O Sesc Interlagos abriga, até 30/03/2025, a exposição "Nós — Arte e Ciência por Mulheres", sobre a trajetória da produção científica, intelectual e artística das mulheres como produtoras e mantenedoras de conhecimento. A mostra apresenta um panorama que valoriza sua contribuição e, ao mesmo tempo, as diversas camadas pelas quais historicamente foram invisibilizadas de suas atuações na sociedade.
A realização é do Sesc São Paulo, com concepção do Estúdio M'Baraká e cocuradoria de Isabel Seixas, Letícia Stallone, Gisele Vargas e Diogo Rezende, além da consultoria realizada pela pesquisadora Magali Romero Sá, especializada em História da Ciência. São apresentadas cerca de 300 obras a partir da apresentação de personagens, de iconografia histórica e científica e com os trabalhos de artistas contemporâneas como Berna Reale, Laura Gorski e Ana Teixeira.
Contemplando cenários históricos que vão desde a sabedoria ancestral até a crescente presença feminina nas instituições científicas, a narrativa da exposição propõe uma reflexão e um contraponto sob a perspectiva do feminino com dados históricos e contribuições. A mostra ilustra como, por meio de conhecimento, posturas e narrativas afirmativas, as mulheres atravessaram séculos de um pensamento hegemônico de opressão.
"Nós, mulheres, sempre criamos, curamos, catalogamos, inventamos, analisamos e, sobretudo, lutamos. 'Nós — Arte e Ciência por Mulheres' traz para a linguagem de exposição uma narrativa que busca dar visibilidade à contribuição das mulheres ao longo dos tempos, e faz isso através da arte, buscando informar e sensibilizar para mudanças em curso, mas que seguem urgentes para a emancipação das mulheres", ressalta Isabel Seixas, da equipe curatorial.
A EXPOSIÇÃO
A mostra, que teve uma itinerância anterior no Paço das Artes, em São Paulo, ocupa grande parte da unidade do Sesc Interlagos, que possui cerca de 500 mil m2 de área verde preservada. "Nós — Arte e Ciência por Mulheres" faz um recorte e apresenta cerca de 60 cientistas de diferentes épocas, como a alquimista e profetisa grega Maria; as químicas Marie e Irene Curie; a bióloga Bertha Lutz; e a paleontóloga Carlotta Joaquina Maury. Entre as artistas contemporâneas estão Arissana Pataxó, Berna Reale, Efe Godoy, Thatiana Cardoso, Marcela Cantuária, Paty Wolff e duas peças do Acervo Sesc de Arte assinadas por Laura Gorski.
O percurso proposto para a exposição começa com um resgate dos tempos medievais e destaca como a sabedoria e autonomia femininas, muitas vezes na figura de parteiras, curandeiras e benzedeiras, por exemplo, enfrentaram e enfrentam até hoje a lógica patriarcal de opressão, apagamento e submissão da mulher perante seu código moral.
Também é abordada a ideia de construção social de gênero e seus impactos na produção de uma sociedade e de uma ciência majoritariamente androcêntricas, apresentando mulheres que têm relevância não só na produção científica como também no debate sobre igualdade e representatividade de gênero. Algumas das mulheres em destaque são: da educação, a escritora Nísia Floresta (1810-1885), considerada a primeira feminista do país e a fundadora do Colégio Augusto, no Rio de Janeiro, que viria a ser um marco na história da educação feminina brasileira; da saúde, a médica Maria Odília Teixeira (1884-1970), primeira mulher negra do Brasil a se formar no curso de medicina e autora de um estudo pioneiro sobre a cirrose alcoólica em uma época de forte estigmatização de pacientes da doença; e das ciências humanas, a filósofa Sueli Carneiro, fundadora e atual diretora do Geledés — Instituto da Mulher Negra, a primeira organização negra e feminista independente de São Paulo.
Uma frase que norteia a linha mestra da mostra é "A revolução será feminista, ou não será!", ilustrando e costurando narrativas que revelam a contínua luta das mulheres por uma sociedade mais igualitária, onde todos tenham pleno acesso a direitos políticos, econômicos e sociais. O trabalho doméstico também ganha destaque, visto que no Brasil, principalmente em jornadas duplas, a dedicação da mulher é enorme, e muitas precisam largar seus estudos ou trabalhos para dedicar-se exclusivamente ao fazer doméstico.
Dentre nomes importantes nas áreas da ciência e tecnologia estão a médica brasileira Beatriz Grinsztejn, primeira mulher latino-americana eleita como presidente da International AIDS Society para a gestão 2024-2026, com o desafio de enfrentar as iniquidades que persistem na resposta global à epidemia de AIDS; a geneticista Mayana Zatz, pioneira ao localizar genes novos ligados a doenças neuromusculares e coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano; a cientista da computação Nina da Hora, que atualmente integra o Conselho de Segurança da rede social TikTok e se considera uma hacker antirracista dedicada a pensar de forma crítica a inteligência artificial; e Jaqueline Goes, biomédica que participou da equipe que sequenciou o genoma do vírus Zika, e destacou-se por coordenar a equipe que conseguiu sequenciar o genoma do vírus SARS-CoV-2 apenas 48 horas após o registro do primeiro caso de covid-19 no Brasil.
RECURSOS DE ACESSIBILIDADE
Além de um projeto expográfico com recursos de acessibilidade, a exposição conta com roteiros de audiodescrição para o público com deficiência visual e roteiro de vídeo-libras para as pessoas surdas. Esses roteiros podem ser acessados gratuitamente por QR codes. Os textos da exposição também serão disponibilizados via QR codes de forma acessível para softwares de leitura de pessoas com deficiência visual. Vídeos no espaço expositivo contam com legendas em português e legendas descritivas. Há também vídeos que contam com recurso de audiodescrição ou Libras. Foi realizada uma seleção de objetos sensoriais que são destinados às visitas mediadas realizadas pela equipe educativa, que também passou por formação em acessibilidade para poder receber todos os perfis de público com equiparação de oportunidades. O Sesc Interlagos possui rampa de acesso para espaço expositivo e banheiro acessível para pessoas com mobilidade reduzida ou deficiência física.
A exposição "Nós — Arte e Ciência por Mulheres" é uma realização do Sesc São Paulo com concepção do Estúdio M'Baraká, além de apoio de acervo do Museu de Zoologia da USP, Museu do Índio (FUNAI), Museu de Ciências da Terra / CPRM, Instituto Butantan e documentação de instituições como Fiocruz, Museu Nacional, Sitio Roberto Burle Marx, Biblioteca Nacional entre outros.
SERVIÇO
Nós – Arte e Ciência por Mulheres
Visitação: até 30 de março de 2025
Horário: de quarta-feira a domingo e feriados, das 10h às 16h30
Local: Sesc Interlagos
Endereço: Av. Manuel Alves Soares, 1100 - Parque Colonial, São Paulo - SP
Telefone: (11) 5662-9500
Grátis
Agendamento de grupos: https://www.sescsp.org.br/agendamento-de-grupos-sesc-interlagos/
Exposição "Nós - Arte e Ciência por Mulheres", do Sesc Interlagos, fica em cartaz até março de 2025
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