Com curadoria de Cauê Alves e Gabriela Gotoda, a exposição parte de uma proposta de diálogos entre obras de arte moderna e arte contemporânea na coleção do MAM
O Museu de Arte Moderna de São Paulo, em parceria com o SESI-SP, apresentará uma exposição inédita com obras do acervo do MAM na Galeria de Arte do Centro Cultural Fiesp, a partir de 26 de março. A mostra MAM São Paulo: encontros entre o moderno e o contemporâneo tem curadoria de Cauê Alves e Gabriela Gotoda e reúne mais de 100 obras da coleção do museu.
Entre os destaques, estão obras já conhecidas do público, como Paisagem (1948), de Tarsila do Amaral; Peixe na praia (1933), de Di Cavalcanti, e Onça (1930), de Victor Brecheret, ao lado de outros modernistas - Alfredo Volpi, Ismael Nery e Cândido Portinari. Grandes nomes da arte contemporânea também terão trabalhos em exibição, é o caso de artistas como Mira Schendel, Leonilson, Carmela Gross, Tunga, Leda Catunda e Cildo Meireles - este último, com escultura doada recentemente ao acervo do museu. Além disso, a mostra conta com obras de artistas internacionais, como León Ferrari e Raoul Dufy.
"Para o MAM São Paulo, essa parceria com o SESI-SP tem um significado especial, pois reforça a importância de unir forças com outras instituições culturais. Essas colaborações são uma oportunidade valiosa para ampliar a visibilidade do nosso acervo e levar as obras do museu a públicos diversos, fortalecendo o diálogo com a sociedade e reafirmando nosso compromisso com a democratização da arte", afirma Elizabeth Machado, presidente do MAM.
A Gerente Executiva de Cultura do SESI-SP, Débora Viana, destaca a importância para o SESI-SP na realização dessa exposição. "O SESI-SP tem como um de seus compromissos contribuir com a sociedade civil, promovendo educação e cultura. Essa parceria com o MAM é uma das formas de reforçar esse compromisso, com o fomento do cenário cultural e artístico, a formação de novos públicos em artes, a difusão e o acesso à cultura de forma gratuita. É uma oportunidade de realizar na Galeria de Arte do Centro Cultural Fiesp uma exposição que suscitará reflexões e proporcionará para o público visitante acesso a um acervo de suma importância para a história da arte brasileira e internacional".
A exposição trará outras obras recém incorporadas pelo museu, a maior parte vinda de uma doação recebida em 2024. "Trata-se de um conjunto muito relevante, com obras contemporâneas e modernistas que complementam o acervo do museu e são fundamentais na exposição atual. Há inclusive trabalhos de artistas do modernismo europeu de que o MAM ainda não tinha nenhuma obra, como Yves Klein e Henry Moore", explica Cauê Alves, curador-chefe do museu, responsável pela exposição ao lado de Gabriela Gotoda.
Um dos destaques nas doações recentes é a aquarela Vaso de Anêmona, do francês Raoul Dufy, datada de 1937. Recebida a doação via legado, o museu contratou uma perícia profissional para conduzir um processo técnico-científico de confirmação de autoria. O trabalho foi conduzido pelos peritos Gustavo Raul Perino, da Givoa Art Consulting, e Anauene Dias Soares, da Anauene Art Law.
A obra foi identificada por uma historiadora francesa contratada pela consultoria, que fez checagens na versão original física do catálogo raisonné de Dufy, já que a versão online não continha a aquarela. O único outro exemplar da obra de Dufy em coleções institucionais no Brasil está no Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC USP).
A exposição também traz um esforço em parceria com o setor Educativo do MAM para elucidar os conceitos de arte moderna e arte contemporânea. "São conceitos que muitas vezes parecem sinônimos, e que podem ser difíceis de distinguir. Muitas vezes se chega a um museu de arte contemporânea e ele tem obras de arte moderna. Retomamos as questões mais comuns identificadas pela equipe do MAM Educativo e vamos usar a oportunidade de trabalhá-las para dar ao público mais autonomia na compreensão da história da arte", diz Gabriela Gotoda, co-curadora.
Encontros entre o moderno e contemporâneo
O partido curatorial buscou explorar as diferenças e semelhanças entre a arte moderna e a contemporânea, criando aproximações e diálogos entre essas duas noções e os seus momentos na história da arte brasileira.
A exposição pretende levar o público à reflexão sobre como as sobreposições de assuntos, linguagens ou processos nas obras tipicamente caracterizadas como modernas ou contemporâneas demonstram as semelhanças e diferenças entre elas, tensionando a distância entre os dois termos — moderno e contemporâneo — de modo a questionar definições precisas na história e nos dias atuais.
A convergência e mistura existentes entre esses dois momentos históricos da produção artística são notórias tanto em seus desdobramentos no tempo quanto na produção crítica a respeito delas, e também estão refletidas no acervo do MAM. No Brasil, em especial, a produção dita contemporânea pode ser considerada um desdobramento de uma das últimas vanguardas modernistas, o construtivismo pós-Guerra, característica que dificulta o estabelecimento de uma divisão ou sequência cronológica entre as duas definições.
Se o início da arte moderna supostamente se deu com as vanguardas europeias na virada do século 20, a produção dos modernistas brasileiros se estendeu pela maior parte daquele século, muitas vezes simultaneamente ao desenvolvimento de novas linguagens e técnicas exploradas na produção mais contemporânea.
A narrativa histórica sobre a arte moderna no Brasil por muito tempo ignorou a produção de artistas hoje denominados populares, como José Antonio da Silva, Iracema Arditi e Heitor dos Prazeres. Contemporâneos de grandes nomes do modernismo brasileiro, esses artistas não são amplamente vinculados à arte moderna justamente porque não são acomodados com facilidade nos partidos estéticos e conceituais das vanguardas.
Partindo desse reconhecimento, a exposição busca contribuir com a discussão sobre as narrativas históricas da arte moderna da arte contemporânea, assim como a percepção sobre a passagem do tempo entre elas.
Certamente há diferenças históricas e teóricas que merecem ampla discussão, mas, afinal, é possível traçar com precisão a fronteira visual e temporal entre a arte moderna e a arte contemporânea? De que modo isso se relaciona com a percepção do tempo histórico, e do tempo vivido? A exposição aponta para essas questões, não para respondê-las definitivamente, mas sim para contribuir com outras formas de abordagem, oferecendo ao público autonomia para se surpreender com as reflexões despertadas pela arte, seja de qual tempo ela for.
Galeria de Arte do Centro Cultural Fiesp apresenta exposição inédita com acervo do MAM São Paulo
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