No Sul, Lei Paulo Gustavo ajuda a democratizar acesso de fazedores de cultura ao fomento

Cultura
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Lei Paulo Gustavo tem impactado a vida dos fazedores e fazedoras de cultura no país. Em Cachoeira do Sul (RS), o diretor e roteirista Thiago Beckenkamp, que realizou o curta-metragem Eu Vi um Lobisomem graças a um edital municipal, testemunhou o efeito da ação no segmento. “A cidade é pequena, então foi fácil perceber os resultados positivos que a LPG trouxe, movimentando as produções tanto do meio audiovisual quanto da música, literatura e artes plásticas”, conta.

Thiago ressalta que além do fomento, a Lei possibilitou ainda o acesso dos fazedores de cultura às políticas de editais. “Existem pessoas talentosas que não sabiam que poderiam acessar esse tipo de recurso e sempre dependeram de financiamentos coletivos ou patrocínios diretos, algo que não é fácil de se conseguir”.

Eu Vi um Lobisomem nasceu durante as oitivas da Lei Paulo Gustavo no município gaúcho. Numa delas, Thiago foi procurado pelo autor do livro em que se baseia o curta, Taugo Costa, que perguntou sobre a chance de levar a obra ao cinema. Passada numa cidade do interior do Rio Grande do Sul, em 1954, a história apresenta um menino de oito anos que vive com os pais e o irmão, enquanto circulam boatos que um dos moradores é um lobisomem.  

Com os R$ 47 mil recebidos, a produção saiu do papel. “É um filme de época, o que envolve figurinos, itens de cena, que seriam mais difíceis, ou até impossíveis de se conseguir sem o orçamento trazido pela LPG. Além disso, a produção envolveu profissionais de Cachoeira do Sul, Lajeado, Santa Cruz e Porto Alegre. A contratação, transporte e hospedagem desses profissionais só foi possível por ser um projeto com orçamento, portanto, seria impossível realizá-lo, da maneira como foi feito, sem a Lei”, argumenta o diretor.

Depois de concluído, o curta foi exibido no cinema e em escolas de Cachoeira do Sul e selecionado para festivais no Brasil e no exterior, como o 3º Curta Libras (Bahia), Anatolia International Film Festival (Turquia), Symbiotic Film Festival (Rússia) e o New York Istanbul Film Festival, nos EUA. No Golden Lion (Índia), conquistou o prêmio de melhor direção.   

Recursos

Aprovada em 2022, durante a pandemia da Covid-19, que afetou severamente o setor cultural, a Lei Paulo Gustavo é o maior investimento no segmento no país. Foram destinados R$ 3,8 bilhões para a execução de ações e projetos culturais em todo o território nacional.

A região Sul recebeu R$ 523 milhões. Para o Rio Grande do Sul foram R$ 195,2 milhões – R$ 91,4 milhões para o estado e R$ 103,7 milhões para os municípios.

O estado já utilizou 98,3% do recurso, e as cidades, 83%.

Já o investimento em Santa Catarina foi de 125 milhões, sendo R$ 60,19 milhões para o estado e R$ 64,8 milhões para os municípios. Dos valores repassados, 92,2% já foram executados pelo estado, e 84,5% pelos municípios.

O Paraná foi contemplado com R$ 203,4 milhões - R$ 98,4 milhões para o estado e R$ 104,9 milhões direcionados aos municípios.

Conforme o painel de dados da LPG, o estado utilizou 90,8% dos recursos e os municípios, 81,6%.

“A Lei Paulo Gustavo não é apenas uma resposta às dificuldades enfrentadas pelo setor cultural em tempos desafiadores, mas também uma oportunidade de renovação e crescimento para a comunidade cultural”, destaca o secretário-Executivo do Ministério da Cultura (MinC), Márcio Tavares.

E completa: “Com a destinação de recursos significativos, estamos vendo um movimento que impulsiona a cultura em todas as suas formas. É fundamental reconhecer que esses recursos são cruciais para a sobrevivência e revitalização de nossos artistas, produtores e espaços culturais. Na região Sul, temos observado avanços notáveis. A articulação entre os diversos setores da cultura e a presença ativa do Estado têm sido fundamentais para garantir que os benefícios da lei cheguem até aqueles que mais precisam. A Lei Paulo Gustavo nos lembra que a cultura é um direito de todos e deve ser acessível”.

Videoclipe

Por meio da Lei, em Curitiba (PR), a cantora Nahla teve pela primeira vez, um projeto aprovado em um edital. Com os R$ 30 mil recebidos, ela irá gravar o videoclipe da música Só Queria Amar de Novo, atualmente em fase de pré-produção. “Uma vez que sou uma artista independente, a LPG foi essencial para viabilizar esse trabalho, pois não teria os recursos necessários de outra forma”, justifica ela, contemplada em chamamento estadual.

Nahla salienta ainda o papel da ação na democratização do acesso de fazedores de cultura ao fomento. “Temos em todo Brasil, e bastante aqui em Curitiba, muitos artistas incríveis produzindo música de forma independente e o estímulo à cultura por meio de incentivos como a da Lei Paulo Gustavo ajudam a democratizar o alcance a ferramentas de produção artística e aproximar esses artistas do público, dando visibilidade a narrativas e vozes de artistas que vem de periferia, negros, mulheres e LGBTQIAPN+, o que me toca diretamente sendo uma artista trans”.

A música do vídeo estará no álbum que Nahla irá lançar em 2025, todo com canções autorais. “Só Queria Amar de Novo traz a minha perspectiva enquanto mulher trans sobre frustrações e inseguranças afetivas e a solidão, porém, ao mesmo tempo, creio que todos podem se conectar com a sensação de decepção retratado na música, apesar de partir da minha experiência e vivência pessoal”, explica ela, que assina o roteiro da produção.

Depois de finalizado, o clipe será disponibilizado no YouTube e apresentado em rodas de conversa falando sobre o trabalho, a produção e a importância da visibilidade de vozes de mulheres trans artistas e afetividade.

Festival

Também no estado, a produtora Bya Paixão conseguiu concretizar o 1º Festival de Teatro Lambe-Lambe de Ponta Grossa após ter o projeto selecionado em edital estadual da Lei Paulo Gustavo. “O apoio financeiro foi essencial. Sem ele, teria sido inviável fazer o evento”, afirma ela, que recebeu R$ 171 mil, valor que cobriu os custos previstos no orçamento. “O incentivo é de fundamental importância, pois viabiliza projetos de forma segura e estruturada, além de possibilitar o apoio a diversos artistas e agentes culturais”, completa.

"A Lei Paulo Gustavo é um marco no fortalecimento da cultura brasileira ao democratizar o acesso aos recursos e mitigar os efeitos da crise causada pela Covid-19 em todas as regiões do país. Na região Sul, os resultados são expressivos: temos artistas e produtores culturais, antes à margem de políticas públicas, agora desenvolvendo projetos que enriquecem a vida cultural local e nacional. Esse é um exemplo de como a cultura é transformadora e deve ser acessível a todos", comenta a diretora de Fomento Direto da Secretaria de Economia Criativa, Teresa Cristina.

Cerca de 1.700 pessoas conferiram as apresentações em praças e parques do município entre os dias 8 e 13 de outubro. O festival reuniu artistas de todo o Brasil que utilizam a técnica do teatro lambe-lambe, incluindo Denise di Santos, sua criadora.

O formato teatral é encenado dentro de caixas, onde o espectador assiste ao espetáculo, com manipulação de bonecos, objetos ou sombras, por uma pequena abertura e o escuta por fones de ouvido.

“O teatro lambe-lambe proporciona ao público experiências únicas e inovadoras. Por ser de acesso gratuito, permitiu que a população tivesse contato com essa forma de teatro, além de oferecer aos profissionais da área uma nova perspectiva sobre o teatro de animação”, relata Bya.

Pioneiro na prática na cidade paranaense, o grupo Cacareco Coletivo enxergou a chance de fazer um evento dedicado ao gênero na cidade com a abertura do edital voltado a festivais. “O objetivo foi enriquecer e diversificar a cena teatral na cidade ao destacar o lambe-lambe como uma forma de expressão artística cativante e ainda inovadora”, explica Bya. 

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Em meio a um cenário de otimismo cauteloso, o turismo brasileiro vive um novo momento em 2025. Impulsionado pela valorização do turismo sustentável, pelas viagens de experiência e pela alta do dólar, que favorece o turismo doméstico, o setor registra uma recuperação robusta e cheia de oportunidades.

Segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o faturamento do setor cresceu 8,5% no primeiro trimestre de 2025, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Entre os destaques estão o Nordeste e o Centro-Oeste, que têm atraído visitantes em busca de ecoturismo, cultura regional e gastronomia típica.

A força do turismo interno

Com o dólar oscilando acima dos R$ 5,50, muitos brasileiros estão optando por conhecer melhor o próprio país. Destinos como Jalapão (TO), Chapada Diamantina (BA) e Alter do Chão (PA) estão no topo das buscas, segundo dados recentes da plataforma de viagens Booking.com.

“Estamos percebendo um novo perfil de turista, mais consciente e interessado em experiências autênticas, longe das multidões e com maior contato com a natureza”, afirma Paula Rezende, diretora de marketing de uma agência de viagens especializada em roteiros personalizados.

Turismo sustentável em alta

Outro destaque de 2025 é o crescimento do turismo sustentável. Projetos de hospedagem ecológica, trilhas com guias locais capacitados e parcerias com comunidades tradicionais estão se tornando diferenciais importantes na hora de escolher um destino.

A cidade de Bonito (MS), por exemplo, implementou um sistema de controle de visitantes em suas principais atrações naturais, equilibrando preservação ambiental e geração de renda para a população local.

Tecnologia e inteligência artificial como aliadas

A tecnologia também tem papel de protagonista na retomada do setor. Aplicativos de roteiros personalizados, guias virtuais com inteligência artificial e o uso de realidade aumentada em museus e atrações têm melhorado a experiência dos turistas e ajudado a descentralizar o fluxo de visitantes.

“A integração de ferramentas tecnológicas permite que o turista tenha mais autonomia, segurança e acesso a informações atualizadas em tempo real”, destaca Rafael Oliveira, pesquisador em turismo digital da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Perspectivas para o futuro

O cenário para o turismo em 2025 é promissor, mas requer atenção à qualificação da mão de obra, infraestrutura de acesso e políticas públicas de incentivo ao turismo sustentável.

Com a chegada do segundo semestre, o setor se prepara para a alta temporada e aposta na diversificação de roteiros e no fortalecimento do turismo de base comunitária como pilares de um crescimento duradouro.

O ano de 2025 está sendo generoso para quem busca por uma brecha no calendário para viajar. Isso porque há quatro feriados prolongados e oito pontos facultativos nacionais, que é quando as empresas podem ou não liberar os funcionários. O primeiro prolongado aconteceu em abril, mas durante todo o ano há oportunidades para viajar, e os roteiros de turismo sustentável vem ganhando espaço na agenda do brasileiro. Além de serem opções responsáveis e que se preocupam com o meio ambiente, quem os realiza também ganha ao se conectar com a natureza.

O ecoturismo cresce cerca de 20% todos os anos no Brasil, de acordo com o Brasilturis. Um dos motivos pela escolha da modalidade são os benefícios, principalmente ao bem estar mental e na conexão com si mesmo. É comprovado que a exposição à natureza diminui o estresse, regulando os níveis de cortisol no corpo e baixando a pressão arterial. A rotina do dia a dia faz com que seja difícil parar para contemplar um fim de tarde, o cair da chuva, o cantar dos pássaros ou pisar na grama e, assim, esquecemos o quão bom esse contato pode fazer. 

“Viagens em meio a natureza são como uma terapia em meio a um mundo digital, cheio de telas e obrigações profissionais. O ecoturismo vem se tornando um estilo de vida para aqueles que priorizam qualidade de vida, na qual saúde física e mental são inegociáveis”, ressalta Cecília Fortunatti, cofundadora da VaiViver - Ecoturismo e Aventura. 

Para quem busca uma pausa da rotina agitada das cidades, a VaiViver — iniciativa voltada para viagens com propósito — criou roteiros com saídas exclusivas durante os feriados prolongados. Em maio, no Dia do Trabalho (01), acontecem as primeiras expedições para explorar mais de 150 cachoeiras escondidas no coração da Serra da Canastra, em Delfinópolis (MG). Já em junho, durante o feriado de Corpus Christi, o destino é Nobres (MT), no coração do cerrado mato-grossense. 

Foco na experiência

Buscando mais do que apenas um destino, e sim vivências transformadoras em meio à natureza, Sandra de Araujo Rodrigues, de 53 anos, decidiu romper barreiras pessoais e encontrou na VaiViver a segurança e o acolhimento necessários para viajar sozinha pela primeira vez. Após o divórcio e em busca de um novo ciclo de vida, ela escolheu a Chapada dos Guimarães como ponto de partida para essa jornada. Lá, além de se reconectar consigo mesma, fez amizades e viveu momentos que marcaram sua trajetória. Foi nessa viagem que surgiu o convite para comemorar seu aniversário, em 2022, na Chapada das Mesas — uma experiência que, segundo ela, mudou sua vida. “Você tem noção do que foi iniciar um novo ciclo na Chapada das Mesas? Foi simplesmente emocionante”, conta.

A experiência com a VaiViver foi um ponto central na jornada de transformação de Sandra. Desde o início, ela se sentiu segura e amparada para explorar atividades que jamais imaginou realizar — como tirolesa e passeios por cachoeiras, mesmo sem saber nadar. “Pode ter certeza que o meu ciclo, que se iniciou naquele período, foi um dos mais lindos que eu tive”, relembra. Segundo ela, o cuidado e o suporte da equipe fizeram toda a diferença: “É uma das empresas que dá mais segurança, principalmente para a mulher que viaja sozinha. Quando ela fala assim: ‘quero que você só se preocupe em fazer a mala’, é exatamente isso”, complementa.  

Opções para o Dia do Trabalho

A VaiViver oferece um roteiro de quatro dias para a cidade, que é ideal para quem busca uma imersão profunda no ecoturismo. Iniciando na quinta-feira (01), o grupo se reúne em São Paulo (SP), na estação Vergueiro com a equipe e segue direto para a pousada. A aventura começa na sexta-feira, após um típico café mineiro, com pão de queijo e café quentinho. 

Para os amantes de queijo, o roteiro contempla uma parada em diversas queijarias premiadas para provar o queijo canastra e conhecer um pouco mais da região. Os viajantes ainda adentram o Parque Nacional da Serra da Canastra, recebendo as boas energias da água sagrada e conhecendo a biodiversidade local. O destino é uma opção repleta de belezas naturais e trilhas, indicadas para iniciantes no esporte e com nível de preparação baixo. Ao total, são aproximadamente 12 km de trilhas divididos durante o roteiro, mas sem grandes desníveis. 

Quem escolhe Delfinópolis como destino conhece ainda o Condomínio de Pedra, Vale da Gurita, Complexo do Ouro e do Claro e lindas cachoeiras, como a Cachoeira do Tombo, da Gruta e Tenebroso. Está incluído no roteiro todos os passeios e tickets de entrada, transfer ida e volta da sua cidade de origem em ônibus semi leito, transfer em 4x4 para os passeios na Serra, ônibus rural, hospedagem em pousada em Delfinópolis - próxima ao centrinho e barzinhos -, e as principais refeições com típicos cafés e almoços mineiros. 

 

Com uma rica herança africana presente na cultura, na história e na gastronomia, o Rio de Janeiro foi eleito o Melhor Destino Nacional de Afroturismo durante a 3ª edição do Prêmio Afroturismo, realizada nesta segunda-feira (14.04), em São Paulo. O anúncio foi feito na World Travel Market Latin America (WTM-LA) - um dos mais relevantes eventos globais do setor turístico. A premiação é promovida pela plataforma Guia Negro, que tem a valorização das raízes afro-brasileiras como um de seus pilares estratégicos.

A escolha do Rio reforça o papel da cidade na valorização da cultura afro e no fortalecimento de experiências turísticas ligadas à ancestralidade. Entre os roteiros destacados pelo júri estão a Pequena África, na região portuária, e o bairro de Madureira – trajetos que resgatam e celebram a contribuição da população negra na formação da identidade carioca.

Outro reconhecimento importante foi para o Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (Muhcab), localizado na Gamboa. Inaugurado em 2021, o espaço foi premiado como a Melhor Atração Turística do segmento, sendo descrito pelos jurados como um “local de resistência”, dedicado à preservação, promoção e celebração da cultura afro-brasileira, por meio de exposições, rodas de conversa e atividades culturais.

A premiação também reconheceu outros esforços que impulsionam o afroturismo no Brasil. São Luís (MA) foi destaque pelos investimentos no setor, recebendo o título de Destaque Guia Negro. A turismóloga Thaís Rosa Pinheiro, fundadora da agência Conectando Territórios e consultora do Ministério do Turismo, foi eleita a melhor profissional do segmento. 

ROTAS NEGRAS - O fortalecimento do Afroturismo também se reflete nas políticas públicas voltadas para a promoção internacional do Brasil. Como parte desse esforço, o Ministério do Turismo, em parceria com o Ministério da Igualdade Racial e outros órgãos do Governo Federal, lançou o Programa Rotas Negras.

A iniciativa tem como objetivo fomentar experiências turísticas que valorizem a ancestralidade africana em diferentes territórios – urbanos e rurais –, impulsionando oportunidades de inclusão e protagonismo para as populações negras. Com foco na economia criativa, circular e sustentável, o programa também visa fortalecer os destinos turísticos de matriz afro-brasileira presentes no Mapa do Turismo.

Além disso, o Rotas Negras prevê ações voltadas à educação e sensibilização dos turistas sobre a história e a cultura afro-brasileira, à capacitação de comunidades locais na gestão dos seus produtos turísticos e ao enfrentamento de estereótipos, contribuindo para a autoestima das populações envolvidas.