O espetáculo Fuga, criação da Frente Coletiva, estreia no dia 04 de julho no Sesc Belenzinho. A montagem mistura diferentes linguagens artísticas para propor uma imersão nos efeitos da crise climática. A estreia acontece dia 04 de julho, com sessões às sextas e sábados, às 20h, e aos domingos e feriados, às 18h, até 03 de agosto, com sessões às quintas a partir de 17 de julho. Os ingressos variam de R$15 a R$50.
Idealizado pela diretora geral e encenadora Beatriz Barros e pela produtora e atriz Jennifer Souza, o espetáculo parte da premissa de que o capitalismo é um dos motores da degradação ambiental e das desigualdades sociais que dela decorrem. Desde 2023, as criadoras em conjunto com a Frente Coletiva (coletivo de artistas transdisciplinares) pesquisam o tema, tendo como ponto de partida o romance Parábola do Semeador, da escritora afro-americana Octavia Butler (1947–2006), referência central do afrofuturismo. Publicado em 1993, o livro retrata o mundo em 2025 em puro colapso climático, e essa atmosfera foi o ponto de partida para a construção de narrativas mais próximas do cotidiano contemporâneo. "Usamos essa ideia como base para criar situações que o público pudesse reconhecer como parte de sua própria realidade", explica Beatriz.
A dramaturgia original - escrita por Louise Belmonte com colaboração da diretora e das intérpretes - se constrói por meio de uma linguagem cênica que provoca sensações físicas e emocionais: sons de chuvas intensas, trovões, falhas de energia, vento e água em cena criam um ambiente de instabilidade constante. Beatriz destaca que o som tem um papel fundamental nessa narrativa e que a presença da água no cenário interfere diretamente nas interpretações, tornando a encenação uma verdadeira orquestração de experiências sensoriais.
A história se passa dentro de um museu em São Paulo, durante uma tempestade que paralisa a cidade. Quatro trabalhadoras de um Museu ficam presas no trabalho, enquanto outras tentam chegar na instituição museológica à qualquer custo. Impedidas de retornar para casa por conta do desastre climático, elas seguem trabalhando ou seguem tentando chegar de qualquer forma ao trabalho, movidas pela urgência de garantir o sustento em meio ao caos. "Pois nem todas trabalhadoras trampam no museu e nem todas já estão lá, algumas estão tentando chegar ainda no trabalho".
Suas presenças no local revelam como o racismo ambiental afeta, de forma desigual, a população periférica. "Elas seguem trabalhando porque não têm escolha: a necessidade de garantir o sustento falou mais alto que o medo da catástrofe. Isso diz muito sobre o sistema em que vivemos", observa Jennifer, que também atua na peça ao lado de Julia Pedreira, Joy Catharina e Tricka Carvalho.
A encenação propõe uma espécie de visita mediada a esse museu fictício. O público acompanha, em tempo real, um dia de trabalho que é rompido por uma emergência climática. A estrutura dramatúrgica se transforma junto com a narrativa: o que começa como uma cena cotidiana evolui para um espaço extracotidiano, mais instável, quase apocalíptico. Jennifer destaca essa transição ao dizer que "o espetáculo começa com duas pessoas em seu ambiente de trabalho, mas aos poucos tudo se altera — a espacialidade, a relação com o corpo, o tom das falas". "O colapso também toma conta da linguagem", conclui.
Sobre a encenação
O trabalho corporal ganha cada vez mais importância ao longo da encenação. Por isso, Castilho trouxe em sua pesquisa práticas como mindfulness, terapia somática e atividades ao ar livre. Ao mesmo tempo, o grupo estudou a maneira como o corpo se comporta após eventos traumáticos, como catástrofes naturais.
O cenário concebido por Maíra Sciuto também usou os elementos naturais ao longo do espetáculo: água, vento, lama e até o meteorito de Bendegó, o maior encontrado no Brasil e que estava exposto no Museu Nacional, dominam a cena, contribuindo para a sensação de angústia do público.
A sonoplastia segue essa mesma linha, como se a natureza estivesse se comunicando. A trilha de Lua Oliveira brinca com o efeito da água e constrói uma espacialidade tridimensional no espaço cênico. "Pensamos em muitas coisas que pudessem deixar Fuga bem sensorial. Não queremos que os espectadores saiam indiferentes do teatro", defende Beatriz.
Para a Frente Coletiva, o apocalipse não é uma questão, porque o planeta já está em colapso. "A obra pretende dar forma a tudo que vemos e escutamos. De dizer que sim, ouvimos: cada queimada, cada deslizamento, cada espécie desaparecida, cada corpo que afunda", completa.
FUGA estreia no Sesc Belenzinho e coloca o público dentro de um museu em meio a uma catástrofe climática
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