“Como medida: uma coleção” reúne obras produzidas por onde a artista paulistana passou e a partir de protocolos e convenções de esquadrinhamentos; mostra segue até 28/07 com entrada gratuita
A mostra Como medida: uma coleção, que apresenta mais de uma centena de obras da artista visual Adalgisa Campos entra em sua reta final de exibição. Em cartaz na Chácara Lane/Museu da Cidade de São Paulo (MCSP), a exposição segue até 28/07. A entrada é gratuita.
A coleção reúne registros de objetos e locais por onde Adalgisa Campos passou ao longo das últimas décadas: de lugares da infância aos espaços onde expôs seus trabalhos, como França e Alemanha. Sua habilidade para registros é tão instigante quanto subversiva, explica a curadora da exposição, Talita Trizoli. "Adalgisa utiliza uma variedade de técnicas e suportes vinculados ao vocabulário formal do desenho, do gráfico, do construto”.
"Aos poucos fui me apropriando de uma técnica que permite me relacionar com os lugares e as coisas da minha memória de uma forma objetivável e compartilhável", explica. "A cidade, os espaços e os objetos são coisas construídas, portanto, passíveis de serem desconstruídas e reconstruídas. Isso é muito presente na minha prática", completa a artista.
De acordo com a curadora, a coleção foi poucas vezes exibida e a escolha da Chácara Lane é resultado de um encontro fortuito entre o local onde já funcionou o Gabinete do Desenho (na cidade de São Paulo) e uma produção que propõe, no âmbito do desenho, uma reflexão sobre elementos e estruturas compositivas.
As primeiras medições
Um dos primeiros trabalhos da série Medições foi um projeto exposto na Alemanha, no fim dos anos 1990. “Não conhecia o local e pedi que me descrevessem sem apresentação de fotos e outras imagens. Foi ali que surgiu a ideia de construir um desenho do lugar na escala do lugar.
“Podia ter pego a cor, o cheiro, os relatos de quem morou lá, mas optei pelas medidas e construí um desenho na escala real daquele espaço. Essa construção não podia ser no papel. Então decidi costurar. Fiz essa peça em tecido e levei para lá. Foi minha primeira medição”, relembra a artista.
A partir daí, Adalgisa começou a medir outros espaços das cidades por onde passou. “Abri uma caixinha na minha cabeça. O que me interessa não é a medida, mas o ato de medir. É a medição, portanto. Daí o nome da coleção”.
Apesar desses trabalhos serem independentes, Adalgisa começou a considerá-los um conjunto de medições, espaços, objetos e modos de medir. "Essas medidas me permitem justapô-las e construir um novo lugar, de uma forma muito concreta, como colocar o vestíbulo da minha casa ao lado da casa onde meu pai nasceu e da casa em que minha mãe nasceu, todos lugares de cidades diferentes.”
Na exposição da Chácara Lane o público poderá conferir a obra “Apartamento imaginário (os 10 quartos)”, um desenho digital impresso em papel fine art. “As informações dessa obra estão no título: são dez quartos e o apartamento é imaginário. É isso o que eu quero que o público saiba. Para mim é o tipo de informação que basta.”
A curadora destaca que a mostra reúne obras na escala 1 para 1 do corpo e trabalhos da escala do espaço ocupado. "E tem papeizinhos, de dez centímetros por dez. É uma variedade de dimensões que também dialoga com a lógica da produção". Os materiais são díspares: um caderno, um jornal, desenhos técnicos, papéis gigantes, grafite, lonas, papeis vegetais milimetrados, bastão a óleo, feltro e fotografias.
Corpo e feminismo
Um dos espaços mapeados na coleção é o próprio corpo da artista, que começou a incluir suas medidas em obras a partir de 2015. “Me interesso pelos eixos de alcance, o espaço ocupado em relação ao meu corpo", destaca. "Quem visitar a exposição também tem um corpo e pode observar meu eixo, meu alcance como algo partilhável”.
“Os protocolos de arquitetura foram historicamente estabelecidos por homens. Todo nosso código de medida e linguagem está fundamentado em uma lógica patriarcal. Ainda que a casa seja posta como o grande território da feminilidade, as mulheres não projetam, historicamente, as próprias casas. Quando a Adalgisa migra para o corpo, ela participa de forma subversiva desse jogo de medição”, destaca a curadora.
Nascida em São Paulo, em 1971, a artista é graduada em Arquitetura pela FAU-USP e pós-graduada em Pesquisa Cromática pela École Nationale Supérieure des Arts Décoratifs (Paris). Cursou artes visuais na Universidade de Paris VIII entre 1997 e 1998 e obteve em 2012 o mestrado em Artes pelo Instituto de Artes da Unicamp. Nos últimos 20 anos, desenvolveu obras em que o desenho constitui o eixo estrutural de sua produção. Embora não exerça a profissão de arquiteta, Adalgisa usa metodologias da arquitetura para pensar a relação do espaço.
Exposição de obras da artista Adalgisa Campos entra na reta final de exibiçãona Chácara Lane
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