Primeira Ocupação do Itaú Cultural em 2025 é dedicada à arte-educadora Ana Mae Barbosa

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O nome é simples: Ana. Já o segundo nome não é o que parece: Mae, que se pronuncia “Mei”, e muitas vezes é confundido com “mãe”. Mero detalhe diante da grandeza desta arte-educadora, nascida em 1936 no Rio de Janeiro e crescida em Recife, e do afeto que dedica a quem estuda com ela, à família e amizades. A sua vida e carreira têm como foco a defesa do ensino das artes nas escolas, universidades, museus e políticas públicas e garantir o direito do ensino das artes nos currículos e no cotidiano do país. Ela parte do que denominou Abordagem Triangular, proposta baseada em três pilares: leitura da imagem, a contextualização e o fazer.  


A Ocupação Ana Mae Barbosa, dedicada à sua extensa trajetória – são 70 anos de carreira –, abre na primeira quarta-feira de abril, dia 2, na sala Multiuso, no segundo andar do Itaú Cultural. Segue em cartaz até 13 de julho. No total, a exposição se desdobra em 300 itens que passam pela sua biografia, que a levou a se tornar precursora da arte-educação no Brasil – a partir dos anos de 1950/1960, seguindo até hoje. Há documentação, materiais audiovisuais, livros disponibilizados para manuseio – só os publicados por ela, são mais de 30 –, obras, documentos nunca vistos, desenhos, catálogos, jornais, cadernos e curiosidades.


A curadoria desta Ocupação, que é a 68ª da série, é de Clarissa Diniz, pesquisadora, educadora e crítica de arte. A co-curadoria é da equipe Itaú Cultural e o apoio para a pesquisa curatorial é do também arte-educador Rodrigo Ferreira. O projeto expográfico é de Thereza Faria.


“A trajetória e o pensamento de Ana Mae são fundamentais não somente para a defesa do ensino das artes nas escolas, como também para a consolidação da atuação de arte-educadores na universidade, no ensino não formal, na concepção, pesquisa e curadoria de exposições”, conta Tayná Menezes, gerente do Núcleo de Medição e Relacionamento do Itaú Cultural, que organiza esta Ocupação. “Queremos apresentar este universo sensível, denso e multicultural de Ana Mae Barbosa”, completa ela sobre a homenageada que, em 2017, recebeu o Prêmio Itaú Cultural – 30 anos, na categoria Aprender.


Em exposição

Entre o material apresentado há documentos históricos, como a transcrição de palestra feita pelo educador Paulo Freire (1921-1997), a convite de Ana Mae, durante a Semana de Arte e Ensino na Universidade de São Paulo (USP), em 1980. Ele ficou perdido por décadas, tendo sido encontrado durante as pesquisas para esta exposição. O documento completo estará disponível na publicação da Ocupação. Acesse em itaucultural.org.br/ocupacao.

Vale ressaltar, aqui, que Ana foi aluna de Freire em Recife, em 1954, quando lecionou no curso preparatório para o concurso para professores primários da Secretaria de Educação de Pernambuco, no Instituto Capibaribe. Ali também conheceu a professora Noemia Varela (1917-2017) e ambos se tornaram influências decisivas em sua trajetória profissional. Foi essa arte-educadora quem criou a Escolinha de Arte do Recife e, depois, foi diretora técnica da Escolinha de Arte do Brasil, com os Cursos Intensivos de Arte Educação que organizava no Rio de Janeiro. A partir daquele período, Ana mergulhou no ofício de arte-educadora, mantendo sempre um diálogo com a pedagogia freiriana.


No percurso da mostra, o público encontra curiosidades como uma série de caricaturas da figura de Ana Mae, que ela foi ganhando de artistas, estudantes e amizades em suas viagens pelo Brasil e exterior – um mapa do mundo na exposição pontua todos os lugares que ela percorreu. Pode se conhecer, ainda, 12 dos cerca de 600 colares que ela foi adquirindo e recebendo nessas incursões pelo país e o mundo. Ana os usa cotidianamente como símbolos da sua construção identitária, revelando o seu apreço pessoal, estético e afetivo pela interculturalidade.


Também está em exposição o acervo de bilhetes escritos por ela de próprio punho no período em que foi diretora do Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC) – uma das poucas mulheres a conquistar cargo de direção em um museu. Durante a sua gestão, de 1986 a 1993, a professora revolucionou a tradição elitista dos museus, promovendo um programa voltado para a multiculturalidade, abordagem então pouco valorizada no país. Independentemente disso, corriam fama, lá dentro, os bilhetes informais, afetuosos e incentivadores com que ela conduzia a sua equipe. Foi graças a Ana e à sua atuação na gestão do museu que o MAC ganhou um novo prédio.


Os núcleos que compõem a exposição são: Da educação no direito ao direito à educação: democracia, política e pedagogia; O movimento das Escolinhas de Arte: entre Recife, Brasília e São Paulo; Políticas educacionais: entre a experimentação e a mobilização; Representação, identidade e presença; Arte-educação como epistemologia da arte; Museu de Arte Contemporânea da USP; Ana Mãe: feminismo, afeto, pedagogia e política.


Trata-se da maior reunião de peças já realizada acerca da obra de Ana Mae Barbosa e apresenta outros materiais inéditos de sua vida e trajetória intelectual. São documentos sobre a criação da Escolinha de Arte de Brasília – projeto que mal começou e foi interrompido pela intervenção militar que desembocou na ditadura –, anotações, cartas e outros documentos sobre a colaboração dela para o livro História Geral da Arte no Brasil, organizado por Walter Zanini e lançado em 1983 pelo Instituto Moreira Salles, além de documentação sobre suas viagens a trabalho pelo mundo.


Eles percorrem o caminho de Ana desde que ela se graduou em Direito, transformando essa primeira formação em uma luta constante pelo direito à educação. Um núcleo é exclusivamente voltado para a relevância de Paulo Freire e Noêmia Varela em sua vida e a importância do Movimento das Escolinhas de Arte em seu desenvolvimento intelectual e político. Deriva daí a ideia de arte-educação e a luta constante para que a arte siga sendo parte obrigatória dos currículos da educação básica. A mostra segue pela necessidade das instâncias de representação e associativismo nesse campo, ressaltando o papel central de Ana Mae. Apresenta a vasta produção teórica da homenageada e sua rede de pesquisas, que perpassa orientandos, educadores e pesquisadores de todo o Brasil, e sua atuação como diretora do MAC-USP, cujo programa multicultural foi pioneiro no campo dos museus brasileiros.


Todo o percurso é permeado por fotos da época e por depoimentos em vídeo de educadores de diferentes lugares do Brasil, que discutem a Abordagem Triangular a partir de suas próprias práticas. 


Além da mostra

Desenvolvida pelo núcleo de arte-educadores do Itaú Cultural, que participaram ativamente da pesquisa e curadoria desta Ocupação, a mostra terá programação paralela na Arena, uma extensão desse espaço expositivo. Em um trabalho de mediação junto a diferentes públicos, que começa em uma série de encontros de 3 a 6 de abril (quinta-feira e sexta-feira, às 19h, e sábado e domingo às 16h), serão realizados Encontros com arte e educação. Composta por atividades de criação e um ciclo de conversas com pessoas convidadas – que trabalharam com a homenageada ou com base em suas teorias e contribuíram para a pesquisa e a prática do campo da arte-educação no Brasil –, a programação se aprofunda na trajetória de formação, profissional e teórica de Ana Mae e mergulha em aspectos de seu pensamento e obra.


Como uma extensão da mostra, o Itaú Cultural oferece uma publicação – disponível no formato impresso, para quem visitar o espaço expositivo, e on-line – e um site com conteúdos inéditos e exclusivos em itaucultural.org.br/ocupacao.

 

 

SERVIÇO

Ocupação Ana Mae Barbosa

abertura 2 de abril, às 19h30

até 13 de julho de 2025

Sala Multiuso (Piso 2)

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Em meio a um cenário de otimismo cauteloso, o turismo brasileiro vive um novo momento em 2025. Impulsionado pela valorização do turismo sustentável, pelas viagens de experiência e pela alta do dólar, que favorece o turismo doméstico, o setor registra uma recuperação robusta e cheia de oportunidades.

Segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o faturamento do setor cresceu 8,5% no primeiro trimestre de 2025, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Entre os destaques estão o Nordeste e o Centro-Oeste, que têm atraído visitantes em busca de ecoturismo, cultura regional e gastronomia típica.

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Com o dólar oscilando acima dos R$ 5,50, muitos brasileiros estão optando por conhecer melhor o próprio país. Destinos como Jalapão (TO), Chapada Diamantina (BA) e Alter do Chão (PA) estão no topo das buscas, segundo dados recentes da plataforma de viagens Booking.com.

“Estamos percebendo um novo perfil de turista, mais consciente e interessado em experiências autênticas, longe das multidões e com maior contato com a natureza”, afirma Paula Rezende, diretora de marketing de uma agência de viagens especializada em roteiros personalizados.

Turismo sustentável em alta

Outro destaque de 2025 é o crescimento do turismo sustentável. Projetos de hospedagem ecológica, trilhas com guias locais capacitados e parcerias com comunidades tradicionais estão se tornando diferenciais importantes na hora de escolher um destino.

A cidade de Bonito (MS), por exemplo, implementou um sistema de controle de visitantes em suas principais atrações naturais, equilibrando preservação ambiental e geração de renda para a população local.

Tecnologia e inteligência artificial como aliadas

A tecnologia também tem papel de protagonista na retomada do setor. Aplicativos de roteiros personalizados, guias virtuais com inteligência artificial e o uso de realidade aumentada em museus e atrações têm melhorado a experiência dos turistas e ajudado a descentralizar o fluxo de visitantes.

“A integração de ferramentas tecnológicas permite que o turista tenha mais autonomia, segurança e acesso a informações atualizadas em tempo real”, destaca Rafael Oliveira, pesquisador em turismo digital da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Perspectivas para o futuro

O cenário para o turismo em 2025 é promissor, mas requer atenção à qualificação da mão de obra, infraestrutura de acesso e políticas públicas de incentivo ao turismo sustentável.

Com a chegada do segundo semestre, o setor se prepara para a alta temporada e aposta na diversificação de roteiros e no fortalecimento do turismo de base comunitária como pilares de um crescimento duradouro.

O ano de 2025 está sendo generoso para quem busca por uma brecha no calendário para viajar. Isso porque há quatro feriados prolongados e oito pontos facultativos nacionais, que é quando as empresas podem ou não liberar os funcionários. O primeiro prolongado aconteceu em abril, mas durante todo o ano há oportunidades para viajar, e os roteiros de turismo sustentável vem ganhando espaço na agenda do brasileiro. Além de serem opções responsáveis e que se preocupam com o meio ambiente, quem os realiza também ganha ao se conectar com a natureza.

O ecoturismo cresce cerca de 20% todos os anos no Brasil, de acordo com o Brasilturis. Um dos motivos pela escolha da modalidade são os benefícios, principalmente ao bem estar mental e na conexão com si mesmo. É comprovado que a exposição à natureza diminui o estresse, regulando os níveis de cortisol no corpo e baixando a pressão arterial. A rotina do dia a dia faz com que seja difícil parar para contemplar um fim de tarde, o cair da chuva, o cantar dos pássaros ou pisar na grama e, assim, esquecemos o quão bom esse contato pode fazer. 

“Viagens em meio a natureza são como uma terapia em meio a um mundo digital, cheio de telas e obrigações profissionais. O ecoturismo vem se tornando um estilo de vida para aqueles que priorizam qualidade de vida, na qual saúde física e mental são inegociáveis”, ressalta Cecília Fortunatti, cofundadora da VaiViver - Ecoturismo e Aventura. 

Para quem busca uma pausa da rotina agitada das cidades, a VaiViver — iniciativa voltada para viagens com propósito — criou roteiros com saídas exclusivas durante os feriados prolongados. Em maio, no Dia do Trabalho (01), acontecem as primeiras expedições para explorar mais de 150 cachoeiras escondidas no coração da Serra da Canastra, em Delfinópolis (MG). Já em junho, durante o feriado de Corpus Christi, o destino é Nobres (MT), no coração do cerrado mato-grossense. 

Foco na experiência

Buscando mais do que apenas um destino, e sim vivências transformadoras em meio à natureza, Sandra de Araujo Rodrigues, de 53 anos, decidiu romper barreiras pessoais e encontrou na VaiViver a segurança e o acolhimento necessários para viajar sozinha pela primeira vez. Após o divórcio e em busca de um novo ciclo de vida, ela escolheu a Chapada dos Guimarães como ponto de partida para essa jornada. Lá, além de se reconectar consigo mesma, fez amizades e viveu momentos que marcaram sua trajetória. Foi nessa viagem que surgiu o convite para comemorar seu aniversário, em 2022, na Chapada das Mesas — uma experiência que, segundo ela, mudou sua vida. “Você tem noção do que foi iniciar um novo ciclo na Chapada das Mesas? Foi simplesmente emocionante”, conta.

A experiência com a VaiViver foi um ponto central na jornada de transformação de Sandra. Desde o início, ela se sentiu segura e amparada para explorar atividades que jamais imaginou realizar — como tirolesa e passeios por cachoeiras, mesmo sem saber nadar. “Pode ter certeza que o meu ciclo, que se iniciou naquele período, foi um dos mais lindos que eu tive”, relembra. Segundo ela, o cuidado e o suporte da equipe fizeram toda a diferença: “É uma das empresas que dá mais segurança, principalmente para a mulher que viaja sozinha. Quando ela fala assim: ‘quero que você só se preocupe em fazer a mala’, é exatamente isso”, complementa.  

Opções para o Dia do Trabalho

A VaiViver oferece um roteiro de quatro dias para a cidade, que é ideal para quem busca uma imersão profunda no ecoturismo. Iniciando na quinta-feira (01), o grupo se reúne em São Paulo (SP), na estação Vergueiro com a equipe e segue direto para a pousada. A aventura começa na sexta-feira, após um típico café mineiro, com pão de queijo e café quentinho. 

Para os amantes de queijo, o roteiro contempla uma parada em diversas queijarias premiadas para provar o queijo canastra e conhecer um pouco mais da região. Os viajantes ainda adentram o Parque Nacional da Serra da Canastra, recebendo as boas energias da água sagrada e conhecendo a biodiversidade local. O destino é uma opção repleta de belezas naturais e trilhas, indicadas para iniciantes no esporte e com nível de preparação baixo. Ao total, são aproximadamente 12 km de trilhas divididos durante o roteiro, mas sem grandes desníveis. 

Quem escolhe Delfinópolis como destino conhece ainda o Condomínio de Pedra, Vale da Gurita, Complexo do Ouro e do Claro e lindas cachoeiras, como a Cachoeira do Tombo, da Gruta e Tenebroso. Está incluído no roteiro todos os passeios e tickets de entrada, transfer ida e volta da sua cidade de origem em ônibus semi leito, transfer em 4x4 para os passeios na Serra, ônibus rural, hospedagem em pousada em Delfinópolis - próxima ao centrinho e barzinhos -, e as principais refeições com típicos cafés e almoços mineiros. 

 

Com uma rica herança africana presente na cultura, na história e na gastronomia, o Rio de Janeiro foi eleito o Melhor Destino Nacional de Afroturismo durante a 3ª edição do Prêmio Afroturismo, realizada nesta segunda-feira (14.04), em São Paulo. O anúncio foi feito na World Travel Market Latin America (WTM-LA) - um dos mais relevantes eventos globais do setor turístico. A premiação é promovida pela plataforma Guia Negro, que tem a valorização das raízes afro-brasileiras como um de seus pilares estratégicos.

A escolha do Rio reforça o papel da cidade na valorização da cultura afro e no fortalecimento de experiências turísticas ligadas à ancestralidade. Entre os roteiros destacados pelo júri estão a Pequena África, na região portuária, e o bairro de Madureira – trajetos que resgatam e celebram a contribuição da população negra na formação da identidade carioca.

Outro reconhecimento importante foi para o Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (Muhcab), localizado na Gamboa. Inaugurado em 2021, o espaço foi premiado como a Melhor Atração Turística do segmento, sendo descrito pelos jurados como um “local de resistência”, dedicado à preservação, promoção e celebração da cultura afro-brasileira, por meio de exposições, rodas de conversa e atividades culturais.

A premiação também reconheceu outros esforços que impulsionam o afroturismo no Brasil. São Luís (MA) foi destaque pelos investimentos no setor, recebendo o título de Destaque Guia Negro. A turismóloga Thaís Rosa Pinheiro, fundadora da agência Conectando Territórios e consultora do Ministério do Turismo, foi eleita a melhor profissional do segmento. 

ROTAS NEGRAS - O fortalecimento do Afroturismo também se reflete nas políticas públicas voltadas para a promoção internacional do Brasil. Como parte desse esforço, o Ministério do Turismo, em parceria com o Ministério da Igualdade Racial e outros órgãos do Governo Federal, lançou o Programa Rotas Negras.

A iniciativa tem como objetivo fomentar experiências turísticas que valorizem a ancestralidade africana em diferentes territórios – urbanos e rurais –, impulsionando oportunidades de inclusão e protagonismo para as populações negras. Com foco na economia criativa, circular e sustentável, o programa também visa fortalecer os destinos turísticos de matriz afro-brasileira presentes no Mapa do Turismo.

Além disso, o Rotas Negras prevê ações voltadas à educação e sensibilização dos turistas sobre a história e a cultura afro-brasileira, à capacitação de comunidades locais na gestão dos seus produtos turísticos e ao enfrentamento de estereótipos, contribuindo para a autoestima das populações envolvidas.