Avanço do desmatamento urbano ameaça áreas verdes e qualidade de vida nas grandes cidades brasileiras

Meio Ambiente
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

O crescimento desordenado das cidades brasileiras tem colocado em risco uma das principais defesas ambientais dos centros urbanos: as áreas verdes. Nas últimas décadas, o avanço da urbanização, a especulação imobiliária e a falta de fiscalização têm contribuído para o desmatamento de matas ciliares, parques naturais e fragmentos de vegetação nativa que antes serviam de barreira contra enchentes, ilhas de calor e poluição atmosférica.

Em São Paulo, por exemplo, a Mata Atlântica, bioma predominante na região, perdeu mais de 20% de sua cobertura urbana remanescente entre 2000 e 2020, segundo levantamento da Fundação SOS Mata Atlântica. Parques como o Anhanguera, Cantareira e os arredores da Serra da Cantareira enfrentam pressão crescente de ocupações ilegais e loteamentos clandestinos.

“A perda dessas áreas verdes impacta diretamente na regulação do microclima urbano, aumentando a temperatura das cidades e agravando fenômenos como as ondas de calor e a escassez hídrica”, explica a urbanista e professora da USP, Helena Tavares. Ela ressalta que a vegetação urbana é essencial para a qualidade do ar, bem-estar da população e proteção da biodiversidade.

Além disso, a falta de planejamento urbano e políticas públicas integradas agrava a fragmentação ambiental. A criação e manutenção de corredores ecológicos, arborização de ruas e expansão de parques urbanos são ações consideradas fundamentais por especialistas, mas ainda ocorrem de forma pontual e insuficiente em muitos municípios.

Iniciativas de reflorestamento comunitário, como o projeto “Verdejando”, em São Paulo, ou o “Matas Sociais”, no Recife, vêm ganhando espaço e mostram que a participação cidadã pode ser um diferencial na luta pela preservação ambiental em centros urbanos. No entanto, sem ação institucional efetiva, os esforços locais podem ser limitados.

O Ministério do Meio Ambiente anunciou, em junho, uma nova fase do Programa Nacional de Arborização Urbana Sustentável, que prevê investimento de R$ 120 milhões em ações até 2026. A proposta inclui mapeamento das áreas críticas, incentivo à criação de viveiros municipais e capacitação de gestores públicos.

Em tempos de emergência climática, o cuidado com as áreas verdes não é apenas uma pauta ambiental — é uma questão de saúde pública, planejamento urbano e qualidade de vida. E o tempo para agir está cada vez mais curto.