Turista morre e outros 12 são resgatados de mina de ouro desativada nos EUA

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Uma pessoa morreu e 12 pessoas foram resgatadas após ficarem presas por cerca de seis horas no fundo de uma antiga mina de ouro no Colorado, nos Estados Unidos, quando um elevador apresentou mau funcionamento no local turístico, disseram as autoridades.

O elevador estava descendo para a Mina de Ouro Mollie Kathleen, perto da cidade de Cripple Creek, quando teve um problema mecânico cerca de 152 metros abaixo da superfície, criando um "perigo grave para os participantes", disse o xerife do Condado de Teller, Jason Mikesell. A identidade da vítima e causa de sua morte não foram imediatamente fornecidas.

Os 12 adultos que ficaram presos cerca de 305 metros abaixo do solo tiveram acesso à água e usaram rádios para se comunicar com as autoridades, que lhes disseram que havia um problema no elevador, disse Mikesell.

Mikesell afirmou que as autoridades ainda não sabem o que causou o mau funcionamento e que uma investigação está em andamento. Engenheiros trabalharam para garantir que o elevador estivesse funcionando com segurança novamente antes de trazer os visitantes presos de volta. Eles estavam preparados para trazê-los por corda, se necessário, caso não conseguissem consertar o elevador.

Trajeto no elevador leva dois minutos

O incidente, que foi relatado às autoridades por volta do meio-dia, aconteceu durante a última semana da temporada da Mina de Ouro Mollie Kathleen antes de fechar para o inverno, disse Mikesell.

No início da tarde, enquanto os 12 estavam presos no fundo, outras 11 pessoas que estavam no elevador foram resgatadas. Quatro tiveram ferimentos leves, mas o xerife não deu detalhes sobre como eles ficaram feridos.

O passeio de elevador normalmente leva cerca de dois minutos, viajando cerca de 152 metros por minuto, de acordo com o site da mina.

Mikesell disse que a última vez que houve um incidente foi na década de 1980, quando algumas pessoas ficaram presas no elevador. Ninguém morreu naquele incidente.

As minas que operam como atrações turísticas no Colorado devem designar alguém para inspecionar as minas e os sistemas de transporte diariamente, de acordo com a Divisão de Recuperação, Mineração e Segurança do estado. Mikesell disse que não sabia a data da última inspeção. Os registros das inspeções não estavam imediatamente disponíveis online. O governador Jared Polis enviou recursos estaduais, incluindo uma equipe de resgate de minas.

Cripple Creek é uma cidade de cerca de 1.100 habitantes nas Montanhas Rochosas a sudoeste de Colorado Springs. A mina foi inaugurada em 1800 e fechada em 1961, mas ainda oferece passeios. Seu site descreve um passeio de uma hora no qual os visitantes descem 305 metros. Ele diz que eles podem ver veios de ouro na rocha e andar de bonde subterrâneo.

Uma mulher chamada Mollie Kathleen Gortner descobriu o local da mina em 1891 quando viu quartzo misturado com ouro, de acordo com o site da empresa.

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A Polícia Federal prendeu nesta quarta-feira, 19, um general da reserva, ex-integrante do governo Jair Bolsonaro (PL), outros três oficiais militares e um policial federal suspeitos de participação em uma trama para o assassinato do então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e do vice, Geraldo Alckmin, além do sequestro e execução do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

A Operação Contragolpe é um desdobramento do inquérito que investiga uma "organização criminosa" suspeita de atuar em tentativa de golpe de Estado e abolição do estado democrático de direito após o resultado da eleição presidencial de 2022 - quando Lula venceu o ex-presidente no segundo turno da disputa por uma margem pequena de votos.

A nova investida dos agentes federais amplia as suspeitas sobre Bolsonaro e seu entorno, descrevendo atuações do ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, general Braga Netto, e, principalmente, do general reformado Mário Fernandes, ex-secretário executivo da Secretaria-Geral da Presidência - um dos presos ontem, apontado como o autor do arquivo que detalhava a possibilidade de envenenar Lula, matar Alckmin e explodir Moraes. No relatório encaminhado ao Supremo, a PF conclui que Bolsonaro, em dezembro de 2022, "estava naquele momento empenhado para consumação do golpe de Estado, tentando obter o apoio das Forças Armadas".

Materiais apreendidos na Operação Tempus Veritatis, aberta em fevereiro, orientaram a operação policial que prendeu Fernandes e três "kids pretos": o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, o major Rafael Martins de Oliveira e o major de Infantaria Rodrigo Bezerra de Azevedo, que servia no Comando de Operações Especiais. Foi preso também o policial federal Wladimir Matos Soares, que atuou na segurança de Lula.

Lucas Garellus, capitão do Exército que serviu no 1.º Batalhão de Forças Especiais em 2017, foi alvo de buscas pela suspeita de ter auxiliado em ação de monitoramento de Moraes.

Kids pretos é como são chamados os militares de alta performance em ações de grande impacto. A investigação atribui a Braga Netto - que foi candidato a vice na chapa de Bolsonaro à reeleição - envolvimento direto com a ação de kids pretos mobilizados para a "Operação Punhal Verde e Amarelo", plano apreendido com Fernandes e que detalhava a estratégia para os assassinatos.

Reunião

De acordo com os investigadores, a missão foi acertada em uma reunião na casa de Braga Netto. No encontro, no dia 12 de novembro de 2022, o "planejamento operacional para a atuação dos 'kids pretos' foi apresentado e aprovado". Além disso, o general assumiria a função de coordenador-geral de um hipotético 'Gabinete Institucional de Gestão da Crise' caso a ruptura institucional ocorresse.

Ao pedir autorização ao Supremo para colocar a Operação Contragolpe nas ruas, a corporação indicou possível indiciamento de Bolsonaro num relatório final do inquérito. Quatro delegados da PF subscrevem a representação de 221 páginas encaminhada ao STF: Rodrigo Morais Fernandes (diretor de Inteligência da PF), Luciana Caires (chefe da Divisão de Contrainteligência), Elias Milhomens (coordenador de Contrainteligência) e Fábio Shor.

Eles indicam categoricamente passagens sobre suposto envolvimento do ex-presidente com a trama golpista.

Nas diligências, a PF encontrou três arquivos considerados essenciais na investigação sobre o suposto golpe de Estado: um que tratava dos assassinato de Lula, Alckmin e o ministro do Supremo por envenenamento e até por meio de um atentado a bomba; uma planilha com o planejamento estratégico da ruptura institucional, dividido em cinco fases; e a minuta de criação de um gabinete de crise, que "pacificaria" o País após o golpe. A Polícia Federal identificou que o grupo suspeito - formado, em sua maioria, por militares com formação em Forças Especiais - "se utilizou de elevado nível de conhecimento técnico militar para planejar, coordenar e executar ações ilícitas nos meses de novembro e dezembro de 2022".

'Químicos'

O plano Punhal Verde e Amarelo previa o assassinato do então presidente eleito por envenenamento ou "uso de químicos para causar um colapso orgânico", considerando a vulnerabilidade de saúde e ida frequente a hospitais do petista. No planejamento dos militares presos, Lula era tratado pelo codinome "Jeca" e seu vice, Alckmin, era "Joca".

Fernandes, o general da reserva preso ontem, foi classificado como o guardião do ousado plano. O documento também trazia detalhes sobre a possível execução de Moraes e de Alckmin. Segundo a PF, o arquivo "continha um verdadeiro planejamento com características terroristas".

Na visão dos investigados, segundo a PF, a "neutralização" de Lula "abalaria toda a chapa vencedora, colocando-a, dependendo da interpretação da Lei Eleitoral, ou da manobra conduzida pelos 3 Poderes, sob a tutela principal do PSDB". Já a morte de Alckmin "extinguiria a chapa vencedora". "Como reflexo da ação, não se espera grande comoção nacional", registrou o documento sobre o ex-tucano. Alckmin foi eleito vice na chapa de Lula pelo PSB, partido para o qual migrou depois de 33 anos no PSDB.

'Artefato'

O plano para eliminar Moraes demandava, por sua vez, meios mais pesados. O documento cita não só a possibilidade de envenenamento em evento oficial público, mas também o uso de "artefato explosivo".

Em outro capítulo, o general chegou a descrever os armamentos que seriam necessários para concretizar o plano: pistolas e fuzis comumente utilizados por policiais e militares, "inclusive pela grande eficácia dos calibres elencados"; além de uma metralhadora, um lança-granadas e um lança-rojão, "armamentos de guerra comumente utilizados por grupos de combate".

Para a PF, o contexto de emprego de armamentos extremamente letais, bem como de uso de artefato explosivo ou envenenamento, revela que o grupo trabalhava com a possibilidade de assassinato de Moraes.

"Tal fato é reforçado pelo tópico denominado "Danos colaterais passíveis e aceitáveis", em que o documento descreve como passível "100%" e aceitável também o porcentual de "100%". Ou seja, claramente para os investigados a morte não só do ministro, mas também de toda a equipe de segurança e até mesmo dos militares envolvidos na ação era admissível para cumprimento da missão de "neutralizar" o denominado "centro de gravidade", que seria um fator de obstáculo à consumação do golpe de Estado, indicou a PF.

Segundo a PF, o general fez, no Palácio do Planalto, duas impressões do plano da Operação Verde e Amarelo. A primeira foi no dia 9 de novembro de 2022 e o documento foi levado em seguida ao Palácio da Alvorada - residência oficial do presidente da República. A segunda impressão, feita no mesmo equipamento do Planalto, data do dia 6 de dezembro daquele ano, por volta das 18h. De acordo com os investigadores, Bolsonaro estava no palácio nesse horário (mais informações na pág. A10).

'Copa 2022'

Uma ação clandestina integrada ao plano Punhal Verde e Amarelo foi batizada de "Operação Copa 2022". O grupo, formado no aplicativo Signal tinha como objetivo o monitoramento e o assassinato de Moraes. A operação utilizava técnicas de vigilância, veículos oficiais e medidas de anonimização, como uso de celulares descartáveis e codinomes inspirados em países da Copa do Mundo de 2022, como "Alemanha," "Japão" e "Brasil."

Os investigadores revelaram que o plano chegou a ser iniciado, mas foi abortado. No dia 15 de dezembro de 2022, integrantes do grupo se mobilizaram e se posicionaram em pontos estratégicos de Brasília, incluindo a região próxima à casa de Moraes, monitorando sua movimentação em tempo real. No entanto, o plano foi cancelado após o adiamento de uma sessão do STF.

Policial

A PF colocou um de seus integrantes na mira da Operação Contragolpe após identificar que o agente Wladimir Soares repassou, em 2022, informações sobre a estrutura de segurança de Lula para pessoas próximas a Bolsonaro, "aderindo de forma direta ao intento golpista".

Segundo o inquérito, Wladimir encaminhou para o capitão da reserva Sérgio Rocha Cordeiro - assessor especial de Bolsonaro - relatos sobre a segurança do presidente eleito, inclusive sobre a presença de policiais de força tática na equipe de segurança. Além disso, ele se colocou à "disposição para atuar no golpe de Estado, demonstrando aderência subjetiva à ruptura institucional", afirmam os investigadores.

"Eu e minha equipe estamos com todo equipamento pronto p ir ajudar a defender o Palácio e o presidente. Basta a canetada sair !", afirmou Wladimir em 20 de dezembro de 2022. Antes de enviar a mensagem, o agente recebeu outras duas mensagens que foram apagadas por Sérgio e anotou: "Estou pronto!"

As diligências de ontem foram realizadas em três Estados - Rio de Janeiro, Goiás, Amazonas - e no Distrito Federal.

Investigados celebram: Bolsonaro aceitou 'nosso assessoramento'

No relatório encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF) em que pede autorização para colocar a Operação Contragolpe nas ruas, a Polícia Federal sinalizou que um terceiro indiciamento de Bolsonaro é uma medida que pode estar muito próxima. São vários o pontos em que isso fica claro, como a troca de mensagens entre Mário Fernandes e o tenente-coronel Mauro Cid, em 9 de novembro, quando o general comemorou que o então presidente "aceitou o nosso assessoramento".

Os delegados que assinam o documento citam categoricamente passagens que indicam envolvimento do ex-presidente com a trama golpista. Inicialmente, a PF rememora um achado da Operação Tempus Veritatis: Bolsonaro teria "redigido e ajustado" a minuta de golpe que circulou entre seus aliados após o segundo turno da eleição presidencial de 2022.

Nove meses depois, a ação deflagrada ontem liga, cronologicamente, os diálogos sobre o monitoramento e plano de assassinato de Alexandre de Moraes com as ações de Bolsonaro. A PF afirma que as conversas ocorreram em dezembro de 2022, seis dias após Bolsonaro "ter 'enxugado'" o decreto e ter se reunido com o general do Comando de Operações Terrestres, Estevan Cals Theóphilo - "com a finalidade de consumar o golpe de Estado".

A mais recente fase ostensiva da investigação sobre uma tentativa de golpe de Estado atingiu, direta e indiretamente, dois aliados de Bolsonaro: um ex-ministro, general Braga Neto, e Fernandes, o então número 2 da Secretaria-Geral da Presidência. Este último é peça-chave no inquérito.

A PF identificou que ele imprimiu o documento "Punhal Verde e Amarelo", plano que consistia na execução de Luiz Inácio Lula da Silva, Geraldo Alckmin e Moraes. Quando o general da reserva fez cópias do documento a partir de uma impressora instalada no Palácio do Planalto, Bolsonaro se encontrava na sede do Executivo federal.

O então secretário executivo também imprimiu seis cópias de uma minuta de criação de um "gabinete de crise" que seria instalado no caso hipotético de consumação do golpe. No dia seguinte, ele visitou Bolsonaro no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente.

Áudios

Além das coincidências entre as ações de Fernandes e as visitas a Bolsonaro, a PF interceptou áudios que podem incriminar o general. Em um deles, enviado no dia 8 de dezembro ao tenente-coronel Mauro Cid, o general relatou uma conversa com o presidente. Nessa conversa, Bolsonaro teria afirmado que "qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo".

Naquele dia, Fernandes esteve no Palácio da Alvorada por quarenta minutos, entre as 17h e as 17h40. Um dia antes da conversa com Bolsonaro, no dia 7 de dezembro, ocorreu a reunião do ex-presidente com a presença de comandantes do Exército e da Marinha, para apresentação da minuta do golpe de Estado. Fernandes tinha conhecimento da reunião. Ele pediu a Cid que mostrasse um vídeo ao comandante do Exército, general Freire Gomes, na tentativa de convencê-lo a aderir ao golpe de Estado.

Um dia após a conversa, em 9 de novembro, Fernandes voltou a acionar Cid e comemorou. "Muito bacana o presidente ter ido lá à frente ali do Alvorada e ter se pronunciado, cara. Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento."

O general também tinha acesso a outros aliados de Bolsonaro, entre eles Sérgio Rocha Cordeiro, então assessor da Presidência no governo anterior. Cordeiro é pivô de uma passagem em que a PF cita taxativamente o envolvimento de Bolsonaro com o plano de golpe de Estado.

Como mostrou o Estadão, o agente federal preso ontem, Wladimir Mattos Soares, é investigado por ter passado a Cordeiro informações, em dezembro de 2022, sobre a estrutura de segurança do então presidente eleito. Neste ponto a PF assinalou que o policial federal passou as informações sobre Lula para o segurança pessoal de Bolsonaro. Segundo a investigação, o ex-presidente "estava naquele momento empenhado para consumação do golpe de Estado, tentando obter o apoio das Forças Armadas".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O general reformado Mário Fernandes é apontado como peça-chave da Operação Contragolpe. A Polícia Federal identificou que ele, além de ter sido o autor do arquivo que detalhava a possibilidade de assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, imprimiu o documento no Palácio do Planalto.

A impressão foi feita no dia 9 de novembro de 2022, semanas depois da derrota de Jair Bolsonaro (PL) na eleição presidencial, e a cópia foi levada ao Palácio da Alvorada, residência do chefe do Executivo. A impressora usada por Fernandes foi a do gabinete da Secretaria-Geral da Presidência da República. O nome do arquivo impresso era "Planejamento". Quarenta minutos após a impressão, o general registrou entrada no Alvorada.

Preso nesta terça-feira, 19, Fernandes foi o número 2 da Secretaria-Geral da Presidência na gestão Bolsonaro, quando o general Luiz Eduardo Ramos comandou a pasta. Após deixar o governo, o militar detido ontem ocupou, entre 2023 e o início de 2024, cargo na liderança do PL na Câmara, lotado como assessor do deputado Eduardo Pazuello (PL-RJ). Procurado, Fernandes não respondeu.

Fernandes imprimiu novamente o plano de ataque contra as autoridades - chamado de Operação Punhal Verde e Amarelo - na mesma impressora, no dia 6 de dezembro de 2022, às 18h09. Segundo a PF, enquanto ele imprimia o arquivo, os aparelhos do "kid preto" Rafael Martins de Oliveira, lotado no Batalhão de Ações e Comando, e do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, estavam conectados na rede de internet do Planalto. Oliveira também foi preso ontem. Ele não se manifestou.

Ainda de acordo com os investigadores, nesse mesmo horário, Bolsonaro estava no Planalto. A PF chegou a tal informação por meio da análise de um grupo que Cid mantinha em seu celular chamado "Acompanhamento", sobre a rotina do então presidente. Naquele dia, conforme as informações desse grupo, Bolsonaro acompanhou a posse de ministros no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e, às 17h56, foi para o Planalto. Lá ficou por 35 minutos e então se dirigiu para a residência presidencial.

'Copa 2022'

A PF destacou que Rafael de Oliveira, o "kid preto" que estava no Planalto quando foi feita a segunda cópia do plano contra as autoridades, foi um dos integrantes da operação Copa 2022, que efetuaria a prisão/execução de Moraes no dia 15 de dezembro daquele ano. Os oficiais chegaram a colocar o plano em execução, usando até carros do Exército para monitorar o ministro. A ação dos "kids pretos" foi aprovada em reunião na casa do ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, general Braga Netto, registrou a PF. Braga Netto não se manifestou.

De acordo com o inquérito da Operação Contragolpe, o ex-ministro da Defesa era figura central na trama de um golpe de Estado e assumiria a função de coordenador-geral de um hipotético "Gabinete Institucional de Gestão da Crise" caso a ruptura ocorresse.

Segundo a PF, a reunião com os "kids pretos" na casa de Braga Netto ocorreu no dia 12 de novembro de 2022. Na ocasião, o "planejamento operacional para a atuação dos 'kids pretos' foi apresentado e aprovado". O encontro teve a participação de Mauro Cid.

'Radical'

Mário Fernandes é apontado nas investigações sobre a suspeita de tentativa de golpe como integrante do "Núcleo de oficiais de alta patente com influência e apoio de outros núcleos". Os membros desse grupo, "utilizando-se da alta patente militar que detinham, agiram para incitar apoio aos demais núcleos de atuação por meio do endosso de ações e medidas a serem adotadas para a consumação do golpe", disse a PF.

Os investigadores descreveram Fernandes como um dos militares mais radicais do referido núcleo. O inquérito aponta que o general "promoveu ações de planejamento, coordenação e execução de atos antidemocráticos, com registros de frequência ao acampamento montado nas adjacências do QGEx (Quartel-General do Exército), e, até mesmo, de relação direta com manifestantes radicais que atuaram no período pós-eleições de 2022".

Minuta

A PF acessou mensagens de Fernandes e apontou teor relacionado a "ideários golpistas". De acordo com a PF, ele sabia do encontro em que foi apresentada a Bolsonaro a minuta do golpe. Naquele dia, o general enviou a Cid um áudio: "Cid, acho que você está tendo uma reunião importante aí agora no Alvorada. Pô, mostra esse vídeo pro comandante, cara. Isso é história. E a história é marcada por momentos como esse que nós estamos vivendo agora. Força".

Em outra gravação, Fernandes enviou ao ex-faz-tudo de Bolsonaro mensagem em que "comemora" o fato de o ex-presidente ter aceitado "nosso assessoramento". "Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento. Foi muito bacana. Todo mundo vibrando."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A juíza Fabiana Alves Rodrigues, da 8.ª Vara Criminal Federal de São Paulo, autorizou a Polícia Federal (PF) a levar adiante o inquérito sobre a máfia das creches em que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) é investigado sob a suspeita de receber pagamentos indevidos de uma entidade que mantinha contrato com o Município. Ao mesmo tempo, a magistrada negou o pedido da defesa que pretendia o arquivamento do inquérito.

Agora os federais poderão executar diligências para esclarecer operações suspeitas mantidas pela ACRIA (Associação Amiga da Criança e do Adolescente) e que supostamente envolvem Nunes, bem como para apurar o suposto crime de lavagem de dinheiro imputado a outro acusado no caso. "Caberá à autoridade policial extrair as cópias dos documentos que entender necessários para instauração dos novos inquéritos.", escreveu a juíza.

A defesa do prefeito havia pedido o arquivamento sumário do inquérito e o trancamento da investigação sobre Nunes. Ela alegava que o inquérito policial foi instaurado em 4 de junho de 2019, há mais de cinco anos, "não tendo sido apurados indícios de condutas ilícitas em relação" a Nunes. A decisão da PF havia sido tomada em agosto, dois meses antes do primeiro turno das eleições.

Além disso, a defesa alegava que o pedido de "desmembramento do feito para continuidade das investigações" tinha "caráter político e eleitoreiro", o que configuraria a hipótese de "'fishing expedition', vitaminado pelo período eleitoral". Por fim, os advogados de Nunes diziam que a representação da autoridade policial não apresentava "as justificativas para o desmembramento do feito e continuidade das investigações" tampouco indicava quais os objetivos ou diligências deveriam ser feitas.

A Polícia Federal havia alegado à magistrada que inúmeras diligências realizadas durante a investigação e o indiciamento de 116 investigados demonstravam a magnitude e a complexidade da investigação, daí a razão da demora . De acordo com a PF, o "pedido de desmembramento do feito é a melhor estratégia investigativa, tendo em vista a quantidade de fatos já investigados e comprovados nos autos principais e para evitar atraso na continuidade da persecução penal em relação aos demais investigados".

Com relação a Nunes, o delegado afirmou à juíza que "não foram apresentados documentos que comprovem a prestação de serviços ou emissão de notas fiscais em relação ao valor de R$ 31.590,16 no dia 27 de fevereiro de 2018 da empresa noteira Francisca Jaqueline Oliveira Braz Eireli. Além disso, a investigada Rosângela Crepaldi dos Santos teria gravado um vídeo em que afirma que as empresas de Nunes teriam recebido dinheiro das creches sem terem prestado quaisquer serviços. Mais tarde, Rosângela se retratou.

Por último, os federais afirmaram que era dispensável que a autoridade policial indicasse as possíveis diligências a serem realizadas no pedido de instauração de novo inquérito policial bem como que o pedido de desmembramento da investigação também foi motivado pela possível necessidade de quebra do sigilo bancário e fiscal das principais pessoas físicas e jurídicas envolvidas, "medida sabidamente demorada".

O Ministério Público Federal (MPF) concordou com o pedido da PF e pediu a instauração de um inquérito policial sigiloso. Para a procuradoria, "torna-se necessária a instauração de novo inquérito policial para esclarecer os fatos suspeitos apurados ao longo das investigações, razão pela qual eventual pedido de arquivamento somente poderia ser analisado quando finalizada a nova investigação".

Na primeira fase do inquérito, a indiciada Elaine Targino da Silva, além de presidente da ACRIA, teria sido registrada como empregada da empresa Nikkey Serviços, na qual figuram como sócias Regina Nunes e Mayara Nunes, mulher e filha do prefeito. De acordo com a PF, a remessa de R$ 31.590,16 da empresa investigada Francisca Jacqueline Oliveira para conta de Nunes foi feita por meio de dois cheques de R$ 5.796,08 (cinco mil, setecentos e noventa e seis reais e oito centavos) e de um TED de R$ 20 mil para a Nikkey Serviços.

Ao todo, a ACRIA movimentou, segundo a PF, R$ 162 milhões. E recebeu R$ 49,8 milhões da Prefeitura. Quando era vereador, Nunes empregaria em seu gabinete na Câmara Municipal uma parente de três diretoras da ACRIA. "O contexto apurado sugere que os fatos supostamente ilícitos envolvendo a ACRIA podem de fato ter contado com a participação do requerente Ricardo Nunes", escreveu a magistrada.

Ao depor, o prefeito disse que nunca foi sócio da Nikkey Serviços, porém, "sempre coordenou os trabalhos, apesar da empresa estar em nome da esposa e da filha do declarante". Nunes afirmou que os pagamentos da ACRIA se referiam a uma prestação de serviço. E disse que vai entregar documentos "comprovando esse fato".

COM A PALAVRA, RICARDO NUNES

O prefeito Ricardo Nunes reitera que nada se comprovou contra ele numa investigação de cerca de cinco anos. Concluída em agosto deste ano, a apuração da Polícia Federal sequer incluiu o nome do prefeito entre os 116 indiciados. Portanto, é de se estranhar tal decisão num processo em que o prefeito já prestou todos os esclarecimentos às autoridades. Por fim, reitera que não há nenhuma relação dele ou de sua empresa com a empresa envolvida em suposto ilícito.