Semana teatral intensa no Itaú Cultural, com encontro sobre pautas identitárias, peça sobre o samba paulistano e solos inspirados em livros

Cultura
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Debate, mini temporada e solos permeiam a programação teatral do Itaú Cultural na segunda semana de maio, entre a Sala Multiúso e a Sala Itaú Cultural.  Na primeira, a programação começa na terça-feira, dia 7, às 20h, com o encontro Teatro de Pautas Identitárias, debate provocado pela companhia Os Crespos. De 9 a 12, este mesmo espaço recebe mais espetáculos da Mostra de Solos: desta vez, a atriz Gisele Petty apresenta o monólogo Agda, e o ator Anderson Negreiro atua em Mário Negreiro; ambos têm em comum inspiração literária.

 

Por sua vez, a Sala Itaú Cultural recebe de quinta-feira, dia 9, a domingo, 12, a Cia. Coisas Nossas de Teatro com o espetáculo O Samba da Pauliceia e Sua Gente, dando luz à cultura e às questões sociais na capital paulistana. Essa apresentação voltará ao cartaz na semana seguinte, no mesmo período.

 

Toda a programação do Itaú Cultural é gratuita. Para estas atividades, as reservas de ingressos têm início no dia 1 de maio (quarta-feira), a partir das 12h, pela plataforma INTI – acesso pelo site do Itaú Cultural www.itaucultural.org.br.

 

As apresentações

O encontro Teatro de pautas Identitárias, que a companhia Os Crespos  conduz na terça-feira, dia 7, às 20h,  propõe uma reflexão sobre a atuação artística de grupos e companhias de teatro negro, LGBTQIAP+, de povos originários e de comunidades periféricas na criação de uma identidade cênica brasileira. A proposta é mostrar como esses artistas, espalhados por todo o país, vêm fomentando esse debate à margem da grande indústria, pressionando o mercado e promovendo reflexões sobre o impacto da representatividade no mundo contemporâneo.

 

Para essa discussão foram convidadas a atriz, produtora cultural e pesquisadora de teatro negro Cyda Moreno, o multiartista e ativista comunicador do movimento indígena potiguar Juão Nyn e Renata Carvalho, atriz, diretora, dramaturga e transpóloga – travesti que estuda historicidade e transcestralidade com foco nas artes, como ela define. Também participam o conselho editorial da Revista Legítima Defesa, composto pela atriz, diretora e arte educadora Lucelia Sergio, o editor Nabor Júnior e o ator Sidney Santiago Kuanza.

 

O encontro no Itaú Cultural e o tema das pautas identitárias no teatro darão base para uma das matérias que irá compor a próxima edição da revista Legítima Defesa, a ser lançada em setembro. A publicação foi criada por Os Crespos em 2014, com a proposta de reunir entrevistas, artigos e dramaturgia sobre questões pertinentes à companhia.

 

História e crítica social

Dois dias depois, na Sala Itaú Cultural, a Cia. Coisas Nossas de Teatro apresenta mini temporada do espetáculo O Samba da Pauliceia e Sua Gente, que fica em cartaz de 9 a 19 de maio (sempre de quinta-feira a sábado, às 20h, e domingo às 19h). A peça mergulha na história do samba paulistano e nas transformações urbanas que afetaram locais emblemáticos dessa manifestação artística na cidade.

 

Com direção geral de Cristiano Tomiossi, dramaturgia de Paulo Rogério Lopes e colaboração da companhia, a trama se passa nos momentos finais da Vila Primavera, uma fictícia comunidade paulistana do samba que está prestes a ser despejada para dar lugar a uma suposta ação de progresso na cidade. Para essa despedida cheia de emoção, os moradores decidem celebrar sua cultura e identidade em uma última noite de samba.

 

Nesse momento entra em cena Madrinha, a moradora mais antiga da comunidade e guardiã das memórias do lugar. A personagem, vivida pela atriz Carlota Joaquina, passa a compartilhar suas experiências e memórias, conduzindo personagens e público para o passado, e pontuando fatos que fazem parte da história do samba em São Paulo. Assim, ela leva o público a visitar desde as raízes do samba até a sua consolidação como uma expressão cultural de resistência.

 

Além de abordar essa história, O Samba da Pauliceia e Sua Gente propõe um olhar mais profundo sobre as mudanças urbanas que impactaram os territórios pretos da cidade, os bairros históricos do samba e as consequências dessas transformações para a comunidade. É um convite para refletir sobre a importância de preservar raízes culturais e valorizar a memória coletiva do povo.

 

Solos

Em paralelo à temporada em cartaz na Sala Itaú Cultural, a Mostra de Solos segue na Sala Multiúso, com dois novos espetáculos no final de semana.

 

Nos dias 9 e 10 (quinta-feira e sexta-feira), sempre às 19h, a atriz Gisele Petty apresenta Agda, espetáculo que leva ao palco o conto homônimo de Hilda Hilst. Este, publicado em 1973 no livro Kadosh, narra a via crucis de um corpo feminino livre, potente e integrado com a natureza, trazendo marcas da obra hilstiana – o erotismo religioso, a busca incessante por Deus e o corpo em sacrifício, aqui manifestado por meio de uma mulher encarnada em seu destino, espírito e desejo.

Agda mora em um vilarejo, fala com Deus, tem três namorados amantes – Orto, Kalau e Celônio – e é uma mulher que exala e exalta seus desejos e seu corpo livre. Ela quer a experiência mística, mas sucumbe em função de uma construção patriarcal e misógina de religião e assimilação do feminino.

 

Mário Negreiro, que o ator Anderson Negreiro apresenta nos dias 11 e 12 (sábado, às 19h, e domingo, às 18h), faz o personagem central da peça voltar ao passado, por meio de suas lembranças, para entregar o livro Macunaíma, de Mário de Andrade, a um amigo de infância. O personagem faz uma viagem contrária à do anti-herói da publicação, saindo do centro em direção ao bairro da Casa Verde Alta, na periferia da Zona Norte de São Paulo. Nessa viagem de volta, a realidade, ficção e trechos do livro se confundem em uma São Paulo que tem seus problemas agravados pela modernidade, que, supostamente, deveria ter superado os traumas da colonização.

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Em meio a um cenário de otimismo cauteloso, o turismo brasileiro vive um novo momento em 2025. Impulsionado pela valorização do turismo sustentável, pelas viagens de experiência e pela alta do dólar, que favorece o turismo doméstico, o setor registra uma recuperação robusta e cheia de oportunidades.

Segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o faturamento do setor cresceu 8,5% no primeiro trimestre de 2025, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Entre os destaques estão o Nordeste e o Centro-Oeste, que têm atraído visitantes em busca de ecoturismo, cultura regional e gastronomia típica.

A força do turismo interno

Com o dólar oscilando acima dos R$ 5,50, muitos brasileiros estão optando por conhecer melhor o próprio país. Destinos como Jalapão (TO), Chapada Diamantina (BA) e Alter do Chão (PA) estão no topo das buscas, segundo dados recentes da plataforma de viagens Booking.com.

“Estamos percebendo um novo perfil de turista, mais consciente e interessado em experiências autênticas, longe das multidões e com maior contato com a natureza”, afirma Paula Rezende, diretora de marketing de uma agência de viagens especializada em roteiros personalizados.

Turismo sustentável em alta

Outro destaque de 2025 é o crescimento do turismo sustentável. Projetos de hospedagem ecológica, trilhas com guias locais capacitados e parcerias com comunidades tradicionais estão se tornando diferenciais importantes na hora de escolher um destino.

A cidade de Bonito (MS), por exemplo, implementou um sistema de controle de visitantes em suas principais atrações naturais, equilibrando preservação ambiental e geração de renda para a população local.

Tecnologia e inteligência artificial como aliadas

A tecnologia também tem papel de protagonista na retomada do setor. Aplicativos de roteiros personalizados, guias virtuais com inteligência artificial e o uso de realidade aumentada em museus e atrações têm melhorado a experiência dos turistas e ajudado a descentralizar o fluxo de visitantes.

“A integração de ferramentas tecnológicas permite que o turista tenha mais autonomia, segurança e acesso a informações atualizadas em tempo real”, destaca Rafael Oliveira, pesquisador em turismo digital da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Perspectivas para o futuro

O cenário para o turismo em 2025 é promissor, mas requer atenção à qualificação da mão de obra, infraestrutura de acesso e políticas públicas de incentivo ao turismo sustentável.

Com a chegada do segundo semestre, o setor se prepara para a alta temporada e aposta na diversificação de roteiros e no fortalecimento do turismo de base comunitária como pilares de um crescimento duradouro.

O ano de 2025 está sendo generoso para quem busca por uma brecha no calendário para viajar. Isso porque há quatro feriados prolongados e oito pontos facultativos nacionais, que é quando as empresas podem ou não liberar os funcionários. O primeiro prolongado aconteceu em abril, mas durante todo o ano há oportunidades para viajar, e os roteiros de turismo sustentável vem ganhando espaço na agenda do brasileiro. Além de serem opções responsáveis e que se preocupam com o meio ambiente, quem os realiza também ganha ao se conectar com a natureza.

O ecoturismo cresce cerca de 20% todos os anos no Brasil, de acordo com o Brasilturis. Um dos motivos pela escolha da modalidade são os benefícios, principalmente ao bem estar mental e na conexão com si mesmo. É comprovado que a exposição à natureza diminui o estresse, regulando os níveis de cortisol no corpo e baixando a pressão arterial. A rotina do dia a dia faz com que seja difícil parar para contemplar um fim de tarde, o cair da chuva, o cantar dos pássaros ou pisar na grama e, assim, esquecemos o quão bom esse contato pode fazer. 

“Viagens em meio a natureza são como uma terapia em meio a um mundo digital, cheio de telas e obrigações profissionais. O ecoturismo vem se tornando um estilo de vida para aqueles que priorizam qualidade de vida, na qual saúde física e mental são inegociáveis”, ressalta Cecília Fortunatti, cofundadora da VaiViver - Ecoturismo e Aventura. 

Para quem busca uma pausa da rotina agitada das cidades, a VaiViver — iniciativa voltada para viagens com propósito — criou roteiros com saídas exclusivas durante os feriados prolongados. Em maio, no Dia do Trabalho (01), acontecem as primeiras expedições para explorar mais de 150 cachoeiras escondidas no coração da Serra da Canastra, em Delfinópolis (MG). Já em junho, durante o feriado de Corpus Christi, o destino é Nobres (MT), no coração do cerrado mato-grossense. 

Foco na experiência

Buscando mais do que apenas um destino, e sim vivências transformadoras em meio à natureza, Sandra de Araujo Rodrigues, de 53 anos, decidiu romper barreiras pessoais e encontrou na VaiViver a segurança e o acolhimento necessários para viajar sozinha pela primeira vez. Após o divórcio e em busca de um novo ciclo de vida, ela escolheu a Chapada dos Guimarães como ponto de partida para essa jornada. Lá, além de se reconectar consigo mesma, fez amizades e viveu momentos que marcaram sua trajetória. Foi nessa viagem que surgiu o convite para comemorar seu aniversário, em 2022, na Chapada das Mesas — uma experiência que, segundo ela, mudou sua vida. “Você tem noção do que foi iniciar um novo ciclo na Chapada das Mesas? Foi simplesmente emocionante”, conta.

A experiência com a VaiViver foi um ponto central na jornada de transformação de Sandra. Desde o início, ela se sentiu segura e amparada para explorar atividades que jamais imaginou realizar — como tirolesa e passeios por cachoeiras, mesmo sem saber nadar. “Pode ter certeza que o meu ciclo, que se iniciou naquele período, foi um dos mais lindos que eu tive”, relembra. Segundo ela, o cuidado e o suporte da equipe fizeram toda a diferença: “É uma das empresas que dá mais segurança, principalmente para a mulher que viaja sozinha. Quando ela fala assim: ‘quero que você só se preocupe em fazer a mala’, é exatamente isso”, complementa.  

Opções para o Dia do Trabalho

A VaiViver oferece um roteiro de quatro dias para a cidade, que é ideal para quem busca uma imersão profunda no ecoturismo. Iniciando na quinta-feira (01), o grupo se reúne em São Paulo (SP), na estação Vergueiro com a equipe e segue direto para a pousada. A aventura começa na sexta-feira, após um típico café mineiro, com pão de queijo e café quentinho. 

Para os amantes de queijo, o roteiro contempla uma parada em diversas queijarias premiadas para provar o queijo canastra e conhecer um pouco mais da região. Os viajantes ainda adentram o Parque Nacional da Serra da Canastra, recebendo as boas energias da água sagrada e conhecendo a biodiversidade local. O destino é uma opção repleta de belezas naturais e trilhas, indicadas para iniciantes no esporte e com nível de preparação baixo. Ao total, são aproximadamente 12 km de trilhas divididos durante o roteiro, mas sem grandes desníveis. 

Quem escolhe Delfinópolis como destino conhece ainda o Condomínio de Pedra, Vale da Gurita, Complexo do Ouro e do Claro e lindas cachoeiras, como a Cachoeira do Tombo, da Gruta e Tenebroso. Está incluído no roteiro todos os passeios e tickets de entrada, transfer ida e volta da sua cidade de origem em ônibus semi leito, transfer em 4x4 para os passeios na Serra, ônibus rural, hospedagem em pousada em Delfinópolis - próxima ao centrinho e barzinhos -, e as principais refeições com típicos cafés e almoços mineiros. 

 

Com uma rica herança africana presente na cultura, na história e na gastronomia, o Rio de Janeiro foi eleito o Melhor Destino Nacional de Afroturismo durante a 3ª edição do Prêmio Afroturismo, realizada nesta segunda-feira (14.04), em São Paulo. O anúncio foi feito na World Travel Market Latin America (WTM-LA) - um dos mais relevantes eventos globais do setor turístico. A premiação é promovida pela plataforma Guia Negro, que tem a valorização das raízes afro-brasileiras como um de seus pilares estratégicos.

A escolha do Rio reforça o papel da cidade na valorização da cultura afro e no fortalecimento de experiências turísticas ligadas à ancestralidade. Entre os roteiros destacados pelo júri estão a Pequena África, na região portuária, e o bairro de Madureira – trajetos que resgatam e celebram a contribuição da população negra na formação da identidade carioca.

Outro reconhecimento importante foi para o Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (Muhcab), localizado na Gamboa. Inaugurado em 2021, o espaço foi premiado como a Melhor Atração Turística do segmento, sendo descrito pelos jurados como um “local de resistência”, dedicado à preservação, promoção e celebração da cultura afro-brasileira, por meio de exposições, rodas de conversa e atividades culturais.

A premiação também reconheceu outros esforços que impulsionam o afroturismo no Brasil. São Luís (MA) foi destaque pelos investimentos no setor, recebendo o título de Destaque Guia Negro. A turismóloga Thaís Rosa Pinheiro, fundadora da agência Conectando Territórios e consultora do Ministério do Turismo, foi eleita a melhor profissional do segmento. 

ROTAS NEGRAS - O fortalecimento do Afroturismo também se reflete nas políticas públicas voltadas para a promoção internacional do Brasil. Como parte desse esforço, o Ministério do Turismo, em parceria com o Ministério da Igualdade Racial e outros órgãos do Governo Federal, lançou o Programa Rotas Negras.

A iniciativa tem como objetivo fomentar experiências turísticas que valorizem a ancestralidade africana em diferentes territórios – urbanos e rurais –, impulsionando oportunidades de inclusão e protagonismo para as populações negras. Com foco na economia criativa, circular e sustentável, o programa também visa fortalecer os destinos turísticos de matriz afro-brasileira presentes no Mapa do Turismo.

Além disso, o Rotas Negras prevê ações voltadas à educação e sensibilização dos turistas sobre a história e a cultura afro-brasileira, à capacitação de comunidades locais na gestão dos seus produtos turísticos e ao enfrentamento de estereótipos, contribuindo para a autoestima das populações envolvidas.