A Aldeia Kaingang Tupé Pãn, localizada no Morro do Osso, em Porto Alegre (RS), foi palco da primeira edição dos Jogos Tradicionais dos Povos Originários do Sul no último dia 14. O evento reuniu cerca de 600 indígenas de 15 aldeias das etnias Kaingang, Mbya Guarani, Xokleng e Charrua, promovendo a valorização e a preservação das práticas esportivas indígenas, como tiro de lança, arco e flecha, corrida da tora, cabo de guerra e futebol masculino e feminino — este último com arbitragem do conhecido árbitro Márcio Chagas da Silva.
A iniciativa busca não apenas consolidar os esportes tradicionais no calendário esportivo do Rio Grande do Sul, mas também fortalecer as expressões culturais dos povos originários da região.
A organização do evento ficou sob responsabilidade técnica da Cooperativa Voz da Periferia – Criativistas, em parceria com a Aldeia Tupé Pãn e outras 14 aldeias.
Viabilizado por meio de editais do Ministério dos Povos Indígenas, da Bolsa Funarte de Apoio a Ações Artísticas Continuadas 2024, do Programa Retomada Cultural RS, da Funai e da CONAB, o festival contou com estrutura para acolher atletas e visitantes, incluindo transporte, hospedagem colaborativa, alimentação e a entrega da Taça Krenak às aldeias participantes. A programação também incluiu atividades pós jogos, como a escolha da guerreira e do guerreiro Indígena, além de um evento festivo com apresentações musicais.
Para Mariana Martinez, coordenadora do Escritório Estadual do MinC no RS, a realização da iniciativa representa a concretização dos objetivos do Programa Retomada Cultural RS. “O Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura, investiu mais de R$ 60 milhões para fomentar políticas públicas efetivas voltadas à recuperação do setor cultural no Rio Grande do Sul após a catástrofe natural que atingiu o estado. São ações formativas, incentivo à diversidade cultural e promoção de atividades artísticas continuadas que seguem reverberando positivamente na vida da população, gerando emprego e renda para os trabalhadores e fazedores de cultura”.
Segundo Cláudio Calmo, presidente da Cooperativa Voz da Periferia, “realizar em conjunto com a aldeia o primeiro Jogos Tradicionais dos Povos Originários do Sul mostra os impactos econômicos na cadeia de fornecedores da cultura e serviços correlatos”. O evento gerou trabalho para 63 pessoas, sendo 50 delas indígenas — mais do que um legado material, trata-se de trabalho digno para o movimento. “É também uma oportunidade importante para abrir espaço na mídia tradicional para a cultura indígena”, completou.
Para assegurar a documentação e a preservação desse momento histórico para os povos indígenas do Sul do Brasil, o evento contou com transmissão ao vivo pelas plataformas do @criativistascoop e de diversas aldeias no YouTube, Facebook e Instagram.
Cultura, Esporte e Identidade: o Legado dos Jogos Tradicionais
Os Jogos Tradicionais dos Povos Originários do Sul têm como objetivo fomentar o reconhecimento e a valorização dos esportes ancestrais, incentivando a participação de atletas indígenas de diferentes gêneros e faixas etárias. A iniciativa gerou impacto positivo na prática esportiva dentro das aldeias, contribuindo para hábitos mais saudáveis e para o fortalecimento da identidade cultural dos povos originários da região.
A atividade também se destacou por promover ampla participação feminina, com torneios que incentivaram o engajamento de mulheres indígenas no esporte.
Apesar da rica presença indígena no Sul do Brasil, muitos brasileiros ainda desconhecem sua importância na formação da identidade cultural da região. Esse desconhecimento contribui para uma imagem distorcida, que associa o Sul exclusivamente à descendência europeia, como alemães e italianos, com características físicas caucasianas. Iniciativas como os Jogos Tradicionais ajudam a desconstruir esse imaginário e a reafirmar a diversidade cultural brasileira.
Primeira edição dos Jogos Tradicionais dos Povos Originários do Sul fortalecem cultura indígena com apoio do Retomada Cultural RS
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