presidente da República. A sequência de letras no novo nome do arquivo indica uma abreviação da palavra "planejamento".

Meia hora depois da imprde essão no Planalto, há um registro da entrada de Fernandes no Palácio da Alvorada, a morada oficial do presidente. A proximidade de tempo entre a impressão do documento e o registro de entrada no Alvorada indica, segundo a PF, que o plano execuções foi levado ao conhecimento de Jair Bolsonaro.

A PF também identificou que o arquivo "Ranger_2014.docx" se tornou "Boa tarde.docx" e o "BMW.2019.docx" se converteu em "Obs_EB - Nov 22 (Filtro).docx". O relatório da investigação da PF não expõe o conteúdo desses documentos, mas afirma que eles se encontravam em uma pasta denominada "ZZZZ_Em Andamento", indicando ações que já estavam em curso.

O plano exposto pela Operação Contragolpe foi abortado antes de ser consumado, mas a PF identificou ações preparatórias que efetivamente entraram em curso, tais como o monitoramento da rotina de Alexandre de Moraes e o deslocamento de envolvidos no plano nas proximidades da sede do STF.

Durante o governo de Jair Bolsonaro, Mário Fernandes assumiu interinamente a Secretaria-Geral da Presidência. No momento dos fatos investigados pela PF, Fernandes era secretário-executivo da pasta.

A Polícia Federal prendeu nesta quarta-feira, 19, um general da reserva, ex-integrante do governo Jair Bolsonaro (PL), outros três oficiais militares e um policial federal suspeitos de participação em uma trama para o assassinato do então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e do vice, Geraldo Alckmin, além do sequestro e execução do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

A Operação Contragolpe é um desdobramento do inquérito que investiga uma "organização criminosa" suspeita de atuar em tentativa de golpe de Estado e abolição do estado democrático de direito após o resultado da eleição presidencial de 2022 - quando Lula venceu o ex-presidente no segundo turno da disputa por uma margem pequena de votos.

A nova investida dos agentes federais amplia as suspeitas sobre Bolsonaro e seu entorno, descrevendo atuações do ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, general Braga Netto, e, principalmente, do general reformado Mário Fernandes, ex-secretário executivo da Secretaria-Geral da Presidência - um dos presos ontem, apontado como o autor do arquivo que detalhava a possibilidade de envenenar Lula, matar Alckmin e explodir Moraes. No relatório encaminhado ao Supremo, a PF conclui que Bolsonaro, em dezembro de 2022, "estava naquele momento empenhado para consumação do golpe de Estado, tentando obter o apoio das Forças Armadas".

Materiais apreendidos na Operação Tempus Veritatis, aberta em fevereiro, orientaram a operação policial que prendeu Fernandes e três "kids pretos": o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, o major Rafael Martins de Oliveira e o major de Infantaria Rodrigo Bezerra de Azevedo, que servia no Comando de Operações Especiais. Foi preso também o policial federal Wladimir Matos Soares, que atuou na segurança de Lula.

Lucas Garellus, capitão do Exército que serviu no 1.º Batalhão de Forças Especiais em 2017, foi alvo de buscas pela suspeita de ter auxiliado em ação de monitoramento de Moraes.

Kids pretos é como são chamados os militares de alta performance em ações de grande impacto. A investigação atribui a Braga Netto - que foi candidato a vice na chapa de Bolsonaro à reeleição - envolvimento direto com a ação de kids pretos mobilizados para a "Operação Punhal Verde e Amarelo", plano apreendido com Fernandes e que detalhava a estratégia para os assassinatos.

Reunião

De acordo com os investigadores, a missão foi acertada em uma reunião na casa de Braga Netto. No encontro, no dia 12 de novembro de 2022, o "planejamento operacional para a atuação dos 'kids pretos' foi apresentado e aprovado". Além disso, o general assumiria a função de coordenador-geral de um hipotético 'Gabinete Institucional de Gestão da Crise' caso a ruptura institucional ocorresse.

Ao pedir autorização ao Supremo para colocar a Operação Contragolpe nas ruas, a corporação indicou possível indiciamento de Bolsonaro num relatório final do inquérito. Quatro delegados da PF subscrevem a representação de 221 páginas encaminhada ao STF: Rodrigo Morais Fernandes (diretor de Inteligência da PF), Luciana Caires (chefe da Divisão de Contrainteligência), Elias Milhomens (coordenador de Contrainteligência) e Fábio Shor.

Eles indicam categoricamente passagens sobre suposto envolvimento do ex-presidente com a trama golpista.

Nas diligências, a PF encontrou três arquivos considerados essenciais na investigação sobre o suposto golpe de Estado: um que tratava dos assassinato de Lula, Alckmin e o ministro do Supremo por envenenamento e até por meio de um atentado a bomba; uma planilha com o planejamento estratégico da ruptura institucional, dividido em cinco fases; e a minuta de criação de um gabinete de crise, que "pacificaria" o País após o golpe. A Polícia Federal identificou que o grupo suspeito - formado, em sua maioria, por militares com formação em Forças Especiais - "se utilizou de elevado nível de conhecimento técnico militar para planejar, coordenar e executar ações ilícitas nos meses de novembro e dezembro de 2022".

'Químicos'

O plano Punhal Verde e Amarelo previa o assassinato do então presidente eleito por envenenamento ou "uso de químicos para causar um colapso orgânico", considerando a vulnerabilidade de saúde e ida frequente a hospitais do petista. No planejamento dos militares presos, Lula era tratado pelo codinome "Jeca" e seu vice, Alckmin, era "Joca".

Fernandes, o general da reserva preso ontem, foi classificado como o guardião do ousado plano. O documento também trazia detalhes sobre a possível execução de Moraes e de Alckmin. Segundo a PF, o arquivo "continha um verdadeiro planejamento com características terroristas".

Na visão dos investigados, segundo a PF, a "neutralização" de Lula "abalaria toda a chapa vencedora, colocando-a, dependendo da interpretação da Lei Eleitoral, ou da manobra conduzida pelos 3 Poderes, sob a tutela principal do PSDB". Já a morte de Alckmin "extinguiria a chapa vencedora". "Como reflexo da ação, não se espera grande comoção nacional", registrou o documento sobre o ex-tucano. Alckmin foi eleito vice na chapa de Lula pelo PSB, partido para o qual migrou depois de 33 anos no PSDB.

'Artefato'

O plano para eliminar Moraes demandava, por sua vez, meios mais pesados. O documento cita não só a possibilidade de envenenamento em evento oficial público, mas também o uso de "artefato explosivo".

Em outro capítulo, o general chegou a descrever os armamentos que seriam necessários para concretizar o plano: pistolas e fuzis comumente utilizados por policiais e militares, "inclusive pela grande eficácia dos calibres elencados"; além de uma metralhadora, um lança-granadas e um lança-rojão, "armamentos de guerra comumente utilizados por grupos de combate".

Para a PF, o contexto de emprego de armamentos extremamente letais, bem como de uso de artefato explosivo ou envenenamento, revela que o grupo trabalhava com a possibilidade de assassinato de Moraes.

"Tal fato é reforçado pelo tópico denominado "Danos colaterais passíveis e aceitáveis", em que o documento descreve como passível "100%" e aceitável também o porcentual de "100%". Ou seja, claramente para os investigados a morte não só do ministro, mas também de toda a equipe de segurança e até mesmo dos militares envolvidos na ação era admissível para cumprimento da missão de "neutralizar" o denominado "centro de gravidade", que seria um fator de obstáculo à consumação do golpe de Estado, indicou a PF.

Segundo a PF, o general fez, no Palácio do Planalto, duas impressões do plano da Operação Verde e Amarelo. A primeira foi no dia 9 de novembro de 2022 e o documento foi levado em seguida ao Palácio da Alvorada - residência oficial do presidente da República. A segunda impressão, feita no mesmo equipamento do Planalto, data do dia 6 de dezembro daquele ano, por volta das 18h. De acordo com os investigadores, Bolsonaro estava no palácio nesse horário (mais informações na pág. A10).

'Copa 2022'

Uma ação clandestina integrada ao plano Punhal Verde e Amarelo foi batizada de "Operação Copa 2022". O grupo, formado no aplicativo Signal tinha como objetivo o monitoramento e o assassinato de Moraes. A operação utilizava técnicas de vigilância, veículos oficiais e medidas de anonimização, como uso de celulares descartáveis e codinomes inspirados em países da Copa do Mundo de 2022, como "Alemanha," "Japão" e "Brasil."

Os investigadores revelaram que o plano chegou a ser iniciado, mas foi abortado. No dia 15 de dezembro de 2022, integrantes do grupo se mobilizaram e se posicionaram em pontos estratégicos de Brasília, incluindo a região próxima à casa de Moraes, monitorando sua movimentação em tempo real. No entanto, o plano foi cancelado após o adiamento de uma sessão do STF.

Policial

A PF colocou um de seus integrantes na mira da Operação Contragolpe após identificar que o agente Wladimir Soares repassou, em 2022, informações sobre a estrutura de segurança de Lula para pessoas próximas a Bolsonaro, "aderindo de forma direta ao intento golpista".

Segundo o inquérito, Wladimir encaminhou para o capitão da reserva Sérgio Rocha Cordeiro - assessor especial de Bolsonaro - relatos sobre a segurança do presidente eleito, inclusive sobre a presença de policiais de força tática na equipe de segurança. Além disso, ele se colocou à "disposição para atuar no golpe de Estado, demonstrando aderência subjetiva à ruptura institucional", afirmam os investigadores.

"Eu e minha equipe estamos com todo equipamento pronto p ir ajudar a defender o Palácio e o presidente. Basta a canetada sair !", afirmou Wladimir em 20 de dezembro de 2022. Antes de enviar a mensagem, o agente recebeu outras duas mensagens que foram apagadas por Sérgio e anotou: "Estou pronto!"

As diligências de ontem foram realizadas em três Estados - Rio de Janeiro, Goiás, Amazonas - e no Distrito Federal.

Investigados celebram: Bolsonaro aceitou 'nosso assessoramento'

No relatório encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF) em que pede autorização para colocar a Operação Contragolpe nas ruas, a Polícia Federal sinalizou que um terceiro indiciamento de Bolsonaro é uma medida que pode estar muito próxima. São vários o pontos em que isso fica claro, como a troca de mensagens entre Mário Fernandes e o tenente-coronel Mauro Cid, em 9 de novembro, quando o general comemorou que o então presidente "aceitou o nosso assessoramento".

Os delegados que assinam o documento citam categoricamente passagens que indicam envolvimento do ex-presidente com a trama golpista. Inicialmente, a PF rememora um achado da Operação Tempus Veritatis: Bolsonaro teria "redigido e ajustado" a minuta de golpe que circulou entre seus aliados após o segundo turno da eleição presidencial de 2022.

Nove meses depois, a ação deflagrada ontem liga, cronologicamente, os diálogos sobre o monitoramento e plano de assassinato de Alexandre de Moraes com as ações de Bolsonaro. A PF afirma que as conversas ocorreram em dezembro de 2022, seis dias após Bolsonaro "ter 'enxugado'" o decreto e ter se reunido com o general do Comando de Operações Terrestres, Estevan Cals Theóphilo - "com a finalidade de consumar o golpe de Estado".

A mais recente fase ostensiva da investigação sobre uma tentativa de golpe de Estado atingiu, direta e indiretamente, dois aliados de Bolsonaro: um ex-ministro, general Braga Neto, e Fernandes, o então número 2 da Secretaria-Geral da Presidência. Este último é peça-chave no inquérito.

A PF identificou que ele imprimiu o documento "Punhal Verde e Amarelo", plano que consistia na execução de Luiz Inácio Lula da Silva, Geraldo Alckmin e Moraes. Quando o general da reserva fez cópias do documento a partir de uma impressora instalada no Palácio do Planalto, Bolsonaro se encontrava na sede do Executivo federal.

O então secretário executivo também imprimiu seis cópias de uma minuta de criação de um "gabinete de crise" que seria instalado no caso hipotético de consumação do golpe. No dia seguinte, ele visitou Bolsonaro no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente.

Áudios

Além das coincidências entre as ações de Fernandes e as visitas a Bolsonaro, a PF interceptou áudios que podem incriminar o general. Em um deles, enviado no dia 8 de dezembro ao tenente-coronel Mauro Cid, o general relatou uma conversa com o presidente. Nessa conversa, Bolsonaro teria afirmado que "qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo".

Naquele dia, Fernandes esteve no Palácio da Alvorada por quarenta minutos, entre as 17h e as 17h40. Um dia antes da conversa com Bolsonaro, no dia 7 de dezembro, ocorreu a reunião do ex-presidente com a presença de comandantes do Exército e da Marinha, para apresentação da minuta do golpe de Estado. Fernandes tinha conhecimento da reunião. Ele pediu a Cid que mostrasse um vídeo ao comandante do Exército, general Freire Gomes, na tentativa de convencê-lo a aderir ao golpe de Estado.

Um dia após a conversa, em 9 de novembro, Fernandes voltou a acionar Cid e comemorou. "Muito bacana o presidente ter ido lá à frente ali do Alvorada e ter se pronunciado, cara. Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento."

O general também tinha acesso a outros aliados de Bolsonaro, entre eles Sérgio Rocha Cordeiro, então assessor da Presidência no governo anterior. Cordeiro é pivô de uma passagem em que a PF cita taxativamente o envolvimento de Bolsonaro com o plano de golpe de Estado.

Como mostrou o Estadão, o agente federal preso ontem, Wladimir Mattos Soares, é investigado por ter passado a Cordeiro informações, em dezembro de 2022, sobre a estrutura de segurança do então presidente eleito. Neste ponto a PF assinalou que o policial federal passou as informações sobre Lula para o segurança pessoal de Bolsonaro. Segundo a investigação, o ex-presidente "estava naquele momento empenhado para consumação do golpe de Estado, tentando obter o apoio das Forças Armadas".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.