Nos 110 anos de Carolina Maria de Jesus, quatro artistas se juntam para homenagear o seu legado
No próximo dia 14 de março, a famosa escritora Carolina Maria de Jesus faria 110 anos. Para não deixar essa data em branco, a editora Ática acaba de relançar a obra "Quarto de despejo - Diário de uma favelada", em versão inédita de história em quadrinhos (HQ).
Com o roteiro de Triscila Oliveira, ilustrações de Vanessa Ferreira e artes finais de Hely de Brito e Emanuelly Araujo, a obra propõe um novo olhar para o clássico da literatura brasileira. A adaptação já pode ser adquirida na Internet.
A iniciativa foi idealizada pelo editorial de literatura e informativos da SOMOS Educação, com a intenção de levar a história para um público mais jovem. A editora já havia lançado, anteriormente, uma versão adaptada ao teatro da obra de Carolina Maria de Jesus, da autora Edy Lima. "Com essa HQ, queremos que a obra de Carolina Maria de Jesus se torne conhecida o quanto antes entre os jovens. E trouxemos somente mulheres negras para esse projeto, a fim de seguir de uma forma representativa com o legado que Carolina nos deixou", destaca Laura Vecchioli do Prado, coordenadora do editorial.
A edição da editora Ática conta com 90 páginas ilustradas, adaptando o diário pessoal de Carolina ao universo das HQs. No livro, ela narra sua rotina como catadora de papel na favela de Canindé, em São Paulo, abordando discussões sobre gênero, classe e raça, além de traçar as dificuldades da maternidade frente à desigualdade social. Nas páginas finais da HQ, as artistas contam de que maneira a história de Carolina Maria de Jesus se cruza com a delas e como foi para elas trabalhar nesse projeto.
Quem foi Carolina Maria de Jesus?
Mineira de nascença, Carolina Maria de Jesus nasceu em 14 de março de 1914, em Sacramento, e mudou-se para a cidade de São Paulo aos 23 anos para trabalhar como empregada doméstica. Após nove anos, passou a viver na favela do Canindé. Junto a seus três filhos, Vera, João e José, Carolina era catadora de papéis para garantir a sobrevivência de sua família.
Foi então que Carolina tornou-se escritora: em um diário pessoal, relatava o seu cotidiano na favela. Com sua escrita verdadeira, a catadora de papel transcrevia, em sua prosa, a desigualdade brasileira. Carolina reunia batalhas e angústias não somente pessoais, mas coletivas. A denúncia da fome e da violência está por todo o seu texto, abrindo espaço para o debate sobre o preconceito e a segregação.
Em 19 de agosto de 1960, os olhos da sociedade brasileira voltaram-se para a senhora negra de 46 anos. Na Livraria Francisco Alves, no Rio de Janeiro, Carolina Maria de Jesus lançava a primeira edição de Quarto de Despejo. Tratava-se de uma coletânea de trechos dos 20 diários da autora, escritos entre 1955 e 1960, que denunciavam a cruel realidade das favelas. A seleção foi feita pelo repórter Audálio Dantas. Desde então, sua obra foi traduzida para diversos idiomas e consagrou-se como um clássico atemporal da literatura. Posteriormente, outros trechos de seus diários também foram publicados.
Em reconhecimento ao seu prestígio, Carolina Maria de Jesus recebeu o título de doutora honoris causa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em fevereiro de 2021. Após 110 anos, Carolina tornou-se mais do que um ícone da literatura brasileira, mas um símbolo de luta e resistência para todas as Carolinas do Brasil.
Quarto de despejo em quadrinhos: confira o lançamento da editora Ática, inteiramente produzido por mulheres negras
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